Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de investimentos para o estado da Paraíba
Eu quero dizer para vocês que é sempre uma imensa alegria e uma grande emoção cada vez que eu venho a um estado do Nordeste e constato que as coisas estão melhorando. Porque a impressão que se tinha era que o Nordeste não fazia parte do Brasil. A impressão que se tinha, governador João [João Azevêdo, governador da Paraíba], e eu vivi durante muito tempo lendo jornais em São Paulo, lendo jornais do Rio de Janeiro, lendo pesquisa do IBGE e me deixava muito triste quando dizia que o Nordeste era o lugar que tinha mais mortalidade infantil, que o Nordeste era o lugar que tinha mais desnutrição, que o Nordeste era o lugar em que as pessoas viviam menos, que o Nordeste era o lugar que tinha mais analfabeto e que o Nordeste era o lugar em que as pessoas tinham menos salário, tinham menos doutores, menos mestres e menos curso universitário.
Eu ficava imaginando por que o Nordeste, que logo depois da sua descoberta era o centro produtor de riqueza para a coroa portuguesa, no tempo da cana-de-açúcar, no tempo do pau-Brasil por que que de repente o Nordeste foi esquecido, sobretudo depois que o rei foi se instalar no Rio de Janeiro? E aí outras partes do Brasil começaram a se desenvolver e o Nordeste foi ficando esquecido e foi ficando esquecido. Até quando eu me dei conta de uma coisa que era criada aqui no Nordeste chamada frente de trabalho, toda vez que tinha uma seca, se criava uma frente de trabalho que não se produzia nada, não produzia cidadania. Era tirar a terra de um lado e colocar para o outro, depois quando vinha outra crise, tirar a terra daquele lado e colocar no outro. E eu lembro que a última frente de trabalho pagava 30 reais por mês. Isso era tido como se fosse uma ajuda ao povo nordestino.
E eu comecei a me dar conta que nós tínhamos um problema sério nesse país. O Brasil foi o último país do mundo a fazer a sua independência na América do Sul, foi o último a ter o voto da mulher, foi o último a abolir a escravidão e foi o último a ter uma universidade federal. Nós olhamos a história e nós vemos que o Peru, que foi descoberto nas Américas em 1492, oito anos antes do Brasil, em 1554 o Peru já tinha a sua universidade, que era a Universidade de São Marcos, e o Brasil só foi ter a sua em 1920, 400 anos depois da descoberta.
A gente tinha algumas faculdades, mas aí o rei da Bélgica vinha para cá e como o rei precisava receber um título de Doutor Honoris Causa, foi criada a Universidade de Brasil com muita rapidez, não por preocupação com o povo brasileiro, mas com preocupação do status, da subserviência de atender o rei da Bélgica. E eu fiquei me perguntando: por que é que é assim? Por que é que as coisas acontecem assim? E se você for analisar a história desse país mais profundamente, você vai perceber que a grande maioria da parte governante desse país, de uma elite econômica, de uma elite política, sempre tratou o Nordeste e sempre tratou o povo mais pobre como se a gente fosse invisível.
“Eu não enxergo vocês, eu ando de nariz empinado, eu enxergo os iguais a mim e vocês nasceram para continuar pobres, vocês nasceram para ser pobres, vocês nasceram para trabalhar, trabalhar”. E era assim que se pensava. Para que universidade, se a gente era um país que tinha uma escravidão imensa e que era um país que tinha indígenas que foram mortos aqui com trabalho escravo? E depois se inventou a história que índio não gostava de trabalhar, que morria porque era preguiçoso, que não gostava de trabalhar.
Eu falei: não é possível que a gente não dê um jeito nesse país. E eu tenho orgulho de dizer para vocês, eu tenho muito orgulho de ser o único presidente desse país que não tem diploma universitário e sou o presidente que mais fez universidade e extensão universitária na história brasileira. Em 100 anos, os que governaram esse país durante séculos fizeram 100 institutos federais. O primeiro, Instituto Federal de 1909, feito na cidade de Campos dos Goytacazes pelo presidente Campos Salles [Nilo Peçanha, conforme portal do IFB Fluminense].
De 1909 a 2003, eles fizeram 140. Nós, em 15 anos, vamos entregar 784 institutos novos nesse país. E por que, governador, que isso acontece? Isso acontece por causa de uma obsessão que eu tenho. Eu não tenho orgulho de não ter diploma universitário. Eu, sinceramente, gostaria de ter tido diploma universitário, mas não tive a chance de ter. Então, ao invés de ficar lamentando que eu não tenho curso universitário, eu trato de imaginar que eu tenho que criar condições para que todas as pessoas desse país, independentemente do berço em que nasceu, independentemente da qualidade do hospital que nasceu, independentemente de qualquer coisa social, todos, sem distinção, têm o direito do Estado garantir a eles igualdade de oportunidade na disputa de tudo que esse país tem que oferecer para o seu povo.
Eu nunca pensei em tirar nada de ninguém. Não quero tirar nada de ninguém. Não quero que a pessoa mais rica não tenha o direito de estudar onde quiser. Não quero que a pessoa branca tenha o direito de fazer o que quiser. Mas é preciso a gente aprender a respeitar os outros. É preciso a gente saber que uma sociedade nova que nós vamos criar, mais humanista, mais fraterna, mais solidária, ela parte do pressuposto que a filha de uma empregada doméstica tem o direito de disputar uma vaga na universidade com a filha da sua patroa, disputando a mesma chance, que um ajudante de pedreiro tem que ter o direito de disputar uma vaga numa universidade com o filho do engenheiro.
Eu me cansei das pessoas dizerem: “não, os nordestinos são bons porque vêm para São Paulo para ser pedreiro”. Nós não queremos só ser um pedreiro. Aliás, acho que a profissão de pedreiro é uma extraordinária profissão.
Mas nós não queremos ser só pedreiro, ajudante de pedreiro, nós também queremos ser médicos, queremos ser engenheiros, queremos ser filósofos, queremos ser psicólogos, queremos ser professores. Por que alguém pensa que os que vieram de baixo não querem subir? Será que alguém acredita que as pessoas gostam de ser pobres? Ninguém gosta de ser pobre. O que falta, na verdade, é oportunidade para as pessoas expandirem, para as pessoas crescerem, para as pessoas poderem tratar a sua família com muita dignidade e com muito respeito.
E eu dizia no meu primeiro mandato: que ao terminar o meu mandato, cada brasileiro ou brasileira que estiver tomando café, almoçando e jantando, eu já terei cumprido a missão da minha vida. E em 2014, no governo da Dilma [Dilma Rousseff, ex-presidenta do Brasil], esse país conseguiu sair do Mapa da Fome da ONU. Mas acontece que houve impeachment da Dilma e depois houve o “coisa” que se elegeu. E esse país, quando eu voltei, 15 anos depois, tinha outra vez 33 milhões de pessoas passando fome.
E está aqui o meu companheiro Índio, o meu companheiro Wellington [Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome], governador do Piauí durante 16 anos e ministro do Desenvolvimento Social. Em apenas 18 meses, já tiramos 24,5 milhões de pessoas da fome nesse país e vamos tirar 100%. Aqui eu quero fazer um agradecimento e eu queria que vocês entendessem.
Aqui tem três senadores e tem um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete deputados dos mais diferentes partidos políticos. E vocês sabem que, quando eu ganhei as eleições, eu fiquei pensando: puxa vida, tem 513 deputados. Eu só tenho 70. Como é que eu vou fazer para aprovar as coisas? Eu só tenho nove senadores e 81. Como é que eu vou fazer para aprovar as coisas?
E aí eu aprendi uma lição importante da democracia. Eu descobri que eu tinha que conversar com quem pensava diferente de mim, com quem tinha sido eleito por outro partido político. Eu precisava repartir com eles a construção desse país. E sou agradecido ao Congresso Nacional, ao Senado e à Câmara, que me fizeram governar esse país antes de eu tomar posse com a PEC da Transição, que deu dinheiro para a gente aumentar o Bolsa Família, aumentar o dinheiro para a educação e aumentar o dinheiro para a saúde.
Sou agradecido a esses companheiros que, até agora, votaram tudo o que a gente precisou que fosse votado. Inclusive, uma coisa que ninguém imaginava que a gente fosse votar, governador, uma política tributária que foi aprovada e o Aguinaldo [Ribeiro, deputado federal] foi o relator na Câmara e aprovou essa política de Reforma Agrária.
Então o Brasil vive um momento extraordinário e eu quero aqui de público agradecer aos deputados. Não só o Luiz Couto, que está com o chapeuzinho do PT, a todos os deputados. Mesmo aqueles que votaram contra, eles também estão cumprindo com a sua função. O que é importante é o seguinte: eu fui eleito para governar esse país e converso com qualquer pessoa para resolver os problemas desse país.
Não tenho preconceito, não tenho veto partidário, não tenho veto ideológico, eu tenho um compromisso. Eu tenho um compromisso, que é cuidar desse país. E governar esse país não é governar de Brasília, não, é a gente cuidar das pessoas, cuidar de cada mulher, de cada homem, de cada criança, de cada adolescente e é por isso que nós aqui estamos na educação. Porque, na minha opinião, a juventude tem que estudar, estudar muito. Vocês precisam estudar, não desistam, não se preocupem de deixar de estudar para ir numa balada, para ir não sei das contas. Vocês têm que ir para a escola, porque o orgulho do pai e da mãe de vocês é saber que vocês vão ser melhores do que eles, vão ser mais formados do que eles e vão poder dar segurança à família de vocês mais do que eles.
É muito importante. É por isso que eu tenho obsessão pela educação, porque eu sei a importância da profissão para um homem, eu sei o que é um homem sem profissão e sei o que é um homem com profissão. É procurar emprego, “o que você sabe fazer? Não sei fazer nada”. Quem não sabe fazer nada não tem emprego. Então é preciso estudar e ter uma profissão e é por isso que eu vou continuar investindo em educação. Eu quero que vocês tenham a educação que eu não pude ter, é isso que eu faço por esse país.
E as mulheres? As mulheres, tanto quanto os homens, precisam estudar, porque as mulheres têm uma coisa, as mulheres já aprenderam a ocupar o mercado de trabalho, mas os parceiros das mulheres não aprenderam a ocupar o compromisso dele com a cozinha e com o tratar das coisas com as mulheres. Então, as mulheres, e eu tenho muito orgulho disso, as mulheres têm que estudar, porque tem uma coisa sagrada que vocês têm que conquistar, que é a independência de vocês. Uma mulher não pode morar com um homem apenas porque ele bota comida na mesa, uma mulher não pode morar com um homem apenas porque ele paga o aluguel. Uma mulher tem que morar com um homem porque ela gosta dele e ele gosta dela e ele respeita ela.
É isso que nós temos que fazer nesse país para construir um mundo melhor, um mundo mais justo. Tem aumentado a violência contra a mulher, tem aumentado o feminicídio. Minha mãe, analfabeta, dizia para mim: “meu filho, quando você casar, se você tiver que levantar a mão para bater na sua mulher, saia de casa, não bata na sua mulher, que mulher não foi feita para apanhar de marido”. E se você estiver em uma profissão e esse marido for encher o saco, vocês podem falar: “escuta aqui, ô cara, o que é que você está pensando? Eu não casei com você porque você é bravo não, eu casei com você porque eu pensei que você era bom, você não gosta de mim? Então vai embora que eu vou cuidar da minha vida e eu vou viver sozinha”.
E sabe quem me deu o exemplo, João? Sabe de quem eu tenho esse exemplo da dignidade da mulher? Da minha mãe. A minha mãe. Nós saímos de Pernambuco em 1952 para procurar meu pai em Santos, que tinha ido para São Paulo em 1945 e tinha deixado a minha mãe grávida de mim. Meu pai voltou em 1950, cinco anos depois ele voltou.
Aí engravidou minha mãe outra vez, minha mãe teve um filho casal gêmeo que morreu. E aí ele foi embora para São Paulo e o irmão que foi levado por ele escreveu uma carta para a minha mãe como se fosse meu pai chamando a minha mãe. A minha mãe vendeu tudo que a gente não tinha, porque não tinha nada, a gente não tinha nem jumenta, a gente não tinha vaca, a gente tinha uma casa e o prato mais gostoso que eu comia era quando ia chover que eu pegava tanajura.
É. Eu fui conhecer pão com sete anos de idade em São Paulo. Mas um dia, um dia, meu pai encrencou com a minha mãe, e esse é o exemplo que eu quero dar para vocês. Meu pai encrencou com a minha mãe. No dia seguinte de manhã, minha mãe levantou, juntou todos os filhos dela, todos menores e saiu de casa.
Nós levamos a roupa do corpo, nós levamos uma tina cortada pelo meio, uma lata de leite Mococa [marca de leite condensado] vazia, que era a lata que o meu pai guardava o pão para ele comer sem dar para a gente, e uma faca. Eu fico pensando, e é por isso que ela é o meu exemplo. Eu fico pensando como é que uma mulher, recém-chegada em São Paulo, com oito filhos agarrados no rabo da saia, teve a coragem de largar do meu pai e nunca mais voltar? E criou os oito filhos.
Passamos fome? Passamos. Passamos necessidade? Passamos. Eu era o caçula, eu vendia sardinha, vendia tapioca, vendia laranja, vendia amendoim, o outro trabalhava de carvoeiro, o outro trabalhava no estaleiro vendendo sardinha e cantando sardinha, eu trabalhava no bar, a gente sobreviveu. E esse caçulinha dela virou presidente da República do país.
É por isso que a educação é uma coisa fundamental na vida de vocês, na vida dos homens e das mulheres. Das mulheres por conta disso, a independência é uma coisa extraordinária que vocês têm que conquistar. E para a juventude, esse país só vai ser um país rico de verdade quando a gente não for mais exportador só de soja, de carne, ou de milho, ou de algodão, ou de minério de ferro. Esse país tem que começar a exportar conhecimento, inteligência, e é por isso que vocês têm que estudar.
E não aceito no governo que utilize a palavra gasto quando a gente fala de educação. Educação é investimento na veia desse país, porque em cinco anos você pode aperfeiçoar o conhecimento de alguém que é um gênio. Por isso, nós criamos no Rio de Janeiro a Faculdade de Matemática. Nós escolhemos todo ano os 100 melhores alunos das Olimpíadas da Matemática, os 100 melhores, estamos colocando eles em uma universidade, com apartamento para eles morarem, para ficar os quatro anos. Todo ano vai ter 100, para a gente fazer com que os nossos gênios não tenham que ir para o exterior, que sejam criados gênios aqui, porque esse país está precisando de muito conhecimento científico, tecnológico, para esse país ser desenvolvido de verdade.
Então, companheiros e companheiras, essa é a minha obsessão, é cuidar da dignidade desse povo. E não permitir que vocês [inaudível]. Não permitir, sobretudo para a juventude. Eu sei que o ímpeto da juventude, vocês pensam que eu não conheço vocês, vocês pensam que o cara está com 78 anos, o que ele está falando de juventude? Sabe o que eu estou falando? Porque vocês não sabem o que uma pessoa de 78 anos faz, mas eu sei o que vocês fazem.
Eu já tive 15 anos, já tive 16, já tive 17, já fui namorador, já gostei de balada, eu sei o que vocês pensam. Então eu conheço a idade de vocês, e é por isso que me preocupa de falar com vocês. E vocês nunca desprezarem a política, porque toda vez que vocês virem um cara na televisão dizendo que “nenhum político presta, todo mundo é ladrão, vamos combater a corrupção, eu que sou o bom”. Esse não tem futuro, porque ele não vai durar mais que uma hora, não vai durar.
Eu quero que vocês botem na cabeça o seguinte: quando vocês não acreditarem mais em ninguém, quando vocês acharem que tudo está perdido, ainda assim, pelo amor de Deus, mulheres e homens, não desistam da política, entre você na política, porque você talvez seja o político que você precisa para esse país. Talvez você seja o inteligente, talvez você seja o honesto, porque se a gente for acreditar nas mentiras, nós vimos o que aconteceu na eleição de 2018, nós vimos o que aconteceu com a eleição do Collor, nós vimos o que aconteceu com a eleição do Jânio Quadros. Toda bravata que disse que vai se eleger combatendo a corrupção, ele termina sendo o maior corrupto do período dele.
E eu quero dizer para os companheiros que eu não tenho vergonha de dizer que sou político. Em 78, eu dizia para quem quisesse ouvir: eu não sou político, eu não gosto de política e tenho raiva de quem gosta. Eu achava que era o máximo, eu descobri que eu era o ignorante, eu descobri que eu era o analfabeto político. Dois meses depois, eu estava apoiando o Fernando Henrique Cardoso para ser senador da República, dois anos depois, eu estava criando um partido político, sete anos depois, eu fui candidato à presidência da República. E graças a vocês, todas as eleições que eu disputei, ou fui segundo ou fui primeiro, desde o primeiro voto que nós demos para a presidência da República nesse país.
Eu acho que essas coisas é que a gente tem que ver, porque nós precisamos criar muitas lideranças, muitas lideranças. Eu acho, ô João, que os governadores do Nordeste, nós tivemos nos últimos 15 anos, 16 anos, a melhor safra de governadores desse país aconteceu no nosso querido Nordeste. Aconteceu do Piauí à Bahia, todos, meninos de muita inteligência, todos de muita competência, todos. Você conhece todos, porque você participa do Consórcio Nordeste, é a melhor coisa que aconteceu nesse país, foi essa safra de governadores que surgiu no Nordeste nos últimos anos. Gente comprometida, gente progressista, gente querendo melhorar a vida do povo e eu nunca, João, nunca tive nenhum problema com nenhum governador, é como se vocês fossem meus filhos, meus irmãos, meus companheiros.
Eu nunca perguntei de que partido é um governador, nunca perguntei de que partido é um prefeito, eu não estou interessado em saber de que partido é, eu quero saber se ele é digno do cargo que ele está usando e se ele está cuidando do povo com respeito. É por isso que eu estou feliz de estar aqui na Paraíba. Não li a nominata porque todo mundo já tinha lido. Se eu citar o nome de vocês mais alguma vez, vocês vão querer ser candidatos a alguma coisa, então, eu resolvi não falar o nome de vocês.
Eu queria dizer para vocês, companheiros, porque nós temos mais um compromisso, e saco vazio não para em pé, eu ainda tenho que comer uma coisinha, tenho que mastigar. E eu sei que vocês também estão com fome, eu sei que vocês estão com fome, então, eu não vou abusar de vocês. Eu só queria que vocês saíssem daqui com a seguinte certeza. Eu fico muito triste quando a gente começa a fazer uma obra e essa obra fica paralisada. Essa água do Nordeste, João, eu imaginava que em 2012 a gente teria resolvido tudo, não resolveu. Depois impicharam a Dilma, aí quase tudo parou nesse país, quase tudo parou nesse país.
Cadê a Casa Verde Amarela que prometeram para vocês? Cadê o emprego da Carteira Profissional Amarela, Verde Amarela, que prometeram para vocês? Cadê o combate à corrupção que disseram que ia fazer? Cadê? Ou seja, um governo que teve a desfaçatez de permitir que quase 750 mil pessoas morressem na Covid-19, dos quais metade é da responsabilidade deles, porque não cuidaram do povo como deveriam cuidar e receitaram remédio que não valia nada. O presidente da República não tem que entender de doença, ele tem que entender de bom senso. Se ele tivesse montado um gabinete de crise, chamado os médicos brasileiros para ajudar, possivelmente a gente teria salvo 400 mil pessoas daqueles que morreram.
Então, companheiros e companheiras, pelo amor de Deus, esse país merece uma chance. Nós estamos vivendo um bom momento, a economia está crescendo mais do que o mercado previa, a gente está recuperando o atraso de investimento em ciência e tecnologia, a gente está recuperando as coisas que deixaram de fazer na educação, o emprego está crescendo. Só nesses próximos sete meses já foram criados 1 milhão 550 mil, nós vamos chegar a mais de 2 milhões no final do ano, trabalho com carteira assinada, a massa salarial está crescendo 11,7%, é a maior desde que se mede. O desemprego é o menor dos últimos 14 anos. O João disse “a Paraíba está bombando”. E ele fala com orgulho: “só aqui perto tem 9 mil apartamentos sendo construídos”. Eu espero que você me convide para vir num apartamento desse, para ver se é bom mesmo esse apartamento, porque nunca me convidaram para tomar um banho numa praia da Paraíba, pô.
Eu até pensei que não tinha praia, porque ninguém nunca falou. Então, companheiros e companheiras, esse momento do Brasil é um momento excepcional, a gente recuperou a nossa credibilidade internacional. Só para vocês terem ideia, esse país passou quatro anos sem ninguém convidar o presidente para viajar e ninguém queria vir aqui. Nesse um ano e sete meses, eu já encontrei com 54 países africanos, já encontrei com 27 países europeus, já conversei duas vezes no G20, duas vezes no G7, duas vezes no BRICS, já visitei o Biden, já visitei o Macron, já visitei o Egito, já visitei a Etiópia, já visitei a África do Sul, já visitei a Angola, já me reuni com 33 partidos da América Latina, já me reuni com 15 partidos do CARICOM. E agora vamos fazer o G20 aqui no Brasil, o ano que vem tem os BRICS, o ano que vem tem a COP, e eu vou agora para a Rússia nos BRICS, vou para Baku, na reunião no Azerbaijão, na reunião da COP, e estou dizendo para todo mundo.
E outra coisa, só de mercado, só de mercado para exportar os produtos brasileiros, foram abertos 180 novos mercados em 18 meses. Então, gente, é o seguinte, eu quero provar mais uma vez. Esse país não estava apenas precisando de alguém diplomado para governar, esse país estava precisando de alguém comprometido com esse país, alguém que tenha amor pela soberania desse país, alguém que cuide da floresta, que cuide da água. Mas a gente tem que saber que embaixo de cada árvore tem um indígena, tem um pescador, tem um ribeirinho, tem gente que precisa ser cuidada, que precisa comer. E ontem, Wellington, nós tivemos a decisão de que até 2026, 21 milhões e 60 mil pessoas vão receber botijão de gás de graça, porque nós achamos que o gás faz parte da cesta básica. Tem muita gente cozinhando com lenha, porque o gás, governador, sai da Petrobras a R$ 36,00 o botijão e em alguns estados é vendido a R$ 130,00, a R$ 140,00.
Então, não tem explicação. Então, nós vamos fazer, vai começar agora e vai terminar em 2026, só pode começar em 2025 por causa do orçamento. Ah, mas quando nós fizemos isso, ontem me disseram assim: “o mercado está nervoso, o mercado está muito nervoso, o dólar aumentou, o programa vai custar R$ 13 bilhões no final de 2026, R$ 13 bilhões”.
E é engraçado, porque toda vez que a gente faz uma coisa para os pobres, o mercado fica nervoso. Agora, quando foi aprovado no Senado, quando foi aprovada a desoneração que custa ao cofre brasileiro R$ 19 bilhões para os empresários mais ricos desse país, desoneração de pagamento da Previdência sobre a folha de pagamento, eu não vi o mercado ficar nervoso.
É porque eles fazem parte do mercado, o dinheiro era para eles. Agora, quando é para o pobre, eles ficam nervosos. “Ah, o Bolsa Família gasta muito dinheiro. Ah, esse Lula está gastando dinheiro fazendo Minha Casa, Minha Vida para pobre e a casa é pequena, muitas vezes”. Por isso que nós fizemos várias escalas, casa de 2 a 4, de 4 a 8 e acima de 8, porque está cheio de gente aqui que ganha R$ 6, R$ 7 mil, que quer morar numa casa maior, não quer uma casa de 50 metros quadrados ou de 45. E eu, gente, sabe qual foi a minha primeira casa que eu morei? Eu, Marisa, três filhos, sogra e dois cachorros.
Sabe quantos metros tinha a minha casa? Trinta e três metros quadrados. E eu vivia feliz, com as canelas machucadas de bater no espelho da cama, tinha que afastar a geladeira quando ia para o fogão, tinha que afastar o fogão quando queria abrir a geladeira. E ainda eu tive uma cachorra que teve 11 filhotes. Onze filhotes. A coitada da Marisa levantava para dar mamadeira para eles de noite. E eu sou esse cara, feliz, alegre. E quero terminar dizendo uma coisa, João. Eu quero vir aqui toda vez que a gente tiver que inaugurar uma coisa de água, porque quando eu vi aquela água jorrar hoje, a minha cabeça voltou a 1952, quando eu, com sete anos, ia num açude, chamado açude do Tonzinho, eu ia lá pegar água. E lá tinha as vacas fazendo a necessidade dela, os cavalos urinando, as cabritas fazendo cocô. E era daquela água que a gente pegava, não tinha filtro.
A gente levava aquela água barrenta para casa, colocava num pote, deixava ela assentar, depois tirava com a caneca para colocar em outro pote e beber. Aí ficava com a barriga cheia de esquistossomose. Ficava uma criança doente, uma criança perdendo os dentes precocemente. Então, quando eu vi aquela água ali, eu me emocionei, porque vocês não sabem, vocês que nasceram com água encanada, não sabem a alegria de muitas pessoas que vão tomar banho com chuveiro pela primeira vez depois dessa água. Vocês não sabem a alegria das pessoas que vão ter uma água dedicada na pia para lavar uma louça, não tem que ficar acocorada na beira de um rio, para ter uma torneira no tanque, uma máquina de lavar. Somente quem não teve é que sabe.
Eu lembro, João, quando eu fui inaugurar uma casa na Bahia do Luz Para Todos. Falei para o João, tinha quatro crianças e duas mulheres que eram [mães] solo, não tinham marido. E as crianças estavam em cima de um caixote fazendo a lição de casa com o candeeiro, com a fumaça preta desgraçada na cara da molecada. Aí as duas mulheres levantaram, eu peguei a mão delas, coloquei na tomada e ligamos a luz. Gente, vocês não têm noção, vocês não têm noção, você tirou uma pessoa do século XVIII e trouxe para o século XXI num piscar de olhos. As pessoas não acreditavam que estavam vendo aquela claridade.
A minha tia, em Garanhuns, quando o Arraes [Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco] levou a luz elétrica para lá, ao acender um bico de luz, ela saiu correndo da cozinha porque não aguentava a claridade. E assim é tudo para a pessoa pobre. Tem uma mulher que me contava, João: “Ô presidente, eu nunca tinha visto meu filho dormir. Agora com a luz eu posso ver ele dormindo. Eu agora posso costurar um botão e ver a agulha sem furar meu dedo”. Essas coisas são um milagre da gente atender os excluídos, aqueles que foram esquecidos, aqueles que não foram lembrados.
É você dar oportunidade a essa gente. E agora eu estou com uma disposição que é o seguinte, João, eu não sou economista, mas eu tenho uma tese econômica agora. O que eu vou dizer para vocês. Eu aprendi, e é uma coisa que a gente não aprende na universidade, uma frase que eu quero que vocês guardem. Muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, significa miséria, prostituição, desnutrição, significa tudo de ruim.
Agora pensem ao contrário. Pouco dinheiro na mão de muitos. Significa o quê? Vamos supor que eu tivesse 50 mil reais. Aqui, 50 mil reais. E eu fosse que nem o Silvio Santos: “quem quer dinheiro?”. Não. Se eu fosse uma pessoa que pegasse esses 50 mil reais e desse para uma pessoa só. O que é que iria acontecer? Essa pessoa ia pegar esse dinheiro, ia correr para o banco, ia depositar em uma conta para viver de rendimento.
Agora, se eu pego esses mesmos 50 mil reais e distribuo para todos vocês e dou 100 reais para cada um, 150 reais, o que é que vai acontecer? Vocês vão direto para o supermercado, para a padaria, para a loja, comprar o que comer, comprar o que vestir, comprar o que calçar. E na hora que o dinheiro começa a circular, todo mundo ganha. É isso que os ignorantes do mercado têm que perceber: todo mundo ganha quando o dinheiro circula. Aquele moço lá, que foi governador de Pernambuco, Paulo Câmara, ele é presidente do BNB. Vocês sabem que o BNB é um banco que faz muito crédito, mas estava proibido de emprestar dinheiro para a prefeitura.
Eu falei: Paulo, você tem que abrir. Se o prefeito tiver condições, empreste dinheiro. Ele está me contando agora que eles já emprestaram 30% a mais do que emprestavam no governo passado. E eu quero que emprestem 50% a mais. Eu quero que emprestem 100%. Porque o povo pobre é bom pagador. O povo pobre sabe que a garantia dele é o nome dele. Se ele tiver devendo, ele não passa na frente da padaria. Ele não passa na frente da costureira. Ele não passa porque ele está devendo, ele tem vergonha. Quem gosta de dever muito é rico. Rico adora dever. Rico adora, porque, veja, ele vive de outro jeito. Ele não é obrigado a ser cobrado, ele não é obrigado a ir buscar pão na padaria e ir na feira.
Então, gente, vamos pensar o seguinte. Nós vamos. O BNDES voltou a emprestar muito dinheiro, a Caixa Econômica está emprestando muito dinheiro, o Banco do Brasil está emprestando muito dinheiro, o BASA está emprestando muito dinheiro, o salário está aumentando, o emprego está crescendo. Noventa por cento das categorias profissionais fizeram acordos salariais acima da inflação. E nós já aumentamos o salário mínimo duas vezes acima da inflação e vamos continuar aumentando, porque aumentar o mínimo é a melhor forma de fazer distribuição de riqueza nesse país.
Portanto, companheiras e companheiros, eu quero, João, terminar te agradecendo, querido. Quero terminar te agradecendo porque eu não conhecia o João até ter relação com o João.
E o João é um homem bom, o João é um homem digno, tem ajudado o Governo Federal, sabe, em todas as coisas que nós pedimos, toda vez que a gente convida o João, ele é o primeiro a chegar. E eu falo: João, eu preciso ir na Paraíba, João, eu preciso inaugurar alguma coisa na Paraíba, João. Ô, ministro, eu preciso ir à Paraíba, ô, eu preciso inaugurar casa na Paraíba.
Porque a gente teve um ano e meio de plantação, aramos a terra, preparamos a terra, adubamos a terra e jogamos a semente. Agora nós estamos fazendo a colheita daquilo que a gente plantou. E nós vamos colher dignidade, respeito e qualidade de vida do povo brasileiro. E pode ter certeza, eu tenho dois anos e três meses de mandato ainda. Muita coisa, mas muita coisa vai acontecer nesse país que eu quero todos vocês andando de cabeça erguida, orgulhosos porque vocês são brasileiros e não desistem nunca de lutar para a gente conquistar um país democrático.
Um abraço no coração de vocês e até a próxima visita.