Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de Unidades Habitacionais do Minha Casa, Minha Vida no Ceará
Queridas companheiras e queridos companheiros, eu não posso deixar de cumprimentar os meus companheiros que me acompanham nesta trajetória. Eu queria começar cumprimentando o nosso querido governador Elmano de Freitas [do Ceará], que eu tenho certeza absoluta será um parceiro extraordinário nessa recuperação do Brasil, e também cumprimentar a sua companheira Lia de Freitas [primeira-dama do Ceará].
Quero cumprimentar o companheiro Camilo Santana, ministro da Educação, e a sua senhora Onélia [Santana]. Quero cumprimentar o meu companheiro Rui Costa [ministro da Casa Civil]. O Rui Costa é o meu chefe da Casa Civil, é o que eu chamo de “faz tudo” no governo. Ele foi governador da Bahia, é um companheiro que tem prestado um serviço extraordinário a esse país. Quero cumprimentar o meu companheiro Jader Filho [ministro das Cidades], que eu só conheci durante a campanha eleitoral e é uma figura extraordinária. Ele vai passar para a História como o ministro que mais entregou casa nesse país.
Quero cumprimentar o meu querido companheiro Márcio Macêdo, [ministro] da Secretaria-Geral da Presidência da República, que tem a incumbência de organizar o movimento social na Secretaria-Geral da Presidência da República. Quero cumprimentar a nossa querida Jade Afonso Romero, vice-governadora do Estado do Ceará. Quero cumprimentar a nossa querida senadora Augusta Brito, que tem nos ajudado muito no Senado Federal.
Quero cumprimentar os deputados federais, a quem agradeço de forma muito honrosa tudo que vocês fizeram para ajudar o governo a governar nesse um ano e nove meses. Ao companheiro José Guimarães, líder do governo na Câmara dos Deputados, líder do PT; ao companheiro Eduardo Bismarck, ao companheiro Mauro Filho e ao companheiro Eunício Oliveira [deputados federais].
Quero agradecer ao presidente do Banco do Nordeste, companheiro Paulo Câmara, essa figura simpática aqui, que foi governador do estado de Pernambuco, e hoje presta um serviço extraordinário no Banco do Nordeste, fazendo crédito para pequeno e médio empreendedor, para pequeno e médio trabalhador rural, para a agricultura familiar.
Quero cumprimentar o companheiro, que nem parece, mas é o presidente da Caixa Econômica Federal, o companheiro Carlos Vieira, que é um companheiro que tem trabalhado de forma extraordinária para que a gente possa fazer financiamento de casa.
Quero cumprimentar o companheiro Inácio Arruda, secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social. Quero cumprimentar o Zezinho Albuquerque, secretário de Estado das Cidades do Ceará.
Quero cumprimentar o deputado estadual Romeu Aldigueri, líder do Governo na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Quero cumprimentar a minha companheira de longa data, que está não sei onde, a companheira Inês [da Silva Magalhães, vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal], que é uma companheira que tem um trabalho extraordinário na Caixa Econômica para cuidar das habitações. Quero cumprimentar a nossa querida companheira Janaína Farias, eleita prefeita de Crateús.
E cumprimentar de forma carinhosa Adriele dos Santos, Ana Valentina Cordeiro, Ana Cristina Vasconcelos, Francisca Simone de Souza e Adriana Maria Lima, as companheiras que receberam aqui a chave das minhas mãos. E quero cumprimentar também a Maria Antonilde de Lima, representante das novas contratações de moradia do Minha Casa, Minha Vida, que esteve aqui com a sua bandeira de forma muito orgulhosa, com esses olhos verdes, sabe que só uma cearense tem.
Pois bem, queridos companheiros e companheiras, eu, quando quero falar pouco, eu tento fazer um discurso por escrito, porque o discurso por escrito tem a primeira página e a última página. Quando a gente fala de improviso, a gente fica contando o caso e a gente nunca termina o discurso. E eu sei que vocês estão no sol há muito tempo e eu sei que está na hora do almoço e tem muita gente com a barriga roncando. Tem gente com a lombriga menor querendo comer a maior, então, eu quero ser curto para falar com vocês. Mas não posso ler o meu documento. Eu tenho que falar de improviso com vocês.
Eu quero dizer para vocês que o que eu vi hoje, aqui, nessa Zona Livre e nessa biblioteca, Zona Viva, é o mínimo de respeito que os governantes têm que ter para com as pessoas mais necessitadas desse país. Tudo aquilo que vocês viram na Zona Viva, todos aqueles brinquedos para as crianças, a biblioteca, a área de computação, tudo que vocês viram ali custou apenas R$500 mil.
Portanto, é plenamente possível que todo conjunto habitacional tenha, não apenas as quatro paredes para as pessoas morarem, mas tenha também área de lazer e conforto fora de casa para vocês poderem morar e serem tratados com decência e respeito. Eu saio daqui, companheiro governador, com a ideia de que é possível a gente fazer, cada vez mais, coisa de qualidade para o povo.
Mas eu quero contar uma história para vocês, para ninguém ficar desanimado da vida. Eu me casei, a primeira vez, em 1969. Muitos de vocês não eram nascidos, aliás, acho que todos não eram nascidos. E eu fui morar em um quarto e cozinha. Um quarto e cozinha que tinha exatamente a cozinha 3x3 e o quarto 4x3. Era uma casa que tinha pouco mais de 15 metros quadrados. E foi ali que eu casei e fui morar. E pagava, na época, 100 cruzeiros de aluguel.
E eu achava que aquele aluguel era dinheiro jogado fora. Eu não via a hora de ter minha casa própria. E a casa que eu fui morar tinha tanta umidade, tanta umidade, que quando chovia, tinha cada lesma quase do tamanho dessa caixa aqui, subindo nas paredes. E eu tinha que levantar de manhã e jogar sal em cima da lesma para ela derreter.
Depois, as coisas foram melhorando.Eu trabalhava, minha mulher trabalhava. Depois, a gente comprou uma casa numa barranqueira desgraçada num lugar chamado Parque Bristol, lá em São Paulo, na Rua Verão. Era uma ribanceira que, toda vez que chovia, eu não conseguia ir trabalhar porque era barro demais. Eu tinha que colocar uma galocha, andar com essa galocha, tirar a galocha, embrulhar no jornal, entrar no ônibus. Chegava na fábrica, lavava a galocha. De tarde, colocava a galocha para poder chegar em casa, senão não entrava em casa.
Depois, eu comprei minha primeira casa. Em 1975, eu comprei minha primeira casa. E eu vou contar para vocês. A minha casa tinha 33 metros quadrados. A casa que vocês estão recebendo hoje tem 44 metros quadrados. Onze metros a mais do que a casa que eu comprei em 1975. E, naquela casa que eu comprei de 33 metros quadrados, morava eu, morava a Marisa [Letícia Lula da Silva], minha mulher, moravam três filhos e morava a minha sogra e ainda moravam dois cachorros que eu criava. E eu vivi muito tempo naquela casa e fui muito feliz.
Então, eu tenho noção da alegria e da emoção quando vocês recebem a chave de uma casa e vocês passam a ter consciência que, finalmente, vocês vão ter um teto seguro que é de vocês. Ali, vocês vão criar os filhos de vocês, eles vão fazer amizade com os vizinhos, vão criar sua turma.
E nós aprendemos a fazer uma coisa a mais: a biblioteca, para que as crianças não desaprendam a ler e para que as crianças aprendam a ler e viajar pelo mundo dos livros que aumentam o nosso conhecimento e a nossa cultura. Mas aqui foi feito mais, aqui foi feito uma Zona Viva, que é para criar espaço para as crianças brincarem. Porque brincar não é coisa só para criança rica. Brincar não é coisa só para quem tem dinheiro, não. Brincar, o Estado tem que garantir a cada criança deste país o direito de ser feliz, o direito de brincar, o direito de estudar. É o mínimo que a gente pode fazer.
Então, meu querido Jader, ministro das Cidades, meu querido Rui Costa, ministro da Casa Civil, vocês agora estão lascados comigo, porque agora as casas vão ter que ter mais coisas para que a gente possa garantir o mínimo de decência, o mínimo de dignidade, o mínimo de respeito às pessoas.
É o mínimo que a gente pode fazer, e é a única razão pela qual a gente pode ser governo. Vai ser governo para quê? Para governar o quê? Você tem que ser governo para cuidar do povo e cuidar do povo é cuidar daqueles que mais necessitam, porque o rico não precisa do Estado, o rico não precisa do governo, o rico não precisa da prefeitura. Ele já mora bem, a rua dele já tem asfalto, já tem água encanada, já tem esgoto, já tem um monte de coisa, tem shopping center, tem cinema, tem teatro no centro da cidade.
E o pobre que mora na periferia, o que é que tem? Nada. Nada. Parece que pobre nesse país foi feito para ser tratado como se fossem invisíveis. O pobre só é lembrado em época de eleição. Em época de eleição, o pobre é a pessoa mais querida do mundo. Todo mundo beija, todo mundo abraça, todo mundo afaga. Quando termina a eleição, vira as costas outra vez para o pobre e vai cuidar de almoçar e jantar com os ricos, com os banqueiros e com os grandes empresários.
É por isso que esse país nunca deu certo. E, é por isso, que a gente vai fazê-lo dar certo. Foi a única razão pela qual eu voltei a ser presidente da República. É para provar outra vez que o metalúrgico, sem diploma universitário, tem mais capacidade de cuidar do povo do que os granfinos que governaram esse país durante 500 anos.
Cuidar do povo é fazer com que o povo seja feliz, tenha direito à educação, tenha direito à saúde, tenha direito a tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia. É garantir que as crianças possam ter uma escola de qualidade. É garantir que o filho de um pedreiro possa ser engenheiro, que a filha de uma doméstica possa ser médica, possa ser enfermeira, possa ser filósofa, possa ser psicóloga, possa ser o que ela quiser. É para isso que a gente tem que garantir oportunidades para as pessoas.
Por isso, companheiros e companheiras, nós assumimos o compromisso de construir mais 2 milhões de casas. E só faltam 2 anos e 3 meses para terminar o meu mandato. Jader, você trate de trabalhar, você trate de contratar, porque nós queremos fazer mais que os 2 milhões que nós prometemos. E agora é casa com Zona Viva, é casa com biblioteca, e eu estou dizendo para ele: está chegando o dia que a gente vai fazer uma piscininha para os filhos dos pobres terem o prazer de nadar.
Essas coisas não custam muito caro. Vocês sabem por que a gente não faz? Porque, historicamente, quem governou este país ao longo de 500 anos acha que a gente gosta de ser pobre. Eles acham que ser pobre é bonito, e é preciso a gente dizer para eles que ninguém gosta de ser pobre, ninguém gosta de ganhar pouco, ninguém gosta de morar mal, ninguém gosta de comer marmita gelada, como eu comia, se quer com ovo branco fritado no dia anterior à noite.
A gente quer viver bem, a gente quer se vestir bem, a gente quer comer bem, a gente quer ganhar bem, a gente quer morar bem, a gente quer que o filho da gente viva em alegria, brincando sem medo de uma bala perdida, sem medo da violência. E este país pode ser construído. Este país pode ser construído, e nós estamos, há um ano e nove meses, reconstruindo a desgraceira que uma praga de gafanhoto que passou por este país, deixou neste país.
E pode ter certeza de uma coisa: enquanto eu for presidente da República, enquanto eu for vivo, o nosso povo tem que ser tratado com respeito, tem que ser tratado com carinho, tem que ser tratado com amor, porque todos nós somos iguais perante a lei de Deus. Todos nós temos que ser tratados com direito, porque está na Constituição que nós temos direito. Tem gente que está recebendo a casa sem pagar, e é importante, porque as pessoas não podem pagar, o Estado tem obrigação de garantir uma casinha.Está lá na Constituição.
Agora, gente, nós fizemos um sacrifício muito grande para reconstruir este país. Nós encontramos muita coisa parada, inventaram de fazer uma tal de casa amarela, não fizeram. A minha casa não é verde amarela, a minha casa é branca, é vermelha, é preta, é azul, é cor de rosa, é de todas as cores.
Inventaram de criar uma carteira verde amarela, e o emprego desapareceu. Nesse um ano e nove meses, nós já criamos 3 milhões de empregos formais nesse país com carteira assinada. E nós temos que ajudar a cuidar dos pequenos empreendedores, dos microempreendedores, das pessoas que trabalham por conta própria, porque tem gente que não quer mais carteira assinada, tem gente que quer arriscar a sorte, quer trabalhar, quer vender coisas, quer comercializar.
E assinei uma lei ontem, chamada Acredita. É um programa que vai ter crédito para todo mundo. De alguém que vende cachorro-quente numa carrocinha, quem vende amendoim, quem trabalha na rua, vai ter direito de ter crédito, porque todo mundo tem o direito de crescer na vida, e nós temos que garantir isso. Por isso, gente, eu estou muito feliz, muito feliz. Cada pessoa dessa que recebe uma casa, eu lembro, lembro muito, do amor, da alegria que é receber uma casa.
Porque tem gente que nasce, morre sem ter o direito de ter uma casinha para morar. Quem não tem uma casinha para morar, que mora de aluguel, fica mudando de vila, todo ano, quando vence o contrato, aumenta o aluguel, a pessoa não pode pagar, tem que tirar as crianças da escola. As crianças não conseguem fazer amizade, as crianças não conseguem fazer amigos, nem a pessoa consegue fazer amigos. E todo ano muda para o lugar, e cada vez muda para lugar pior, até chegar na beira do morro para morrer quando chove, ou na beira de um córrego para encher d'água quando chove. Isso acabou. Isso acabou.
Nós vamos tratar de cuidar de vocês com a decência que eu tenho que cuidar do meu filho, que eu tenho que cuidar do meu neto. Eu tenho que olhar para cada uma de vocês e não ver uma pessoa estranha que eu não conheço, eu tenho que olhar para vocês e tratar vocês como eu trato a minha mulher, como eu trato a minha filha, como eu trato o meu filho, porque todos nós merecemos ser tratados com respeito.
Por isso, eu saio daqui orgulhoso. Saio daqui muito orgulhoso de trabalhar junto com um companheiro como o Elmano, de trabalhar junto com um companheiro como o Camilo, que é uma figura que vocês conhecem da mais extraordinária qualidade. Então, gente, o Camilo já conseguiu trazer para Fortaleza o ITA de São José dos Campos. Rui, o ITA existe em São José dos Campos e São Paulo. É o Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Só existe em São Paulo. Pois o Camilo, desaforado que é, conseguiu convencer o ITA a se instalar aqui em Fortaleza num pedaço do aeroporto. Vai ter uma escola extraordinária de qualidade para formar a inteligência do estado do Ceará, porque na educação o Ceará conseguiu mostrar que é melhor do que em outro lugar do Brasil. E a gente tem que copiar o que foi bom aqui para a gente fazer.
E, Elmano, você sabe que você tem uma tarefa. Eu fico olhando para o Elmano e eu fico até com dó dele, porque ele não tem apenas que governar, ele vai ter que ser melhor do que o Camilo. Vai ter que fazer mais. E aí, meu caro, é trabalhar, de dia e de noite. De dia e de noite, bota o sapato com a sola de borracha e vamos andar esse Ceará até a gente fazer o que tem que fazer.
Um abraço, um beijo no coração e até outro dia se Deus quiser.