Pronunciamento do presidente Lula no anúncio de pacote de investimentos para Minas Gerais
Eu quero começar essa reunião dizendo que essa reunião começou errada. Por que que ela começou errada? Porque o ideal, na lógica que nós imprimimos nas últimas duas reuniões, é que a gente apresente as coisas que a gente vai apresentar para o estado. Aí depois falava o governador, depois falava o presidente, depois falava o presidente do Senado e outras pessoas. Mas nós começamos errado. Quero dizer para vocês, sabe, que foi um erro, não sei de quem, mas foi um erro aqui, que era para a gente começar a exposição.
Por que que eu decidi vir a Minas Gerais? Primeiro, o Juscelino [Filho, ministro das Comunicações] pode ter andado mais em Minas Gerais, porque ele foi o governador de Minas Gerais, mas eu duvido que tenha um presidente da República que tenha andado Minas Gerais como eu já andei, desde os anos 80, na criação do PT, na criação da CUT, nas eleições. Não tem uma reunião de Minas Gerais que eu já não pisei os meus sapatos tentando campanha política para prefeito, para governador, para deputado federal, para presidente da República. Essa é a vantagem e a desvantagem de ter perdido muita eleição, porque eu tive que visitar muita gente.
Eu lembro que quando a Luiza Erundina ganhou as eleições de São Paulo, eu não fiquei na posse da Luiza Erundina. Eu fui a Araçuaí, na posse da Cacá [Maria do Carmo], que era a primeira negra que tinha sido eleita prefeita do PT, numa cidade pequena. E eu peguei um aviãozinho pequeno e fui na posse da companheira Cacá. E foi uma cena interessante, porque o prefeito tinha tirado a chave da porta para a gente não entrar na prefeitura. E nós tivemos que quebrar a porta para entrar na prefeitura.
Eu também começo dizendo para vocês que em todo estado que eu chego, e falo isso não por arrogância, eu falo isso para provocar vocês a estudarem e a pesquisarem. Em todo estado que eu chego, e eu vou dizer aqui uma coisa, eu duvido que, em algum momento da história, algum presidente da República colocou mais dinheiro nos estados do Brasil do que nós colocamos nos nossos governos. E faço isso por uma coisa muito simples. O que nós vamos anunciar aqui não é uma coisa pensada pelo presidente da República ou pensada pela Casa Civil.
O que nós vamos apresentar aqui é uma proposta de obras públicas que começou a ser construída com a primeira convocação que eu fiz, em janeiro de 2003 (2023), numa reunião em que todos os governadores do Brasil foram chamados para dizerem ao Governo Federal quais as obras que eram prioritárias para cada estado. E os 27 governadores compareceram, e os 27 governadores, depois de algum tempo, apresentaram ao Governo Federal aquilo que era considerada a obra mais importante para os seus estados.
Então o que tem aqui que nós vamos apresentar de obra de infraestrutura tem o dedo do governador e do povo de Minas, tem o dedo do prefeito [de Belo Horizonte] Fuad [Noman] e tem o dedo, talvez, de muitos parlamentares aqui.
E por que que nós resolvemos fazer isso? Porque no Brasil nós não temos o hábito de ter continuidade nas obras de um governo para o outro. O problema no Brasil é que todo governante que entra, ele quer fazer a sua marca. E se tiver uma obra importante feita por um outro governo, ele para sem nenhum pudor. Ele para e vai fazer a dele, porque ele quer a marca dele. A marca dele não é a melhoria da qualidade da vida do povo, do estado, mas é o seu viaduto, é a sua ponte, é a sua estrada. Quando é uma bobagem, porque a gente mede a qualidade das obras de um estado pelo conjunto da obra que a gente faz.
E é por isso que eu estou aqui muito à vontade para dizer o que a gente vai anunciar não é um pensamento do Governo Federal, é o resultado do compartilhamento de uma política pública civilizatória que nós resolvemos adotar no país, porque o papel do presidente da República não é ficar preocupado a que partido pertence o governador, mas é ficar preocupado com o povo do estado que elegeu o seu governador. Essa é a primeira coisa para ficar muito tranquilo.
Eu já estive com muitos governadores de Minas Gerais. Muitos governadores, sabe? E o último foi o companheiro Aécio [Neves], que governou esse estado oito anos, do PSDB, depois o [Fernando] Pimentel. E a gente não faz diferença de tratamento nem para governador, nem para prefeito. Todas as políticas de saúde que nós vamos apresentar, todas as políticas de educação que nós vamos apresentar, todos os programas que nós vamos apresentar aqui foram compartilhados ou com o governo ou com prefeitos.
Porque o que nós queremos é que as obras sejam resultados do compartilhamento das necessidades das cidades e não a invenção do presidente da República. Quando a gente age assim, a gente não governa. Sabe por quê? Porque cada ministro quer fazer a sua obra. Cada ministro quer ter a sua fotografia. Cada ministro quer inventar uma política pública. E no conjunto não acontece nada. Acontece um pequeno de poucas coisas.
Se eu perguntasse para vocês aqui, para a imprensa, me lembre uma obra de infraestrutura que o governo passado fez aqui no estado de Minas Gerais. Certamente vocês não teriam essa obra, porque ela não existiu. Ela não existiu.
Bem, dito isso, eu vou pedir para o companheiro Rui Costa ser o coordenador desta mesa aqui. O Rui Costa vai falar um pouco do PAC e vai chamar os ministros para explicar em cada área o que vai acontecer. Vocês sabem que nós, ao tomarmos posse, a gente encontrou um país, até, sem orçamento da União. E o presidente Pacheco [Rodrigo Pacheco, do Senado] disse uma coisa verdadeira. Uma coisa verdadeira. A Câmara e o Senado tiveram a grandeza de aprovar uma PEC da transição. É uma coisa sui generis no mundo. Nunca um presidente começou a governar sem tomar posse. Pois nós começamos a governar dois meses antes de tomar posse, porque nós tivemos que fazer um orçamento, inclusive, para pagar as dívidas do ex-presidente. Um orçamento para cumprir os compromissos que ele tinha assumido e que não tinha pago.
E depois nós fomos reconstruir o país. Foram 187 mil obras paralisadas, inclusive, delas, a maioria casas populares que já estavam contratadas e que agora a gente está tentando fazer novos contratos para retomar essas casas.
São quase 6 mil obras nas escolas que estão sendo agora preparadas para a gente reconstruir, porque os projetos ficaram defasados, porque as empresas não existiam mais e a gente então tem que refazer os contratos, recontratar outras empresas, inclusive fazer os reajustes atualizados dos preços dessas obras.
Casas que estavam quase prontas, nós encontramos as casas, as pessoas roubaram telha, as pessoas roubaram porta, as pessoas roubaram vitrô, porque eram coisas abandonadas. E como as pessoas precisam, as pessoas vão pegando. E nós agora temos que tentar reconstruir tudo isso.
Então, o ano de 2023 foi um ano de preparação do terreno. Um ano em que a gente, sabe, fez o manejo da terra. A gente não é mais arado, mas a gente arou a terra. A gente preparou a cova para plantar. Colocamos a semente, cobrimos a semente e estamos agora aguando. E este é o ano que começa a colheita. Por isso que eu vim a Minas Gerais.
E é importante dizer para vocês que isso nós estamos fazendo em muitos estados da Federação. Eu acabei de ir ao Rio de Janeiro, acabei de ir ao encontro do governador de São Paulo. E, às vezes, eu acho engraçado as manchetes dos jornais, porque ela não tem nada a ver com a vida real do que acontece. "Lula faz reunião com os governadores bolsonaristas porque o Lula quer dividir". Eu não quero dividir nada. Eu não quero dividir, eu não estou fazendo reunião com governador. Eu estou conversando com o governo do Estado que foi eleito pelo mesmo povo que me elegeu, pela mesma urna que me elegeu, e que tomaram posse e que, portanto, tem que governar.
Eu nunca vou pedir para um governador ou um prefeito gostar mais de mim ou gostar menos de mim. Eu já sou casado, tá ali a Janjinha. E muito bem casado. O que eu quero é que a gente construa no país uma relação civilizada. Dois políticos podem ser de partidos diferentes, ser de religiões diferentes. Torcer aqui em Minas Gerais para times diferentes.
Por exemplo, eu sei que a maioria de mineiro é atleticano, mas eu não nasci. Mas eu, eu torço para o Cruzeiro. É que eu sou, eu nasci antes da geração Paulo Isidoro, sabe? Eu nasci na seleção do Tostão, do Dirceu Lopes, do Joãozinho, do Natal. Então, foi essa geração que me fez conhecer o futebol de Minas Gerais. Então, eu sou de uma turma, depois veio o Atlético com aquele timaço, sabe? Mas eu já tinha feito a opção, porque eu vi o Cruzeiro enfiar 5 a 2 no Santos com o Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Então, veja, mesmo o fato de nós torcermos para time diferente, eu e a Janja, por exemplo, ela é flamenguista e eu sou corintiano. Então, você veja o sofrimento que eu estou com o meu Corinthians quase no limbo e ela com o Flamengo dela, cheio de coisa, até contratou o Tite. A minha sorte é que o Gabigol perde mais gol do que marca. Então, eu estou, estou aí tranquilo.
Mas eu estou dizendo isso porque eu já convivi com muita gente, quando a gente chega a uma certa idade, o que a gente traz superior aos outros é experiência, é a convivência. Eu já convivi com tanta gente adversária, com tanta gente que não gostava de mim e que eu também não fazia nem o apreço de gostar. Mas o que eu acho é que a gente precisa ter responsabilidade de relacionamento.
Nós temos um Congresso Nacional em que o meu partido só tem 70 deputados e nós temos 513 deputados. E, para aprovar as coisas, nós temos que conversar. Conversar com quem não votou na gente. E nós temos que conversar com relação de respeito, porque as pessoas também não são obrigadas a votarem naquilo que o presidente da República manda. Nem sempre o presidente é o dono da verdade. Então nós temos que aceitar, da forma mais democrática possível, quando o presidente manda um projeto de lei para o Congresso, os deputados quererem mudar, quererem fazer emenda, os partidos quererem negociar aquilo. Qual é a diferença nisso?
Mas aqui nesse país foi criado que negociar é adotar a política de é dando que se recebe. Aqui nesse país se criou a cultura de que quando um partido faz uma emenda, numa medida provisória do governo, houve corrupção. Quando, no mundo inteiro, a palavra correta é negociação e compreensão da arte, do exercício de uma coisa chamada política, que não precisa ter curso universitário, tem que ter maturidade política, tem que ter inteligência, que a gente não adquire no banco da escola.
Então eu vim a Minas Gerais para mostrar para vocês os compromissos do que já foi feito e o que vai ser feito a partir de agora a Minas Gerais. Nenhum ministro meu pode inventar mais um projeto. Nenhum. Em 2007, quando eu fiz o PAC em fevereiro de 2007, eu disse: a partir de agora... O Helio Costa estava lá, que era meu ministro, Felipe também. “A partir de agora, é proibido ministro ter novas ideias. Agora é cumprir o que está aprovado no PAC.”
Pois bem, o PAC é resultado de um parto que envolveu prefeitos, envolveu governadores, envolveu muita gente. Então, no meu governo, a partir de agora, ninguém tem mais ideia. Se tiver ideia, vai colocar num cofre que eu vou colocar na minha sala, para ir jogando as boas ideias. Um dia alguém aproveita. Agora, o que nós temos que fazer é trabalhar, porque nós fomos eleitos para isso, para trabalhar. E é o que o povo brasileiro espera de nós.
Por isso, é com muito orgulho que eu estou outra vez aqui nas Alterosas para falar com esse extraordinário povo mineiro.
Um beijo no coração de vocês. Rui Costa, assuma o comando da coordenação de lançamento das nossas propostas aqui.