Pronunciamento do presidente Lula durante entrega do Complexo Viário da Scharlau (RS)
Lula: Queridas companheiras e queridos companheiros de São Leopoldo. Eu, antes de começar a falar, eu queria fazer uma pergunta para o prefeito Vanazzi. Fica aqui. A minha pergunta é a seguinte: me explica porque o nome Complexo Viário da Scharlau. O que é Scharlau?
Ary Vanazzi: Scharlau é uma família tradicional, que essas terras todas pertenciam ao Scharlau. E também faz parte desse processo de uma família. E no dia 25 de julho, você ia vir aqui. Antes da tragédia, porque eu me esqueci de falar, vou aproveitar. Hoje você está dando um presente para nós, porque a cidade fez 200 anos dia 25 de julho.
Lula: Gente, eu acho o povo gaúcho muito interessante. Vocês chamam mandioca de aipim. Vocês chamam mexerica de bergamota. Vocês chamam batida de carro de peixada. E vocês chamam semáforo de sinaleira. E chamam futebol de Grêmio e Internacional. Não pode ser. Não pode ser.
Deixa, querido Vanazzi, eu dizer para você que você é um herói. Eu vi essa cidade como ficou. E eu vi que você, mesmo tendo a sua casa cheia d'água, você em nenhum momento se preocupou com a sua casa. Você se preocupou com a casa do povo de São Leopoldo.
Só agem assim pessoas que têm desprendimento. Pessoas que têm coração. Pessoas que sabem o reconhecimento do que esse povo sofreu. Porque a verdade nua e crua, companheiros, a verdade nua e crua é que choveu demais.
A verdade nua e crua é que teve aquela enxurrada no Vale do Taquari. Mas a verdade nua e crua é que se esse estado, essa cidade, essa grande Porto Alegre, tivessem tido cuidado e a responsabilidade de cuidar dos diques antes da chuva, a água não teria ocupado toda a grande Porto Alegre. Essa é a verdade.
A gente não pode reclamar da chuva porque é Deus que manda ela, e se mandou ela, é porque tinha alguma razão. Mas não era necessário ter feito o que aconteceu na grande Porto Alegre, na cidade de Porto Alegre, porque se tivessem cuidado direitinho das comportas, se tivessem cuidado dos diques direitinhos, se tivessem cuidado das bombas direitinho, não teria problema de água. É importante a gente dizer essas coisas para que o pessoal saiba definitivamente o que aconteceu.
E da mesma forma que eu vim aqui na primeira vez depois da enxurrada, eu disse o seguinte: “Gabriel, o povo gaúcho pode ficar certo de que nós vamos recuperar a dignidade desse povo, porque esse povo merece respeito do Brasil inteiro e nós vamos garantir”. Nós vamos garantir a casa para quem perdeu sua casa. Nós vamos garantir o dinheiro para recomeçar a vida e já garantimos.
Já quase 380 mil pessoas receberam o Vale Reconstrução de R$ 5.100. Já foram R$ 6,2 bilhões de Fundo de Garantia liberados. Já foram quase R$ 23 bilhões que a gente colocou à disposição.
E eu vou contar uma coisa para vocês, mesmo que a gente tivesse R$ 50 bilhões e a gente colocasse agora aqui os R$ 50 bilhões, ainda assim as coisas não seriam feitas rapidamente, porque é importante que os companheiros prefeitos saibam que para o Governo Federal passar dinheiro na saúde, na educação, no transporte, é preciso que haja o cadastramento das pessoas. Para a gente fazer casa é preciso saber se a pessoa realmente perdeu a sua casa. É preciso ter nome e endereço.
Não dá para a gente chutar, porque se a gente chutar, a gente toma um processo pelas costas e a gente depois tem que pagar um preço muito alto e ainda ser chamado de corrupto. Então é importante muita seriedade no cadastramento. Quem fizer o cadastro e tiver direitinho vai receber as coisas.
É preciso comprovar. Então eu queria fazer um apelo, companheiro Vanazzi, e você pode ajudar a todos os prefeitos das cidades do Rio Grande do Sul, sabe, para agilizar, para levantar o nome de quem precisa de dinheiro, para levantar o nome de quem precisa da casa, para levantar o nome de quem perdeu as coisas, que eu quero repetir aqui, olhando na cara de mulheres e de crianças: nós vamos repor o prejuízo que as pessoas tiveram, porque o Rio Grande do Sul já deu muito para o Brasil e a gente tem que dar um pouco para o Rio Grande do Sul.
A segunda coisa que eu queria falar para vocês, porque eu não vou falar das coisas que estão sendo feitas, porque antes da enchente nós já tínhamos feito muita coisa no Rio Grande do Sul.
Eu chamei os 27 governadores no meio de janeiro no meu gabinete lá em Brasília e perguntei para os governadores, eu vou construir um Novo PAC, nosso Programa de Aceleração do Crescimento. Eu não quero inventar aqui de Brasília qual a obra importante para o Rio Grande do Sul. Eu não quero de Brasília inventar qual a obra importante para o Acre, ou qual a obra importante para o Rio Grande do Norte, ou qual a obra importante para o Mato Grosso do Sul ou Mato Grosso. Não. Eu tenho que perguntar para os governadores.
E disse para todos os governadores: eu quero que vocês apresentem ao Governo Federal aquilo que vocês acham que é importante para o estado como prioridade, que já vamos fazer um PAC e eu quero incluir as obras de vocês no PAC. Pois bem, meu querido vice-governador, as obras apresentadas pelo Rio Grande do Sul totalizaram 31 bilhões e 200 milhões de reais, dos quais 22 bilhões e 900 era só para o estado do Rio Grande do Sul. E os outros 10 bilhões e 300 era para o estado do Rio Grande do Sul com seus estados vizinhos.
Isso não tinha tido enchente ainda, isso não tinha tido o desastre do Vale do Taquari, isso não tinha enchido o Porto Alegre ainda, porque a gente não estava cuidando da enchente de 1941. A gente estava cuidando era do futuro desse estado, porque eu sei e posso dizer olhando na cara de todos vocês.
Pode pegar a história, aqui deve ter professor universitário, aqui deve ter economista, aqui tem jornalista importante, estudem para saber se em algum momento da história do Rio Grande do Sul colocaram o dinheiro aqui, o tanto que Dilma e eu colocamos para ajudar o estado do Rio Grande do Sul.
Pegue a história dos presidentes, recupere a história de Marechal Deodoro da Fonseca, pegue o imperador Dom Pedro II e pegue depois todos os presidentes, até os militares que eram gaúchos, até Getúlio que era gaúcho. E veja se foi colocada aqui a quantidade de dinheiro em todas as áreas que eu e a companheira Dilma colocamos. E não era o governador do PT, era o Rigotto (Germano Rigotto) que era o governador, era o Alceu Collares que era o governador, era a Yeda Crusius que era governadora, depois é que veio o Tarso Genro e o Olívio Dutra não pegou a gente ainda.
E sabe por que a gente faz isso? É porque um presidente da República não é o dono da verdade. Um presidente da República tem que governar aliado com os governadores, aliado com os prefeitos. Nós fizemos no PAC uma coisa que jamais foi feita nesse país, porque normalmente um presidente da República quer fazer uma obra, ele vai fazer na cidade do seu amigo, ele vai fazer na cidade do seu partido.
E nós criamos uma coisa chamada PAC Seleções, nós mandamos ofício para quase 6 mil municípios, pedindo para que os prefeitos apresentassem proposta de casa, proposta de saneamento básico, proposta para a gente resolver o problema das encostas, desbarrancamento, córrego e beira de córrego. Mandamos levantar.
Pois bem, nós fizemos o PAC Seleções e nós atendemos muito mais prefeito de outros partidos políticos, até adversário eleitoral nosso, do que os nossos do PT. Porque eu não governo para o prefeito do PT ou para o prefeito de um partido político, eu governo para o povo brasileiro. E se o projeto é importante, a gente tem que atender os interesses do povo brasileiro. E é isso que eu estou fazendo.
E quero dizer para vocês que eu estou muito feliz. Hoje eu inaugurei, entreguei as primeiras casas que eu prometi, ninguém que perdeu casa vai ficar sem casa. Agora, a gente não pode construir casa do dia para a noite, tem que fazer um levantamento de terreno, para a gente poder não construir casa num lugar que vai dar enchente outra vez.
A gente vai ter que contratar empresa. Só para vocês terem ideia, eu já pesquisei casa chinesa, já pesquisei casa sueca, porque eu quero encontrar um modelo de casa que seja mais rápido, mas que seja de qualidade, porque a gente não quer fazer uma tapera para o nosso povo, não. A gente não quer fazer casa de 15 metros quadrados, a gente quer fazer casa que dê dignidade e respeito ao povo.
Da mesma forma que nós tomamos a decisão de recuperar as empresas do Rio Grande do Sul, e eu queria dar um dado para vocês importante. Por que a economia brasileira está crescendo? Eu estou muito feliz, porque eu vivo o melhor momento da minha vida como ser humano. Primeiro, aos 78 anos, apaixonado como se fosse um garotão de 20 ou de 30.
Segundo, porque as coisas estão dando certo nesse país, a inflação está caindo, a massa salarial está subindo, o salário mínimo está aumentando e o povo voltou a comer picanha e tomar cerveja. E as coisas vão continuar acontecendo, a economia vai continuar crescendo, a gente vai continuar aumentando o salário. Eu já decidi que até quem ganha dois salários mínimos não paga imposto de renda e até o final do meu mandato, quem ganha 5 mil reais não vai pagar imposto de renda nesse país. Que paguem os ricos e não os pobres.
Pois bem, companheiros, por que a economia está crescendo? Eu vou dar uma aula de economia aqui para vocês, uma aula bem rudimentar, uma aula de alguém que não fez nenhum curso principiante de economia. Imaginemos, imaginemos vocês aqui, que eu pegasse 10 mil reais e escolhesse um de vocês e desse na mão de vocês, de um de vocês ou de uma, 10 mil reais. O que vocês iriam fazer? A pessoa que pegou 10 mil reais ia correr para um banco e ia aplicar esse dinheiro naquela conta que rende mais e a gente iria beneficiar apenas uma pessoa.
Agora imaginemos ao contrário, na minha economia, se eu pegasse esses 10 mil reais e dividisse 10 ou 15 reais para cada um de vocês, o que iria acontecer? Vocês iriam ao supermercado comprar coisas, iriam na padaria comprar coisas, iriam comprar doces para as crianças, um guaraná. Esse dinheiro começava a circular e todo mundo iria se beneficiar. Quem pegou o dinheiro iria se beneficiar, o comércio ia se beneficiar, o comércio ia vender mais, o comércio ia comprar da indústria, a indústria ia produzir mais e a indústria produzindo mais, o comércio produzindo mais, gera mais empregos, gera mais salário, salário gera mais consumo e aí a economia vai em frente, a gente não tem a fome de volta nesse país.
O milagre nosso, o milagre nosso é distribuir e fazer o dinheiro circular. Dinheiro parado só interessa a banqueiro, dinheiro parado só interessa a especulador. Eu quero dinheiro circulando na mão do povo, é por isso que tem crédito da Caixa Econômica, é por isso que tem crédito do BNB do Nordeste, é por isso que tem crédito do Banco da Amazônia, é por isso que tem crédito do Banco do Brasil, porque a gente quer fazer com que o dinheiro circule.
A hora que todo mundo tiver um pouco, a gente vai perceber que a economia vai melhorar, que o desemprego vai cair. Nós estamos hoje com o melhor índice de desemprego desde 2014.
“Ah, mas o Lula tem sorte”. Eu não tenho sorte, é porque eu tenho uma tese. O problema do Brasil não é o povo pobre trabalhador, o problema do Brasil são os ricos, porque o pobre, se ele estiver consumindo, a economia vai para frente e todo mundo vai viver bem nesse país. E é por isso que eu estou feliz, eu estou feliz porque eu quero dizer para vocês, eu quando deixei a presidência em 2010, a economia crescia a 7,5%, a inflação estava quase a 4% e pouco, e naquele tempo a gente vendia 3 milhões e 800 mil carros por ano.
Quando eu voltei 15 anos depois, a gente está vendendo apenas 1 milhão e 800 mil carros por ano, metade do que a gente vendia há 15 anos atrás. A gente tinha a consciência absoluta de que esse país pode voltar a crescer. Esse país viveu um momento em que ninguém queria receber o nosso presidente.
E, também, ninguém queria vir ao Brasil conversar com o nosso presidente, porque o nosso presidente não governava, ele achincalhava, ele fazia fake news, ele mentia, descaradamente, e criou um sistema de ódio. Aqui esses dias houve uma manifestação dos ruralistas reivindicando coisas. Eu não sei se vocês conhecem algum ruralista, mas pergunte para qualquer um, para o maior produtor do Brasil ou o melhor produtor, se alguma vez algum governo fez um Plano Safra de R$ 475 bilhões, que é o maior Plano Safra da história desse país.
Pergunte para eles se alguma vez um presidente da República abriu, em apenas 18 meses, 170 novos mercados para exportação. Em 18 meses, eu já me reuni com 54 países da África, já me reuni com 27 da União Europeia, já me reuni com os BRICS, já me reuni com o G20, já me reuni com 33 países da América Latina, já me reuni com 15 países do Caricom, já me reuni com toda a América do Sul, já me reuni com o Xi Jinping (presidente da China), já me reuni com o Biden (Joe Biden, presidente dos Estados Unidos), já me reuni com o Macron (Emmanuel Macron, presidente da França), já me reuni com a Alemanha, tudo dizendo para eles: “O Brasil voltou, a democracia voltou, o respeito voltou, o amor voltou, e esse país tem que dar certo, esse país tem que dar certo”.
E vão dizer que eu tenho sorte. É bom que a gente tenha sorte, porque ninguém quer nem goleiro com azar, nem batedor de pênalti com azar, como o Internacional ontem, perdeu dois pênaltis, pô, não é possível. Como é que o cara treina todo dia com a bola, todo dia, todo dia, todo dia, e vai bater um pênalti, e o cara não consegue marcar um gol? Ô meu Deus do céu!
Então esse país vai crescer, porque eu sou um cara que penso de forma muito otimista, melhorar o emprego. Aqui vai ter um Instituto Federal, meu caro Vanazzi, está ali, está ali sendo construído, e esse Instituto é para formar os nossos jovens, os nossos meninos e as nossas meninas, e sobretudo para as mulheres, eu quero dar um recado: a mulher tem que ter consciência de que quanto mais profissão ela tiver, quanto melhor formada ela tiver, quanto mais ela tiver um emprego de qualidade, menos ela é obrigada a ficar casada com o homem que ofenda ela, com o homem que tenta violentá-la.
A gente mora junto de uma pessoa porque a gente ama, e a gente ama, a gente quer respeito, a gente quer carinho, a gente não quer bofete, a gente quer efetivamente chamego, é isso que faz a gente viver dignamente bem. E é por isso que eu tenho muito orgulho, eu sou filho de uma mulher que teve a coragem de largar do meu pai com oito filhos menores.
A gente não tinha onde morar, fomos morar num barraco, mas o meu pai ofendeu ela, ela falou: “Comigo não, eu vou embora”, e levou os oito filhos. A gente não tinha nada, a gente tinha uma barrica, que é um barril colocado no meio, um barril cortado no meio, que era uma tina, que utilizava para minha mãe e minhas irmãs tomarem banho, a gente tinha uma lata de leite, uma coca vazia, onde meu pai guardava o pão que ele comia e não dava para nós, e a gente tinha uma faca de mesa.
Foi com isso que a gente saiu de casa, uma mulher analfabeta, com oito filhos menores, levantou a cabeça e falou: “Eu não preciso de um macho truculento, eu preciso de uma pessoa que cuide dos meus filhos”, e criou oito filhos, e eu, que era o caçulinha dela, virei presidente da República.
Então é isso que eu quero para as mulheres brasileiras, e quero para os homens, os homens bem formados profissionalmente. Eu lembro da minha mãe, gente, a minha mãe quando eu fui casar, minha mãe dizia assim para mim: “Meu filho, você vai casar, você está tirando uma mulher da casa dela, você precisa aprender uma lição. Primeiro, se você vai tirar a mulher da casa da família dela, você precisa cuidar dela, e se um dia tiver que brigar, nunca levante a mão para a sua mulher, porque se você bater nela um dia, você nunca mais vai ter paz na vida. Então se você brigar com a sua mulher, se você não estiver concordando, saia de casa, e deixe ela tranquila para cuidar das crianças, e pague a sua pensão, que é o que você tem que fazer”.
Esse país nós vamos construir, e por isso a economia vai crescer, porque muito dinheiro na mão de poucos é miséria, pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição de riquezas, e distribuição de oportunidades. E é isso que nós fizemos no Rio Grande do Sul, porque a nossa tarefa era gerar emprego, era fazer as empresas voltarem a funcionar, era fazer os mercados voltarem a funcionar, era fazer a feira livre voltar a funcionar, era fazer a agricultura voltar a funcionar, e está tudo funcionando, porque teve muito dinheiro circulando, são R$ 33 bilhões circulando nesse estado.
E você sabe, meu caro vice, que se imaginava que a economia do Rio Grande do Sul ia quebrar, e para nossa surpresa, a economia do Rio Grande do Sul esse mês bombou e voltou a crescer, sabe por quê? Porque o povo teve dinheiro para consumir, o povo foi comprar os 5 mil e 100 reais que a gente distribuiu para quase 400 mil pessoas, hoje eu perguntei para as três pessoas que estavam recebendo da casa: “O que você comprou com 5 mil reais?” “Eu comprei uma geladeira, eu comprei um fogão, e eu comprei uma televisão”.
Ora, meu Deus do céu, é isso que eu quero, esse país só vai ser feliz quando o nosso povo tiver um pouquinho de dinheiro para comprar as coisas. Ninguém quer viver de favor do Governo Federal, as pessoas querem oportunidade para trabalhar, as pessoas querem um salário decente, as pessoas querem no final do mês levar a família para comer alguma coisa num restaurante, levar os filhos para passear um pouco.
Essa harmonia, a gente só vai construir se a gente não perder a ideia de que governar é cuidar do povo, e cuidar do povo é agir com o coração. Por isso, companheiros de São Leopoldo, haverá um dia em que gaúcho chamará bergamota de mexerica, haverá um dia em que os gaúchos não vão falar semáforo de sinaleira e não vão chamar mandioca ou macaxeira de aipim, gente, pelo amor de Deus.
Então, meus queridos companheiros, eu saio daqui, vou para São Paulo e vou muito feliz. Hoje eu levantei, hoje eu perdi o sono 3h20 da manhã, e fiquei deitado na cama até às 5h pensando na minha vida e na vida de vocês, pensando no primeiro encontro com o Olívio Dutra, em 1975, pensando nas primeiras viagens que eu fiz para o interior do Rio Grande do Sul, pensando na minha relação com o meu companheiro Brizola, em 1989. Quantas brigas nós tivemos, mas quanta falta ele faz.
Fiquei pensando no companheiro Tarso Genro, fiquei pensando nos companheiros do PT que já se foram, e acordei para fazer um debate na Rádio Gaúcha e me disseram: “As jornalistas vão ser duras com você”, e eu pensei: “Venham quente que eu estou fervendo”.
Vem quente que eu estou fervendo porque eu tenho o que dizer e quem tem a verdade não tem medo. Eu disse para a jornalista: “Eu vou responder as coisas olhando nos teus olhos”, porque a minha mãe me dizia: “Meu filho, se você quiser saber se uma pessoa está mentindo ou não, você tem que olhar nos olhos dela, porque a verdade e a mentira estão estampadas nos olhos e não nas palavras, na boca, na língua”.
E é por isso que eu digo para vocês: eu tenho orgulho, eu tenho 78 anos e eu quero morrer sem mentir para o povo brasileiro que é um povo que merece viver dignamente. Eu vou voltar aqui para inaugurar mais coisas, vocês não vão se livrar de mim, eu vou voltar aqui para inaugurar mais coisas porque nós vamos reconstruir esse estado.
Porque vocês merecem o direito de andar de cabeça erguida, vocês merecem o direito de ter orgulho, vocês merecem o direito de recuperar a autoestima. Não baixem a cabeça porque encheu a casa de vocês, eu já vivi cinco enchentes na minha vida, eu já acordei com rato, barata e fezes dentro da minha sala e a gente tem que tirar para se livrar, eu sei o que é tirar lama depois que a água vai embora, um palmo e meio de lama com sanguessuga subindo nas canelas da gente. Eu sei o que é isso, companheiros, eu sei o que é isso e é por isso que eu digo: eu não quero governar o Brasil, eu quero cuidar do Brasil e cuidar do Brasil é cuidar do povo brasileiro.
Por isso, um grande abraço a vocês, que Deus abençoe vocês e até o nosso regresso aqui, se Deus quiser, para continuar reconstruindo o Rio Grande do Sul.