Pronunciamento do presidente Lula durante visita à fábrica da Renault do Brasil, no Paraná
Queridos companheiros e queridas companheiras, funcionários e dirigentes da Renault. Eu quero cumprimentar o meu querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro da Indústria e Comércio, que tem prestado um trabalho extraordinário na retomada do desenvolvimento, do crescimento econômico desse país. Quero cumprimentar o Ricardo Gondo, que somente agora eu descobri a simpatia dele, porque eu falei: de onde surgiu esse japonês tão simpático? E aí eu descobri aqui agora que ele nasceu em Santo André, lá na região do ABC, e era um companheiro que eu vim conhecer aqui em São José dos Pinhais.
Obrigado pelo convite para fazer essa visita. Quero cumprimentar os meus ministros de Estado, o Rui Costa [ministro da Casa Civil], chefe da Casa Civil, que trabalha de forma incansável para que as coisas deem certo no Brasil. O ministro Renan [Filho, ministro dos Transportes], que é esse jovem que falou aqui com vocês, que está fazendo uma revolução no transporte ferroviário e rodoviário desse país.
Quero cumprimentar o Paulo Teixeira [ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar], o nosso ministro que cuida do desenvolvimento agrário e agricultura familiar, que tem feito um trabalho excepcional. E meu querido companheiro Laércio Portela [ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República], que é o ministro interino da Comunicação Social. Quero cumprimentar os deputados federais, a deputada Gleisi Hoffmann, que tem que sair um pouco mais rápido, porque ela tem que ir para São Paulo, porque tem tarefa lá. Antes de vocês saírem, vamos bater uma salva de palmas para você, Gleisi.
Quero cumprimentar o companheiro Zeca Dirceu, deputado federal; a companheira Carol Dartora, deputada federal. Quero cumprimentar o meu diretor da Polícia Federal, o Andrei Rodrigues. Quero cumprimentar o Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial e Inovação, Comércio e Serviço do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço. Quero cumprimentar o Manoel Caetano Ferreira, presidente da Comissão de Ética da Presidência da República. Quero cumprimentar a deputada estadual Ana Júlia, companheira de Curitiba. Quero cumprimentar o companheiro Márcio Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos de Motores, conhecida como a Anfavea. Quero cumprimentar o meu querido companheiro Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. Quero cumprimentar o Helio Bampi, vice-presidente da Federação das Indústrias do estado do Paraná. Quero cumprimentar o Hélio Gomes, superintendente do DNIT no estado do Paraná. O Marcos Aguiar, diretor de Relações Institucionais da Renault. Ezequiel Formigão Pereira, coordenador sindical da Renault. Quero cumprimentar o Nelson Silva de Souza, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. Quero cumprimentar o Rivaldo Venance, superintendente da Polícia Federal no Paraná. E quero cumprimentar a nossa querida Mara Nawann, representante dos operários e operárias da Renault.
Companheiros e companheiras, eu não costumo ler as nominatas, porque eu acho que todo mundo já citou os nomes, mas como eu estou visitando a Renault pela primeira vez, como eu estou conhecendo mais de perto como é que é a fisionomia dos trabalhadores da Renault, e porque vocês não têm nenhuma obrigação de conhecer todas as pessoas que estão aqui atrás. Eu, inclusive, fiz questão de citar os nomes, mas eu esqueci, sabe, algumas pessoas que não estavam aqui na minha relação.
Meus companheiros e companheiras. Não posso deixar de começar minha fala agradecendo ao Ricardo Gondo pelo convite e pela oportunidade de conhecer as instalações da empresa, as tecnologias de ponta, as novidades, em primeira mão, a excelência do trabalho da Renault. Mas, acima de tudo, por conhecer e estar perto dos principais responsáveis por fazer tudo isso funcionar – e funcionar muito bem –, cada um e cada uma de vocês que estão na linha de produção, no chão de fábrica e na montagem e na administração.
Sei que alguns estão tendo a primeira oportunidade de emprego, muitos conseguiram esse trabalho a partir de cursos profissionalizantes. Outros tantos têm uma vida de dedicação à empresa. Enfim, vocês têm aqui a transformação de uma vida toda. E é isso que queremos ao trabalhar por um país de progresso e credibilidade: trazer investimentos que transformam vidas, que impactam a comunidade como a Renault tem transformado São José dos Pinhais.
Desde a sua instalação, foram mais de R$12 bilhões investidos no país. Apenas para o ciclo de 2003 a 2025 serão R$ 2 bilhões investidos aqui. Investimento que gera desenvolvimento para o país em emprego e renda para a população. São mais de 5 mil funcionários e funcionárias, sem falar dos 25 mil empregos diretos em todo o estado. É preciso lembrar que, há apenas 3 anos, grandes empresas automotivas fechavam as portas de suas fábricas no Brasil. Estamos falando de um setor que representa um quinto da indústria de transformação nacional e emprega direta e indiretamente mais de 1 milhão de pessoas no Brasil.
Quando deixei a presidência, em 2010, vivíamos um momento de prosperidade na indústria automobilística com a venda de milhões de carros. Chegamos, em 2012, a quase 4 milhões de carros. Quando eu voltei, 15 anos depois, a gente está vendendo menos da metade do que a gente vendia em 2012, numa demonstração de desmotivação, de abandono e de falta de política pública do Governo Federal no desenvolvimento, para que a indústria brasileira pudesse continuar crescendo e gerar emprego.
Quinze anos depois, mas algo fundamental aconteceu nos últimos anos, as indústrias voltaram a confiar no Brasil. Isso é o que nos permite acreditar que o futuro será de mais crescimento e mais oportunidades. Não por acaso, desde que assumi este governo, já anunciamos investimentos de cerca de 130 bilhões da indústria automobilística para os próximos anos.
Vocês não imaginam a alegria que eu tive quando eu recebi a Anfavea, no Palácio do Planalto, com vários dirigentes da indústria automobilística, que fazia anos que não faziam investimento no Brasil. A Ford tinha acabado de deixar o Brasil, abandonado a Bahia, e havia muito rumor de que a indústria automobilística ia deixar o Brasil porque não conseguia vender os seus carros.
Portanto, companheiros, no dia em que eles foram me anunciar 130 bilhões de investimento na indústria automobilística nos próximos anos. No mesmo mês, eu recebi o anúncio de investimento na indústria de alimentos de mais R$ 120 bilhões. A indústria de papel e celulose vai investir R$67 bilhões. A indústria do aço vai investir mais R$ 100 bilhões. E o PAC, que nós produzimos em janeiro de 2023, junto com os 27 governadores que eu convidei para ir a Brasília, vai gerar um investimento de um trilhão e 700 bilhões de reais nesse país nos próximos anos, para que a gente possa colocar o Brasil, definitivamente, no patamar de um país altamente desenvolvido, gerador de oportunidade de trabalho, gerador de bons salários e distribuidor de renda.
Não por acaso, não tem como percorrer uma fábrica como essa sem passar um filme pela minha cabeça, um filme da minha própria história. Parte importante dela se deu no chão de fábrica, não na fábrica de automóveis, mas que também abrigou minha história e todas as transformações de vida que me fizeram chegar aqui. E é uma emoção muito particular conhecer histórias, como a história da nossa companheira Mara Tira.
Assim como eu, Mara saiu ainda criança de sua cidade natal, no Rio Grande do Sul, para chegar aqui nesta região, com a família, em busca de oportunidade. E foi a vinda da fábrica da Renault para São José dos Pinhais que proporcionou a Mara a oportunidade de sua vida. São 25 anos de Renault no Paraná e 25 anos da nossa querida companheira Mara dentro da Renault. Na linha de produção, na pintura, nos recursos humanos, no controle de qualidade, Mara passou por toda a empresa e não só construiu sua história em cada espaço desta fábrica, como estruturou a própria família.
Hoje, seus dois filhos também são empregados da Renault e ela fala com muito orgulho: “A Renault é a minha própria família.” Esse é apenas um exemplo do efeito do investimento de uma empresa em uma região, nas portas que se abrem para toda uma população, portas de perspectiva e sonhos semeados.
Como a Isabele Eugênio, com uma trajetória que está só começando. Hoje, completa um mês que essa menina, ainda tão nova, começou a trabalhar aqui na Renault. E o que trouxe a Isabele para cá foi uma porta aberta pela Renault, pelos projetos sociais de formação de jovens talentos, uma porta que a mãe já sonhava abrir quando ligava várias vezes para a Renault para saber se tinha alguma vaga de emprego.
Hoje, essa família, de pai costureiro e mãe cabeleireira, que já precisou do Bolsa Família para ajudar nos custos da casa, agora tem uma renda melhor, graças à oportunidade que a Isabele está recebendo. Eu quero uma salva de palmas para a nossa querida Isabele, que só tem um mês de trabalho.
Aliás, eu quero dar os parabéns para a Renault, porque eu tive o prazer de conhecer, no mesmo momento que eu conheci a Isabele, conhecer três meninas muito jovens que são mudas. E eu acho isso uma atitude extraordinária, a gente dá oportunidade para todas as pessoas que querem e podem trabalhar.
Então, viu Gondo, muito, muito, muito parabéns pelo trabalho de vocês aqui no emprego dessas meninas. Eu, quando vejo uma menina – e eu perguntei para muitas delas – quanto tempo de casa você tem, ela falava um mês. Eu lembrei da minha vida, eu lembrei quando eu tive o meu primeiro emprego, o sonho que eu tinha de ser mecânico. Eu nem sabia o que era ser mecânico, mas eu queria ser mecânico porque eu via os mecânicos na rua, nas oficinas, com a mão cheia de graxa, o rosto cheio de graxa, o macacão todo sujo, um monte de estopa na mão e eu tinha vontade de ser aquilo.
E aí teve uma fábrica que me levou para fazer um curso do Senai e eu ia estudar torneiro mecânico. E fui trabalhar na fábrica, nos primeiros dias, catando pedaço de ferro no chão, que a prensa cortava o ferro e caía os pedaços, eu ia recolhendo. E chegou na hora do almoço, eu falei: “Puta, como é que eu vou voltar para a minha casa e dizer para a minha mãe que eu estou trabalhando se eu não estou sujo? Eu estou limpo, não sujei meu macacão, não estou com a mão cheia de graxa”.
Aí eu passei perto de um tambor, cheio de óleo, Sérgio, que temperava aço, e falei: “Sabe de uma coisa? Minha mãe vai ter orgulho de mim”. Meti a mão dentro da lata, passei no meu macacão sujo, cheguei em casa, parecia um anu. E a minha mãe ficou orgulhosa de ver o caçulinha dela todo sujo de óleo, sabe?
Eu sinto orgulho de uma menina dessa, de 30 dias de fábrica, o sonho que ela tem. Espero, querida Isabele, que você e as outras meninas consigam crescer aqui dentro como a Mara cresceu, consigam ser boas funcionárias, consigam estudar, não parem de estudar. Pelo amor de Deus, não parem de estudar, porque a mulher que não estuda, ela sofre mais do que uma mulher que estuda. Uma mulher precisa estudar para ela ter independência, para ela viver por conta própria. Para ela não depender do prato de comida do seu marido, ela precisa ter uma bela profissão. Portanto, querida Isabele, eu estou torcendo por você.
Da educação nas escolas públicas da região à formação profissional oferecida pela Renault, nasceu essa menina que se apaixonou por mecânica e pensa em fazer uma faculdade de engenharia.
É muito simbólico mencionar a história de duas mulheres, inseridas no mercado de trabalho em momentos diferentes da nossa sociedade. Quando Mara começou o seu trabalho, ela era a única mulher da equipe naquele setor, há 25 anos.
Hoje, Isabele ressalta que esteve em uma turma de formação com 29 mulheres e apenas um homem. Isso significa que as mulheres estão ocupando o lugar merecido que elas merecem nessa vida e no nosso país.
Sabemos que ainda há muito caminho e muitas barreiras para alcançarmos a igualdade de gênero, mas exemplos como esses nos fazem ter esperança – e pode ter certeza de que estamos trabalhando para construir um país de oportunidades, com promoção da diversidade e respeito às diferenças, assim como a Renault tem feito.
Queridos companheiros e queridas companheiras, eu, toda vez que venho a uma fábrica e que vou fazer uma reunião com os trabalhadores, eu fico emocionado, porque eu passei 27 anos da minha vida dentro de uma fábrica. Eu trabalhei em três turnos: eu trabalhei das 10h às 18h, das 18h às 2h, das 2h às 10h. Eu trabalhei de noite, das 9h às 6h da manhã. Eu fiz hora extra muitas vezes porque era preciso dinheiro para pagar o aluguel.
Naquela época eu fumava, era preciso ter o dinheiro do cigarro e ainda gostava de tomar uma cervejinha, era preciso também ter o dinheiro da cervejinha, sem gastar o meu salário. Por isso, eu trabalhava e fazia hora extra, viu, Sérgio? Fazia 40 horas extras por mês para aumentar o meu salário, para cuidar da minha família.
E não me arrependo disso, tenho muito orgulho, muito orgulho do tempo que eu fui torneiro mecânico dentro de uma indústria, sobretudo pela convivência com os companheiros. Naquele tempo, não tinha telefone celular, e na hora do almoço a gente jogava baralho, 21, valendo cigarro. Às vezes, eu comprava um maço de cigarro, abria, e perdia todo o meu maço de cigarro. E eu tinha que torcer para que no dia seguinte eu ganhasse. Eu almoçava em 15 minutos, 15 minutos. Comia o bandejão, porque queria jogar bola depois. E jogava bola depois de 15 minutos, ia trabalhar cansado, tentava enganar o chefe, corria para o banheiro, ficava lá um pouquinho no banheiro para poder voltar a trabalhar.
Eu tenho saudade dessa história minha. Não vou dizer que eu quero voltar a ser peão de fábrica, porque ninguém é peão porque quer, a gente, se pudesse, seria outra coisa, a gente poderia ser engenheiro, ser médico, ser jornalista, ser dono de fábrica. A gente só é peão porque é o que a gente conseguiu, é a oportunidade que nos deram. Mas, hoje, a meninada está mais qualificada, tem mais oportunidade.
Eu tenho muito orgulho de ter sido o presidente que mais criei vaga em universidade para o povo brasileiro, que mais fiz universidade federal, que mais fizemos Instituto Federal. A coisa que eu tenho mais orgulho. Agora, na linha de produção, um companheiro me abraçava e dizia: “Lula, muito obrigado, muito obrigado, porque eu fiz o Prouni”. Outra menina: “Muito obrigado, minha mãe mandou te agradecer porque ela fez o Prouni”.
No Brasil inteiro. O que as pessoas precisam é compreender que o papel do governo é dar oportunidade. É só isso. É só abrir a porta para que as pessoas possam estudar. E por que eu gosto de educação? Por que eu sou o cara que vou fazer, terminar o meu mandato, com 748 Institutos Federais nesse país? Em 100 anos, eles fizeram apenas 100, e nós vamos fazer, em 15 anos, vamos fazer 748.
Por que a minha obsessão? A minha obsessão é porque eu queria fazer universidade e não tive oportunidade de fazer. E eu, então, quando assumi a presidência, eu tomei a decisão, Sérgio, que se dependesse de mim, todo trabalhador nesse país ia ter a oportunidade de colocar seu filho para estudar o quanto ele quisesse, porque filha de empregada, filha de trabalhador, filha de empregada doméstica, filha de gente pobre, não quer apenas ser pedreiro, ajudante de pedreiro. A gente quer ser engenheiro, a gente quer ser médico, a gente quer ser professor, a gente quer ser advogado, a gente quer ser economista e esse é o papel que a gente tem que fazer de criar oportunidade.
Agora mesmo, agora mesmo, meu companheiro presidente da Renault, nós criamos um programa chamado Pé-de-Meia. Eu vou contar para vocês o que é que nós descobrimos. O Censo do ano passado mostrou que 480 mil meninos e meninas que estavam fazendo o ensino médio desistiam da escola para ajudar no orçamento familiar.
Eu chamei o ministro da Educação, chamei o Rui Costa, na Casa Civil, para a gente fazer uma discussão, porque era impensável, na minha cabeça deixar, um menino de 14 anos fazer o que eu fiz na década de 60, deixar de estudar porque tinha que levar o pão para dentro de casa. Eu achava que nós tínhamos que assumir uma responsabilidade e assumimos uma responsabilidade.
Criamos o Pé-de-Meia. O Pé-de-Meia é uma poupança que nós estamos dando aos meninos pobres do ensino médio para que eles não desistam. Eles vão receber R$ 200 por mês durante 10 meses. Se eles tiverem 80% de comparecimento e eles passarem de ano, nós vamos depositar mais mil na poupança para ele. Então, 10 de 200, mais outra de mil, vão ser 3 mil. No segundo ano a mesma coisa, no segundo ano a mesma coisa: é 10 de 200 e mais uma de mil, se ele passar e ele tiver comparecimento. No terceiro ano também.
Quando terminar o ensino médio, esse jovem, se não gastou dinheiro, ele vai ter R$ 9 mil para começar a vida dele. Tem gente que fala para mim: “Mas, Lula, isso é jogar dinheiro fora, é gastar dinheiro”. Eu falo: não é gastar, gastar é quando eu tiver que fazer cadeia, eu quero investir para fazer com que o povo brasileiro tenha oportunidade de estudar, porque se a gente não financiar agora, daqui a pouco a gente está vendo essa meninada no crime organizado, essa meninada sendo vítima da violência nas grandes regiões metropolitanas e que tipo de família a gente vai criar para o futuro?
Então, eu quero que vocês saibam que investir na educação, eu investirei quanto for necessário para que a gente possa ter, sabe, no futuro bem próximo, um mundo melhor do que eu herdei dos meus pais e que vocês possam ter um mundo melhor do que vocês herdaram do pai de vocês, porque é isso que o pai de vocês espera de vocês. O pai de vocês não quer deixar riqueza para vocês, ele quer deixar caráter e quer deixar educação. Portanto, companheiros, estudem, estudem, porque vale a pena a gente fazer o sacrifício se a gente quiser vencer na vida.
E por último, eu queria dizer uma coisa muito sagrada para você. Vem aqui, meu presidente, vem aqui. A questão do PLR. Deixa eu contar uma coisa para vocês: muitas vezes, a gente só consegue aprovar aquilo que a gente quer se a gente tiver uma maioria de pessoas comprometidas conosco nessa ideia.
Havia 40 anos nesse país que se tentava fazer uma reforma tributária, e não se conseguia fazer a reforma tributária. Eu ganhei as eleições e o meu partido tem apenas 70 deputados em 513. Presta atenção: 70 deputados em 513. Se juntar o partido do Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], mais os partidos de esquerda, nós damos 120 deputados em 513. Eu tenho 9 senadores em 81. Então, não é fácil aprovar as coisas que a gente quer que sejam aprovadas.
Vocês estão lembrados que, durante a minha candidatura, eu disse que a gente ia fazer isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil. E vou fazer até o final do meu mandato. Quem ganhar até R$ 5 mil não vai pagar imposto de renda. E pense: eu sou mais radical do que você nessa questão do PLR, porque veja o negócio: vocês trabalham, produzem, fazem esse país crescer, quando chega no final do ano vocês vão receber um PLR. Aqui na Renault pode ser R$ 20 mil, pode ser R$ 25 mil, não importa quanto seja. Então, por esse dinheiro que vocês recebem, a gente cobra o Imposto de Renda de vocês. Não é a gente que cobra, é que a lei manda a gente cobrar o Imposto de Renda.
Agora presta atenção no outro lado, as pessoas que investem na Petrobras, os acionistas da Petrobras, no final do ano, teve R$ 45 bilhões distribuído como dividendo para os acionistas. E eles não pagam um centavo de Imposto de Renda. Então, não é justo. Eu só quero dizer para vocês que essa questão do PLR está na minha cabeça há muito tempo, porque eu ouço isso lá em São Bernardo o tempo inteiro.
Mas, veja: nós aprovamos uma reforma tributária. Ela ainda não foi aprovada totalmente, e vocês podem ter certeza que, pela primeira vez na vida, esse país tem um presidente que tem compromisso de fazer com que aquilo que é salário não pode ser tratado como renda. Então, todo mundo que ganha muito paga dividendo, o cidadão que ganha R$ 2 milhões de bônus não paga Imposto de Renda, o cidadão que ganha não sei quanto não paga Imposto de Renda. E é o pobre, é o trabalhador, é aquele que recebe contracheque no final do mês, que não tem como escapar, porque veio descontado na folha de pagamento dele. Então, meu querido companheiro Sérgio, pode ficar tranquilo e você saber o seguinte: o Lula tem um compromisso com isso. Eu só estou esperando a oportunidade para que a gente possa dar o bote e aprovar o fim do Imposto de Renda no PLR para o povo brasileiro que tanto quer.
Gente, eu vou contar, Sérgio, porque que eu sou um homem feliz. O presidente da Anfavea veio aqui fazer um discurso e ele disse que não é nem pessimista nem realista. Nem pessimista nem otimista, ele é realista. Mas ele pode ser um realista otimista ou um realista pessimista. Eu, na verdade, sou otimista. E por que que eu sou otimista? Porque sou eu que estou tentando fazer as coisas. Vocês estão lembrados do que eu falei: o povo vai voltar a comer picanha nesse país, o povo vai voltar. A picanha era uma coisa que nem passava perto da mesa de vocês no dia de um churrasco. Agora está voltando. O povo está voltando a comer as coisas que ele gosta de comer e nós ainda temos que baratear mais.
O emprego para mim, Sérgio, o emprego para mim é uma coisa magnânima, não tem nada mais importante do que o emprego. Não tem nada mais importante do que o orgulho de você ter um emprego e de você poder chegar, no final do mês, pegar sua mulher, levar sua família para ir no restaurante comer uma comidinha paga com o seu salário, com o suor do seu trabalho. Isso é a coisa mais gratificante, por isso eu valorizo muito o trabalho.
E quero te dizer uma coisa, o nosso presidente da Anfavea anunciou que vai criar 50 mil novos postos de trabalho. Da outra vez, e você está lembrado, que quando eu fui presidente da outra vez, nós criamos 1 milhão e 200 mil empregos nesse país só na área da metalurgia a nível nacional. E a gente vai fazer as coisas acontecerem outra vez, porque, para mim, somente o crescimento econômico pode gerar distribuição de riqueza. Somente o crescimento econômico pode fazer a gente ter aquilo que a gente produz. E por isso eu queria fazer uma pergunta aqui para vocês: quem é que tem carro aqui, levanta a mão para mim?
Querido, venha cá, venha cá, o nosso companheiro presidente da Renault. Eu quero que vocês vejam, eu quero que vocês vejam, queridos companheiros. Levanta a mão outra vez quem tem carro. O dia que a gente fizer todos eles terem um carro, não haverá problema na indústria automobilística brasileira. O que nós precisamos é garantir aumento do salário, o que nós precisamos é garantir aumento da renda, o que nós precisamos garantir é inflação baixa, o que nós precisamos garantir é pleno emprego nesse país e é o que está acontecendo hoje.
Nós estamos vivendo o menor desemprego nos últimos 14 anos, a inflação está controlada, a massa salarial cresceu 11,7% nos últimos dois anos, o salário mínimo já aumentou 11% nos últimos dois anos, e a gente vai tratar de cuidar de vocês. Sabe por quê? Porque, para mim, governar não é governar. Governar é cuidar, é olhar aquelas pessoas que são invisíveis, aquelas pessoas que ninguém nota, aquelas pessoas que trabalham, aquelas pessoas que cavam o chão, aquelas pessoas que plantam a comida que a gente come, aquelas pessoas que limpam as sujeiras que a gente faz, que limpam o banheiro que a gente usa. Muita gente não olha para essas pessoas. E eu olho, porque eles são cidadãos brasileiros e brasileiras e têm o direito de viver com decência e dignidade.
É por isso, meu caro, eu quero que você saiba que você tem o presidente da República mais otimista que esse país já teve. Tenho 78 anos de idade, mas a minha vontade política, a minha energia, é como se eu tivesse 30, porque um homem que tem uma causa não envelhece. Quem tem uma causa tem motivação para lutar todo dia. E eu quero que vocês saibam que eu levanto todo santo dia com os problemas do povo brasileiro na minha cabeça.
Um beijo no coração de todos vocês. Um beijo nas mulheres e nos homens. Um abraço no nosso presidente da Anfavea.