Pronunciamento do presidente Lula na recepção dos atletas paralímpicos que representaram o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris
Meu querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; querido ministro André Fufuca, do Esporte; querido ministro Celso Sabino, do Turismo; querida companheira recém-empossada ministra dos Direitos Humanos, a companheira Macaé (Evaristo), que foi secretária de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte, depois foi secretária de Educação do estado de Minas Gerais, depois foi vereadora, depois foi deputada estadual, trabalhou com o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] no Ministério da Educação, e eu a trouxe para ser ministra dos Direitos Humanos. Mais uma mulher.
Se ela praticasse esporte, ela ia ser que nem você: halterofilismo. O Jacques Wagner já foi embora, o nosso senador da Bahia, líder do governo do Senado; senador André Amaral, da Paraíba; Mizael Conrado de Oliveira, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro; Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional.
Companheiros atletas, eu não vou repetir o nome de cada um porque senão vocês vão achar que já devem ser candidatos a vereador nas próximas eleições. Então, eu não vou ler o nome de vocês, porque o Fufuquinha (ministro André Fufuca) já leu, prestando uma homenagem a vocês.
Bem, é sempre muito difícil falar com vocês porque eu acompanho a luta dos atletas paralímpicos desde o meu primeiro mandato em 2003. E a gente sabe das dificuldades das pessoas que não têm nenhuma deficiência física. E a gente fica imaginando a dificuldade de uma pessoa que já tem problema e que tem muito mais dificuldade de fazer qualquer coisa, que, muitas vezes, não tem a compreensão da própria família de que, mesmo que uma pessoa tenha uma deficiência, ela está apta a fazer um tipo de exercício, a praticar um tipo de esporte em função da sua vontade, em função da sua disposição. Porque eu sempre disse que não tem nada impossível para um ser humano quando ele quer fazer alguma coisa.
Eu lembro que, no tempo que a gente criou o Segundo Tempo, era um programa do Ministério do Esporte em que a gente ajudava muitas escolas, a gente fazia rede, fazia bola de futebol, fazia um monte de coisa de esporte, e eu fui em várias escolas ver as crianças, crianças de 6, 7, 8 anos, cada um com a sua deficiência, mas com uma vontade, com uma vontade de fazer as coisas.
E, muitas vezes, as famílias têm uma certa precaução. “Ah, não vou deixar fazer tal coisa porque é difícil”, “Não vou deixar fazer tal coisa porque é dolorido”, “Não vou fazer tal coisa porque não pode”. Mas, quando a gente acredita e coloca na mão de vocês estruturas que o Estado tem que colocar, facilita muito a vida das pessoas. E aí, meu caro presidente internacional, é apenas uma questão de oportunidade, uma questão de chance.
Todas as pessoas, se tiverem oportunidade, mesmo que nunca tenham praticado esporte e a gente mostrar para ela que a prática do esporte não é a consagração de uma medalha. Uma medalha é o ápice, sabe, que é a gente tem quando a gente se inscreve para disputar. Mas os atletas que não ganharam medalha merecem a minha consideração, o meu respeito, igual a todos que receberam medalha de ouro, medalha de prata, medalha de bronze.
Porque é muito difícil a pessoa se dedicar, durante quatro anos, a pessoa treinar, a pessoa saber que se não treinar não vai chegar lá e chega lá, às vezes, por um negocinho qualquer, por um piscar de olho, a medalha foge da nossa mão.
Eu fico imaginando: eu nunca perdi medalha, mas eu perdi três eleições. E eu sei o que é difícil a medalha escapar da mão quando você pensa que vai ganhar e você perde. Mas, ao mesmo tempo, o que aconteceu comigo nas minhas medalhas é que eu não desisti. Não desisti. Continuei. E é o que eu peço aos atletas paralímpicos que foram para Paris: não podem desistir nunca, não podem desanimar.
Eu quero assumir um compromisso público. Enquanto eu for presidente da República, não faltará estrutura para que vocês possam se preparar de manhã, de tarde, de noite. E para que a gente possa colocar milhares de pessoas que têm problemas, que gostariam de uma oportunidade. A família não tem dinheiro; às vezes, o pai ganha um salário mínimo; às vezes, a mãe não tem noção; às vezes, o irmão não sabe, ou seja, quem tem que fazer isso é uma prefeitura, que tem que estar preparada para cuidar. Quem tem que fazer isso é o Estado, como o Alckmin fez no Estado de São Paulo. E quem tem que fazer isso é o Governo Federal.
A gente arrecada dinheiro do povo para administrar o país. Uma parte desse dinheiro pode ser revertida em forma de benefício para aquelas pessoas que querem trabalhar por esse país, que querem fazer o bem por esse país. Vocês não sabem do orgulho e do sofrimento.
Orgulho porque, quando a gente vê uma pessoa com deficiência dentro de uma piscina e saber que eu, que não tenho deficiência, não sei nadar, eu fico pensando: “que vergonha que eu posso passar de ver um Gabrielzinho [nadador, campeão paralímpico] nadando do jeito que nadou e eu, um grandão desse tamanho aqui, sem saber nadar”.
E olha que eu morei em Santos durante muito tempo. Está certo que a terra onde nasci em Pernambuco não tinha rio, não tinha praia onde eu nasci, e tinha um açude pequenininho que não dava nem para uma cabra tomar banho, quanto mais para eu nadar. Mas, então, vocês não sabem o orgulho que eu tenho quando eu vejo vocês disputando alguma coisa.
Seja um jogo de vôlei, seja um jogo de basquete, seja natação, seja halterofilismo, seja arremesso de dardos, seja no judô. Eu acho uma coisa tão espetacular. Sabe, a pessoa que tem um problema físico, ela levanta e fala: “Eu vou porque eu posso”. E treina.
Isso é motivo de orgulho para qualquer país. Isso é motivo de orgulho. O que vocês fizeram na França foi uma façanha, foi uma epopeia. Não apenas pela medalha, mas pelo clima que foi criado em torno do que o Brasil poderia representar na França. Eu lamentei, profundamente, não poder estar lá dessa vez, nem nas Olimpíadas, nem nas Paralimpíadas, porque as tarefas aqui eram imensas.
Mas eu quero que vocês saibam, companheiros, quero que vocês saibam, companheiras, que, da parte do Governo Federal, enquanto eu e o Alckmin estivermos na presidência e na vice-presidência, enquanto Fufuquinha for ministro do Esporte, vocês podem ter certeza que, em qualquer competição que vocês forem participar, e fora de competição, qualquer problema que vocês tiverem, vocês têm que saber que o governo não quer estar alheio a encontrar solução para os problemas.
Nós seremos parceiros porque vocês merecem respeito, porque vocês merecem consideração e porque vocês são brasileiros e brasileiras que não desistem nunca. E quem não desiste nunca merece muita consideração.
Um beijo no coração de cada uma de vocês, de cada um de vocês e contem conosco. Contem conosco hoje, amanhã e sempre. Nós não faltaremos ao amor, à dedicação de vocês, ao esforço de vocês por praticar esporte. E Deus queira que, num curto espaço de tempo, Fufuca, a gente tenha, numa combinação com o Ministério da Educação e com outros ministérios, condições de a gente ter, veja, em cada cidade você pode ter um pequeno aparelho.
Não precisa ser uma coisa de luxo. É de um pequeno aparelho em que uma mãe possa pegar sua filha, seu filho, e colocar à disposição de professores e professoras que estão preparados para tentar dar uma iniciação, uma nova vida com muito mais disposição para uma pessoa com deficiência.
Cada estado pode ter. E não é difícil que a gente faça isso. Não custa caro. Eu sempre falo: tudo que a gente quer fazer no país, aparece alguém para escrever “custa muito caro, custa muito caro”. As pessoas nunca perguntam quanto custa não fazer as coisas.
Quanto custa a gente não ter criado atletas da competência de vocês 20 anos atrás, 30 anos atrás? Então, podem contar conosco, que vocês vão continuar sendo motivo de orgulho, e eu peço a Deus que outras milhares e milhares de crianças e adolescentes, que têm algum problema de deficiência, possam entrar no mundo do esporte e viver uma vida com muita dignidade e respeito. Um beijo, gente.