Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de reconhecimento das escolas IDEB Nota 10
Na verdade, eu estou preocupado com o horário do almoço das crianças, porque já são 15 para às 13h, e aí, vocês vão ter que comer no hotel, não é isso?
Mas, Camilo [Camilo Santana, ministro da Educação], apenas para, primeiro, agradecer o esforço que o Brasil está conseguindo com a aprovação do IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] em 2007.
Uma criança, para aprender, eu acho que algumas coisas precisam acontecer na vida dela. Uma criança, para ir na escola, algumas coisas têm que acontecer na vida dela.
Eu sempre me pergunto, quando uma criança começa a chorar em casa, que não quer ir para a escola, eu fico me perguntando se a escola está fazendo jus àquela criança ir à escola.
Porque o ideal é que a gente crie um sistema de funcionamento, de relacionamento, que a criança levante de manhã, tendo desejo, tendo prazer, tendo vontade de ir para a escola. Sabe aquele negócio que a gente faz, que nada impede que a gente faça? É assim que a gente tem que garantir que as nossas escolas sejam. A escola tem que ser um ponto de atração para que as crianças sintam vontade de ir.
Uma outra coisa é que os professores e as professoras têm que estar bem. Por isso que nós tiramos o piso salarial para ver se a gente garante, porque a professora cuida dos filhos desse país durante horas e horas e horas. E, muitas vezes, quando chega na remuneração, é sempre tudo muito pouco, a ponto de a gente ter, em muitos lugares, pessoas que não querem mais ser professoras porque não veem vantagem financeira.
E nós estamos preocupados em garantir o estímulo para que milhões de moças e rapazes queiram ser professores nesse país. E é por isso que nós temos que olhar sempre com muito respeito às condições de trabalho que têm os professores, o professor, o professor dentro de uma sala de aula.
O carinho com que o secretário trata a educação, com que ele trata todas as escolas. Porque o problema nosso é que quem cuida do ensino fundamental é o município, quem cuida do ensino médio é o estado e quem cuida do ensino superior somos nós. Mas, na verdade, o Governo Federal tem preocupação da creche até a universidade, porque ele tem que estar bem na creche, ele tem que estar bem no ensino fundamental, ele tem que estar bem no ensino médio e ele tem que estar bem na universidade.
E é por isso, que eu pedi a palavra aqui para agradecer a vocês. Porque eu acho que essa relação que vocês criam com a escola e com as crianças é o que vai motivar as crianças a levantarem de manhã e a primeira coisa é dizer para a mãe: “mãe, eu quero ir para a escola. Pai, eu quero ir para a escola.” E não faltar de jeito nenhum.
Por isso é que nós criamos o Pé-de-Meia, porque a gente fica pensando: como é que pode uma menina de 15 anos ou um menino deixar de estudar porque tem que trabalhar para ajudar a família a ganhar o pão de cada dia? Como é que é possível? Que país a gente vai criar?
Então, eu queria dizer o que vocês simbolizam para mim. Primeiro, o prazer de ser escolas do Nordeste. Porque uma das coisas que me agoniou a vida inteira era ler um jornal em São Paulo ou ver televisão e tudo que tinha na educação de ruim era o Nordeste o primeiro colocado: “o Nordeste é o que tem mais analfabeto. O Nordeste é o que tem mais evasão escolar. O Nordeste é o que tem mais crianças desnutridas. O Nordeste é o que tem menos doutor. É o que tem menos mestre. É o que tem menos universidade”.
E eu ficava pensando: será possível que nós fizemos algum erro histórico, algum pecado que Deus não gosta de nós? Será possível? E aí, nós resolvemos fazer da educação uma coisa extraordinária que começou com o ministro Fernando Haddad [ministro da Fazenda].
E eu tenho dito para o Camilo que ele tem uma tarefa muito grande. Porque, certamente, o Haddad foi o melhor ministro da Educação que eu tive. E o Camilo, agora, tem a obrigação de fazer com que o Haddad seja o segundo, e ele passe a ser o melhor ministro da Educação que esse país teve.
E uma das coisas que me motivou a convocar o companheiro Camilo para ser ministro é pela qualidade da educação no estado do Ceará já há algum tempo. Já há algum tempo. Não é um ano não, mas há vários anos, o Ceará tem se destacado em cuidar com muito carinho das nossas crianças, dos nossos adolescentes. Então, que ele viesse para cá para trazer a equipe de uma coisa que deu certo no Ceará para a gente colocar no Brasil inteiro.
Agora, nós temos a tarefa de pegar o que acontece de fato dentro de uma escola, como a de vocês, que motiva vocês a virarem Nota 10. E o que acontece nas escolas de vocês, nós precisamos garantir que aconteça em todas as escolas desse país. Em todas.
Porque, também, nós descobrimos que milhões de crianças no segundo ano da escola fundamental ainda estão analfabetas. E nós fizemos um pacto com governadores, fizemos um pacto com os prefeitos para ver se, até 2030, a gente pode chegar, no mínimo, a 80% das crianças no segundo ano do ensino fundamental totalmente alfabetizadas. Porque se ela for alfabetizada corretamente, a história dela vai muito...
É que nem as meninas que ganharam medalha de ouro nas Olimpíadas. Ou seja, porque o sacrifício é deixar de brincar para estudar, é fazer a tarefa de casa com muito carinho. Porque senão, se a gente deixar, a gente perde.
Quando o Camilo me avisa: “presidente, nós temos 68 milhões de brasileiros que não terminaram o ensino fundamental”. Ou seja, significa uma situação mais difícil. Quanto menos estudo, menos possibilidade de vencer na vida. Quanto menos estudo, menos possibilidade de viver uma vida melhor.
E o que vocês estão me trazendo aqui é o exemplo de que é possível a gente virar esse país de ponta à cabeça e fazer da educação a coisa mais importante desse país. Não há, na História da humanidade, nenhum país que se desenvolveu sem antes fazer investimento na educação.
Por isso é que quando nós tomamos posse em 2003, eu proibi utilizar a palavra gasto em educação. Educação não pode ser entendida por quem faz o orçamento como gasto. Educação é investimento, e é o mais importante investimento que um governo pode fazer, que um presidente pode fazer.
Por isso eu estou feliz. Estou feliz de ver que as coisas podem acontecer nesse país. E estou feliz porque pode acontecer, inclusive no Nordeste, essa reviravolta, em Alagoas, no Ceará, em Pernambuco, o pode acontecer em todos os estados. Em todos os estados. Por isso, vamos fazer uma grande festa no final do ano do IDEB para a gente motivar.
Eu lembro, as professoras devem se lembrar, os professores, que, quando nós criamos as Olimpíadas da Matemática em 2015, havia uma descrença de que crianças da escola pública não iriam entrar nas Olimpíadas da Matemática. Ela só existia em escola privada, no Ceará e no Piauí.
São Paulo tinha 280 mil alunos que participavam das Olimpíadas da Matemática. A Argentina tinha um milhão e pouco. Quando nós resolvemos colocar as escolas públicas, contra o descrédito daqueles que achavam que pobre não queria fazer Olimpíadas. Nós inscrevemos, no primeiro ano,10 milhões de crianças. No segundo ano, 14 milhões de crianças. E, no terceiro ano,18 milhões de crianças da escola pública se inscreveram para fazer as Olimpíadas da Matemática.
E, hoje, eu fico muito orgulhoso quando eu vou entregar a medalha de ouro para essas crianças. E nós criamos uma Faculdade de Matemática no Rio de Janeiro para que, entre os medalhistas, os melhores possam ficar em uma faculdade com lugar para dormir, com lugar para comer, para que a gente deixe de mandar os nossos gênios para o exterior e que a gente consiga formá-los aqui dentro do Brasil.
É isso que está predestinado para vocês. É isso que está predestinado para essas crianças que, hoje, estão aqui recebendo essa homenagem do ministro da Educação, minha e dos companheiros todos do MEC. Porque nós queremos que o mundo inteiro saiba que crianças brasileiras estudam, que crianças brasileiras vencem na vida e que o Nordeste não é mais símbolo do atraso. O Nordeste pode ser símbolo do desenvolvimento e da educação.
Por isso, Camilo, parabéns. E parabéns a todas as crianças. Parabéns a todas as crianças.