Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio da aceleração das obras do Minha Casa, Minha Vida, no RS
Olha, nós estamos atrasados com o próximo compromisso, 40 ou 50 minutos. Então, eu não vou me alongar no meu discurso. Eu quero dirigir a minha palavra a vocês e apenas um recado ao governador. Eduardo [Leite, governador do Rio Grande do Sul], se o outro presidente da República trazia claque para te vaiar, aqui quem está aqui são trabalhadores e não são claques. Eu queria dizer para vocês que eu estou com uma relação, com muitos números aqui, e eu não vou utilizar, porque isso vai ser resultado de uma conversa minha com o governador em algum momento. Eu só quero dizer para vocês uma coisa: quando teve seca neste estado, o Governo Federal esteve aqui com seis ministros. Com seis ministros. E eu duvido que em algum momento, antes, algum Governo Federal tivesse dado atenção que nós demos aqui para combater a seca desse estado.
Você recebeu todos os ministros. E eu posso dizer para vocês, olhando na cara de vocês, olhando na cara de cada mulher e de cada criança. Eu duvido que na história da República brasileira houve um governo, além de Lula e Dilma [Rousseff, ex-presidenta], que cuidaram do Rio Grande do Sul como nós cuidamos aqui. O governador foi convidado por mim, dia 27 de janeiro, para uma reunião com os 27 governadores do Brasil, onde eu pedi para cada governador apresentar a proposta das obras mais interessantes que ele fez para o estado. E, para o Rio Grande do Sul, ficou destinado R$ 32,8 bilhões, dos quais, R$ 26 bilhões, só para o Rio Grande do Sul e R$ 8 bilhões para obras que interligam com outros estados.
Portanto, o que nós estamos fazendo não é só por causa da enchente, a enchente é outra história. E eu quero dizer para vocês outra coisa: o agronegócio está reclamando do quê? Porque, na verdade, é o seguinte: nunca antes na história do Brasil o agronegócio teve o Plano Safra que teve no nosso governo. Nunca antes. Eu duvido eles mostrarem, eu duvido que eles possam mostrar. Duvido, se em algum momento alguém tratou eles com a decência e com o respeito que nós tratamos, eu e a Dilma. E nunca pedimos um favor e não vou pedir, eles que falam o que quiser, que façam o que quiser. Eu ajudo porque a agricultura é importante para esse país. Eu ajudo, porque a agricultura é importante para o Brasil e para o mundo. Eu não faço política por interesse, eu faço política porque eu acredito nas coisas.
Quando eu tenho obsessão pela educação, é porque eu tinha vontade de fazer um curso superior e nunca pude fazer. Então, eu quero que o filho do trabalhador possa fazer uma universidade, possa fazer um curso técnico. E não admito que ninguém fale para mim que colocar dinheiro na educação é gasto. Educação é o mais importante investimento que a gente faz.
Quando eu tenho obsessão de fazer o maior projeto habitacional que esse país já conheceu, o maior projeto habitacional, eu não fiz porque sou intelectual, eu não fiz porque vi num livro, eu fiz porque eu vivi o que vocês vivem. Eu tive cinco enchentes na minha vida, de entrar um metro e meio de água na minha casa. Eu sei o que é acordar meia-noite com rato, com barata e com fezes boiando dentro da sala, para poder tirar minha mãe, para poder tirar meus irmãos.
Então, eu sei o que vocês vivem, porque eu vivi. Eu fui ver uma casa agora, de 47 metros quadrados, não é uma casa enorme, mas eu quero dizer para vocês que a minha primeira casa, eu tinha 30 anos de idade, eu e a dona Marisa, três filhos, uma sogra e dois cachorros. A gente morava numa casa de 33 metros quadrados, que era o que eu podia comprar. E eu nunca reclamei, porque eu estava num paraíso.
E quando nós decidimos fazer o Minha Casa, Minha Vida, é porque está escrito na Constituição que a moradia é um direito do povo e um dever do Estado. E eu resolvi fazer que essa Constituição fosse cumprida.
Eu quero dizer para vocês que eu nunca tive nenhum problema com nenhum governador. Eu trato todos com muito respeito, com muita delicadeza. Aqui no estado do Rio Grande do Sul, só do meu governo, já estiveram presentes 32 ministros, 32 ministros, com o cuidado de fazer o levantamento. Qual é o problema que o povo está passando? Eu, se pudesse, eu já tinha feito todas as casas, mas não é assim que acontece. A gente não inventa a casa, a casa é preciso ter terreno, a casa é preciso ter inscrição, a casa é preciso comprovar que as pessoas têm direito à casa, porque os funcionários da Caixa Econômica, que querem fazer o seu trabalho correto, eles sabem que eles não podem cometer erro e tomar decisão precipitada, porque eles tomam um processo nas costas e são eles que têm que contratar advogados.
O pessoal do banco que empresta dinheiro, essa semana, Eduardo, eu chamei a Caixa Econômica, eu chamei o Banco do Brasil, eu chamei o BNDES, para discutir por que demora o dinheiro. E por que demora, sabe por quê? Porque ninguém pode emprestar dinheiro sem saber a situação de quem está pegando o dinheiro. Então, é preciso ter clareza disso. Eu já mandei olhar casa da China, eu já mandei olhar casa da Suécia, porque eu quero encontrar um jeito de fazer a maior quantidade de casa possível, porque eu sei o que é a gente entrar numa casa nossa. Eu tenho noção disso.
Então, Eduardo, eu quero que, toda vez, toda vez, que você olhar para o Governo Federal, você saiba que você tem um amigo, eu não disputo nada com você, eu não disputo popularidade, eu não sou gestor, eu sou um político. Eu não sou gestor, eu sou um político e gosto de fazer política, e gosto de fazer política. Então, eu quero que vocês saibam o seguinte: nós vamos cuidar desse estado, inclusive eu quero assumir, na frente de vocês e do governador: o Governo Federal vai tomar atitude de financiamento para que a gente possa cuidar dos diques que não têm, para que nunca mais Porto Alegre e a grande Porto Alegre seja vítima de uma enchente. É verdade que choveu muito, mas é verdade que a cheia que deu não foi por causa da chuva, foi porque não tinham cuidado das bombas que deveriam não permitir esse desastre.
E nós não estamos procurando o culpado, o nosso papel é ajudar, o nosso papel é fazer as coisas. E é por isso que eu indiquei o companheiro Pimenta [Paulo Pimenta, ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul] para ser o meu representante aqui, para cuidar das coisas do Governo Federal e fazer uma relação civilizada com o governador do estado.
É por isso, companheiros e companheiras, que eu estou aqui. E se preparem, porque o ministro das Cidades disse que em dezembro vai entregar mais não sei quantas casas. Eu estarei aqui outra vez, porque eu sei o conforto de uma pessoa que recebe uma casa. Eu paguei aluguel, quando eu casei, em 1969, eu fui pagar aluguel, num quarto e cozinha. Eu pagava com uma nota de 100 cruzeiros na época, uma nota, era uma nota até meio avermelhada. E, todo mês que eu ia pagar aluguel, eu amaldiçoava o aluguel, porque era um dinheiro que eu estava jogando fora e não tinha nenhum patrimônio. E eu não queria comprar casa, porque demorava 30 anos para pagar. Se eu não fosse teimoso, eu teria comprado antes. E comprei minha casinha de 33 metros quadrados. E eu vivi até 1989 naquela casinha, feliz da vida, machucando as canelas, porque a cozinha era pequena, se abria a geladeira não podia chegar no fogão, se abria a porta do guarda-roupa não dava para passar, e eu nunca reclamei. Eu agradecia a Deus a chance de ter aquela casa, porque era o meu sustento.
Eu sei a emoção e a alegria que vocês sentem, porque eu sei que, neste país, tem uma parte da sociedade que é tratada como se fosse invisível, as pessoas não querem enxergar os pobres deste país, as pessoas não querem enxergar as pessoas da periferia, as pessoas não querem enxergar as pessoas que estão marginalizadas e dormindo na rua. Pois eu prefiro olhar para essa gente do que olhar para o ricaço neste país.
Todo mundo sabe, eu sou presidente de 203 milhões de habitantes, eu sou presidente dos banqueiros que não gostam de mim, sou presidente dos empresários que não querem gostar de mim, sou presidente do agronegócio que não quer gostar de mim, mas, esse ano, o agronegócio recebeu do nosso governo uma política de R$ 475 bilhões de financiamento, coisa que eles jamais tiveram na vida, mesmo quando tiveram um fazendeiro na presidência da República.
Então, companheiros e companheiras, todo mundo sabe: eu governo para todos, mas o meu olhar é um olhar de mãe, o meu coração é o coração de uma mãe, uma mãe pode ter 10 filhos, todos são bonitos, mas ela vai cuidar com mais carinho daquele que está fragilizado, daquele que está mais debilitado e é isso que o presidente da República tem que fazer: é cuidar do povo, mas cuidar daquele que mais precisa, daquele que o Estado pode ajudar. E é isso que eu tenho feito. E quero dizer para vocês que eu estou muito feliz. Primeiro porque eu tenho orgulho. Pimenta, você tem que entregar para a imprensa todas as coisas que já foram feitas nesse estado. Toda semana entregar, para que ninguém tenha dúvida do compromisso do Governo Federal com o Rio Grande do Sul.
O governador se lembra que eu disse na nossa primeira reunião: eu vou tratar o Rio Grande do Sul com carinho, porque esse estado já deu muito para o Brasil e eu acho que está na hora da gente dar ao Rio Grande do Sul aquilo que ele merece. Há muito tempo atrás, há muito tempo atrás, eu venho nesse estado. A primeira vez que eu vim aqui foi em 1975, onde eu conheci o companheiro Tarso Genro, advogado do então eleito presidente dos bancários, Olívio Dutra. Foi a primeira vez.
E gosto desse estado, gosto do jeito do gaúcho, gosto do jeito das gaúchas, gosto da qualidade desse povo, gosto da competência do trabalho desse povo, tanto na agricultura como na cidade. Mas é importante a gente saber que eu tenho que cuidar de 27 estados. Eu estou aqui no Rio Grande do Sul, mas eu estou preocupado com os Yanomamis lá em Roraima. Eu estou preocupado com Guarani Kaiowá, lá no Mato Grosso e Dourados, que estão querendo sua terra. Eu estou preocupado com o pessoal que vive nas queimadas do Pantanal, preocupado com o pessoal da seca da Amazônia, porque não é só o Rio Grande do Sul que teve seca, a Amazônia está tendo a maior seca da sua história.
E eu não posso reclamar, eu tenho que cuidar e fazer aquilo que for possível fazer. E vou repetir para vocês: todas as pessoas que perderam casa por causa da enchente vão receber a casa que eles têm direito. Vou dizer mais: não apenas a casa, nós iremos fazer todo o esforço necessário, porque, nunca na história do Brasil, houve liberação de crédito para trabalhador pequeno e trabalhador grande, para agricultor pequeno e agricultor grande, para empresário pequeno e empresário grande, como houve agora.
Já foram bilhões e bilhões e bilhões circulando na economia. É por isso, governador, que contra a sua tese de que ia cair o ICMS desse estado, você teve uma surpresa esse mês com o crescimento do ICMS, que ninguém esperava que acontecesse aqui no estado do Rio Grande do Sul. E vai crescer a economia. E sabe por que a economia vai crescer aqui, Eduardo? Se prepare para a surpresa: porque o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] também tem surpresa. Sabe por quê? Porque tem um ditado que é o seguinte, que a gente não aprende na universidade, tem um ditado que a gente aprende no meio do povo: é que pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza, e muito dinheiro na mão de poucos significa crescimento da pobreza.
É por isso que esse estado vai crescer, porque o dinheiro está circulando, o dinheiro está funcionando. Quantas milhares de pessoas conseguiram retirar R$6.200 do Fundo de Garantia? Quantas milhares de pessoas receberam R$ 5.100? Quantas milhares de pessoas receberam crédito no Pronamp? Foi muita coisa, mas muita coisa, coisa que jamais foi feita para qualquer estado em qualquer momento da história desse país, em qualquer governo.
Analise o quanto que o Bolsonaro colocou nesse estado. Analise. Analise o quanto que os outros colocaram e analise os governos do PT, Lula e Dilma, quando o Rigotto era governador. Quando a nossa companheira do PSDB era governadora, a Yeda Crusius. Eles não eram do meu partido e foram tratados com muito respeito, com muita dignidade. E é assim que eu quero terminar a minha vida política. Eu gosto de ser respeitado e gosto de respeitar as pessoas.
Eu trato desse estado, porque esse estado tem história e o povo precisa. Então eu quero que vocês saibam mais uma vez, querido governador, quero que vocês saibam, ministros e companheiros, não faltará da parte do Governo Federal. E aqui eu quero agradecer ao Senado da República e quero agradecer à Câmara dos Deputados, que em nenhum momento criaram qualquer caso para aprovar as coisas que a gente mandou em benefício do estado do Rio Grande do Sul.
A primeira vez que eu vim aqui, eu trouxe o presidente da Suprema Corte em exercício, eu trouxe o presidente da Câmara, eu trouxe o presidente do Senado, eu trouxe o presidente do Tribunal de Contas da União, porque eu queria que eles soubessem que a gente estava vivendo um momento excepcional nesse estado, que a gente precisaria vencer a burocracia. A burocracia dos bancos, porque os bancos sabem que, se emprestar dinheiro e a pessoa não pagar, eles podem ter um processo nas costas, eles sabem disso.
Então, é preciso que a gente tenha critério, eu quero fazer um apelo aos prefeitos: pelo amor de Deus, apresente o cadastro das pessoas que precisam de casa, apresente o cadastro das pessoas que precisam receber dinheiro. Por favor, governador, nos ajude a arrumar terreno para fazer casa nova, porque a gente não vai construir casa no lugar que deu enchente, porque a gente não vai permitir que vocês morram na enchente outra vez. Então, eu quero terminar dizendo para vocês: eu sei a emoção dessas pessoas que receberam a chave aqui, eu sei a emoção.
A minha casa, que eu comprei, tinha 33 metros. O dia que eu fui levar a Marisa para ver a minha casa, governador, ela estava invadida, ela foi invadida por um companheiro, a mulher dele grávida, com dois filhos, e esse companheiro começou a me ameaçar. “Não, eu não vou sair, se você brigar comigo, a minha mulher está grávida, se acontecer um problema com ela, você é o culpado”. Eu falei: Ô, cara, eu pago aluguel, eu comprei essa casa, essa casa é minha, você não tem o direito de ficar. Depois de uma semana, nós conseguimos convencer o cara a sair. Quando eu entrei dentro da casa, eles tinham feito toda a sujeira que um ser humano hipócrita pode fazer. Tinham urinado, tinham defecado na minha casa, os carpetes tiveram que ser jogados fora. Ainda assim, eu não fiquei com raiva, porque possivelmente ele tinha que fazer aquilo para justificar o heroísmo dele. E eu morei muito feliz naquela casa.
Então, eu quero dizer para vocês, cada coisa que acontece com vocês não acontece com vocês, porque o Lula não é um presidente da República. O Lula é vocês, são vocês que chegaram à presidência da República, são vocês que chegaram à presidência da República, não fui eu que cheguei, não fui eu que cheguei, foram vocês.
Então se prepare, porque nós vamos provar mais uma vez que, desde que esse país foi descoberto, nunca, nunca, ninguém governou com a competência, com o carinho, com o amor que nós governamos esse país para cuidar do nosso povo.
Por isso, gente, muito obrigado, muito obrigado a vocês. E, governador, nós estamos à disposição do estado do Rio Grande do Sul para qualquer coisa. Um abraço, gente, um abraço.