Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de novo bloco do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia
Queridas companheiras e queridos companheiros, desnecessário seria eu falar, depois de falar o nosso magnífico reitor, depois de falar a nossa magnífica estudante, depois de falar a ministra da Saúde, depois de falar o ministro da Educação. Nós vamos sair daqui e nós vamos para a Bienal do Livro, em São Paulo, onde a gente vai anunciar também muita coisa para a educação, para a literatura, para as editoras.
Eu quero começar cumprimentando a minha querida companheira Janja [primeira-dama do Brasil], os meus queridos ministros Camilo Santana, da Educação; Nísia Trindade, da Saúde; Alexandre Silveira, de Minas e Energia; e Jader Filho, Ministro das Cidades. Jader, nessa cidade, 9,5 mil pessoas adquiriram casa pelo Fundo de Garantia e, no plano no Novo PAC, nós temos 2 mil casas novas comprometidas a fazer aqui em Uberlândia.
Meus queridos companheiros deputados Odair Cunha, líder da bancada do PT, André Janones [deputado federal] e companheiro Welinton Prado [deputado federal]. E eu quero, Welinton, agradecer a você e te dar os parabéns pela iniciativa de fazer com que a emenda parlamentar tenha utilidade coletiva e não utilidade pessoal. Quero cumprimentar o nosso querido Valder Esteffen Junior, magnífico reitor da Universidade Federal. Eu acho bonito falar magnífico reitor, eu acho maravilhoso.
Bem, eu vou pegar esse título para magnífico metalúrgico, magnífico estudante, magníficas mulheres. Eu quero cumprimentar a nossa querida excelentíssima senhora Marinalva Vieira Barbosa, magnífica reitora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Quero cumprimentar o companheiro Marcelo Ponciano da Silva, magnífico reitor do Instituto Federal do Triângulo Mineiro.
Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Arthur Chioro, que foi ministro da Saúde no segundo mandato da Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil] e que é um companheiro da mais alta qualidade que hoje tem, sob a sua responsabilidade, 45 hospitais universitários e está fazendo maravilha nesse país. Quero cumprimentar o meu companheiro Silva Rondeau, presidente da ENBPar.
Quero cumprimentar o Marcus Vinícius de Pádua Netto, superintendente do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. Quero cumprimentar o companheiro Gilmar Machado, ex-deputado federal, ex-prefeito e assessor de assuntos parlamentares do nosso companheiro Padilha [Alexandre, ministro das Relações Institucionais]. Quero cumprimentar a Roseane Eloiza Máximo Silva, médica servidora deste hospital. Quero cumprimentar a Débora Cruvinel dos Santos, aluna de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
Meus queridos companheiros e minhas queridas companheiras.
Eu falei que desnecessário seria falar, porque já tinham falado outras pessoas. Mas, sinceramente, eu não resisto ao microfone. Então, me deixaram o microfone aqui, eu falei: já que está aqui, eu vou falar. E eu queria, primeiro, dizer para vocês o prazer, a alegria e a satisfação de estar recuperando milhares de obras que foram abandonadas nesse país. Só na educação foram mais de 6 mil obras paralisadas desde que nós deixamos o governo. Hoje, eu tenho viajado o Brasil para inaugurar programas do Minha Casa, Minha Vida que começaram a ser construídos em 2012 e 2013.
Eu tenho viajado para inaugurar obras hospitalares, UPAs [Unidade de Pronto Atendimento], UBS [Unidade Básica de Saúde], hospitais, hospitais universitários que ficaram parados desde 2012 e 2013. Eu tenho visitado para reconstruir esse país, porque esse foi o compromisso que eu assumi: de provar que esse país vai voltar a ser um país grande, que trate do seu povo com respeito, que trate da família com carinho e desperte na juventude brasileira a ideia e a certeza de que não precisa nascer em berço de ouro, de que não precisa ser rico para ter oportunidade de ser doutor nesse país. Porque nós queremos garantir que todas as pessoas, independente da origem social, independente da religião, independente da cor, independente do seu pensamento ideológico, nós queremos garantir que todos, simplesmente todos, tenham oportunidade de disputar nas mesmas condições a vaga para qualquer coisa neste país.
Esse é um sonho que nós queremos que vocês nunca percam, porque, na verdade, esse país não foi feito para os pobres participarem de nada. Nós nascemos, durante um determinado tempo, apenas para sermos cortadores de cana e para fazer trabalho escravo que ninguém queria fazer. É por essa razão que este país imenso, que foi descoberto em 1500, teve a sua primeira Universidade Federal apenas em 1920, 420 anos depois da descoberta. Enquanto o Peru, em 1554, já tinha a Universidade São Marco.
E isso só aconteceu porque a elite que mandava nesse país, a elite política que governava esse país, sabia que pobre não precisava estudar. Pobre nasceu para cortar cana, para trabalhar de pedreiro, para trabalhar de servente de pedreiro, para trabalhar de lixeiro na rua, para fazer coisas que ninguém quer fazer. E mulher não pode estudar, porque mulher vai escrever carta para namorada. Eu ouvi meu pai bater nas minhas irmãs, porque ele não queria que elas fossem nas escolas para não escrever cartas para o namorado.
Eu fico imaginando quantas pessoas nesse país tinham como Aristides [Inácio da Silva, pai do presidente Lula], que criava filhas apenas para obrigá-las a casar com quem ele escolhesse. E nós resolvemos dizer: chega, chega! Nós não queremos ser tratados como se fôssemos de segunda classe. Nós não queremos ser telespectadores. A mulher não quer ser mais tratada como um ser humano de segunda classe. A gente quer ser tratado com respeito. A gente quer ser tratado como gente de verdade, independente daquilo que nós somos, inclusive da nossa opção sexual.
Nós somos o que nós somos, e é assim que Deus ama cada um dos seres humanos que estão no planeta Terra. E esse país precisa mudar, e para mudar, a gente tem que fortalecer a democracia. A democracia é uma coisa muito relevante e muito importante. Primeiro porque a democracia pressupõe a alternância de poder. Você pode eleger uma pessoa branca, uma pessoa negra, uma pessoa rica, uma pessoa pobre, um intelectual ou um metalúrgico. Você elege, se você não gostar dele, você tira ele e elege outro.
Mas a alternância de poder é uma coisa extraordinária e eu tenho muito orgulho de ser na América Latina, de ser, inclusive, quase entre todos os países do mundo, o único operário metalúrgico que chegou à Presidência da República desse país e já foi eleito três vezes. Eu tinha muito medo de repetir o insucesso do companheiro Walesa [Lech Walesa, ex-presidente da Polônia]. O Walesa fez greve no estaleiro de Gdansk, o estaleiro naval, em 1980, quando a gente estava em greve em São Bernardo do Campo.
A imprensa falava mais da greve da Polônia do que da greve nossa. A greve de lá, eles elogiavam, porque era a chance de derrubar os comunistas que dirigiam a Polônia, e aqui no Brasil eles nos criticavam, porque eram os metalúrgicos que queriam ganhar mais aumento de salário e viver mais dignamente. Pois quis a natureza que o Walesa chegasse à presidência da República e ele foi candidato à reeleição e só teve 0,5% de voto, numa demonstração de que ele não conseguiu fazer aquilo que prometeu.
E eu fui presidente da República, quando deixei o meu mandato em 2010, eu tinha 87% de bom e ótimo, eu tinha 10% de regular e 3% de ruim ou péssimo. E tenho consciência, tenho consciência e muito orgulho de ter investido na educação, de ter acreditado em levar universidades para o interior desse país, de ter tido com o companheiro Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] e os meus ministérios a sabedoria de criar o Prouni para garantir que as pessoas pobres de escolas públicas da periferia tivessem condições de estudar uma vaga na USP em qualquer universidade federal desse país.
Tive o prazer de ser o cara que deu cidadania ao jovem do FIES, porque o FIES existia antes de eu ser presidente. Mas acontece que ninguém tinha acesso ao FIES, porque quando um estudante ia na Caixa Econômica pedir empréstimo para pagar a universidade, a primeira coisa que o gerente da Caixa pedia era um fiador. E vamos ser francos, nem todo pai confia no filho para ser fiador dele, porque se o filho não pagar, a dívida vai arrebentar nas costas do pai.
E eu falei, sabe de uma coisa, se o pai, porque fiador é difícil. Eu não sei qual é a experiência de vocês, mas 27 anos que eu passei dentro de uma fábrica, quando a gente ia mudar para outra casa, a gente procurava um companheiro e falava: “companheiro, eu estou mudando de casa e o cara está pedindo um fiador, você que tem casa própria, você não quer ser meu fiador?”. O cara falava: “amanhã eu te dou a resposta, que eu vou falar com a minha mulher”. E no dia seguinte ele falava: “minha mulher não quis, eu não posso ser fiador”.
É muito difícil, e sabe qual foi a atitude que nós tomamos para ser fiador? Nós assumimos a responsabilidade que o Estado brasileiro iria ser o fiador dos meninos e das meninas que pegassem dinheiro no FIES. E agora, que muitos não conseguiram pagar, nós criamos o Desenrola, e muitas dívidas foram negociadas apenas por 10% do valor disso. Da mesma forma os Institutos Federais. Esse país, desde 1909 até 2003 só fez 140 institutos federais.
Lula e Dilma, em apenas 15 anos, nós vamos fazer 782 institutos federais. Porque a minha obsessão por educação, eu falo todo dia, é porque eu não tive oportunidade de fazer um curso universitário. Vocês não sabem como eu tinha vontade de ser economista, porque economista é um bicho sabido. Quando está na oposição ele sabe tudo, quando chega no governo ele esquece, parece que a amnésia toma conta da cabeça deles.
E eu, por não ter o direito de fazer universidade, eu assumi um compromisso com a minha consciência de que eu vou fazer o que eu puder para que todas as crianças, homens e mulheres, negros e brancos, baixo e alto, corintiano ou palmeirense, atleticano ou cruzeirense, todos, sem distinção, todos possam ter a oportunidade de sentar numa mesa de escola e disputar a vaga na universidade. O filho do pedreiro disputando com o filho do engenheiro, o filho da empregada doméstica disputando com a filha da patroa.
Não porque eu quero tirar alguém que está num nível acima, não porque eu não quero que eles estudem, eu não quero prejudicar ninguém. O filho do rico também tem interesse em ter a universidade. O que eu quero é apenas dar oportunidade a quem nunca teve oportunidade nesse país e a democracia é isso. A democracia não é só votar, a democracia é tomar café de manhã, almoçar e jantar. A democracia é ter o direito de estudar, é ter acesso à cultura, a um lazer. A democracia significa você morar com decência, trabalhar e ter um salário justo. A democracia significa a gente conviver com quem pensa diferente da gente e se respeitar como ser humano civilizado.
A democracia pressupõe um homem respeitar a sua mulher e nunca levantar a mão para bater na mulher, porque a mulher não foi feita para apanhar, a mulher foi feita para ajudar o processo de transformação do mundo. É esse mundo que nós queremos criar e é esse mundo que fez correr risco no Brasil. Nós vivemos quatro anos de apagão, apagão democrático, apagão civilizatório, onde a mentira, a arrogância, a prepotência era que prevalecia no comportamento de um governo que não viajava a estado que o governador não fosse dele. Está aqui o Camilo, que foi o governador do Ceará, o melhor governador do Ceará, o melhor que formou na educação, nunca recebeu o presidente da República.
E eu, em todo estado que eu vou, eu convoco o governador para participar e convoco o prefeito. Não vem se não quiser, mas o Lulinha não vai deixar de convidá-los, porque eu aprendi com uma mulher analfabeta que me criou, que respeito é bom, eu quero dar, mas eu faço questão de receber. Eu aprendi a não andar de cabeça baixa nesse país, eu aprendi a andar de cabeça erguida, não por prepotência, com o nariz empinado, mas olhar as pessoas olho no olho.
E quero dizer para a minha querida ministra Nísia, quando eu fui eleito presidente agora, eu fiquei pensando, eu já tive cinco ex-ministros da Saúde, cinco ex-ministros da melhor qualidade, inclusive o Chioro, Padilha, Humberto Costa e tantos outros.
E eu falei: bom, eu vou ter que chamar um que foi ex-ministro para ser meu ministro. Aí eu pensei: por que não uma mulher? Aí eu pensei: por que não uma pessoa que não é médica? Eu resolvi escolher a nossa querida Nísia Trindade, que era a presidente da Fiocruz. Outro dia, numa reunião ministerial, eu fiz a Nísia chorar, porque eu pedi na reunião que ela fosse dura quando ela falasse com as pessoas, e ela falou: presidente, eu não vou ser dura com ninguém, eu não nasci para ser dura, eu sou muito calma, muito tranquila e eu faço aquilo que eu sei fazer, eu não vou ser dura com ninguém.
Por isso, eu acho que a dureza dela é a tranquilidade que ela tem de falar com as pessoas num tom baixo, respeitoso e ser ouvida, porque está falando a verdade. Queria pedir à companheira Nísia e ao companheiro Chioro um favor, queria pedir um favor a vocês. Nós viemos inaugurar a primeira parte de um hospital universitário, mas esse hospital vai ter 249 leitos, nós estamos inaugurando 59, falta equipamento.
O que eu queria pedir para o meu governo, para a minha ministra, para o meu homem que administra 45 hospitais universitários, espero que o Haddad esteja ouvindo, espero que a Simone Tebet [ministra do Planejamento e Orçamento] esteja ouvindo, pelo amor de Deus, não vamos daqui a algum tempo deixar que a imprensa venha fazer uma fotografia dizendo que o hospital foi inaugurado, mas tem mais da metade que não está funcionando.
Nós temos que fazer ele funcionar plenamente, não para agradar o reitor ou para agradar o governador, para atender a mais de 2 milhões de pessoas que precisam ser bem tratadas, tratadas com respeito, tratadas com decência, dar o direito das pessoas pobres fazerem uma tomografia, uma ressonância magnética, fazer um PET Scan, passar naquelas máquinas chiques que só gente chique é que passa. O pobre, muitas vezes, morre sem saber o que ele tem.
Eu sou de um tempo em que pobre morria e o atestado de óbito era só assim: insuficiência cardíaca, insuficiência cardíaca. Lógico, se morreu teve uma insuficiência cardíaca mesmo, parou o bichinho. Mas agora o que a gente quer? A gente quer que o SUS seja referência mundial. Não tem nenhum país com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um serviço universal como o SUS, que foi tripudiado desde que foi criado na Constituinte, e eu fui deputado na Constituinte.
O SUS só aparecia na televisão por mau tratamento, gente dormindo na fila, gente dormindo no corredor, pessoas sendo hospitalizadas no balcão, era só isso que aparecia. O SUS salvava mil pessoas, uma que morria era que ia para a televisão. Veio a pandemia e, graças a Deus, aquele SUS que era vendido em verso e prosa como símbolo da insuficiência de atendimento, foi esse SUS que, aos olhos do mundo e do povo brasileiro, mostrou a eficiência no tratamento da Covid.
Eu, como brasileiro, como uma pessoa que pegou Covid e eu não peguei aqui, eu e a Janja pegamos em Cuba. Eu fui gravar um documentário com um cineasta e chegamos lá e pegamos. Toda a minha delegação, dez pessoas, todo mundo pegou Covid. Eu fui tratado com muito respeito. Mas eu estou falando que aqui no Brasil, os médicos do SUS, as enfermeiras do SUS, as médicas do SUS, os motoristas do SUS, os que lavam roupa do SUS, as pessoas que limpam o chão do SUS, deram uma lição de moral naqueles que não acreditavam na saúde pública desse país.
A saúde pública é de excelente qualidade. O que não presta é quem governa e quem cuida dela, que não tem apreço pelo povo, que não tem respeito pelos funcionários, que não tem respeito pelos médicos. É por isso que eu fiz questão de vir aqui, reitor. É por isso que eu fiz questão de vir aqui para dizer ao povo de Uberlândia, para dizer ao povo de Minas Gerais, eu não quero saber de quem que o governador gosta, de quem que o prefeito gosta, eu só quero saber: eu gosto do povo mineiro, eu gosto do povo de Uberlândia, eu vim aqui para dizer para vocês: nós não faltaremos a vocês e este hospital será modelo para Minas e para o mundo da qualidade nobre do Sistema Único de Saúde.
Um abraço, parabéns a vocês, parabéns a Uberlândia e parabéns a Minas Gerais.