Pronunciamento do presidente Lula durante sanção da Lei que inscreve Eduardo Campos no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria
Eu tinha dito ao Padilha [Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais] que não era necessário falar, porque hoje era dia da família falar. Eu, se pudesse, ia passar a palavra para o filho mais novo da família aqui, que é o seguinte, gente, o Arraes [Miguel Arraes de Alencar, avô de Eduardo Campos] foi o único político que voltou do exílio e que eu fui receber em Pernambuco.
Em 1979, causou muita estranheza, porque eu fui a Pernambuco, primeiro conhecer o Arraes, porque eu admirava o Arraes de moleque, porque o meu irmão, Frei Chico, admirava Arraes e Brizola. E tinha uma tal de rádio Moscou, rádio não sei de onde, que se ouvia a notícia deles, que estavam fora do Brasil, e o meu irmão, que depois foi do Partido Comunista, acompanhava muito.
Então, eu tinha uma certa admiração por uma pessoa que eu só conhecia pela boca do meu irmão. E eu fui a Pernambuco, foi a primeira vez que eu comi um bolo de mandioca na casa de Madalena, e lá eu conheci as pessoas muito jovens, e depois o Arraes foi governador, e eu conheci mais de perto o Eduardo como secretário do Arraes.
E eu posso dizer para vocês que, nos tempos que nós estamos vivendo, eu sempre fui um crítico de que o Brasil não tinha heróis. Eu não sei porquê, mas mesmo a esquerda no Brasil, ela não gosta de cultuar heróis. Nós só temos a figura do Tiradentes, se a gente for imaginar a história do Brasil, todos nós, quando se pergunta qual é o herói que nós temos, é sempre Tiradentes, porque a gente não consegue valorizar.
Uma vez, eu estava em Copacabana, na inauguração da reconstrução do prédio da UNE, e eu fiz um discurso, que certamente alguns companheiros do PCdoB não gostaram, porque eu disse que a esquerda tinha uma deficiência muito grande.
A gente passava o tempo inteiro criticando os assassinos, e a gente não valorizava os mortos. Ou seja, ao invés de a gente enaltecer os nossos heróis que morreram na luta contra a ditadura militar, a gente ficava enaltecendo os autores da morte. Era uma inversão. É que os assassinos ficavam mais conhecidos do que as pessoas que tinham sido vítimas. E a gente, então, não ia construindo nenhum herói.
Então, eu acho, companheiros e companheiras, que esse ato de vocês hoje, da família, dos deputados, aprovar um gesto desse, no momento político que nós vivemos com o renascimento do fascismo, com o renascimento do nazismo, com o fortalecimento da fake news, da mentira, da depreciação da política, da falsidade todo santo dia, 24 horas por dia nos meios de comunicação, inverdade, em cima de verdade, sem levar em conta que as crianças estão ouvindo, sem levar em conta que as crianças acessam o celular.
As pessoas perderam o respeito, não só como ser humano, mas perderam o respeito pelos outros, pela democracia, que é uma coisa que corre risco no nosso país e em várias partes do mundo. Então, no momento que eu sanciono uma lei, transformando o nosso querido companheiro Eduardo Campos em Herói Nacional, a gente está dando uma contribuição para que a gente tenha a responsabilidade de fazer com que aqueles que nasceram depois de nós, aqueles que ainda são crianças, aqueles que são adolescentes, possam conhecer outro tipo de político nesse país.
A gente não pode deixar que a sociedade reconheça o político pela quantidade de agressividade, de mentira. Nós temos que mostrar que o político pode ser humano. Nós temos que mostrar que o político pode construir uma família extraordinária, como o Eduardo construiu.
Se não houvesse outra razão para ele ser herói, o fato dele ter construído a família que ele construiu, e ter casado com a dona Renata, que era parte, merece parte desse título de heroína aqui, porque ela sabe o que é aguentar a marimba de uma mulher casada com político importante, que viajava muito, que tinha que brigar muito, e ela em casa, cuidando dessa molecada, em casa é o que eu digo em termos, porque ela também gostava de uma peleja muito, muito forte.
Então, gente, eu estou sinceramente agraciado como Presidente da República de poder sancionar essa lei, porque eu acho que o Eduardo Campos precisa passar para a história como um símbolo bom da política brasileira, como uma coisa boa que apareceu na política brasileira.
Porque nem sempre, nem sempre nós políticos aparecemos na imprensa pelas virtudes, é sempre pelos defeitos. Nós aqui estamos enaltecendo as virtudes de um homem que nasceu no berço da política e morreu no berço da política, defendendo a democracia, defendendo as pessoas menos favorecidas, defendendo as pessoas pobres desse país.
Por isso, Renata, Pedro, João, nossa querida filha do Eduardo, que eu esqueci o nome aqui dela, a nossa querida Eduarda, eu quero dizer para vocês que valeu a pena a passagem do Eduardo pelo planeta Terra e pela política. Parabéns a vocês.