Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de anúncios para a educação na Bahia
Queridas companheiras e queridos companheiros da minha querida Bahia, meu querido companheiro governador Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia], sua companheira esposa, meu querido Jaques Wagner [senador] que está chegando agora que estava sentado aqui, líder do governo no Senado.
E eu queria fazer um anúncio aqui. Só os dois sabem: o Wagner vai ter que sair para fazer uma cirurgia no pé, porque ele quer voltar a jogar bola agora que o Bahia está melhorando, ele quer ver se ele consegue voltar a jogar. E eu quero dizer para vocês que eu já escolhi o companheiro Otto [Alencar, senador] para suceder o Wagner na liderança do governo no Senado, porque o Otto tem sido um parceiro extraordinário do nosso governo.
Eu quero cumprimentar os nossos queridos deputados federais que estão aqui. A nominata é muito grande, eu não posso citar todos os nomes, apesar de não ter eleição mais agora, ninguém é candidato a nada esse ano. Mas eu quero agradecer ao Senado e à Câmara dos Deputados por terem votado essa lei que aprovou o Pé-de-Meia, que é uma revolução na educação brasileira.
Quero agradecer aos educadores que estão aqui, à Secretaria de Educação, e quero agradecer a vocês prefeitos que estão aqui, prefeitas, aos companheiros estudantes, às companheiras indígenas que estão aqui representando, aos companheiros quilombolas. Gente da minha Bahia.
Eu queria que vocês compreendessem que esse Programa Pé-de-Meia não é um programa que tem como objetivo apenas dar dinheiro para os estudantes estudarem. Esse programa é mais do que isso. Esse programa é uma demonstração que nós estamos dando para que a gente não veja mais jovem desistir da escola porque precisa trabalhar para levar comida para casa.
É muito importante que a gente tenha clareza que esse é um programa para formar cidadãos e cidadãs nesse país. Porque a minha preocupação quando o Camilo [Santana, ministro da Educação] me comunicou que 480 mil jovens do ensino médio desistiam da educação porque tinham que trabalhar para ajudar a família, eu fiquei matutando que tipo de brasileiros e brasileiras a gente iria criar se a gente permitisse que os estudantes deixassem a escola para trabalhar.
E tem muita gente que acha que nós estamos gastando muito dinheiro. Primeiro, eu não acho que é gasto, eu acho que é investimento. Segundo, ficaria muito mais caro gastar fazendo cadeia para prender a meninada que não teve oportunidade, do que investir na escola. E, por isso, não importa quanto custa, o que importa é que nós estamos garantindo que vocês cresçam, aprendam a profissão, tirem o seu diploma universitário, virem doutores e prestem serviço a esse país, à família de vocês e à comunidade que vocês vivem.
Eu quero que vocês saibam que o desejo do pai e da mãe de cada um de vocês não é deixar para vocês fortuna, não é deixar para vocês riqueza. Porque a maior riqueza que um pai e uma mãe podem deixar para o filho é a educação, é a formação do seu filho. Porque a hora que o menino tem uma profissão, ele terá certeza de ter um futuro garantido. A hora que a menina tiver educação, ela terá certeza que ela vai ter independência. Ela não vai nunca mais viver com alguém porque depende de um prato de comida. Ela vai viver com quem ela gosta, com quem ela quer morar.
É este mundo que nós queremos criar aqui no Brasil. É por isso que nós criamos o Pé-de-Meia, é para garantir que nenhum estudante desista da escola. Aliás, eu não quero que vocês desistam de ter esperança. Eu quero que vocês me olhem como um espelho daquilo que vocês podem ser. Eu nasci em Pernambuco, saí de lá com sete anos de idade para não morrer de fome por conta da seca, fui para São Paulo e aprendi uma profissão. Mas antes de aprender a profissão, eu trabalhei em lavanderia, fui engraxate, vendi tapioca, vendi laranja, vendi amendoim e eu apanhava do meu irmão porque eu não sabia gritar: "olha o amendoim, olha a tapioca", e meu irmão me dava cascudo.
Mas depois eu aprendi a falar e agora eu estou falando com vocês aqui. Se eu tivesse que vender tapioca agora eu seria um grande vendedor de tapioca. Mas por que eu estou contando essa história para vocês? Eu não tenho diploma universitário, eu tenho apenas um curso técnico de torneiro mecânico. E hoje tenho orgulho de ser o presidente da República, único no país, que não tem diploma universitário, mas fui o presidente que mais fiz universidade na história desse país.
Eu não pude estudar no Instituto Federal, mas quando eu cheguei na presidência tinha apenas 140 institutos criados em 100 anos. A elite brasileira criou 100 Institutos Federais. Eu vou deixar a presidência com 782 Institutos Federais e aqui na Bahia tem mais 8 institutos para a gente terminar até 2026. Eu queria que vocês entendessem isso para vocês não desistirem nunca. Um jovem não pode desistir da vida.
Se eu saí de onde eu saí, morei em vila que dava enchente. Eu cheguei a ter na minha casa um metro e meio de água. Eu cheguei a levantar para deixar, sabe, de tirar, abrir as portas para os ratos saírem, para as baratas saírem, para as fezes saírem que estavam boiando dentro da minha casa. E não foi uma vez, foram muitas vezes que entrou na minha casa um metro e meio de água. Eu sei o que é ficar desempregado, porque eu fiquei um ano meio desempregado. Eu sei o que é passar fome, porque eu viajei de Pernambuco para São Paulo comendo farinha, rapadura e tomando água sem tratar do rio São Francisco.
Eu sei o que o povo pobre passa nesse país. Eu sei o que passa uma mãe solo para sustentar a sua filha ou para sustentar o seu filho. Eu sei a amargura de chegar no final do ano e não ter sequer dinheiro para comprar um presentinho para o filho. O primeiro presente que eu ganhei na minha vida fui eu mesmo que comprei, eu já tinha 17 anos de idade.
E eu quero dizer para vocês que o Pé-de-Meia é um incentivo, é apenas um incentivo. Ele não é a solução, mas ele garante que vocês, se se dedicarem e quiserem vencer na vida, pense no que o Lula era e aonde ele chegou e vocês podem chegar e podem chegar muito mais. Podem chegar muito mais. É só vocês quererem, porque não há limite para a juventude, não há limite para uma menina de 15 anos, 16 anos, 17 anos, não há limite para o jovem.
É só a gente querer que a gente vai vencer na vida, a gente vai ser o que a gente quiser. E é por isso que nós estamos colocando a Escola de Tempo Integral, para garantir que as pessoas não aprendam apenas que Cabral descobriu o Brasil. Para que as pessoas aprendam a dançar, a cantar, a tocar, que as pessoas encontrem acesso à cultura, à prática de esporte, porque o Bahia e o Vitória estão precisando de jogadores bons. E é preciso vocês se prepararem, e também porque o futebol feminino está ganhando corpo nesse país e as mulheres estão ficando melhores do que os homens jogando bola.
É muito importante vocês terem em conta isso. É muito importante vocês saberem que o que nós estamos fazendo é dizendo para vocês: a gente não quer fazer por vocês, a gente apenas quer abrir a porta para vocês fazerem o que vocês quiserem. Estudarem o que vocês quiserem estudar, se formar e a gente ver um dia esse país não ter mais nenhuma criança indo dormir sem ter um copo de leite para tomar. Esse país, um dia a gente vai ver, que nenhuma criança vai levantar de manhã sem ter um café da manhã para tomar. Esse país, vai ter um dia que ninguém deixará a escola para trabalhar porque as pessoas vão saber que trabalhar não impede que a gente estude.
Eu quero para vocês o que eu não tive. Talvez a minha obsessão pela educação é porque eu não tive um diploma universitário. Mas em vez de ficar chorando o diploma que eu não tive, eu quero que o filho do povo pobre, que o filho do trabalhador tenha direito de estudar. Eu quero que o filho de uma empregada doméstica possa ser médica, eu quero que o filho de uma empregada doméstica possa disputar com a filha da patroa uma vaga na universidade e que vença o mais inteligente e que vença o mais capaz.
O que eu quero é dar oportunidade. Vocês não querem ir para São Paulo para trabalhar de pedreiro só, vocês querem ir para trabalhar de engenheiro. Vocês não querem ir para São Paulo para fazer outras coisas, apenas trabalhar de ajudante de pedreiro, fazer viaduto ou fazer ponte. Não. A gente quer ser cientista. A gente quer ser filósofo. A gente quer ser psicólogo. A gente quer ser enfermeiro. A gente quer ser médico. A gente quer ser advogado. A gente quer ser o que a gente quiser, porque está dentro de nós decidir isso.
É por isso que eu fiz questão de vir aqui falar com vocês. São 406 mil jovens da Bahia que estão recebendo o Pé-de-Meia. São 406 mil. Aqui em Salvador, não sei se são 80 e poucos mil que estão recebendo. Mas são quase 4 milhões de jovens nesse país. A Escola de Tempo Integral será quase 4 milhões no final do ano, e a gente tem certeza de que vocês vão vencer.
Eu quero que vocês sejam melhores do ponto de vista profissional do que os pais de vocês. Porque todo sonho de um pai é que o nosso filho seja melhor do que a gente, mais preparado do que a gente, ganhe mais do que a gente e seja tão ou mais feliz do que a gente.
Por isso, queridos companheiros e companheiras, não desistam nunca. Não desistam nunca. Não aceitem que ninguém jogue vocês para baixo. Não aceitem que ninguém destrua o sonho de vocês, não permita que alguém furte vocês. Levante a cabeça, sempre de cabeça erguida. Levantar de manhã, estar cansado, estar desanimado. Pense em Deus, pense na sua mãe, pense no seu pai, pense no seu futuro, pense no seu irmão. Levanta a cabeça e vamos à luta que a luta faz a gente vencer.
Parabéns Bahia, parabéns estudantes da Bahia e parabéns companheiro Camilo, ministro da Educação, e parabéns governador Jerônimo.
Um abraço e um beijo no coração de vocês. E até a vitória no movimento estudantil brasileiro. Sorte para vocês.