Pronunciamento do presidente Lula durante encontro com atletas olímpicos, em 26 de agosto de 2024
Olha, primeiro um aviso: é que quando eu terminar de falar, nós vamos ter que ficar do lado e tirar a fotografia, porque nós ficamos na frente da maioria dos atletas e eles não apareceram na foto – e eles precisam sair na foto. Qualquer negócio, a gente vai lá para trás.
Segunda coisa, eu queria dizer aos companheiros dirigentes do esporte brasileiro, dizer ao meu ministro Fufuca [André Fufuca, ministro do Esporte], ao meu ministro José Múcio, da Defesa, que tem muito orgulho da quantidade de atletas que participam, que servem às Forças Armadas Brasileiras. Da nossa querida Anielle [Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial], do Márcio Macedo [ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República], do Alexandre Padilha [ministro das Relações Institucionais], do Laércio Portela [ministro interino da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República].
Da nossa querida medalhista olímpica Leila de Barros [senadora da República], ao meu companheiro Jaques Wagner [senador da República] e Randolfe [Rodrigues, senador da República], líder do governo no Senado e no Congresso Nacional. Aos deputados federais que estão aqui, companheiro Augusto Puppio [deputado federal], Bandeira de Mello [deputado federal], Douglas Viegas [deputado federal], Gervásio Maia [deputado federal], Ismael Alexandrino [deputado federal]. Paulo Wanderley Teixeira, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
E, principalmente, os nossos queridos companheiros atletas que estão aqui. Eu não vou ler o nome de todos eles, porque pode faltar algum e eu não quero cometer nenhum erro. Mas acho que vocês que assistiram as Olimpíadas devem saber quem são os nossos atletas. Nós estamos aqui com o Abner Teixeira, do boxe. Eu fui lutador de boxe, cara. Eu treinei seis meses boxe. Eu parei de treinar com medo de arrebentarem meu nariz.
A Ana Sattler, da canoagem; o Arthur Nory, da ginástica; a Bárbara Domingos, da ginástica; o Caio Bonfim, do atletismo, marcha atlética. O Edival Pontes, “Netinho” do Taekwondo. Gabrielle Roncatto, da natação. A Giullia Penalber. Eu nem sei ler o que que ela faz. Que tipo de luta? Ah, da luta livre. Companheira Júlia Soares, da ginástica artística; a Laura Amaro, do levantamento de peso; o Marcus D'Almeida, do tiro ao arco. O Stephan Barcha, do hipismo. Valdiléia Martins, do atletismo; o Ygor Coelho, do badminton. Bruno Lobo e Marina Arndt, da vela. Gabriela Lima e Nádia Silva, do rugby. Tânia Rodrigues de Oliveira e Yasmim Assis, do futebol. Macris Carneiro e Tainara Santos, do vôlei de quadra. Augusto Akio e Daniela Vitória do skate. Beatriz.
Seria possível vocês darem uma andadinha de skate aqui para fotografarem vocês no skate? Já que vocês trouxeram o instrumento de trabalho de vocês, seria importante vocês... Aí o pessoal bate [a fotografia].
Aqui nós temos ainda a Beatriz Cunha Tavares e Lucas Ferreira, do remo. A Geovana Meyer e o Philipe Chateaubriand, do tiro esportivo. Temos a nossa Bia Souza, do judô. A Bia é impressionante, ela deve ter demorado muitos anos para aprender judô, mas o sorriso que ela está dando na publicidade do Bradesco, ela aprendeu em pouco tempo. O Guilherme Schimidt, a Ketleyn Quadros, o Michel Augusto, Natasha Ferreira, Rafael Silva, Willian Lima, todos do judô.
Olha, eu queria começar a minha fala aqui pedindo um favor para vocês que foram para as Olimpíadas. Tanto os atletas, as meninas e os meninos, quanto os dirigentes que lá estiveram. É importante que a gente tire muitas lições da nossa participação em Jogos Olímpicos.
Eu confesso a vocês que, quando nós conquistamos as Olimpíadas para 2016 no Brasil, eu sonhava que o Brasil poderia se transformar numa grande potência olímpica. Sonhava, acreditava que a gente poderia ser. E o tempo foi passando e eu descobri que não basta boa vontade, é preciso que tenha políticas de investimento para que a gente possa ter certa potência olímpica.
É preciso que a gente comece a ter as nossas escolas, desde o ensino fundamental, preparadas para que as crianças possam aprender lá a iniciação das suas práticas esportivas. As nossas escolas, a maioria delas é como se fosse uma caixa de fósforo, não tem espaço para nada. Muitas têm uma quadra mal cuidada, de quem joga basquete, vôlei, futebol. Não tem mais futebol de salão, é futsal agora.
Mas você não tem as escolas preparadas para as pessoas que queiram ser alguma coisa nesse país, com prática esportiva. E você também tem grande parte das cidades sem nenhum preparo para treinar as pessoas.
Então, a gente nunca vai chegar onde a gente deveria estar, por conta da falta de oportunidade das pessoas dizerem o que querem ser e o que são. Quando eu digo que a gente deveria aprender uma lição, é porque eu acho, eu me disponho, estou me oferecendo aqui publicamente. Se o nosso querido presidente, o Wanderley, que foi o chefe do Comitê Olímpico, quiser convocar uma reunião, no Rio de Janeiro, com os atletas, com os dirigentes das entidades de judô, de boxe, de qualquer coisa. Eu estou disposto a ir lá para a gente discutir o que fazer nos próximos quatro anos. Como preparar esse país para a gente poder dar um salto de qualidade.
Porque hoje, depende muito do esforço de cada um de vocês, das meninas e dos meninos. Ou seja, se a prefeitura não oferece um lugar bom, se a escola não oferece, fica por conta da própria sorte. Se o pai tiver um pouquinho de recurso, pode ajudar a fazer alguma coisa.
Augusto Akio (“Japinha”): Um skate custa, em média, de R$ 1.500 a R$ 2.500.
Presidente Lula: Um skate campeão.
Augusto Akio (“Japinha”): Um skate de qualidade, que eu usaria...
Presidente Lula: Sabe o que eu fico bestificado? É que eu achei que isso aqui era grudado no pé de vocês. E vocês fazem o que quiser com ele. Sinceramente. Sinceramente. Tem que ser gênio para fazer o que vocês fazem. Vocês sabem que eu não era um cara muito apaixonado pelo surfe. Eu não sei porquê, mas eu não gostava. De um tempo para cá, eu tenho assistido muita coisa do surfe. Eu, sinceramente, acho que aqueles caras fazem numa onda são verdadeiras… Nem peixe consegue acompanhar eles com a esperteza. Homens e mulheres.
Então, eu acho, companheiro do Comitê Olímpico, que quando nós pensamos na criação do Bolsa Atleta, é que eu lembro de uma história, não sei se foi na cidade de Presidente Prudente, um corredor, um atleta, ele não tinha tênis para correr. E foi daí. Fizeram uma vaquinha e compraram um tênis para ele. E ele ficou uma pessoa importante no atletismo brasileiro.
Foi daí que nós discutimos aqui: por que não criar um Bolsa Atleta para dar às pessoas que estão iniciando a chance de ter, pelo menos, os equipamentos necessários? E hoje o Bolsa Atleta é uma coisa importante. Hoje, o Bolsa Pódio chega a R$ 16 mil. É uma coisa importante, porque quando o atleta está iniciando, nem vendedor de calango quer fazer publicidade nele. Ninguém dá a menor importância.
Agora vocês vão ver como vocês ganharam medalha, como vocês vão ser mais chamados para conversar, chamados para fazer publicidade. Vai ter alguém que vai dar para vocês um patrocínio. Porque essa é uma coisa que nós vamos fazer levantamento também. Nas empresas públicas brasileiras, quantas delas têm patrocínio por nossos atletas olímpicos? Quantas delas têm? Porque é muito fácil querer patrocinar um time que é campeão. Eu quero ver patrocinar um menino ou uma menina da periferia desse país que quer participar disso.
Eu tenho consciência de que nenhum de vocês chegou a ir para Paris por comodismo. Eu fico imaginando quantas coisas vocês deixaram de fazer, coisas pessoais de vocês, coisas íntimas de vocês. A famosa baladinha, o encontro com companheiros. Quantas vezes vocês deixaram de participar de festa de família porque vocês tinham que treinar? Porque se não treinar, não chega na necessidade de ir para as Olimpíadas. E quando chega lá é pior ainda. Porque quando você chega lá, você é a melhor do Brasil, mas você vai encontrar a melhor de vários outros países que, tanto quanto você, ralaram.
E eu fico imaginando a frustração de vocês. Eu, quando perdi uma eleição, eu ficava chorando o tempo inteiro, dizendo: por que eu perdi as eleições? Por que não deu certo? Eu fico imaginando uma pessoa treinar um ano, dois anos, três anos, quatro anos. De sábado, de domingo. E quando vai fazer a sua apresentação, cai. Quando vai pular vara, cai.
Aliás, falar em vara, contar uma história para vocês. Semana passada, eu estava tomando café e a Janja me mostrou, no telefone dela, um menino numa cidade chamada Curralinho, no Espírito Santo [Piauí], um moleque chamado Moisés. Piauí. Piauí, um molequinho chamado Moisés. Ele estava treinando salto de vara, mas uma vara comum. E era uma trave feita com pau também. Parecia mais uma trave para jogar bola do que para pular. E aquele menininho tentou várias vezes pular. Pulava alto e caía no chão duro. O atleta tem um colchão de espuma para ele pular, ou de água, sei lá o que é, para ele cair. Aí eu, na hora, peguei o telefone e liguei para o governador do Piauí.
Falei: Rafael [Rafael Fonteles], por favor, tem uma cidade chamada Curralinho, tem um menino chamado Moisés. Eu acabei de ver um negócio dele na internet, eu vou mandar para você, a Janja vai mandar para você. E eu quero que você vá lá em Curralinho, pegar esse moleque, pegar a família dele, e você vai dizer para esse moleque: “nós vamos criar condições de você treinar da forma decente”, arrumar uma coisa decente para esse menino poder ter a chance de ser um atleta olímpico. Se o Estado não fizer isso, e a pessoa não for uma família bem de vida, não consegue fazer, não consegue fazer.
Então, eu sei do sacrifício, eu sei, aquelas meninas bonitas da ginástica, aquelas que fazem um monte de coisa. Eu fico vendo a mão delas, como é que é de ficar treinando quatro anos seguidos, às vezes. Eu conversei muito com a Daiane [dos Santos, ex-ginasta brasileira], quando ela disputava as Olimpíadas. Uma vez eu peguei na mão dela e aparecia uma lixa.
Ou seja, então a gente tem que mostrar, eu falo sempre para a meninada, quando eu vou fazer um encontro com a juventude, com a escola, eu falo o seguinte: vocês estudam para ser o primeiro da classe, porque ninguém consegue ir para uma Olimpíada por vagabundagem, ninguém consegue por desleixo.
Vocês foram porque vocês tiveram amor por aquilo que vocês fazem, se dedicaram, abandonaram muitas coisas pessoais para poder conquistar o direito de ir para Paris e participar de uma Olimpíada que é uma coisa emocionante.
Então, eu fico imaginando quando vocês caem da vara, quando você cai do skate. Quando nós perdemos no futebol, fazia tempo que a gente não chegava onde nós chegamos no futebol, quase. Só pelo fato de derrotar a França e a Espanha, já valeu a pena. Já valeu a pena. E o que é mais importante é que foram mulheres. O vôlei também. A gente perdeu por acaso, mas a gente merecia ganhar também no vôlei, sabe? Porque as mulheres estão muito empoderadas, as mulheres estão muito fortes, estão cada vez ocupando mais espaço — não só no esporte, no trabalho, mas na política também.
E eu queria que vocês soubessem o seguinte: vamos marcar o dia de hoje como uma nova era na prática de esporte nesse país. Eu quero ajudar que esse país seja um país fortemente apostador nessa meninada que se dedica a praticar esporte. Por N razões. Uma delas é incentivar os milhões de meninos e meninas que estão nas escolas, que não têm a chance, porque não têm espaço, e que nós precisamos criar condições. E esses meninos e meninas são exemplo de motivo de incentivar essas crianças a praticar esporte.
Eu vou combinar com o Fufuca [André Fufuca, ministro do Esporte], se você marcar uma reunião no Rio, eu vou no Rio de Janeiro conversar com vocês, porque eu acho que nós temos que aproveitar as lições. E vocês, atletas, vocês, escrevam, coloquem no papel, mandem para a Janja, mandem para o governo, escrevam, mandem um zap [Mensagem no WhatsApp] para nós dizendo o que vocês acham que tem que fazer. O que vocês acham que tem que fazer. Porque a verdade é o seguinte, a gente não sabe de tudo, a gente pensa que sabe, mas quem sabe são vocês que vivem o dia a dia e que se esforçaram para chegar lá.
Eu quero dar os parabéns a vocês, de coração. Vocês e também aqueles que não ganharam medalha. Porque não é só ganhar medalha que valoriza a pessoa. Quem ganhou a medalha foi premiado porque conseguiu o seu melhor naquele instante. Mas tanta gente que podia ser melhor e teve um probleminha e não conseguiu o seu melhor.
Então, o que vale, na verdade, é o esforço de vocês, a dedicação de vocês, a compreensão dos pais de vocês, que ajudaram vocês. E eu quero que vocês saibam que o que depender do governo, a gente vai fazer tudo. A gente pode construir parceria com governadores, pode construir parceria com prefeitura, companheiro Fufuca. A gente pode construir a parceria para que a gente possa criar nesse país as condições da gente ter cada vez mais orgulho dos nossos meninos e das nossas meninas.
Eu quero dizer para vocês que eu estou orgulhoso de vocês, muito orgulhoso. Eu que não sou um cara de admirar todas as práticas de esporte, mas eu vi na ginástica rítmica, uma menina nossa que machucou o pé. Ela não conseguiu fazer direito. Ela começou a chorar e nós começamos a chorar em casa com a menina. Por quê? Porque é muito, é muito forte participar da Olimpíada. E é muito emocionante quem recebeu medalha de prata, medalha de ouro, medalha de bronze, ouvir o hino nacional no pódio. É uma coisa muito gratificante. Por isso que eu acho que a gente tem que utilizar vocês como exemplo. Não desistir nunca. Não desistir nunca daquilo que vocês acreditam. Porque o povo brasileiro precisa de exemplos extraordinários e vocês foram um exemplo extraordinário.
Que Deus abençoe cada um de vocês. Que Deus abençoe a família de vocês. E que vocês não percam nunca, nunca, a disposição de vocês de serem cada vez melhores, cada vez mais competitivos e cada vez mais campeões. Parabéns pelo que vocês fizeram em Paris.