Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, em Várzea Grande (MT)
Companheiros e companheiras, eu queria começar a minha fala pedindo desculpas a vocês pelo atraso. Eu estava lá no Mato Grosso do Sul fazendo uma visita às queimadas no Pantanal, que é muito grande, e a gente atrasou um pouco e, por isso, eu cheguei tarde aqui. Eu sei que tem gente a tarde inteira aqui. Do fundo do coração, eu peço desculpas a vocês. Espero que isso não se repita outra vez.
Mas eu queria dizer para vocês do momento... Gente, eu queria dizer para as companheiras que receberam as casas aqui. Se vocês pudessem vir aqui para frente, eu iria agradecer, que eu vou contar uma história para vocês. Todas aquelas que receberam a casa viessem aqui. Eu... Foi no meu segundo mandato da Presidência da República que eu resolvi criar o programa Minha Casa, Minha Vida. No dia 29 de dezembro de 2010, eu fui à Bahia assinar a contratação de um milhão de casas. A gente tinha decidido que seria um programa muito grande, porque a gente precisava resolver o problema habitacional das pessoas mais pobres, das pessoas mais humildes, que muitas vezes não pode pagar o aluguel e quando paga o aluguel não pode pagar a conta da luz, que está cara. E eu estou brigando para baixar a conta de luz nesse país para o povo pobre.
Mas eu briguei muito para que os apartamentos fossem de melhor qualidade. Eu briguei muito para que as casas fossem de melhor qualidade. Eu briguei para que tivesse varanda, eu briguei para que tivesse uma área, eu briguei para que tivesse biblioteca para as crianças terem. E eu estou muito agradecido, Jader [Filho, ministro das Cidades], muito agradecido, porque aqui além da biblioteca, além da varanda, além de churrasqueira, você tem quadra de basquete, tem quadra de vôlei, falta só construir uma piscina para esse pessoal.
É porque você não conhece, o Cuiabá é muito quente, gente. Você nunca fez uma passeata aqui, andando com sol de 40 graus no cocuruto para você saber o que é bom. Então, quem sabe daqui a um dia a gente possa fazer com piscina também, porque filho de pobre gostaria de ir à Olimpíada, para isso você tem que ter piscina para nadar, para treinar. Mas eu queria que vocês soubessem o seguinte: a primeira casa que eu comprei na minha vida foi em 1975.
Eu comprei uma casa do Sistema Financeiro da Habitação. Essa casa tinha 35 metros quadrados, Simone [Cleusa da Luz, beneficiária do Programa Minha Casa, Minha Vida], a tua tem 47. 35 metros quadrados. Morava eu, morava minha mulher, a Marisa [Letícia Lula da Silva, ex-primeira-dama do Brasil], morava três filhos, minha sogra e dois cachorros. Numa casa de 33 metros quadrados. E eu achava que eu estava no paraíso.
Quando eu comprei a casa, Jader, eu comprei a casa de um companheiro da Ford, que tinha comprado a casa e ele tinha brigado com os alunos de uma escola, e os alunos começaram a quebrar o vidro da casa dele, ele ficou desgostoso. Eu comprei a casa dele.
O dia que eu fui levar a Marisa para ver a casa, tinham invadido a minha casa. Eu cheguei, tinha um cidadão, a mulher, duas filhas e a mulher grávida. E ele falou para mim: “eu não posso sair daqui. Se o senhor me tirar e acontecer alguma coisa com a minha mulher, você é o culpado”.
E eu muito tranquilo, eu falava: “companheiro, pelo amor de Deus, cara, eu pago aluguel. Eu comprei essa casa para poder me livrar do aluguel. Como é que você acha que eu posso deixar você ficar na casa? Você tem que sair da minha casa. E eu quero que você saia por bem. Trate de arrumar um caminhão, pegue as suas tranqueiras e saia da minha casa, porque eu comprei a casa e eu quero morar na minha casa”. E depois de uma semana de pendenga, ele saiu da casa, mas deixou a casa em situação triste, porque ele fez cocô, urinou em toda a casa, ou seja, era um carpete grosso, a gente teve que tirar todo o carpete.
E eu vivi de 1975 a 1989 naquela casinha de 33 metros quadrados. Eu estou dizendo isso para vocês terem orgulho, porque eu entrei na casa da Simone e é uma casa que se fosse a minha casa de 1975, eu estava beijando o chão de agradecimento a Deus de ter podido comprar uma casa dessa.
E quero dizer para vocês que o fato de vocês ganharem a casa de graça, porque recebem o Bolsa Família, não é favor nosso. É o pagamento de uma dívida que esse país tem com o povo pobre desse país. Que nasce pobre e morre pobre. Que muitas vezes não consegue fazer absolutamente nada, a não ser trabalhar e ganhar pouco.
E eu sei o que é morar de aluguel, porque eu sei, com um filho pequeno, o que é trocar de bairro todo ano. Eu sei a tristeza que é quando o dono da casa vem e pede a casa para a gente, a gente tem que procurar outra, o filho da gente está numa escola, não tem casa perto daquela escola, a gente tem que ir para outro bairro, e há dificuldade para levar as crianças. Por isso é que eu tenho dito para os meus ministros: “é preciso humanizar”.
O que a gente precisa fazer com o povo brasileiro é tratá-lo com respeito, é tratá-lo com carinho, é tratar com amor. Não custa nada a gente ter fraternidade dentro da gente. Não custa nada a gente ter solidariedade, porque toda mulher e todo homem quer criar a sua família com a maior decência. A gente quer que a molecada more tranquila, a gente quer que a molecada viva em harmonia, a gente quer que eles comam bem, a gente quer que eles se vistam bem, a gente quer que eles estudem bem, e a gente quer que eles vivam em paz, porque somente com uma família em paz é que a gente pode progredir.
Então, cada vez que eu venho inaugurar uma casa, e eu faço isso sempre, cada vez que eu venho inaugurar uma casa, governador, eu agradeço a Deus de ter me deixado vivo para inaugurar uma casa, porque eu sei, eu sei a importância de uma casa. Eu sei para a senhora, eu sei para você, Simone, eu sei para você, a alegria de receber uma casa.
A chave da casa é uma bênção de Deus. A chave da casa é o porto seguro. É o ninho que o passarinho constrói para poder criar e cuidar da sua cria. Eu quero desejar a vocês toda sorte do mundo. A gente vai fazer mais casas. O nosso compromisso é fazer 2 milhões de casas neste meu terceiro mandato. E nós vamos fazer.
Nós vamos fazer porque os empresários já aprenderam a fazer, porque o Jader já aprendeu a controlar, porque a Caixa já aprendeu a financiar, e porque vocês estão cada dia querendo coisa melhor e a nossa obrigação é garantir essas coisas melhores para o nosso povo. Por isso, gente, eu estou feliz. Por isso, eu estou feliz de estar aqui com vocês. E dizer para vocês que podem ficar tranquilos. Esse país vai ser recuperado. Esse país vai tratar.
Eu não conheço o problema dos pescadores, mas pelo fato de ter uma discussão aqui, eu já saio daqui comprometido a entender o que aconteceu com os pescadores. E muitas vezes, a gente pode consertar, ou muitas vezes, se estiver correto, a gente pode dizer que está correto. Mas eu quero dizer para vocês que eu vou me interessar, vou saber como está esse processo, para saber se a gente pode ajudar em alguma coisa. Ajudar o Estado e ajudar cada pessoa.
No mais, gente, eu quero me despedir de vocês. Dizendo para vocês que hoje à noite, quando eu deitar, eu vou rezar e pedir a Deus para que, além da casa, dê a vocês muita felicidade, muita alegria, que vocês possam criar a família de vocês com a maior decência e dignidade que todos nós queremos criar.
Eu sou filho de uma mulher analfabeta. Minha mãe nunca aprendeu a escrever, nunca aprendeu a ler. E a minha mãe criou oito filhos. E ela criou oito filhos com muita dignidade. Todo mundo pobre, mas todo mundo honrado. E ela criou tão bem que o filho caçula dela, que sou eu, virei Presidente da República deste país por conta de vocês.
Eu queria que vocês soubessem da gratidão que eu tenho por vocês. Porque eu toda vez digo o seguinte: eu não sou eu. Eu sou vocês que chegaram à Presidência da República deste país. Eu, quando falo, eu falo aquilo que vocês sentem. Sabe, quando eu penso uma coisa, eu penso aquilo que vocês pensam. Porque eu fui um brasileiro e nunca o país teve um presidente da República assim.
Eu já morei em casa que encheu d'água com mais de um metro e meio de água. Eu já levantei de madrugada disputando espaço na sala com barata, com rato e com fezes boiando. Eu sei o que é tirar a lama de um palmo e meio, cheio de sanguessuga nas canelas da gente. Eu sei o que é a gente acordar de noite para procurar um lugar para dormir por conta de enchente. Eu sei o que é viver como o pobre vive.
A primeira casa que eu morei, Simone, quando eu vim de Pernambuco com 7 anos, era uma casa que era um quarto e cozinha e a gente morava em 13 pessoas. Não tinha banheiro com descarga e muito menos chuveiro. E o banheiro que eu utilizava era o banheiro que os fregueses do bar utilizavam.
E foi assim que a minha mãe, pobre, mas uma mulher honrada, que saiu de Pernambuco para tentar não deixar o filho morrer de fome, conseguiu criar a gente. E é assim que eu quero que vocês criem a família de vocês, com muita honra, com muito amor, porque nós precisamos fazer com que a nossa vida seja melhor. Por isso, companheiros e companheiras, eu quero agradecer de coração a presença de vocês.
Quero agradecer ao pessoal que o Fávaro [Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária] atendeu, do Agronegócio. Agora vai ter adido, adido do Ministério da Agricultura nas embaixadas brasileiras para ajudar a vender as coisas que vocês produzem. Isso é coisa dele. Porque ele passa o dia inteiro pensando em abrir um novo mercado para vender os produtos de vocês. E a gente fica torcendo, porque quando esse Estado crescer, quanto mais ele crescer, mais vai dar emprego, emprego vai dar salário, salário vai permitir que vocês possam comprar aquilo que vocês querem e a gente vai ter uma vida digna e respeitosa.
Meu abraço aos companheiros da imprensa que estão há muito tempo esperando, meu abraço aos convidados e abraço a todos vocês.
Até a minha volta a esse estado, se Deus quiser!