Pronunciamento do presidente Lula durante anúncios referentes à Nova Indústria Brasil - Saúde
Permita, companheiros e companheiras, chamá-los de companheiros e companheiras. Hoje eu chamei o Alban [Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria] de companheiro e eu lembrei que a gente não escolhe o companheiro, ou melhor, a gente não nasce com companheiro, ou seja, você não escolhe irmão, você não escolhe mãe, você não escolhe pai, mas companheiro você escolhe. E eu trato todo mundo de companheiro, porque eu acho que o Brasil está precisando mudar um pouco o jeito de comportamento das pessoas.
Nós precisamos humanizar mais a nossa relação, nós precisamos ser mais solidários, nós precisamos cuidar melhor das pessoas que mais necessitam. É olhar um pouco para ver se todo mundo pode crescer um pouco nesse país e a gente se transformar num país altamente desenvolvido, altamente com qualidade de vida para todos. Eu, hoje, disse na Confederação Nacional da Indústria que eu sou um homem, possivelmente, eu esteja vivendo o meu melhor momento como ser humano na passagem pela Terra.
Porque o que eu tenho recebido de generosidade ao longo da minha vida, eu ainda não quero ir embora para o céu porque eu estou pedindo para viver 120 anos, mas eu acho que está na hora da gente agradecer algumas coisas. Porque viver esse momento que nós estamos vivendo agora é um momento muito gratificante. E esse momento que a gente está vivendo agora, ele é graças, primeiro, à existência de vocês que acreditam que esse país pode ser melhor, é graças às pessoas que acompanham o governo, é graças aos companheiros dos bancos públicos que sabem que o dinheiro tem que circular.
O dinheiro não pode ficar no cofre, o dinheiro não pode ser transformado em título. O dinheiro tem que circular para que as pessoas possam adquirir as coisas, para que as pessoas possam investir. Esse é o papel do governo indutor.
Eu não quero um governo empresarial, eu quero um governo indutor, um governo que discuta e que sabe o que fazer, como fazer e colocar as condições para que as coisas aconteçam. Não tem sentido o BNDES ser um banco que não tem recursos para investimento. Não tem sentido todos os países do mundo têm bancos de desenvolvimento que investem para o crescimento econômico.
Só que no Brasil, que de repente se achou que o BNDES era um estorvo, que o BNDES estava emprestando dinheiro demais, que não sobrava espaço para os outros. Não, não é verdade. Tem espaço para todo mundo investir. E quanto menos for atrativa a taxa de juros, para que as pessoas vivem de dividendos, de especulação, mais dinheiro é necessário para mais investimento. E mais investimento é isso. Surgem empresas, surge inovação, surgem pessoas com consumo, surge universidade. E o país vai embora.
Eu digo que eu vivo melhor o momento, porque eu fico analisando as premissas daqueles que não acreditavam que a gente pudesse recuperar esse país, e vejam como é que está a economia hoje. A economia brasileira não está o paraíso dos paraísos.
Até porque quando ela cresceu 14% ao ano não era um paraíso. Naquele tempo havia uma diversidade entre a economia e ideologia, que a economia crescia a 14% e a juventude era perseguida porque estava tentando derrubar o regime militar. Mas a economia cresceu e quando ela parou de crescer, o povo não estava mais rico, o povo estava mais pobre.
Então, o que está acontecendo no Brasil é o seguinte: a inflação está controlada, o salário está crescendo, o salário mínimo está aumentando, a massa salarial está crescendo, o desemprego, nós vamos chegar logo, logo ao menor nível de desemprego da história desse país, os investimentos estão andando de vento em popa, se não é tudo aquilo que a gente queria, é mais do que a gente pensava que ia ter agora.
As dificuldades políticas estão sendo superadas dia a dia, não tem uma fórmula mágica para você resolver os problemas políticos, é conversa. Então que esses meninos passam horas e horas e horas conversando. “Ah, porque a Câmara não vai votar tal coisa, a Câmara vai derrubar tal projeto. Não, vamos lá conversar. A Câmara não quer aprovar tal coisa, vamos lá conversar. O Senado quer fazer tal coisa, vamos lá conversar”.
Ou seja, esse tipo de comportamento é que está fazendo com que a gente tenha aprovado a política tributária até agora, uma coisa que a gente sonhava em 40 anos e que a gente não conseguia. No Congresso, que a gente poderia dizer adverso. O meu partido só tem 70 deputados em 513, o meu partido só tem 9 senadores em 81, e nós não temos dificuldade de fazer as coisas. Nós temos contrariedades que nós temos que trabalhar, o governo tem que saber que ele não é dono da verdade. Ou seja, não é tudo o que ele quer que a Câmara aprova, que o Senado, é aquilo que é possível, e a gente tem, dentro do possível, feito as coisas acontecer nesse país.
A grande novidade foi que nós começamos a governar antes de ser governo. Esse é um fato sui generis nesse país. Ou seja, nós não tínhamos tomado posse ainda, fomos obrigados a construir a PEC da Transição para que a gente pudesse ter o dinheiro para fazer o que a gente está fazendo hoje aqui. E é por isso que eu sou otimista, e é por isso que eu sou um cidadão feliz, porque as coisas vão acontecer, não tem como não acontecer.
Eu falo para o meu querido ministro Fernando Haddad [ministro da Fazenda]: Haddad, quando você estiver achando que não vai dar certo, Haddad, esquece Haddad. Nós estamos numa fase que mesmo que dê errado, vai dar certo. Mesmo que dê errado, vai dar certo.
Porque eu percebo a sociedade em movimentação, eu percebo as pessoas com otimismo, eu percebo as pessoas melhorando. Quem é que acreditava que a picanha fosse baixar? Ela baixou, e baixou bastante. Não apenas a picanha, outras carnes também, quem gosta de outros tipos de carne, baixou.
Porque o papel nosso do governo é tentar fazer as coisas acontecerem sem atrapalhar. Se a gente não atrapalhar, já está de bom tamanho, o que a gente tem é que tentar facilitar. E nesse aspecto eu sou agradecido ao trabalho do companheiro Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], que tem sido um companheiro extraordinário para fazer as coisas acontecerem, é incansável para fazer as reuniões, para fazer as conversas, para fazer os acordos.
O trabalho fenomenal do Padilha [Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais] na Câmara, tentando convencer cada votação, parece fácil, mas é uma coisa extremamente complicada. Eu não sei como é que eles aguentam, porque vão dormir duas horas da manhã, três horas da manhã, uma hora da manhã, levantam no outro dia seis e meia da manhã. Esse aqui é incansável para fazer reunião com todos os 37 ministérios, para fazer as coisas acontecerem.
Só a Esther [Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos] é que está com a dívida com a Anvisa, a greve. Mas depois do apelo que você fez, ela vai resolver. Eu queria só dizer para você o seguinte: eu sou grato por esse momento que eu estou vivendo no Brasil.
A única razão que eu digo que eu voltei a ser presidente da República nesse país é porque era necessário provar outra vez que governo governa. Governo não briga. Governo não inventa coisa. Governo cuida. Ele cuida da indústria, ele cuida do povo, ele cuida do país. Ele cuida da soberania desse país. Esse país tem tudo para ser grande.
Você não imagina a vontade que eu estou de chegar o G20 aqui, no meio de novembro, porque o Xi Jinping vai vir e a gente vai fazer uma reunião com o Xi Jinping muito importante. E nós queremos discutir o aprofundamento de uma parceria estratégica, porque a gente quer ser um país altamente competitivo.
Chega de ser um país em fase de crescimento, um país em vias de desenvolvimento, um país que vai, sabe, a gente não consegue subir uma escada, dois degraus, sobe dois, cai um, sobe dois, cai mais um. A gente tinha acabado com a fome, a fome voltou. E nós, em apenas 18 meses, tiramos 24 milhões de pessoas da fome e vamos tirar todo mundo da fome.
Se esse país é um país agrícola que tem orgulho de exportar, nós vamos ter orgulho é quando o povo comer. E hoje eu disse para o Alban, na porta da CNI, que ele precisava colocar uma placa na porta com os seguintes dizeres, para todo mundo ler e aprender que: muito dinheiro na mão de pouca gente significa pobreza, significa analfabetismo, significa violência, significa tudo de ruim. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o contrário. Significa que o dinheiro está circulando, que as pessoas estão podendo comprar, que as pessoas estão consumindo, que as empresas estão produzindo, que o comércio está vendendo e que tudo fica resolvido nesse país.
E isso que vocês assinaram aqui, esses acordos, o Banco do Nordeste, por exemplo, era um banco que tinha muita dificuldade de emprestar dinheiro além daqueles que sempre pegavam o dinheiro.
Ou seja, não, o dinheiro tem que circular no Nordeste. O Basa [Banco da Amazônia] era um banco que estava viciado em emprestar dinheiro apenas para o dono de meia dúzia de grandes empresários no Amazonas. O povo não tinha acesso. Ora, se o povo não tem acesso, não tem consumo. Se não tem consumo, não tem indústria. Então, como é que vai ficar? Essa discussão, eu lembro que a primeira discussão que eu fiz, o meu ministro era o Temporão [José Gomes Temporão], sobre a necessidade de uma política de saúde.
E eu vejo o que aconteceu hoje, hoje aconteceu aqui, eu posso dizer para vocês, eu tenho muita razão de dizer que eu sou um homem feliz, que eu sou um cidadão pleno, porque esse país vai dar certo. Todos aqueles que apostaram que não ia dar certo vão ter que chegar e pedir desculpa para a gente, ou ser parceiro. E eu vou continuar chamando todo mundo de companheiro, todo mundo de companheiro ou companheira, porque companheiro sou eu que escolho.
Ninguém me diz que eu tenho que chamar de alteza, de majestade, eu chamo de companheiro as pessoas que eu quero. E o Alban, que eu não conhecia, já era meu companheiro. Por quê? Porque ele era companheiro do Rui Costa, era companheiro do Otto Alencar, era companheiro do Jaques Wagner, era do Jerônimo, e eu falei, bom, se é companheiro de tanta gente que são meus companheiros, ele já é meu companheiro antecipadamente. É assim que eu trato as pessoas, e posso dizer para vocês o seguinte, marca a data de hoje, esse país não tem retorno.
Esse país é daqui para frente. Esse país vai ter que crescer muito, vai ter que aplicar muita inovação, nós precisamos de muitas faculdades novas, menos curso de direito, mais curso de engenharia, mais curso de matemática, mais curso de digitalização, mais curso de gente para aprender a trabalhar com a tal da Inteligência Artificial, que eu, sinceramente, não sei quem é o doido que inventou inteligência artificial com tanta gente inteligente nesse país, com tanta gente como vocês, que ao falar e mostrar, é melhor uma inteligência humana dessa para produzir melhoria de vida para o povo, que precisa muito.
Pode dizer para vocês, eu vou terminar o meu mandato com esse país grande, sólido e com esse país respeitado no mundo, porque essa é a grande coisa que nós fizemos. O país voltou a ser protagonista internacional. E eu peço desculpa a vocês, porque eu demorei, porque eu estava no telefonema com a Colômbia, tentando ver se a gente encontra uma saída política para o problema da Venezuela, para ver se a gente restabelece a tranquilidade democrática naquele país. Por isso eu demorei.
Muito obrigado, parabéns, Alckmin, pelo trabalho, parabéns companheiros banqueiros, companheiros banqueiros dos bancos públicos e parabéns pelo trabalho de vocês. Estejam certos que vocês vão continuar crescendo, o Sul vai continuar se aperfeiçoando e a gente vai poder ter orgulho de dizer somos brasileiros e não desistimos nunca.
Um abraço, gente.