Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de medidas de combate à seca na Amazônia
Queridas companheiras e queridos companheiros do estado do Amazonas. Queridos prefeitos, queridas prefeitas, eu quero pedir desculpa, porque, como eu não sou o organizador do evento, era para ter falado alguma prefeita, e passaram por cima, não deixaram falar as prefeitas que estavam aqui.
Foi por isso que nós pedimos para a Marina [Silva, ministro do Meio Ambiente e Mudança do Clima] e para a Sonia [Guajajara, ministra dos Povos Indígenas] falar, para as mulheres falarem aqui, porque se não... E a Nísia [Trindade, ministra da Saúde], porque se não era só homem falando. Eu quero dizer para vocês que é uma alegria voltar ao estado do Amazonas. É uma alegria voltar, porque eu aprendi a gostar desse Estado.
Eu tive aqui extraordinárias relações. Com alguns, nem tanta amizade, com outros, muita amizade, mas eu, desde o governador Gilberto Mestrinho, o amazonino, o Eduardo Braga [senador], o Omar Aziz [senador], eu convivi muito com esses companheiros. Tenho certeza que o Governo Federal participou ativamente das coisas boas que aconteceram aqui. O BNDES participou ajudando a financiar o estádio para a Copa do Mundo, aquela famosa ponte sobre o Rio Negro.
Mas uma das coisas que mais me emocionou no estado do Amazonas foi o dia, Eduardo, que você me levou naquela colônia de hansenianos. Eu não sabia muita coisa sobre os hansenianos quando eu fui visitar aquela casa. E só para vocês saberem, naquele dia eu ganhei uma moeda, porque naquela época os leprosos tinham uma moeda para que eles não conseguissem se separar das pessoas que não eram leprosas. E eu guardo até hoje com muita alegria aquela lembrança da moeda.
Eu não esqueço nunca o companheiro Omar Aziz, governador do estado. Muitas vezes eu estava nos Estados Unidos, quando eu pegava o voo para cá, a 10 mil metros de altura, eu ligava para ele, faltando quatro horas para chegar aqui, e falava: companheiro Aziz, eu vou passar em Manaus, eu vou ter que fazer a minha entrada no Brasil por Manaus. Me ajuda um pouquinho. Me dá uma costelinha de tambaqui com uma farofa de banana. E o Aziz nunca falhou em atender o velho companheiro dele com o tambaquizinho. E naquele tempo tinha até um whiskyzinho, não era só o tambaquizinho.
Eu quero então cumprimentar o Eduardo, cumprimentar o Omar Aziz, cumprimentar os deputados federais, Átila Lins, o Saullo Vianna, o Sidney Leite e o Fausto Júnior. Quero dizer para vocês que está presente na minha delegação o general Tomás Paiva, comandante do Exército Brasileiro, o almirante Aguiar Freire, chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, e o general Costa Neves, comandante militar da Amazônia. Quero dizer para vocês que está presente aqui o nosso Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. Está aqui o nosso querido companheiro Mauro Pires, presidente do ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade].
Está aqui o nosso companheiro Bosco Saraiva, superintendente da Zona Franca de Manaus. E quero dizer muito obrigado pela gentileza de permitir que a gente pudesse utilizar esse salão nobre para essa reunião. Eu quero lhe dizer que o presidente da República não tem no Palácio do Planalto um salão tão bonito assim para fazer um evento desse.
Quero cumprimentar o Erick Moura, diretor de Infraestrutura Aquaviária do Dnit, o deputado estadual Sinésio Campos, que me passa um recado aqui que é importante, senador. Eu passei um ano e meio querendo vir a Parintins participar do festival. Quando aconteceu este ano o festival, a gente estava envolvido nas enchentes do Rio Grande do Sul e eu não achei que era prudente aparecer minha cara rindo na televisão com o povo gaúcho sofrendo, então não vim. Mas se prepare que eu virei no próximo.
Quero cumprimentar a Alessandra Campelo, companheira vice-presidente da Assembleia, e a Mayra Dias, companheira do Avante. Quero cumprimentar o Anderson José de Sousa, prefeito do município de Rio Preto da Eva e presidente da Associação Amazonense de Município, em nome de quem cumprimento as prefeitas e prefeitos presentes.
Eu espero que você, prefeito, ajude o time que meu filho está trabalhando, para ver se leva um time para a Série A aqui no estado da Amazônia. Esse ano bateu na trave, não chegou lá. Mas ele trocou uma cidade de 12 milhões de habitantes para morar numa cidade de 24 mil habitantes. Então, por favor, ajude o nosso time a ser campeão, porque eu vou ficar devendo essa.
Quero cumprimentar… Cumprimentar não, dizer para vocês que amanhã de manhã — eu não pude fazer a entrevista hoje no aeroporto, porque eu cheguei atrasado, porque demorou um pouco a nossa visita, mas amanhã de manhã, às 8 horas da manhã, eu vou dar uma entrevista para a Rádio Norte. São 9h em Brasília, serão 8h da manhã aqui. Levante cedo, lave o rosto ou tome banho, tome café e espere que o Lulinha vai falar com vocês pelo menos durante uns 40 minutos.
Quero dizer pra vocês da minha imensa alegria de ter visitado Manaquiri, São Sebastião do Curumitá e Campo Novo. Muita gente, às vezes, não compreende porque que a gente faz um esforço imenso para visitar uma comunidade de 19 famílias. Eu poderia fazer um comício com 30 mil pessoas para que a gente pudesse fazer a visita. É porque o Brasil tem um conjunto de pessoas que são invisíveis aos olhos da classe dirigente deste país. Essas pessoas parecem que não existem. Essas pessoas muitas vezes ficam abandonadas porque o Estado pouco se preocupa. O Estado parece um ser humano de nariz em pé que só olha para quem está na frente dele e não olha para aquele que está abaixo dele.
E eu vim aqui para apenas mostrar o seguinte: neste país, ninguém será esquecido pela sua condição social. Todo mundo sabe que eu sou o presidente de todos. Mas se tem uma coisa que todo mundo tem que saber é que eu vou cuidar primeiro daqueles que mais necessitam neste país, das pessoas mais afastadas.
Eu vi hoje, ministra Nísia, na comunidade, pessoas dizendo que o último médico que passou lá foi em fevereiro. Eu vi hoje pessoas dizendo que as crianças estão com dificuldade de ir na escola quando a água baixa porque não dá para ir de barco a motor. Eu ouvi dizer que as pessoas que fazem e produzem a mandioca não estão conseguindo tirar a sua mandioca porque os igarapés estão vazios.
Eu vi as pessoas se queixarem que em muitos lugares do Programa Luz para Todos não está funcionando 100%. Então eu ouvi muita coisa que se a gente não vem, a gente não sabe. E vi nas reuniões. Primeiro falaram todas as pessoas que moravam na comunidade para que a gente ouvisse, para depois a gente falar. Eu não vim para falar, eu vim para ouvir porque essa gente precisa deixar de ser esquecida e ser lembrado como os brasileiros de primeira categoria e brasileiras de primeira categoria.
Por isso, eu volto para casa hoje à noite, governador, cansado, mas feliz da vida porque eu tive contato com gente que sonhava me conhecer desde que nasceu e jamais imaginou que eu fosse colocar os pés numa comunidade daquela. E eu fui colocar os pés para eles saberem que eu não sou diferente deles, que eu não sou o presidente da República, eu sou eles na Presidência da República e eles são eu vivendo na comunidade deles.
É essa igualdade de comportamento que precisa estar. E também estou aqui para dizer que eu falo sem medo de errar em lugar nenhum desse país. Falo sem medo de errar. Eu duvido que na história do Brasil algum presidente já colocou tantos recursos à disposição do estado do Amazonas como eu coloquei quando era presidente da República e a companheira Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil]. Aliás, eu duvido que um presidente da República tenha tratado os prefeitos melhor do que eu o tratei no meu mandato. E eu tratava por uma questão de princípio. A gente não mora no Brasil apenas, a gente não mora no estado do Amazonas, a gente mora numa cidade, a gente mora numa rua, a gente mora numa casa. E é importante a gente lembrar que os benefícios começam pela rua da gente, pela vila da gente, pela cidade da gente.
Não é possível o país ser rico com milhares de cidades pobres. Não é possível. É preciso que a gente compartilhe para que os prefeitos tenham o direito de ter um dinheiro para fazer a sua obra, para fazer a sua avenida, para fazer o seu esgoto, para fazer a sua escola, para fazer a sua creche. E isso é uma coisa que eu tenho como princípio.
Por isso, quando eu ganhei as eleições, eu chamei os 27 governadores de estado lá no Palácio do Planalto e perguntei a todos em distinção. Nós vamos apresentar um programa de aceleração do crescimento e eu não quero apresentar de cima para baixo. Aqui de Brasília, saber o que é bom para o estado ou saber o que é bom para São Paulo.
Compareceram 27 governadores. Nós perguntamos quais seriam as obras prioritárias para eles. E eles apresentaram. Aqui para o estado do Amazonas, foram disponibilizados R$ 15 bilhões, foram colocados no PAC, R$ 10 bilhões direto aqui e R$ 5 bilhões em sintonia com outros estados. E desses R$ 10 bilhões, até abril companheiro Rui [Costa, ministro da Casa Civil], já foram aplicados R$ 4,2 bilhões. E não é o Lula que decidiu qual é a obra. Foi o governador e a sua assessoria que decidiu o que era importante aqui.
Da mesma forma que quando nós fizemos o PAC Seleções para os prefeitos. Eu poderia simplesmente fazer o que sempre se fez neste país. Escolher os meus prefeitos amigos, os prefeitos do meu partido e dizer: você vai ter o programa Minha Casa, Minha Vida, você vai ter o programa Mais Médicos, você vai ter isso ou aquilo.
Eu resolvi fazer uma seleção. E quase todos os 5.700 municípios desse país tiveram chance de participar. E teve muita gente dentro do meu partido que ficou muito irritado comigo, porque teve prefeito que não votou em mim para presidente que foi premiado e prefeito do meu partido não foi premiado.
E eu fiz isso não porque eu gosto mais do prefeito que não votou em mim. Eu fiz isso porque eu tenho que respeitar, em primeiro lugar, a necessidade do povo daquela cidade e eu tinha que atender aquele que era preciso mais. E foi assim com o Minha Casa, Minha Vida. E será assim com todos os programas enquanto eu for presidente da República.
Por isso, eu estou muito orgulhoso de vir aqui. Estou orgulhoso de ter feito a primeira visita a Suframa neste meu terceiro mandato. Falei terceiro mandato, porque, não sei se vocês sabem, eu, o Dom Pedro e o Getúlio Vargas somos os presidentes que mais governaram esse país. O Dom Pedro por 69 anos, o Getúlio por 15, depois mais 4 e eu já estou com 10. Como eu estou querendo viver 120 anos, vocês se preparem, porque tem coisa pela frente.
É porque eu acho que nós precisamos tornar o Brasil civilizado, gente. A vida política e democracia é exatamente isso. Ninguém é obrigado a estar no mesmo partido. Ninguém é obrigado a professar a mesma religião. Ninguém é obrigado a torcer para o mesmo time. Nós não somos obrigados a gostar. Ninguém quer casar com ninguém aqui. Nós somos obrigados, como seres humanos, a viver democraticamente na diversidade.
Eu não gosto de você. Eu respeito você, porque você foi respeitado pelo povo e ganhou as eleições para prefeito e eu tenho que levar isso em conta. Portanto, eu nunca perguntei de que partido é um prefeito, de que partido é um governador e eu falo com muito orgulho, governador, falo com muito orgulho. Porque lá em São Paulo, o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], quando era governador, ele foi oposição a mim e eu tenho certeza que eu mandava mais dinheiro para São Paulo do que quando eles tinham presidente da República. O Mário Covas foi governador e ele sabe que eu mandava mais dinheiro.
Agora o Tarcísio de Freitas é governador e disputou contra o PT. Entretanto, eu duvido que algum presidente já deu para o governo do estado de São Paulo o que nós estamos agora. Só o financiamento do BNDES são R$ 14 bilhões para que a gente possa fazer obra de infraestrutura em São Paulo.
E assim, eu vou tocando a vida, governando esse país, porque dizem que eu não sei governar, dizem que eu tenho sorte. E eu quero que vocês saibam que um presidente da República só dá certo se ele tiver sorte. E digo todo dia: presidente da República e goleiro do Corinthians, tem que ter sorte, porque senão a gente está lascado. Você viu o nosso goleirinho? Pegou três pênaltis outro dia.
Então é preciso ter muita sorte. Mas eu tenho tanta sorte, gente, eu tenho tanta sorte que a inflação está controlada. Eu tenho tanta sorte que a economia vai crescer mais do que o mercado previa. Eu tenho tanta sorte que depois que eu voltei para presidência da República, a Zona Franca já criou milhares de empregos com carteira assinada aqui. Eu tenho tanta sorte que, nesse um ano e nove meses, já criamos três milhões de empregos com carteira assinada. Eu tenho tanta sorte que a massa salarial já cresceu 11,7%. Eu tenho tanta sorte que já aumentamos o salário mínimo duas vezes. Ficou sete anos sem reajuste. A merenda escolar ficou sete anos sem reajuste.
O Mais Médicos, que tinha 18 mil médicos, caiu para 12 mil médicos. Já voltou para 26 mil médicos e precisa de mais médicos.
Então eu tenho muita sorte. Mas mais do que sorte, governador, eu tenho respeito por esse país. Eu gosto desse país e gosto do povo brasileiro e não gosto de governar, eu gosto de cuidar. Eu não governo, eu cuido das pessoas desse país. É por isso que nós aprovamos o programa de escola de tempo integral e vamos terminar o meu mandato com quase quatro milhões de crianças em escola de tempo integral. É por isso que nós fizemos um pacto com governadores e com prefeitos para que até 2030, a gente tenha alfabetizado as crianças até… 80% das crianças até a segunda série, no mínimo 80%. Porque hoje as crianças estão no quarto ou quinto ano e não estão alfabetizadas. É por isso que nós criamos o programa Pé-de-Meia.
Sabe o que é o programa Pé-de-Meia? O programa Pé-de-Meia é porque nós descobrimos que 480 mil meninos e meninas do ensino médio desistem da escola para ajudar no orçamento familiar. E eu fiquei imaginando que país a gente vai cuidar se a gente permitir que as crianças desistam da escola. Desistam do ensino médio, que é o momento dele começar a fazer opção de vida para poder ajudar o orçamento familiar. E nós criamos um programa chamado, é uma poupança chamada Pé-de-Meia.
A gente vai dar, durante 10 meses, R$ 200 para o menino que ele pode gastar para ajudar a família. Se ele tiver 80% de comparecimento na escola e ele passar de ano, nós vamos depositar mais R$ 1 mil. No ano seguinte vai ser a mesma coisa: mais 10 de R$ 200 e no final de ano, se ele passar, mais uma de R$ 1 mil. E no terceiro ano a mesma coisa, porque eu não quero meninos de 15 anos, 16 anos, trabalhando. Eu quero esses meninos estudando para eles serem alguém na vida quando eles atingirem a sua maioridade.
“Ah, mas isso é gasto”. Não. Gasto será o dia em que eu tiver que gastar mais do que isso, para fazer cadeia, para colocar essas crianças ou para fazer eles saírem da participação no crime organizado. Essas coisas todas, companheiros, eu acredito que a gente vai mudar a história do país.
Eu dizia para o governador: somente em apenas um ano e nove meses, nós já abrimos 183 novos mercados para os produtos agrícolas brasileiros. Para o milho, para a soja, para tudo que a gente exporta, de pequeno, de grande e de médio. Mas muita coisa também para a carne brasileira. E cada vez mais, o Brasil é importante, e cada vez mais eles exigem que o Brasil tenha um comportamento adequado.
E vocês sabem que nós gostamos de respeitar e gostamos de ser respeitados. Por isso é que eu trato o prefeito bem. Porque em 1985, o meu partido foi disputar uma eleição para prefeito e tinha uma música que marcou a minha vida.
A música feita pelo Hilton Acioli, que é o cara que ajudou a fazer [a música] “Disparada” com o Vandré e que fez aquela música “Sem medo de ser feliz”. Ele fez uma música que dizia assim: “uma cidade parece pequena se comparada a um país. Mas é minha, é na sua cidade que a gente começa a ser feliz”.
É por isso que eu gosto das prefeituras, é porque é lá que eu moro. Então, companheiros, nós aprendemos uma lição de vida com o que aconteceu no Rio Grande do Sul. Nós, em fevereiro do ano passado, a gente estava envolvido na maior seca da história do Rio Grande do Sul, inclusive com o problema da desertificação. O Rio Grande do Sul corre o risco de uma área ficar deserta.
A gente foi lá para ajudar, muita ajuda para pequeno e médio produtor e para grande. Oito meses depois, o mesmo Rio Grande do Sul teve a maior enchente da história. A última tinha sido em 1941. Uma enchente que alagou todas as cidades da região metropolitana e destruiu outras cidades no Vale do Taquari. Derrubou casas, derrubou prédios, derrubou casas de dois andares, de três andares.
E nós fizemos o maior processo de reconstrução da história desse país. Levei para ver o que estava acontecendo o presidente da Suprema Corte, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente do Tribunal de Contas, porque eu queria que eles soubessem que a gente queria consertar aquilo e a gente não podia ficar brigando a troco de merreca ou de falsas denúncias.
Aí meus agradecimentos aos deputados federais e ao Senado, que votaram todas as coisas que nós mandamos para o Rio Grande do Sul. E o mesmo nós vamos fazer para a estiagem aqui na Amazônia. O mesmo nós vamos fazer para a queimada. A gente não vai deixar faltar as condições para que a gente possa fazer com que esse povo viva tranquilo.
Por isso, companheiros e companheiras, eu tenho até um discurso aqui para ler, e eu comecei a falar de improviso, mas eu vou ler, porque eu tenho uma mensagem para dar para vocês. E eu queria dizer para vocês que podem ter certeza de uma coisa.
Eu, quando chego no estado do Amazonas, eu fico pensando: eu queria saber o que que os outros presidentes fizeram no estado do Amazonas. Além de uma pequena ponte em São Gabriel da Cachoeira, que foi inaugurada pelo ex-presidente, uma ponte de 17 metros. Eu queria saber qual é a obra que foi feita aqui a não ser deixar faltar o oxigênio para matar milhares de pessoas com a Covid-19. E em cada estado da Federação que eu chego, eu pergunto: me mostre uma obra de infraestrutura que foi feita no estado.
Porque esse país foi abandonado. O ministro Renan, que não é do meu partido, é do PMDB, ele está no Ministério [dos Transportes]. No primeiro ano, ele já investiu mais em obras de infraestrutura do que o governo passado nos quatro anos.
Isso vale para o Banco do Brasil, isso vale para a Caixa Econômica Federal, isso vale para o BASA, que agora voltou a emprestar dinheiro para pequenos. Porque o BASA estava habituado a emprestar dinheiro só para grandes, e tem que emprestar para os pequenos, para as pessoas que trabalham para sustentar sua família. O BNDES, que passou quatro anos devolvendo dinheiro para o Tesouro, nós agora estamos fazendo com que o BNDES seja um verdadeiro banco de investimento para investir no desenvolvimento industrial, na geração de emprego e na melhoria de renda desse país.
E eu quero dizer para vocês, podem ter a certeza, que esse país vai dar um salto de qualidade. Enquanto a gente tinha um presidente da República que ninguém queria recebê-lo no exterior, e ninguém queria vir aqui, eu, em apenas um ano e nove meses, já tive reunião com 54 países do continente africano. Já tive reunião com 27 países da Europa. Já tive reunião com Biden. Já tive reunião com Xi Jinping. Já tive reunião com Macron na França. Já tive reunião com Olaf Scholz na Alemanha. Já tive reunião no Egito. Já fui na Arábia Saudita. Já fui aos Emirados Árabes. Já fui ao Catar. Já tive reunião com 33 países da América Latina e já tive reunião com 15 países do CARICOM.
E por que eu faço isso? Porque esse país é grande, esse país tem que ser protagonista internacional e a gente não tem que andar de cabeça baixa diante de ninguém. A gente tem que levantar a cabeça, não com o nariz empinado, mas de cabeça erguida, para dizer o seguinte: nós, somos brasileiros, queremos dar respeito, mas queremos ser respeitados. Nós queremos crescer, melhorar de vida e a gente quer que o nosso povo possa viver com muita dignidade. É esse país que eu quero entregar de volta ao povo brasileiro quando terminar o meu mandato, dia 31 de dezembro de 2026.
Por isso, companheiros, eu queria ler umas coisinhas para vocês. Eu não vou ler todo o discurso, não, porque eu já falei demais. Eu vou apenas dizer algumas coisas que nós precisamos fazer nesse país.
A gente está aprendendo que a gente não pode mais deixar a desgraça acontecer para a gente correr atrás. A gente está tomando consciência de que a questão climática não é mais uma invenção de bicho grilo, não é mais uma coisa de estudante universitário, não é mais uma coisa de ambientalista.
A questão climática é a demonstração mais viva que nós, seres humanos, que somos tratados como os animais racionais do planeta Terra, somos irracionais. Porque nós somos os únicos capazes de destruir o local que a gente mora, destruir a água que a gente bebe, estragar a comida que a gente come e matar o semelhante sem ter nenhuma razão. Não existe outra espécie animal que faça isso.
E hoje nós temos consciência que o planeta Terra está passando por dificuldades. A necessidade de diminuir a emissão de efeito gás estufa é uma necessidade urgente para nós sobrevivermos.
E nós estamos numa guerra para evitar que o planeta não tenha um aquecimento acima de 1,5°C. Porque, se tiver, nós estamos vendo o que está acontecendo. Ontem, São Paulo teve o pior, o pior, na verdade, ar do mundo. São Paulo ontem foi eleita a cidade com a pior qualidade de ar do mundo.
A gente pensa que pegava fogo só no Pantanal, pegava fogo só na Caatinga, pegava fogo só na Mata Atlântica, pegava fogo só na Amazônia. Não. Pegou fogo em 45 cidades no mesmo dia em São Paulo. E esse fogo é criminoso. É gente que está tentando colocar fogo para destruir este país. No Pantanal, 85% das propriedades atingidas são propriedades privadas. Não são terras públicas.
Então, nós precisamos ter consciência que nós precisamos punir quem faz queimada. É proibido fazer queimada em época errada. Muitas vezes, o companheiro, o pequeno produtor, tenta fazer uma queimada na terrinha dele para fazer o roçado, mas ele pode perder o controle e aquilo pode destruir coisas que ele nem sabe que vai destruir. É como jogar uma ponta de cigarro na beira de uma estrada.
Uma coisa que eu fiquei sabendo no Pantanal é que, no Pantanal, o fogo vai sendo destruído por baixo da terra. A gente não vê, porque as árvores lá têm uma semente, são uma raiz muito profunda. E a raiz fica secando e o fogo vai pegando por baixo. A gente não sabe. E o Pantanal está vivendo a maior seca dos últimos 73 anos. Então, companheiros e companheiras, o que eu vou dizer para vocês é o seguinte: o nosso objetivo é estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas a partir do plano nacional de enfrentamento aos riscos climáticos extremos.
Nosso foco precisa ser a adaptação e preparação para o enfrentamento desses fenômenos. Para isso, vamos estabelecer uma autoridade climática e um comitê técnico-científico que dê suporte e articule a implementação das ações do Governo Federal. O plano anterior, e vocês sabem, para o meio ambiente estava claro: era abrir a porteira para deixar o gado passar.
E a gente acha que a gente pode até criar gado, mas não precisa destruir a floresta e o nosso planeta para a gente criar. E nós, por isso, estamos tratando com muita decência. As florestas e os nossos rios, são uma barreira de contenção ao desastre climático que ameaça o planeta Terra. Por isso, nesse momento, o mundo inteiro olha com tanta atenção para o Brasil. E, por isso, o Fundo Amazônia é importante.
Mas não é apenas o Fundo Amazônia. Nós queremos que o país possa garantir um padrão de vida decente às pessoas que moram nos Pampas, às pessoas que moram nas Caatingas, às pessoas que moram no Cerrado, às pessoas que moram no Pantanal, às pessoas que moram na floresta, porque eles têm que saber que embaixo de cada copa de uma árvore tem um indígena, tem um pescador, tem um ribeirinho, tem um extrativista que não quer passar fome, ele quer viver bem e quer cuidar da sua família com respeito.
Por isso, nós temos que exigir que eles que já desmataram todo o país há 200 anos atrás, paguem pelo sequestro de carbono que nós fazemos para que a gente possa sustentar o nosso povo.
Essa é uma briga que nós vamos fazer agora, na ONU, dia 24, no meu discurso. Depois, nós vamos fazer lá no Azerbaijão, em Baku. Depois, nós vamos fazer nos BRICS, em Kazan, na Rússia. Depois, nós vamos fazer no G20, aqui no Brasil. Depois, nós vamos fazer na APEC, que eu fui convidado para participar, do Peru.
Porque nós queremos provar que é possível a gente se desenvolver, de que é possível a gente melhorar a vida sem precisar destruir a cama que a gente dorme, a cozinha que a gente cozinha ou o lugar que a gente cria a nossa família.
Por isso, companheiros e companheiras, eu queria dizer que não foi fácil conquistar a sede da COP para a Amazônia, para o estado do Pará. É porque todo mundo fala da Amazônia. Todo mundo, governador, você viaja e você sabe.
Todo mundo dá um palpite na Amazônia. “Ah, porque a Amazônia é isso, porque a Amazônia é isso”. E todo mundo sabe que eu não quero transformar a Amazônia num santuário da humanidade. Eu quero preservar a Amazônia e, junto com a preservação, cuidar de melhorar a vida do povo que vive aqui.
Eu quero provar que uma árvore em pé, ela pode significar muito mais do que criar um bezerro, criar um cavalo ou criar uma cabra. A gente tem que valorizar aqueles que deixam a floresta em pé, pagando para eles o benefício da coragem de preservar.
Por isso, nós fortalecemos o Fundo Clima da Amazônia, com recursos que já ultrapassam R$ 10 bilhões, fruto de investimento, doações e emissões de títulos soberanos. No âmbito interno, retomamos o programa Bolsa Verde, desativado em 2016. Vocês têm noção da quantidade de programas que foram desativados nesse país? Você sabia, governador, que nós encontramos 87 mil casas do Minha Casa, Minha Vida, desativadas desde 2013, 2014?
Vocês sabiam que eu estou inaugurando Minha Casa, Minha Vida, que começou em 2013 e que foi paralisada? Esse país acabou com o Ministério da Cultura, acabou com o Ministério do Esporte, acabou com o Ministério da Igualdade Racial, acabou com o Ministério dos Direitos Humanos.
Sabe? Esse país era governado para que e para quem? Então, pelo amor de Deus, gente, um povo ordeiro como o nosso, um povo festivo como o nosso. Um povo que gosta de contar piadas sobre a sua própria desgraça. Um povo que gosta de carnaval. Um povo que gosta das danças de Parintins. Um povo que gosta de todo o folclore desse país, esse povo nasceu para ser feliz. Esse povo não nasceu para sofrer e para viver com gente falando bobagem nesse país. Nós criamos o programa União com Municípios, para combater o desmatamento e os incêndios florestais, com adesão de 48 municípios da região.
Eu tive uma conversa com a Marina, eu falei para a Marina: Marina, a gente não pode ficar brigando com o prefeito. A gente não pode, daqui de Brasília, ficar culpando o prefeito por uma desgraça que aconteceu no desmatamento na cidade dele. A gente precisa transformar o prefeito num parceiro nosso. Para isso, nós temos que dar um ganho, para ele se sentir um cúmplice do bem na proteção da sua floresta.
E vamos fazer isso com todos os prefeitos desse país. Queridos, estamos aqui recompondo os quadros. Você sabia, governador, que o Ibama, que eu peguei em 2023, tinha menos gente do que o Ibama, que eu deixei em 2010? Você sabia que o ICMBio tinha menos gente? Você sabia que quase todos os ministérios já tinham menos gente?
Aliás, vocês sabiam que, quando eu deixei a presidência, esse país produzia 3,8 milhões de carros? E que, quando eu votei, só produzia 1,8 milhão? Onde foram os compradores desse carro? Onde foram os trabalhadores desse carro? Ou seja, foram viver, porque nós deixamos o Brasil sem fome.
A fome acabou nesse país em 2014. Quando eu votei em 2023, tinha 33 milhões de pessoas passando fome outra vez, e nós, em apenas um ano e nove meses, acabamos já com a fome de 24 milhões de pessoas, e vamos acabar, até o final do meu mandato, com a fome de todo mundo, porque, nesse país, as pessoas não precisam comer osso. As pessoas podem comer carne, podem comer salada, podem comer verdura, e as pessoas podem viver dignamente.
A gente não precisa fazer uma opção pela miséria. Por isso, companheiros e companheiras, eu valorizo o trabalho daqueles que cuidam desse país. Eu queria dizer para vocês mais uma coisa, e vou terminar dizendo aqui.
A nossa querida BR-319. O governador estava me lembrando, e eu já estava aqui, na minha página aqui. Veja, eu já fui presidente duas vezes. Eu já briguei, já discuti. É muita coisa para construir essa ferrovia. Ela foi feita nos anos 70. Rodovia. Depois ela teve uma paralisação, tem 400 quilômetros perdidos, tem 200 de um lado, 200 do outro, e no meio tem 400 que foi bichado.
Ninguém nunca conseguiu refazer aquilo. Então, ao invés de a gente ficar brigando, governador, ao invés de a gente ficar brigando, deixa eu lhe dizer uma coisa, Omar Aziz, deputados, prefeitos.
Eu disse para a Marina, disse para o Rui, e disse hoje na reunião. Nós estamos começando agora com 52 quilômetros. Primeiro tem 20, depois tem mais 30.
Mas eu falei com a Marina, nós vamos fazer todas as reuniões que forem possíveis fazer. Ouvir todos os cientistas que nós temos que ouvir. E nós temos que ter noção que a gente tem que fazer aquela estrada e a gente precisa garantir que a parte mais nobre da Floresta Amazônica não seja destruída por grileiros, que quando a gente pensa em fazer uma estrada, já compra milhares de hectares de um lado, milhares de hectares de outro, já toca fogo no outro.
Nós precisamos proibir. Se tiver terra do estado, governador, nós vamos ter que fazer parceria, governo do estado e Governo Federal, e demarcar essa terra que nela não pode acontecer nada até a gente provar que a estrada será feita com seriedade, com responsabilidade, porque eu concordo que não é possível deixar Rondônia e Manaus viverem de costa para o outro, Roraima viver de costa para o outro. É possível que a gente faça definitivamente essa estrada, mas com a responsabilidade que o Brasil e que o mundo requer.
E eu digo sempre que a gente não pode brincar com o mundo, porque o Brasil é um grande exportador de commodities. Grande, muito grande. E o nosso superávit comercial de quase 100 bilhões é por causa das commodities. E a questão ambiental tem um peso extraordinário nisso.
Por isso, governador, eu quero, na frente dos seus prefeitos, quero, na frente do povo do estado do Amazonas, quero, na frente do bravo Sinésio, e na frente do Sabugo, e na frente de todos vocês, dizer o seguinte: nós vamos nos reunir, quantas reuniões forem necessárias.
E antes de terminar o meu mandato, a gente vai começar a fazer definitivamente essa rodovia para que a gente estabeleça o pleno direito de cidadania do estado do Amazonas, de Manaus.
Um grande abraço, meus companheiros. Um beijo no coração.
Eu quero agradecer ao governador, ao Aziz e ao companheiro Eduardo Braga o carinho de ter acompanhado a minha delegação. Quero agradecer aos prefeitos que vieram participar de uma reunião e pedir desculpa pelo atraso. A culpa não foi minha, é porque quando a gente chega, as pessoas que fazem agenda têm que saber que agora tem um bichinho chamado celular.
E todo mundo quer uma selfie. E quando a pessoa quer uma selfie, não adianta você falar que não quer, que ela vai e te pega assim, abre o telefone e tira. Então uma visita que é para demorar meia hora, demora uma hora e meia. Mas eu quero dizer que prazerosamente é melhor eu ficar cansado porque alguém tira selfie do que o dia que ninguém pedir para tirar uma selfie comigo.
Então um abraço. Gente, até outro dia.
Amanhã, às 8h da manhã, a Rádio Norte, ao vivo.