Pronunciamento do presidente Lula no lançamento da Rede Alyne de Cuidado Integral a Gestantes e Bebês
Queridas companheiras e queridos companheiros de Belford Roxo, eu queria que vocês soubessem que além de a gente vir aqui inaugurar um hospital infantil, a gente veio lançar um programa para cuidar das mulheres.
Mas eu também vim aqui num gesto de gratidão ao companheiro Waguinho [Carneiro, prefeito de Belford Roxo]. Eu conheço milhares de prefeitos no Brasil. Eu sou o único presidente da República que recebi todos os prefeitos do Brasil durante todo o período que eu governei esse país. Porque os presidentes não gostam de receber prefeitos.
E eu posso dizer para vocês, olhando na cara de cada mulher, de cada homem, de cada adolescente: se o Brasil tivesse mais prefeitos como o Waguinho, a gente seria muito melhor. A capacidade do Waguinho de trabalhar, a capacidade que ele tem de fazer as coisas acontecerem, e o carinho com que ele trata o povo de Belford Roxo é uma coisa invejável. É preciso a gente dizer ao Brasil inteiro que se todos os prefeitos tivessem a capacidade de trabalhar e a paixão pelo cargo que tem o Waguinho, esse país não teria metade dos problemas que tem nas cidades brasileiras. E eu também estou aqui, Waguinho, por gratidão.
A palavra gratidão é uma palavra muito simples. É uma palavra fácil de ser utilizada quando você está recebendo um favor. Mas é uma palavra também facilmente esquecida quando você é atendido.
E eu sei que num momento muito difícil da campanha de 2022, o Waguinho tinha convite para apoiar outros candidatos, porque ele não pertencia ao meu partido. E ele e a primeira-dama, Dani [Daniela Carneiro, deputada federal], tiveram a coragem, a decência de assumir a minha candidatura, mesmo sendo ameaçados, mesmo sendo provocados, mesmo sendo xingados. Por isso, meu querido Waguinho e minha querida Dani, obrigado pela decência de vocês na vida política do estado do Rio de Janeiro.
E também eu estou aqui porque eu tenho um compromisso com esse país. Eu, quando ganhei as eleições, eu disse que eu não sabia governar. O que eu sei é cuidar de pessoas. E as pessoas precisam ser cuidadas.
Quando a gente cria um programa chamado Rede Alyne, para a gente diminuir a mortalidade materna, a mortalidade de mulheres quando vão ter a luz. É importante que a gente, que é homem, saiba: nós sabemos fabricar um filho, mas muitas vezes a gente não tem a sensibilidade de saber o que a mulher sofre, da gravidez até o parto, o risco que elas correm.
E nós queremos criar um programa para que a mulher seja atendida com decência, para que a mulher faça todos os exames necessários, para que a mulher possa fazer todas as fotografias que ela quiser fazer do útero para ver como está a criança. Para que a gente possa fazer com que a mulher chegue saudável para o médico e saia de lá, além de saudável, com uma criança muito bonita no seu colo, para ser uma cidade mais harmônica, uma cidade mais feliz, uma cidade mais fraterna.
Por isso, eu quero parabenizar a minha querida ministra Nísia [Trindade], da Saúde, que está aperfeiçoando o tratamento das mulheres desse país.
E dizer mais para vocês, dizer mais para vocês. Quando nós criamos o Bolsa Família, a primeira coisa que nós fizemos foi fazer com que no cartão do Bolsa Família fosse colocado o nome da mulher, sem nenhum preconceito contra nós, os homens. Mas é que a mulher, ela tem um quê a mais. Ela é mais carinhosa. Ela sabe cuidar da família com mais carinho. Ninguém consegue dedicar amor tanto quanto uma mãe. É por isso que a gente resolveu dar o dinheiro para a mulher.
Porque se a gente desse para o homem, e o homem fosse corintiano como eu sou, ou vascaíno, ou flamenguista, ou Botafogo, no dia que o time perder, o cara pode querer pegar um pouquinho do dinheiro do Bolsa Família para tomar uma cachacinha. A mulher jamais fará isso. A mulher jamais fará isso.
A mulher não deixará de comprar um copo de leite para o seu filho, um pão para o seu filho, para jogar dinheiro fora. É por isso que nós colocamos o cartão no nome da mulher. Uma outra coisa importante que nós fizemos, o Minha Casa, Minha Vida.
O Minha Casa, Minha Vida, a gente faz questão de entregar a casa para a mulher. Porque a mulher, ela vai cuidar melhor. Qual é o nosso medo? O nosso medo é entregar a casa para o homem e quando eles brigarem, o homem vende casa e larga a mulher e a família abandonada.
E a gente quer proteger a mulher e sua família. É por isso que a gente está fazendo esse programa chamado Rede Alyne. É para que as mulheres, quando ficarem grávidas, elas sejam tratadas com decência, sejam tratadas com respeito. Não falte médico para fazer o pré-natal. Não falte médico para fazer o tratamento que é necessário fazer. Não falte a máquina necessária para fazer imagem da criança.
Eu, eu quando nasci, a minha mãe não sabia se era homem ou se era mulher. Quando eu casei em 69, que nasceu o meu primeiro filho, eu fui no domingo buscar a minha mulher no hospital. E eu levei uma roupinha cor de rosa e uma roupinha azul, porque naquele tempo a gente não sabia. A gente ficava tentando adivinhar e ouvindo conversas dos mais velhos. A mulher tinha tal problema, então era menina. A mulher tinha tal problema, então era homem.
E eu fui com uma roupinha de homem e uma roupinha de mulher. Cheguei no hospital, encontrei minha mulher morta e meu filho morto. Eu, hoje, tenho certeza absoluta que foi relaxamento, que foi falta de trato, porque as pessoas pobres, muitas vezes, são tratadas como se fossem pessoas de segunda categoria. E se é pobre e é mulher negra, é tratada como se fosse de terceira categoria.
E nós precisamos tratar todas as pessoas com respeito, com carinho, com muito amor, porque nós não iremos criar uma sociedade civilizada, humanamente respeitada, se a gente não tratar das pessoas, independentemente da cor, do berço que nasceu, da religião.
É por isso que, quando nós criamos o Bolsa Família, a gente colocou uma condicionante.
A mulher teria que fazer todos os exames quando ela estiver grávida. A mulher teria que garantir que os filhos frequentassem a escola, porque, se não frequentasse, ela perderia o Bolsa Família.
E é por isso que eu tenho orgulho de chegar aqui e encontrar uma pessoa com a plaquinha: "Lula, eu sou do Prouni". Porque o Prouni colocou os estudantes das escolas públicas da periferia desse país para fazer universidade. E é assim que a gente vai tratar as pessoas. É assim que a gente vai cuidar da cidade.
E é por isso que eu estou aqui, companheiro Waguinho. Eu estou aqui porque eu já passei e já comi o pão que o diabo amassou, que esse povo trabalhador come. Eu sei o que uma mulher sofre. Eu tenho cinco filhos, minha mãe teve doze filhos, todos com parteira, nem médico que ela tinha.
Então, eu acho que agora, esse programa que a Nísia está lançando, que é o aperfeiçoamento da Rede Cegonha, pode ficar certo: vai diminuir o número de mortes de mulheres por conta do parto.
Uma outra coisa que eu queria fazer e dizer para vocês: nós precisamos ter uma política muito severa para acabar com a violência contra a mulher. Nós precisamos ter uma briga muito... Porque a mulher não pode ser vítima de um cara que não tem escrúpulos. Se o cara quer beber para ficar violento com a mulher, ele que beba, dê cabeçada na parede do bar que ele bebeu, mas não vá para casa para ofender sua companheira, para agredir sua companheira.
Eu sou filho de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta. A minha mãe dizia quando eu casei: "meu filho, você vai casar. Você agora vai aprender a viver dormindo embaixo do mesmo teto com uma pessoa estranha que você achou, gostou e levou para casa. Se um dia você brigar com ela, nunca levante a mão para sua mulher, saia de casa e deixe ela viver tranquila".
E quando eu vejo um companheiro como nosso prefeito, como nosso prefeito, a declaração que o Waguinho fez para Dani é de causar inveja a Romeu e Julieta, que no século XVI foram motivo de uma grande crise. Eu vou aprender a fazer isso com a Janja. Janja, eu te amo. E aí você fala, você tem que falar que me ama.
[Janja: Eu te amo, meu amor.]
Já aprendi com o Waguinho aqui e é assim que eu gostaria que todo mundo fosse dentro de casa.
É assim que a gente cria harmonia entre a família. Por isso, companheiros e companheiras do Belford Roxo, eu queria que vocês tivessem certeza de uma coisa. Quando eu fiz a campanha, eu comecei a dizer que a gente ia gerar mais empregos. E em apenas um ano e nove meses de governo, nós já geramos 3 milhões de empregos com carteira profissional assinada.
Eu disse que iria recuperar a Petrobrás e vamos recuperar a Petrobrás. E vamos recuperar a indústria naval brasileira. E vamos fazer esse país voltar a dar aumento do salário mínimo todo ano. E também a gente, até o final do meu mandato, quem ganhar até R$ 5 mil não vai pagar imposto de renda nesse país.
Porque é para isso que vocês me elegeram. E é isso que eu vou fazer: tratar cada um de vocês com respeito, com carinho e fiscalizar se as leis que nós aprovamos estão chegando na casa de vocês, porque não tem sentido. Agora mesmo, Waguinho, nós criamos um programa Pé-de-Meia. E eu queria dizer para vocês, mulheres, e para vocês, homens, uma coisa que nós fizemos.
Nós descobrimos que o ano passado, 480 mil meninas e meninos que estavam fazendo o ensino médio desistiram da escola para poder ajudar no orçamento familiar. E eu, junto com o ministro da Educação [Camilo Santana], começamos a discutir. E nós falamos: "não é possível, se a gente deixar meio milhão de crianças, meninas e meninos, deixar de fazer o ensino médio, eles estarão jogando fora o melhor período da vida de um ser humano. E nós, então, temos que criar um programa".
E criamos um programa chamado Pé-de-Meia. A gente vai depositar R$ 200 por mês na conta do menino e da menina. Se durante 10 meses ele comparecer 80% na escola e ele passar no final do ano, nós vamos depositar mais R$ 1 mil. No ano seguinte, serão mais 10 de R$ 200. E no final do ano, se ele tiver comparecido 80% e passar de ano, mais R$ 1 mil na conta dele. E no terceiro ano, 10 de R$ 200. E se ele passar de ano, mais R$ 1 mil na conta dele. Quando ele terminar, se ele não precisar utilizar os R$ 200, ele vai ter R$ 9 mil na conta dele.
Tem gente que fala: "ah Lula, você está gastando dinheiro com a criança". E eu prefiro gastar dinheiro com as crianças do que gastar com dinheiro fazendo cadeia, para quando elas crescerem, ter uma formação profissional.
Então, queridos companheiros e companheiras, eu saio daqui hoje feliz. Saio feliz pela mãe da companheira, da nossa querida mãe da Milene. Porque foi vítima de uma morte por parto, coisa que a gente não pode admitir. Não, a bala perdida, desculpa.
A filha dela morreu por uma bala perdida. E a mãe dessa menina morreu aos 28 anos de idade, num parto. Então nós viemos aqui para dizer também, Waguinho, que o Governo Federal não é responsável pela saúde [segurança] pública do país.
Quem é responsável de direito, quem manda na polícia, são os governadores de Estado. Mas eu quero dizer para você, que eu estou convocando, ainda esse mês, os 27 governadores de Estado e vamos discutir com seriedade uma política de segurança pública para proteger a população. Não é possível continuar morrendo gente de bala perdida.
Porque esse negócio de bala perdida é porque o atirador é muito ruim ou porque ele está querendo matar quem é vítima e quem não está sendo culpado. Então nós vamos cuidar. Nós vamos cuidar das câmaras. Nós vamos cuidar para que os policiais sejam tratados também com respeito. É preciso ter um salário melhor. É preciso ter uma jornada de trabalho que permita o policial ser amigo do ser humano que mora na cidade e não o inimigo do ser humano.
Por isso, gente, eu ainda tenho dois anos e três meses de mandato. Vocês podem ficar certos que enquanto eu estiver no mandato esse povo vai comer a picanhazinha e tomar uma cerveja. Vocês podem estar certos que a gente vai fazer com o que… A gente já tirou 24 milhões de pessoas da fome e até o final do meu mandato não terá uma única mulher, uma única criança, um único homem que vá dormir sem ter comido três refeições por dia.
Todo mundo tem o direito de tomar café. Todo mundo tem o direito de almoçar e todo mundo tem o direito de jantar. Todo mundo tem o direito de ter uma casa e é por isso que as pessoas do Bolsa Família estão recebendo a casa de graça porque a Constituição garante que as pessoas tenham direito à moradia e é obrigação do Estado.
No mais, queridos companheiros e companheiras, quero me despedir de vocês, agradecendo mais uma vez o companheiro Waguinho. Agradecendo a esposa dele, Dani, agradecendo a minha companheira, Janja. Agradecendo a mais nova ministra de Direitos Humanos desse país. Ela é deputada estadual em Minas Gerais, ela foi vereadora em Minas Gerais; ela trabalhou no MEC com Fernando Haddad [ex-ministro da Educação e atual ministro da Fazenda]; ela foi secretária da Saúde; da Educação, em Belo Horizonte; ela foi secretária de Educação no estado de Minas Gerais; e ela agora é a mulher que vai cuidar dos direitos humanos nesse país.
No mais, gente, eu quero, tanto para a mãe que perdeu uma filha numa bala perdida, quanto para a filha de uma mãe que morreu no parto, dizer para vocês que eu quero ter força e ter a bênção de Deus para ajudar a gente a não permitir que nunca mais tenha pessoas como vocês sofrendo pelo abuso do poder que não cuida das pessoas como deveria cuidar.
Por isso, gente, um abraço no coração, um beijo no coração de cada mulher, de cada homem e até a próxima vinda minha a Belford Roxo.
Um abraço, queridos.