Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de 113 ônibus escolares a municípios do Ceará
Hoje é um dia muito especial para um presidente da República que completa 10 anos governando esse país. Eu, na verdade, gostaria de contar história para vocês, mas eu tenho que sair daqui. Ainda tenho outro ato e depois eu vou para o estado do Pará, que eu vou participar da procissão lá no Ceará [no Pará].
Eu queria dizer para vocês que, primeiro, eu devo agradecer ao povo do Ceará, agradecer ao governador Elmano [de Freitas, do Ceará] o fato de vocês terem me dado o Camilo [Santana] para ser ministro da Educação desse país.
É importante vocês lembrarem para que vocês tenham orgulho de que o nosso país, durante muitos anos, não deu nenhuma importância para a educação das pessoas das camadas mais baixas. Os filhos das elites brasileiras estudavam na Inglaterra, estudavam nos Estados Unidos, estudavam na Espanha, estudavam na França, estudavam em Portugal e os filhos dos trabalhadores não tinham como estudar durante tempos e tempos.
Vocês vejam que nós somos um país com muitos problemas e que nós estamos tentando resolver problemas seculares nesse país. Vocês sabem que o Brasil foi o último país a ter uma Universidade Federal da América do Sul. Vocês sabem que a nossa primeira Universidade Federal foi em 1920. A do Peru foi em 1554 e a reforma universitária da Argentina foi, na verdade, em 1918.
Quando a gente ainda não tinha sequer uma Universidade Federal, a Argentina já tinha feito a reforma dela. Porque neste país, durante séculos, se achou que o povo mais pobre, que o povo da classe média baixa, que os trabalhadores não precisavam estudar. Eles só tinham que trabalhar. Naquele tempo, cortando cana. Naquele tempo, vendo os escravos fazerem os serviços sujos que os brancos não queriam fazer.
E este país está sendo recuperado nesse século XXI. Porque a gente acha que, primeiro, a questão da igualdade racial é uma questão moral, é uma questão ética. O preconceito é uma doença e a gente precisa tratar todas as pessoas em igualdade de condições.
Da mesma forma, é preciso a gente valorizar e respeitar essa discussão de gênero no país. Porque a mulher está provando que ela não é cidadã de segunda classe. Ela está provando que não é objeto. Ela está provando que não quer viver de favor. A mulher, ela quer estar onde ela quiser. Ela só vive com o homem se ela gostar. Ela só vive com outra pessoa por amor e não por obrigação.
Esse mundo nós estamos criando. As pessoas LGBTQIA+ têm que ser respeitadas. Porque nós temos que respeitar o ser humano. Este país nós estamos criando. E para criar esse país, a gente passa pela educação. Ninguém nesse país tem que ter vergonha de assumir o que é. Ninguém nesse país. E ninguém pode punir ninguém porque é diferente.
Afinal de contas, Deus, o Todo Poderoso, nos fez diferentes. E é com isso que a gente tem que aprender a conviver, a respeitar, a gostar, a amar as pessoas. E é através da educação que a gente vai fazer isso.
E eu vou repetir uma coisa que eu já disse aqui, mas vocês não estavam aqui da outra vez. Eu vou contar uma coisa. Eu sou o único presidente da República que não tem diploma universitário. O único. Esse país sempre teve como presidente fazendeiro, empresário, advogado, gente de muitos diplomas universitários. Eu sou o primeiro a não ter um diploma universitário.
Mas tenho muito orgulho de dizer: eu sou o presidente da República que mais fez universidade na história desse país. Eu sou o presidente da República que mais colocou alunos nas universidades. Nós, quando aprovamos a cota, é porque nós não queremos que alguém seja tratado de forma secundária pela sua cor. E nós achamos que era preciso garantir a oportunidade para que o povo negro pudesse fazer universidade nesse país. Eu tenho muito orgulho de ser o presidente da República que mais fez escolas técnicas nesse país, Institutos Federais.
Quando nós chegamos em 2003 à Presidência, a gente tinha apenas 140 Institutos feitos em 100 anos. De 1909 a 2003 fizeram 140. Eu vou terminar o meu mandato e vamos entregar, ao todo, quase 782 Institutos Federais. E só neste mandato serão mais seis institutos e só no Ceará serão mais seis institutos federais.
Porque é através da educação que a gente vai fazer a revolução e conquistar o estado de bem-estar social que nós queremos. Porque é preciso acabar com essa mania de achar que a gente gosta de ser pobre, de achar que a gente gosta de comer carne de segunda, de achar que a gente gosta de ir no fim da feira para comprar as coisas já amassadas, de achar que a gente gosta de andar a pé. Não. Não. A gente tem gosto. A gente gosta de se vestir bem. A gente quer ganhar bem. A gente quer estudar bem. A gente quer morar bem.
Olha, quem é que disse que a gente gosta de ser pobre? Quem é que disse para eles? Esse negócio de dizer que o pobre tem que sofrer agora porque vai ganhar o reino do céu quando morrer. Não. A gente quer viver bem agora. A gente quer comer agora. A gente quer estudar agora. A gente quer trabalhar agora. A gente quer ser respeitado agora. Olha, por que os filhos de alguns podem trabalhar com motorista dirigindo e os filhos dos pobres tem que ir a pé até 17 quilômetros, 18 quilômetros?
O que nós estamos provando nesse país é que o pobre não é problema, o pobre é a solução. Basta que a gente dê para ele a oportunidade. Eu tenho dito todo dia, companheiros: eu não sou economista, mas eu aprendi uma coisa na minha vida. Eu aprendi uma coisa: muito dinheiro na mão de poucos significa miséria, empobrecimento, analfabetismo, prostituição e violência. Agora, um pouco de dinheiro na mão de todos significa crescimento, desenvolvimento, significa elevação do nível de vida de cada um de nós.
É por isso que eu vim aqui pra entregar esse ônibus. É por isso que eu vim aqui pra entregar casa, porque as pessoas mais humildes — está escrito na Constituição: é direito da pessoa ter direito a uma casa e é obrigação da União garantir essa casa.
Então, companheiros e companheiras, eu sei, eu andava 6 quilômetros a pé para ir para o Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] fazer um curso todo santo dia. Eu sei como é difícil. E eu sei como é difícil uma menina, um menino de 10 anos, de 8 anos, de 14 anos sair de casa e andar 15 quilômetros com chuva, tendo que embrulhar a roupa da escola no papel plástico pra poder vestir quando chega na escola. Então, o que nós estamos fazendo aqui não é nenhum favor. O que nós estamos fazendo é cumprindo com a nossa obrigação de cuidar do povo brasileiro com muito amor e com muito carinho.
E o Ceará, eu quero outra vez dar os parabéns ao Ceará, porque esse estado aqui, esse estado é motivo de orgulho. É nesse estado que a gente tem a melhor educação fundamental. É nesse estado que os alunos mais ganham medalha de ouro nas Olimpíadas de Matemática. E por isso, é nesse estado que a gente teve um governador que melhor cuidou da educação e agora vai ter esse governador para continuar cuidando da educação.
E por isso, nós trouxemos o ITA pra cá, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Ele veio pra cá, ele só existia em São Paulo, em São José dos Campos. É um instituto de engenharia muito chique, só estuda lá quem é chique. Mas quem passa, 40% que passam são alunos do Ceará. E por isso, a gente resolveu dar de presente ao Ceará o ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que foi anunciado pelo Camilo, pelo Ministro da Defesa e por mim.
É assim que a gente faz as coisas, reconhecendo as necessidades do povo e reconhecendo quem trabalha em benefício do povo. Acabou o tempo que as pessoas mais humildes eram tratadas como invisíveis. Acabou o tempo. Nós temos que dizer: nós não somos invisíveis, nós somos seres humanos. Nós queremos ser enxergados e queremos que o governo faça política para nós. É isso que nós precisamos nesse país e é isso que eu vou fazer. E é isso que eu estou fazendo e é isso que eu já fiz. Por isso eu tenho muito orgulho de que quase tudo que é avanço na educação foi criado no meu governo. Sabe por quê?
Porque pelo fato de eu não ter diploma universitário, ao invés de eu ficar com raiva de não ter estudado, eu quero que os filhos das pessoas iguais à minha família estudem, estudem e estudem. Porque é através do estudo que as mulheres vão ser independentes. É através do estudo que os homens vão poder cuidar da sua família com mais carinho, com mais amor.
Por isso, queridos companheiros e companheiras, eu virei aqui outras vezes. Não pense que essa é a última vez, não. Eu virei muitas vezes aqui porque eu quero ajudar o companheiro Elmano a ser um governador que faça mais do que o Camilo fez. E depois, quando vier outro, que faça mais do que ele. Porque nós não queremos mais governador ruim, não queremos mais perfeito ruim. A gente quer gente que reconheça as qualidades do povo. Nós não queremos pessoas para destruir, nós queremos gente para construir.
Não é possível você governar um país, uma cidade ou um estado se você não pensar com o coração. A cabeça pensa com a razão, mas o coração pensa com o sentimento que só uma mãe pode ter e não tem nada mais justo do que uma mãe. Se uma mãe tiver dez filhos e tiver nove bonitões e um que esteja frágil, doente, é desse que está doente, que a mãe vai dar um pouco mais de leite, que a mãe vai dar mais um ovo, que a mãe vai dar mais um pedaço de carne. Porque governar é cuidar, e cuidar é ver quem mais precisa.
E hoje eu estou dizendo no Ceará: o povo do Ceará, os estudantes do Ceará estão precisando de transporte para serem respeitados decentemente. E nós estamos entregando 113 ônibus ao Ceará. É a primeira leva que nós vamos entregar, mas vão ser muitos, e eu espero ser convidado pelo governador e pelo Camilo para estar aqui em todos.
Queridos e queridas, eu queria dizer para vocês que eu estou indo, eu estou indo para o Círio de Nazaré, porque — eu não sei se vocês acompanharam — na semana passada eu fiquei quatro horas e meia dentro de um avião, em que a gente não sabia se o avião ia cair ou não. A gente não sabia. O motor estava estragado, e nós ficamos quatro horas e meia dentro do avião, rezando e pedindo a Deus para que nos trouxesse com vida.
E eu estou aqui, estou aqui para dizer para vocês: ninguém, ninguém, simplesmente ninguém, a não ser Deus, vai impedir que a gente faça desse país uma grande nação, que a gente faça esse país, o país da educação. E que a gente garanta a todos vocês o direito de serem cidadãos e cidadãs de primeira categoria e não de terceira, como eles querem que a gente seja.
Um abraço. Viva o Ceará, viva o [programa] Caminho da Escola e viva o povo brasileiro.