Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de lançamento da Política Nacional de Transição Energética, em 26 de agosto de 2024
Alexandre [Silveira, ministro de Minas e Energia], se você permite, na inauguração do Observatório Nacional de Transição Energética, eu queria fazer um apelo para que você fizesse um púlpito sem parede aqui do lado, mais largo, porque você viu a dificuldade que você teve de manusear papel. Então, não tem que ser tão estreito. Num país que quer crescer, vamos fazer um púlpito um pouquinho maior, mais flexível, para os oradores aqui falarem.
Eu não vou nem usar, mas eu já molhei minha nominata aqui. Acabou tudo. Eu vou citar a minha nominata porque eu acho que eu participei de uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética, acho que memorável, histórica, e eu acho que vale citar apenas os ministros que participaram aqui.
Então, eu quero começar cumprimentando a minha querida companheira Janja [primeira-dama do Brasil], os ministros e ministra de estado Alexandre Silveira [Ministério de Minas e Energia]; Rui Costa [Casa Civil]; embaixadora Maria Laura da Rocha, secretária-Geral do Ministério das Relações Exteriores; Fernando Haddad, da Fazenda; Silvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos; Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária; Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento; Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos; Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação; Jader Filho, das Cidades; General Marcos Antônio Amaro, do Gabinete de Segurança Institucional; Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais; ministro Herman Benjamin, presidente do Superior Tribunal de Justiça; secretárias e secretários executivos, George Santoro, dos Transportes; Ana Carla Lopes, do Turismo; Valder Ribeiro, da Integração e do Desenvolvimento Regional; Brenno de Paula, secretário executivo do Conselho Nacional de Política Energética, em nome de quem cumprimento todas as pessoas do Conselho que estão aqui.
Alberto Jardim, presidente do Centro de Memória da Eletricidade no Brasil, Enio Verri, diretor-geral da Itaipu [Binacional]. Eu quero te dar os parabéns de ter vindo aqui hoje, Enio, porque o Enio passou por um processo de tratamento de beleza, e eu pensei que ele não podia chegar aqui, então, ele chegou a tempo. Quero cumprimentar os companheiros poetas que falaram aqui.
E dizer para vocês que política, para mim, é como se fosse um sonho. Se você não sonha, se você não acredita, se você não constrói dentro de você uma causa que te motiva a disputar um cargo, seja ele onde for, é melhor que você não dispute. Porque não tem nada mais triste do que depois de um longo e tenebroso quatro anos na Presidência da República, você olhar para trás e você perceber que não foi feito nada, tudo continuou como antes.
E o país sempre foi tratado assim, porque a chamada elite política brasileira, ela não enxerga os invisíveis. Os invisíveis são aqueles que não conseguem fazer protesto. São aqueles que não estão organizados em sindicatos, são aqueles que moram na periferia da periferia, são aqueles que moram nas palafitas, aqueles que moram nos córregos, nas encostas, aqueles que moram na beira dos rios na Amazônia, em Rondônia, no Mato Grosso. As pessoas que nós não vemos, que, muitas vezes, nós sabemos que elas existem nas estatísticas.
Quando o IBGE divulga que tem tanta gente assim, tanta gente assada, no resto, a gente não enxerga. Nós aprendemos, desde longe, sempre olhar para quem está melhor do que a gente e nunca olhar para trás. E esse é um erro histórico da humanidade. É que se a gente não olhar para trás e se a gente não estender a mão para fazer com que aqueles que estão atrás possam acompanhar a gente, a gente nunca vai ter uma sociedade desenvolvida, a gente nunca vai ter uma sociedade vivendo com qualidade de vida, a gente nunca vai ter uma sociedade, pelo menos, igualitária.
Não igualitária na economia, no jeito de ser, na cor. Não. Nós queremos ser megadiversos, mas igualitários do ponto de vista de todos terem oportunidade, de todos serem enxergados e de todos serem considerados brasileiros e brasileiras, independentemente da condição social a que ele está submetido ou do berço que ele nasceu.
Este país, até pouco tempo atrás, a gente sabia quem ia ser doutor e quem não ia ser doutor. A gente sabia pela qualidade do hospital, do berço que ele nasceu, se ele ia fazer um curso lá fora ou se iria terminar o seu ensino fundamental e ir para uma fábrica trabalhar, ou ia ser cortador de cana, ou ia ser faxineiro.
Não precisava nem ser cientista político, não precisava ser mágico para saber. Dependendo do lugar que você nasceu, você nasceu para ser pobre, você nasceu para não ter oportunidade. Seu avô era pobre, seu pai era pobre, você vai ser pobre, seu filho vai ser pobre e seu neto vai ser pobre. Este país sempre foi assim.
Com raríssimas exceções, alguns que nasceram para ser pobres, conseguiram dar um salto de qualidade. Sobretudo, se deu sorte no futebol. Sobretudo, se deu sorte no que é a área que faz as pessoas crescerem economicamente com mais sustentabilidade.
Nós ainda somos um país em que as mulheres são tratadas como se fossem de segunda classe. Por mais que a gente tenha avançado em criar legislação, por mais que a gente tenha aprovado a Lei Maria da Penha, as mulheres ainda são vítimas de feminicídio, cada dia mais. Ou seja, parece que o humanismo está desaparecendo do humano.
E me parece que nós estamos virando uma espécie de algoritmo. Uma humanidade manipulada por algoritmos. Em que a sensibilidade diminuiu, a generosidade diminuiu, a solidariedade diminuiu e a fraternidade diminuiu.
Uma sociedade quase que obrigada a viver cada vez mais fechada. Coisa mais comum é você ver uma casinha num bairro pobre construído, com cerca de ferro lacrada. As pessoas correram para o apartamento que era mais seguro.
Agora não é mais apartamento, agora, é condomínio. Nós estamos voltando a construir várias Romas Antigas, aquela cidade cercada por um muro para proteger as pessoas. Quando a gente deveria estar construindo uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna, mais solidária.
Porque o humano, ele nasceu para viver em comunidade. Ele nasceu para viver junto. Ele nasceu para compartilhar sofrimento e alegria com aqueles que estão perto dele.
E quando a gente anuncia algumas medidas, como anunciamos aqui hoje, na questão da transição energética, e ainda temos, Alexandre, que fazer uma outra estrutura, uma nova política de mineração, porque a nossa política de mineração está superada. E nós precisamos saber a importância que ela tem para a gente fazer agora e fazer desses minerais críticos que nós temos uma forma de enriquecer e criar condições de ser outro passaporte para que o povo brasileiro possa crescer, como foi o pré-sal.
Se a gente levar em conta que nós temos que tirar proveito de tudo o que a gente pode fazer para distribuir e fazer com que todos tenham acesso a uma parte daquilo que nós produzimos, o mundo será menos sofrido. O brasileiro será menos pobre, e a gente não precisa definitivamente ficar criando um programa de distribuição de dinheiro para as pessoas mais pobres, porque o que dignifica as pessoas é o orgulho, é o trabalho.
Não tem nada, não tem nada mais gratificante do que uma mulher ou um homem levantar todo dia e ir para o trabalho e, no final do mês, com o salário recebido, sempre que eu espero que seja justo, a pessoa possa levar comida, possa levar prazer para a sua família.
Esse país a gente pode construir, esse país a gente pode construir. Eu aprendi uma coisa em economia. Eu nunca vou dizer que eu não sou economista, eu não entendo como tivemos alguém nesse país que dizia “não entendo de economia”. Acha que é esperto, acho que é bonito falar: “não entendo de economia”, e deixou um cara cuidar da economia, destruindo esse país.
O que eu quero dizer para você, Alexandre, eu sonhei que a Eletrobras seria uma coisa tão importante quanto a Petrobras desse país. Eu sonhei por isso. E é com muita tristeza, com muita tristeza, que eu volto à Presidência da República e encontro a Petrobras privatizada. Na verdade, não a privatizaram, cometeram um crime de lesa-pátria contra o povo brasileiro, entregando uma empresa dessa magnitude que poderia estar…
Se não fosse a Eletrobras, a gente não tinha Belo Monte, a gente não tinha Santo Antônio, a gente não tinha Jirau. Então esse negócio de destruir tudo que o Estado pode fazer achando que o setor privado é melhor, é mentira.
O setor privado tem que ser bom, e o Estado tem que ser bom. Eu não quero Estado máximo nem Estado mínimo. Eu quero um Estado que cumpra com a sua função de Estado. E a função do Estado é fazer com que todos possam participar das coisas que esse país consegue produzir.
Eu estava falando de economia, eu descobri uma coisa, uma tese simples que a gente não aprende na Unicamp, Haddad, a gente não aprende na USP, a gente não aprende em Harvard, não aprende. Porque todos os cursos de economia têm os mestres e todo mundo que é economista, até você, Fernando Bezerra, até você, é seguidor de uma certa tese.
Eu sou keynesiano, eu sou não sei das quantas, todo mundo é assim. Mas tem uma tese que é simples. Tem uma tese que é simples. Muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, miséria, prostituição, analfabetismo, falta de oportunidade.
Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza, significa você levar sociedade ao consumo. Eu lembro que eu fui criticado numa campanha aí: “o Lula é consumista, ele não fala em indústria, ele só fala em consumo”.
Sabe por que eu falo em consumo? Porque sem consumo não tem indústria. Eu quero ver quem vai fabricar carro se não tiver consumo. Eu quero ver quem vai fabricar biodiesel se não tiver consumo.
Eu quero saber quem vai fazer uma hidrelétrica se não tiver consumo. Eu quero saber quem vai fazer roupa se não tiver consumo. Eu quero saber quem vai industrializar comida se não tiver consumo.
Então, é preciso que as pessoas entendam. Nós precisamos elevar a oportunidade de todo mundo ter um pouco de dinheiro. O dinheiro tem que circular. O dinheiro não pode ficar em dólar ou não pode ficar apenas em título. O dinheiro tem que ficar transferindo comida, transferindo roupa, transferindo possibilidade das pessoas viverem bem.
É por isso que a gente é obrigado a fazer política social. E quando a gente resolve fazer uma política de gás, é porque o gás, hoje, tem que ser um instrumento da cesta básica do povo brasileiro, que muitas vezes não consegue comprar o botijão de gás, que sai da Petrobras a R$ 36 e é vendido em alguns estados a R$ 140, R$ 120, R$ 130.
Será que essas pessoas não têm noção? Então, essas coisas que nós estamos tentando fazer, eu não esqueço nunca, companheiros e companheiras, quando o Roberto Rodrigues, então ministro da Agricultura, entrou na minha sala para discutir o biodiesel.
Eu não posso nem contar para vocês a quantidade de vezes que eu andei o mundo, minha querida presidenta da Embrapa, com grãos de pinhão-manso, com grãos de mamona, com dendê, para mostrar ao mundo inteiro que esse país iria ser um país que ninguém iria conseguir segurar o Brasil, porque a gente tinha o que o mundo inteiro não tem: diversidade, para a gente ter vários tipos de energia.
E é, por isso, que as pessoas respeitam a gente, porque nós podemos chegar em qualquer lugar e dizer: 80% da nossa energia elétrica é renovável, e 51% da nossa matriz total já é renovável, e a gente pode chegar a 100%.
A gente pode chegar. Quem é que imaginava, 30 anos atrás, a gente ficar dizendo aqui, biomassa, biodiesel, etanol. A gente ficar dizendo que vai fazer transição energética, que vai ter eólica, que vai ter solar, que vai ter biodiesel verde, biodiesel amarelo, tem gente querendo produzir biodiesel de várias cores. Se eu tivesse que escolher uma cor, o biodiesel vermelho, vermelho, para a gente poder fazer as coisas acontecerem nesse país.
Eu queria pedir a compreensão de vocês do momento histórico que nós estamos vivendo. O Brasil, é importante vocês saberem, era um país em que foi desmontado. Nós tivemos que reconstruir ministérios. Ministério dos Direitos Humanos, ministério de indígenas, Ministério das Mulheres, Ministério do Trabalho, tudo, Ministério da Cultura. Imagina um país sem Ministério da Cultura. Poderia até faltar presidente da República, mas não Ministério da Cultura.
Poderia até faltar, porque de vez em quando, e dependendo de como é o presidente, ele não faz falta, ele atrapalha. Se ele só faz bobagem, só fala bobagem, ele atrapalha. Então, é melhor deixar que não tenha. Coloca um bom ministro da Cultura para falar coisa boa. Aí, esse país vai dar um salto de qualidade.
Então, companheiros, nós tomamos a decisão de reconstruir esse país. Fazer a Petrobras entender que ela não é apenas uma empresa de petróleo e gás. A Petrobras é uma empresa de investimento em pesquisa, em inovação, e para ajudar as empresas brasileiras a crescer, daí por que a necessidade do conteúdo nacional. Os vira-latas desse país queriam colocar, abolir compras governamentais e colocar compras governamentais no acordo com a União Europeia.
Nós falamos: não. Compra governamental é um instrumento de desenvolvimento de política industrial de um país que quer ser grande, que quer ser soberano. Se o Estado não tiver a possibilidade de comprar da pequena e média empresa brasileira, de investir em inovação, nós vamos fazer o quê? Ficar comprando tudo do exterior?
E a nossa vocação empresarial? E os nossos empreendedores? E os nossos meninos que nós queremos que estejam engenheiros, engenheiras, que sejam matemáticos, que estejam o que eles quiserem? Quando é que eles vão ter emprego se a gente não fomentar o desenvolvimento da indústria brasileira?
Daí por que o meu orgulho, o meu orgulho de todo dia ver no jornal: “a empresa está crescendo, a indústria voltou a crescer, está crescendo 1%, 2%, 3%”. Porque antes era só decréscimo, era só uma coisa negativa. E eu quero terminar dizendo para vocês o seguinte: nós não vamos jogar fora o significado dessa coisa chamada transição energética.
Nós não vamos jogar fora. Esse país já jogou fora muitas oportunidades. Esse país poderia ter feito a Reforma Agrária na década de 1950. Não fez. Esse país poderia ter alfabetizado o povo na década de 1950, não fez. Esse país poderia ter feito uma transição para evitar o êxodo rural da forma desumana que foi feita. Então, a gente não pode jogar oportunidades fora.
A gente precisa ter em conta que nós temos tudo, nós temos tudo que a natureza nos ofereceu. Nós temos mão de obra qualificada, ainda precisa de mais, nós temos gente capacitada tecnicamente.
No setor energético, a gente tem muitas e muitas centenas de excelência nesse país, que a gente pode fazer o que a gente quiser. Eu fico imaginando, cada vez que eu passo em Itaipu, eu fico imaginando, hoje a gente não faria uma Itaipu. Hoje, as exigências ambientais não deixariam fazer uma Itaipu. Mas vamos ser francos, a Itaipu é um monumento à inteligência da engenharia brasileira.
Então, companheiros, nós vamos aproveitar esse momento, esse momento que eu considero extraordinário. É mais uma oportunidade que se apresenta para o nosso Brasil. Vocês estão lembrados da crise de 2008? A crise de 2008, que nasceu nos Estados Unidos, não foi criada por nenhum indígena, nenhum negro, foi nos Estados Unidos que ela nasceu… Ela fez com que fosse feita uma pesquisa aqui no Brasil e mostrasse o seguinte: o comércio mundial está caindo e o comércio brasileiro também está caindo, e isso vai gerar mais desemprego.
Eu fui para a televisão, fazer um pronunciamento de oito minutos, conclamando o povo a ir para o consumo. E fui dizer para o povo: “você não pode gastar mais do que você tem, mas se você fizer uma dívida dentro do seu limite de pagar, compre, porque se você não comprar, o desemprego vai ser muito pior”. Então, compareça. Foi a primeira vez que a classe C e D compraram mais do que a classe A e B.
E, agora, é a mesma coisa. Quando nós tomamos posse em 2003, o que é que eu brincava com nossos economistas, pessoas extraordinárias? “Lula, você vai governar o Brasil, o Brasil acabou, o Brasil deve a dívida do FMI, o Brasil não vai resolver o problema, o Brasil está quebrado”. Eu falava: “Pô, vocês são meus amigos, querem me eleger presidente e diz que está quebrado, então por que eu vou ficar?”
O que é que nós provamos, na verdade? O que é que nós provamos? Quando nós chegamos aqui, em 2003, eu tinha a pena do Malan [Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda], que era um homem sério, que ia todo ano para os Estados Unidos à busca de dinheiro para fechar o caixa no final do ano e que não era recebido pelo FMI.
E eu aprendi uma coisa na minha vida: eu não gosto de dever, não gosto de fazer dívida. Eu tenho medo desgraçado de fazer dívida, porque quem gosta de dívida é quem já é muito rico, porque fica rico devendo. Eu tomo dinheiro emprestado, demoro para pagar, entro na Justiça, demoro um ano.
Mas o pobre, ele só pega para comer. Se ele não puder pagar, ele não passa mais na frente da padaria, ele não passa mais na frente da bodega que vendeu uma cachacinha colocando na caderneta. Então, nós temos a obrigação de ser bom pagador.
E eu não esqueço nunca. Eu dizia: “nós vamos ter que pagar essa dívida nossa”. Em 2005, eu fui para a Índia, e vi que a Índia tinha juntado 100 bilhões de dólares de reserva. Eu voltei no avião conversando com o Palocci [Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda] e com o Meirelles [Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central] e eu dizia: “Ah, cara, nós vamos ter que juntar 100 bilhões de dólares. Nós vamos ter que fazer o esforço e vamos juntar”.
E o dólar estava caindo: R$ 2, R$ 1,80. E nós vamos comprando dólar, vamos comprando dólar. Fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares, que é o que tem segurado esse país nesses últimos 20 anos.
Chamei o cidadão do FMI aqui. Olha o nome dele, Rato [Rodrigo de Rato]. Ele era um espanhol. E eu telefonei para ele vir ao Brasil, que eu queria pagar a dívida.
Ele falava: “No, presidente Lula, no. O FMI não precisa de prata, não precisa pagar. Nós confiamos no Brasil”. Eu falei: “Mas eu não confio em vocês, eu vou pagar”. Pagamos 30 bilhões para ele e, na crise de 2008, emprestamos 15 bilhões de dólares para eles, em uma demonstração de que a gente gosta de respeitar e gosta de ser respeitado.
E agora, a mesma coisa. Chegamos aqui, o Brasil está quebrado outra vez, está tudo destruído. Nós vamos construir, vamos construir. E quero dizer para vocês uma coisa. Eu pedi para o Haddad falar, porque vocês passam o dia inteiro no celular, todos vocês estão dependentes digital, todos vocês. Eu tenho certeza que vocês olham mais para o celular de vocês do que na cara da esposa de vocês. E tenho certeza que muitas mulheres também olham mais no celular do que na cara do marido.
Porque virou uma dependência digital. Uma dependência. O cara levanta no celular e vai dormir no celular, acorda no celular e leva o celular para o banheiro e leva o celular para o almoço e leva o celular. E quando uma criança está chorando, ele vai pegar no colo e dá o celular para a criança. Ou seja, então é uma dependência total e absoluta.
Eu falei assim para o Haddad e a gente só ver muita notícia ruim, sobretudo na rede que se chama de social, que de social não tem nada. É uma rede digital na qual tem muita coisa ruim, tem muita maldade, tem muita destruição, tem muita mentira, tem muito baixo nível, tem muita grosseria.
Ali, mostra o lado podre do ser humano. Ali mostra que todo ser humano tem um demoniozinho dentro dele, que ele não tem coragem de falar publicamente, mas quando ele vai para o banheiro, ele leva o celular e fica colocando o demônio dele para fora.
Então, eu falei para o Haddad: “Você tem que falar, cara, porque essas pessoas têm que saber que está acontecendo coisa no país, além da imprensa”. As coisas estão acontecendo. É importante vocês ficarem preocupados com a macroeconomia, mas se preocupem com a microeconomia. Vocês têm que saber o que está acontecendo embaixo desse país. Vocês têm que saber a quantidade de crédito que está sendo disponibilizado para as pessoas mais pobres, para o pequeno e médio produtor rural.
O que o companheiro Haddad fez foi um esforço para liberar recursos para a gente ajudar o Rio Grande do Sul, jamais foi feito na história desse país com qualquer estado, em qualquer momento histórico.
E é assim que a gente vai fazer. Essa história do gás, é porque eu já andei com um botijão de gás no pescoço para buscar gás, e chegar lá não poder comprar e voltar com o botijão vazio porque eu não tinha dinheiro para pagar o gás.
O gás é barato. O gás é barato. A Petrobras não tem o direito de queimar gás. Ela tem o direito de trazer o gás e colocar o gás à disposição desse povo. Para que o povo pobre possa fazer comida, senão não vai fazer voltar a lenha. Daqui a pouco os caras estão indo para a Amazônia para derrubar para fazer comida. Não tem necessidade.
Então, companheiros, eu queria dizer para vocês o seguinte, olha, eu estou numa fase de otimismo muito grande. Tem gente que acha que é esperta e fala assim: “Eu não sou nem otimista, nem pessimista. Eu sou realista”. Pois eu sou realista otimista.
Eu sou realista, eu acredito naquilo que a gente faz, acredito na nossa tomada de posição, acredito nos meus ministros, acredito em cada um deles, e acredito que a gente vai terminar o mandato numa situação altamente benéfica para esse país.
A economia crescendo, a massa salarial crescendo, o imposto de renda não sendo cobrado para quem ganha até 5 mil reais, o consumo crescendo, o emprego crescendo… É tudo que nós precisamos, cara, é fazer o povo voltar a ser feliz. De tristeza, chega eu com o Corinthians que não ganha uma.
Então, eu quero esquecer o futebol e eu quero fazer política com pegada. Eu não tenho vergonha de ser político, eu sou político, gosto da política e é na política que a gente vai consertar esse país, vai entregar, no final do meu mandato, um país melhor do ponto de vista da qualidade de vida, melhor do ponto de vista do crescimento econômico, melhor do ponto de vista do fornecimento de energia, melhor do ponto de vista da civilidade.
Esse país vai voltar a ser civilizado. As pessoas vão aprender a se gostar. Por isso, companheiros, muito obrigado, tenho certeza que vocês vão ter um país muito, mas muito importante daqui para frente.
E veja que engraçado, veja como são as coisas nesse país. Eu vou contar só esse caso aqui, porque eu não tenho chance de contar com vocês outras vezes, então, tem que ser agora. Eu tinha quatro meses de governo, em 2003, cinco meses, quando eu fui convidado para participar do G7. Foi a primeira vez que o Brasil foi convidado para participar do G7. Eu fui convidado pelo presidente da França, o companheiro Chirac [Jacques Chirac, ex-presidente da França], chamando ele de companheiro. O companheiro Chirac me convidou e eu fui para Évian.
Cheguei em Évian, eu fui entrar numa reunião, eu não falo uma palavra em inglês. Em espanhol, eu ainda falo “cueca-cuela”, “januela”. E eu não faço nenhum esforço para falar, porque quando a gente faz esforço para falar o que a gente não conhece, a gente fala pior do que se falasse na língua da gente.
E eu estava lá do lado de fora, estava vendo assim dentro de um aquário lá o Bush, o Tony Blair, o ministro Koizumi, o Prodi, da Itália, o Schroder [Gerhard] da Alemanha, o Rei Abdullah da Arábia Saudita e eu fiquei pensando: “Caceta, o que é que eu vou fazer lá dentro?” Tinham me falado assim: “Ô Lula, você não pode entrar nem com o tradutor”.
Imagina, cinco meses na Presidência do Brasil, eu em pé, vendo o aquário com todas aquelas personalidades, eu ia entrar lá dentro, sem saber uma palavra, nem japonês, nem inglês. E aí o cara falou assim para mim: “Lula, não tem problema. Quando você entrar lá, você coloca o ‘escutador de tradução’, que se você espirrar, eu traduzo o teu espirro. E se eles espirraram, eu traduzo para você”.
Eu fiquei olhando e fiquei pensando assim: quem desses presidentes já passou fome? Nasceu em Caetés e teve que sair de lá com sete anos num pau de arara para não morrer de fome. Quem desses presidentes já trabalhou no chão de fábrica? Já comeu marmita sentado no vaso sanitário porque não tinha cadeira para sentar e nem banco.
Quem desses presidentes já ficou um ano e oito meses desempregado? Quem desses presidentes já catou bituca de cigarro para fumar, porque não tinha dinheiro para comprar cigarro? Quem desses presidentes já morou em um lugar que deu um metro e meio de água de enxergue dentro de casa e ficava disputando espaço com barata, com rato e com fezes boiando?
Eu fiquei pensando, sabe de uma coisa? Eu vou entrar, porque eu sou diferente aqui e eles têm que me conhecer. E entrei. E a partir daí, o Brasil passou a ser respeitado como jamais foi em qualquer outro momento da história. Como jamais foi.
Porque ninguém gosta de lambe-botas, ninguém gosta de gente muito melosa, de gente muito, aquelas pessoas de complexo de vira-lata. O cara falou estrangeiro e já está achando que é melhor do que ele, o cara se subordina com muita facilidade.
Eu voltei, agora, só para vocês saberem, estamos com um ano e nove meses. Parece que já tem quatro anos, mas só faz um ano e nove meses que entramos no governo. Nem dois anos completamos ainda.
Veja o que aconteceu comigo, Padilha. Eu já me reuni com 54 presidentes da África, já me reuni com 27 presidentes da União Europeia, já me reuni com o G20 duas vezes, com os BRICS duas vezes, já visitei a Alemanha, já visitei os Estados Unidos, já visitei a França, já visitei o Egito. E vejam mais: já visitei o Qatar, já visitei a Arábia Saudita, já visitei os Emirados Árabes, já fiz reunião com 33 presidentes da América Latina e do Caribe e já fiz reunião com 15 presidentes do Caricom.
Ou seja, em apenas um ano e oito meses, eu já conversei com mais gente, vendendo as coisas boas do nosso país, vendendo a autoestima do nosso país, mostrando que tipo de gente que nós somos, mostrando para eles que nós temos uma Embrapa, que é de muita qualidade, que nós temos uma Petrobras, que é um centro de excelência.
Para as pessoas aprenderem a nos tratar com igualdade de condições, porque tem gente que trata o Brasil... Ah, eu vou dizer uma coisa, esse cara aqui, que eu nem conhecia, o Fávaro é um homem do agronegócio, deve ter falado mal de mim a vida inteira, mas eu conheci o Fávaro e eu gostei dele. Eu conheci o cara e eu gostei, falei: “Nossa, como ele é simpático, muito simpático”. Eu convidei ele para ser o meu ministro da Agricultura e é uma figura extraordinária.
Vocês sabem quanto mercado nós já abrimos em um ano e nove meses? 170 novos mercados para os produtos agrícolas brasileiros. Já fomos para 180 mercados. Daqui a pouco, ele está vendendo na Lua, está vendendo em Marte e se tiver outro planeta ele vai vender também.
Porque é o seguinte, gente, esse país vai ser o que a gente quiser que ele seja. Se a gente pensar pequeno, ele será pequeno. Se a gente pensar miudinho, ele será miudinho. Mas se a gente pensar em um país grande, com a qualidade de gente que nós temos aqui nesse país, com a qualidade da base intelectual que nós temos e com a competência intelectual que nós temos na rede pública, nos trabalhadores que servem esse país, nós não temos que ter medo de nada e de ninguém.
É, por isso, que eu quero dizer para vocês o seguinte: estejam certos que vocês têm um presidente que tem sorte. Além de ter sorte, ele tem uma causa. E quando a gente tem uma causa, nada, nada, nada cria problema para a gente. E a minha causa é cuidar do povo brasileiro. A minha causa é cuidar de cada criança.
A minha causa é provar que nós, povo brasileiro, e nós brasileiros poderemos ser o país do tamanho que a gente quiser. Um país rico, um país solidário, um país com inclusão social. Por isso, companheiros e companheiras, eu tenho tanta sorte, mas tanta sorte que até convenci a Janja a casar comigo. De tanta sorte que eu tenho, de tanta sorte que eu tenho.
Então, gente, eu quero elogiar para vocês os meus ministros. Eu tenho uma safra de ministros da maior qualidade. Dentro deles, têm cinco ou seis ou sete que são governadores de estado, outros prefeitos, outros secretários, e, por isso, eu vou dizer para vocês, não há nada, não há nada do ponto de vista político, do ponto de vista de maldade, do ponto de vista da oposição, que tira a gente do nosso caminho. Eu sou assim, eu não fico medindo as coisas todo dia, eu fico pensando aonde eu quero chegar.
Esse ano, eu plantei jabuticaba no Alvorada, e esse ano foi a primeira colheita que eu fiz e comi muita jabuticaba. E esse país vai dar muita jabuticaba no final de 2026, no fim do meu mandato. Eu quero convidar vocês, vamos todos comer jabuticaba, porque plantando, regando e tendo sol, ninguém segura uma boa jabuticabeira.
Da mesma forma, o nosso governo, trabalhando com dedicação, ninguém segura esse país.
Parabéns, Alexandre, pelo Observatório, parabéns, Itaipu, por ter ajudado a construir esse laboratório, e parabéns a vocês que fazem parte de fazer esse país crescer.
Um abraço no coração, gente.