Discurso do presidente Lula durante cerimônia de abertura do fórum Um Projeto de Brasil
Muito bem. Meu caro companheiro Ricardo Alban, presidente da CNI; querida Manuela Carta, da Carta Capital; ministro Rui Costa [ministro da Casa Civil], Alexandre Silveira [ministro de Minas e Energia], Simone Tebet [ministra do Planejamento e Orçamento], Waldez Góes [ministro do Desenvolvimento Regional], companheiros embaixadores Alexey Labetskiy, da Rússia; Gloria Tiwet, da Malásia e Halil İbrahim, da Turquia. Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte. Deputados federais aqui presentes, o Bohn Gass, o padre Luiz Couto, o Chico Vigilante, que está ali na minha frente. O Chico Vigilante, além de ser deputado, é meu compadre, eu sou o padrinho do filho dele, que faz muito tempo que eu não vejo. Amigos e amigas convidadas para este evento da Carta Capital.
Primeiro, eu queria dizer para vocês umas coisas que me tocam muito quando eu vejo o Mino Carta fazer esse vídeo. O Mino Carta é indubitavelmente o mais importante jornalista vivo desse país, indubitavelmente. Possivelmente seja o jornalista mais criativo que esse país teve. Ele foi um cara que fez a Quatro Rodas, foi um cara que participou da Construção da Realidade, foi um cara que fez a revista Veja, foi um cara que fez a IstoÉ, foi um cara que fez o Jornal da Tarde, foi um cara que fez o Jornal da República e foi um cara que, depois que tiraram tudo, ele ainda fez a Carta Capital. O que é importante no Mino Carta é que ele também foi o primeiro jornalista que, em 1975, fez uma capa da IstoÉ comigo, por causa das greves dos metrôs do ABC.
O mais importante é que o Mino Carta é um cara tão tinhoso, um italiano tão nervoso que, quando ele brigou com o Roberto Civita, ele brigou com o Roberto Civita, ele saiu, ele era o secretário-geral da revista, ele saiu e não quis receber indenização para não ficar devendo favor ao Roberto Civita. Esse é o Mino Carta que nós conhecemos, é o Mino Carta que luta hoje muito para manter a Carta Capital, que luta muito para manter a sua saúde intacta, no momento em que a gente também lamenta profundamente a morte de dois ícones da economia brasileira. Um dia atrás, a Maria da Conceição Tavares e, antes de ontem, o nosso amigo Delfim Netto.
E com o Delfim Netto tem uma coisa muito importante na minha vida, que eu passei 30 anos da minha vida xingando o Delfim Netto. Trinta anos. E quando eu virei presidente da República, em momentos muito difíceis, o principal economista de fora do meu partido que veio a defender o governo foi o Delfim Netto. E eu passei a ter uma relação com o Delfim Netto a ponto de, no comício da minha reeleição, em 2006, eu publicamente pedir desculpas ao Delfim Netto, de tantas críticas, umas justas, outras injustas, mas, de vez em quando, na política, a gente pega alguém de bode expiatório e fica xingando, xingando, xingando, às vezes até sem ter razão.
E eu passei a ser um admirador, senão de tudo que o Delfim fazia na economia, eu passei a ser admirador da sagacidade, da inteligência e da esperteza do Delfim Netto, da mesma forma que a Maria da Conceição Tavares. Poder-se-ia dizer que ela era uma econômica brava, que ela xingava todo mundo, que ela gritava todo mundo, mas, inegavelmente, o Brasil perdeu uma tribuna extraordinária que era a Maria da Conceição Tavares.
E o Mino Carta é uma dessas pessoas que eu aprendi a apreciar durante muito tempo, muito tempo. Eu tive contato com ele pela primeira vez em 75, depois fizemos uma amizade, muito tempo. Teve um tempo, Manuela, que o Mino Carta ficou com raiva de mim, porque eu não falei com ele da morte da esposa dele. E, depois de 10 anos, eu encontrei com o Mino Carta e falei: “Ô, Mino, eu não podia falar com você porque eu não sabia que ela tinha morrido. Ora, se ninguém me falou, como é que eu vou lembrar de falar para você?”. E recuperamos a nossa extraordinária amizade. É uma pessoa que eu gosto muito e fico, Alban, muito agradecido a você por promover esse evento aqui com a Carta Capital, porque nós estamos precisando, no país, de alguma coisa séria nos meios de comunicação, alguma coisa em que a gente acredite, alguma coisa em que não tenha um viés ideológico, alguma coisa em que a gente possa saber: “bom, isso aqui eu não concordo, mas é verdade. Isso aqui eu não concordo, mas é bom. Isso aqui eu não concordo, mas é sério”. Nós estamos precisando.
Lamentavelmente, nós estamos precisando de muita informação correta, porque eu tenho dito para as pessoas que nós estamos vivendo a era do fim do argumento. Ou seja, o argumento não vale muita coisa. O que vale são palavras cifradas, o que vale são xingamentos, o que vale são provocações. Ou seja, quanto mais curta a provocação, quanto menos palavras, melhor. Então, o argumento, as pessoas que se prepararam tanto para os argumentos, não tem mais chance, porque ninguém quer saber de argumento. O cara quer te avacalhar e acabou, e vai por aí afora. Ninguém presta conta. O cara, para xingar alguém, ele não tem que dar explicação, ele xinga. Agora, o cara, para dizer que não é verdade, ele tem que explicar.
E se o argumento está perdendo força, nós estamos vivendo um momento difícil. Qual é a sorte nossa? É que eu sou um presidente de sorte. A sorte nossa é que eu sou um presidente de sorte. Eu tive sorte nos meus dois primeiros mandatos e voltei para tentar mostrar o seguinte: não é possível ser goleiro da seleção brasileira sem sorte e não é possível ser presidente da República sem sorte. Quem for um azarado, não concorra, não concorra, porque não é possível você levar o povo ao sofrimento se você é um cara sem sorte. E eu, Alban, antes de dizer as minhas palavras aqui sobre a questão da integração da América do Sul, eu queria dizer para você que nós estamos vivendo um momento muito bom.
Eu quero dizer aqui de público, eu vivo o meu melhor momento como ser humano. Na minha passagem de 78 anos pelo planeta Terra, eu me sinto no meu melhor momento. Eu me sinto quase pleno como ser humano. Não tenho preocupação que não seja tentar encontrar soluções para os problemas. Os problemas, quanto mais graves, mais eles são apaixonantes, mais eles são motivantes, ou seja, mais eles acordam na gente a disposição da gente resolver. Eu não sou de ficar lamentando, eu não sou de chamar ministro para dizer: olha, vai acontecer tal coisa. Não. Eu chamo os ministros para dizer: nós temos que resolver. Se não está dando certo, nós vamos ter que encontrar uma solução. A gente não tem que ficar dizendo “eu acho, eu penso, eu acredito”. A gente tem que fazer as coisas.
E as coisas vão acontecer no país. Eu quero que vocês, empresários, vocês convidados desse debate, saibam o seguinte: o Brasil vai terminar o meu mandato numa situação altamente privilegiada, como foi em 2010. A economia crescendo, a inflação baixando, os juros caindo, o desemprego caindo, a massa salarial aumentando, o investimento na indústria crescendo, o investimento no comércio crescendo.
Ou seja, tudo pode acontecer, Alban, se a gente tiver – você deveria ter uma placa na porta da CNI, uma placa dizendo o seguinte: o que falta no Brasil é a circulação do dinheiro. O dinheiro não pode ficar parado no bolso de alguém ou na conta de alguém. O dinheiro tem que circular. Então, eu tentei colocar uma frase ali: “muito dinheiro na mão de poucos significa empobrecimento, significa analfabetismo, miséria, fome, desemprego. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o contrário. Significa todo mundo participando da economia, todo mundo comprando”.
Se você quiser fazer uma experiência, pegue R$ 10 mil e dê na mão de uma pessoa só. Essa pessoa vai pegar esse dinheiro, vai correr para um banco, vai procurar qual melhor aplicação e vai aplicar para viver de dividendos. Agora, pegue esses R$ 10 mil e divida para 100 pessoas e dê um pouquinho para cada um. Você vai ver que todos vão correr para comprar alguma coisa, ou para comer, ou para se vestir, ou para estudar. Então, essa é a mágica do que está acontecendo no Brasil outra vez.
Eu, quando deixei a presidência, em 2010, eu viajei muito o mundo fazendo palestra. E toda vez que eu era convidado, a gente perguntava o que é que vocês querem que o presidente fale? E os caras falavam: a gente quer que fale o que aconteceu no Brasil. E eu, então, tinha muito orgulho de dizer, a salvação do Brasil e a solução do Brasil foi que a gente decidiu que o pobre não é o problema. O pobre vira solução na hora que a gente inclui ele no tal do mercado, na hora que ele vira gente participante desse mercado. Enquanto ele estiver marginalizado, sem poder comprar, sem poder consumir, nenhuma indústria vai investir, nenhum comércio vai nascer. Então, é preciso a gente ter essa consciência, que esse país precisa ter circulação de dinheiro.
É por isso que, no meu governo, o BNB volta a funcionar como banco de desenvolvimento, inclusive emprestando dinheiro para estados e municípios, além dos pequenos empresários. O Banco do BNDES voltou a fazer investimento e tem que fazer mais, nós precisamos arrumar mais dinheiro para fazer mais dinheiro. O Banco do Brasil voltou a investir mais, a Caixa Econômica voltou a investir mais, o BASA voltou a investir mais. Porque, se não houver o investimento, Alban, a coisa não acontece.
E o milagre do pequeno investimento. O milagre do pequeno negócio. O milagre do empreendedorismo. O milagre das pessoas acreditarem que as coisas vão dar certo. Então, meu lema é esse: mesmo que dê errado, vai dar certo. Mesmo. Porque eu não vislumbro nada pela frente, nem a briga Estados Unidos e China, que me causam qualquer temor que vai desviar o Brasil da rota de crescimento que nós entramos.
Então, você pode ter certeza que esse país vai ter muita sorte, porque esse é o meu objetivo, é provar, mais uma vez, que esse país tem que ser governado olhando para a totalidade do seu povo. A gente não pode governar para quem é mais alto, para quem tem mais dinheiro, para quem é mais gordo, para quem é mais magro. Não. Nós temos que olhar para o conjunto da sociedade brasileira.
E o crescimento vai se dar na hora que a gente decidir trazer os grandes que estão fora para estar dentro. Isso. Alban, levou a gente a ter uma atitude, recentemente, na construção do PAC, que é uma inovação. Normalmente, um presidente da República e os seus ministros escolhem o governador que é seu amigo, escolhem o prefeito que é seu amigo, e decidem fazer a obra naquele estado em que eles têm amizade com o governador. Nós inventamos uma coisa chamada PAC Seleções. Todos os 5.800 prefeitos do Brasil têm a mesma oportunidade, não importa o partido, não importa o tamanho da cidade, todos têm a oportunidade de fazer um projeto. E nós fazemos a seleção dos projetos por importância, por necessidade.
E o que aconteceu é que no PAC Seleções, muita gente do meu partido ficava muito irada comigo. “Pô, o meu vizinho lá ganhou dinheiro para encosta, ganhou dinheiro não sei para quem e o meu não vai”. Não vai, porque o projeto dele é mais importante que o seu, o povo de lá precisa mais que você. Esse republicanismo é que nós estamos tentando estabelecer no Brasil para trazer de volta um pouco de civilidade. A gente não é um grupo de amigos, sabe? A gente é governo, e o governo precisa pensar na totalidade do seu povo e fazer as coisas acontecerem.
E isso me faz, Alban, dizer aqui, na sede da CNI, que eu espero que você um dia me convide para um jantar, porque também só conversa não enche barriga. Eu acho que nós vamos viver um bom momento, um bom momento. Eu, sinceramente, eu sempre falo para provocar alguns amigos meus empresários que só não enxerga quem não quer. Quando eu deixei a presidência em 2010, a gente vendia praticamente 3.800.000 carros por ano. Se pegar 2012, que é a data exata, a gente chegou a vender 3.836.000 carros por ano. Quando eu voltei, 15 anos depois, a gente estava vendendo só 1.800.000. A pergunta é: o que aconteceu no Brasil? As pessoas perderam o gosto para comprar carro? As indústrias não queriam mais produzir? Não, o que faltou foi determinação política de fazer as coisas acontecerem – e vai voltar a acontecer. Você é testemunha que, num único dia, eu recebi, no Palácio do Planalto, e depois eu fui na Anfavea, em São Paulo, para um investimento de R$ 130.000.000, até 2008, da indústria automobilística brasileira.
E eu disse para eles, a única coisa que eu posso oferecer para vocês é consumidor para o carro de vocês. Se a gente melhorar as condições do povo pobre, se a gente melhorar as condições de salário, se a gente melhorar a renda das pessoas, você pode ficar certo de que o povo vira consumidor, porque as pessoas querem ter um carrinho. É preciso que a gente adeque o carro às condições de pagamento das pessoas. Aumentar o número de prestação, porque o povo brasileiro tem uma vantagem que é o seguinte... Veja, baixar os juros é uma briga eterna, uma briga eterna. Mas mesmo se o juro for zero, se o cara não tiver dinheiro para consumir, ele não vai consumir.
O Japão tem juro zero e a economia do Japão não cresce há quantos anos? O que é importante é a circulação de dinheiro. Se você perceber que na minha cidade, em Caetés, o povo está tendo dinheiro para consumir, você vai montar uma indústria lá. Mas se você perceber que não tem dinheiro, você não vai montar. Você vai colocar o seu dinheiro num banquinho, de preferência nos títulos do Tesouro, ganhar aí uns 10,25% por mês de juros. Em 10 anos você dobra a sua riqueza. Então, para que investir na produção, para que investir na geração de emprego se eu tenho segurança? Esse é o país que nós precisamos mudar. Esse é o país que nós precisamos mudar. Fazer com que o dinheiro circule. Se o dinheiro circular, não vai ter problema nenhum. Você vai passar para a história como melhor momento da CNI nesse país.
Bem, como eu fui chamado para falar sobre integração, então eu vou falar muito pouco, porque depois vai falar Simone, que é a pessoa que está incumbida no nosso governo de cuidar da integração da América do Sul.
Primeiro, Manuela, eu quero agradecer à Carta Capital e à Confederação Nacional da Indústria por organizarem este importante ciclo de debate. Refletir sobre o futuro do nosso país é uma obsessão minha e do meu governo.
A integração com a América do Sul, tema escolhido para esta mesa, é imprescindível para a inserção internacional do Brasil. Mas, antes de tudo, é preciso consolidar a integração nacional, promover o encontro do Brasil consigo mesmo. É o que estamos buscando desde o início do meu governo.
Quando fui escolhido para ser presidente da República e para assumir a presidência pela terceira vez, eu disse que não existem dois Brasis. Somos um só país, único povo, uma única língua e uma grande nação. Não por acaso, o slogan do nosso governo é União e Reconstrução.
Para reconstruir o Brasil, é preciso a união de todos. É preciso demolir a muralha da intolerância erguida pela propagação do ódio que tentou dividir o país em duas metades que não se comunicam. Temos feito a nossa parte, governando para a totalidade do povo brasileiro, sem qualquer tipo de discriminação social ou regional, mas cuidando com carinho especial das pessoas que mais precisam. Visando o crescimento econômico e geração de emprego e renda, a redução da fome, da pobreza e a inclusão social.
Não abrimos mão da coordenação do desenvolvimento como uma prerrogativa do Estado brasileiro. Mas é importante que a agenda do desenvolvimento territorial, local, urbano e regional seja fortemente debatida pela sociedade.
Abre-se assim maiores possibilidades para que a integração regional seja um fator de bem-estar e prosperidade efetiva para nossas populações, sobretudo em regiões tradicionalmente esquecidas e marginalizadas. Uma nação como a nossa, dotada de um imenso repertório de recursos, tem possibilidades de realizar escolhas estratégicas sobre o rumo do desenvolvimento. A principal escolha, porém, é ter um projeto social que conduza esse desenvolvimento.
Esse é o caminho que nós escolhemos. A singularidade da agenda do desenvolvimento em nosso tempo consiste em incorporar as grandes obras de integração, a virtude de reduzir as assimetrias entre regiões – ou dentro de uma mesma região –, sem descuidar da dimensão ambiental. Essa visão sistêmica de desenvolvimento é indissociável do papel indutor do investimento público.
A abrangência dessa agenda orienta a estratégia de obras e ações incluídas no Novo PAC, direcionada à infraestrutura social e logística em todo o território nacional. O Novo PAC, lançado no ano passado, reforça a reconstrução do necessário Pacto Federativo que retomamos no início deste mandato. Ao apontarem obras de infraestrutura prioritárias em seus estados, os governadores tiveram um papel fundamental na definição desse programa.
Com o PAC Seleções lançado esse ano, novamente os governadores, mas também os prefeitos, votaram a ter voz na definição sobre o destino dos recursos públicos. Nunca perguntei a que partido pertence o governador ou o prefeito. Divergências políticas e ideológicas não têm a menor importância quando se trata de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.
É importante ter em conta que, em 2003, quando eu tomei posse, eu discutia com o ministro Celso Amorim a necessidade de a gente mudar um pouco a participação do Brasil na geopolítica mundial. O Brasil, durante muito tempo, ele esteve muito ligado a Portugal, depois ele esteve ligado à Inglaterra, depois esteve ligado à economia americana e depois à União Europeia como um todo. O Brasil não olhava nem a América do Sul e nem olhava a América Latina e não olhava o Continente Africano. A gente era um país que levantava de manhã, olhava para o mapa do mundo e só via a Europa, só via os Estados Unidos, não via nem a China. O que acontece é que, historicamente, nós fomos criados para ser inimigos uns dos outros. Portugal nos ensinava a não gostar da América do Sul, porque era um país pobre, que poderia ser problema para nós. E a América Latina, espanhola, não gostava de nós, porque nós éramos o inimigo, nós éramos o império.
Eu não esqueço nunca, Alban: o Chávez, antes de ser presidente, ele era professor da escola militar da Venezuela. E a aula que ele dava para os soldados da Venezuela era orientando eles de que o Brasil era o grande inimigo. Não eram os Estados Unidos, era o Brasil que era o grande inimigo. E aí você tem uma cultura de aversão ao Brasil. Então, nós tivemos um trabalho imenso, nós construímos a Unasul, nós construímos o Conselho de Defesa da América do Sul, nós abrimos mão da Alca e fortalecemos o Mercosul, nós criamos a CELAC. Eu visitei todos os países da América Latina, todos, sem distinção, do Caribe, para mostrar que o Brasil queria ser parceiro de verdade. E no reforço do Mercosul houve um milagre. Quando nós entramos no governo, nossa relação com a Argentina, o fluxo era de R$ 7 bilhões. Quando terminamos o governo era de R$ 39 bilhões no Mercosul, na Argentina. E em toda a América Latina, nós chegamos a quase 90 bilhões de reais de comércio exterior. Ou seja, você pega um país como o Chile hoje, Simone, o Chile, hoje, o fluxo de balança comercial com o Chile é maior do que com a Inglaterra, maior do que com a Itália, maior do que com a França. Só não é maior com a Alemanha.
Isso é uma demonstração de que o nosso futuro está aqui próximo de nós. Mas é com essa gente que pode comprar os produtos manufaturados que a indústria brasileira produz, ou com essa gente que pode coparticipar, serem sócios na construção de outras empresas que a gente quer criar, que a gente vai criar um bloco forte, um bloco de mais de 400 milhões de habitantes, um bloco com um PIB muito forte e que vai ter inserção no conjunto das negociações mundiais. E o Brasil não perderá essa chance, Alban. Eu quero dizer para vocês: nós não perderemos essa chance.
Eu, em um ano e oito meses de governo, só para vocês terem ideia, eu já me reuni com os 27 países da União Europeia, já me reuni com os 33 presidentes da CELAC, já me reuni com os 54 presidentes da África, já me reuni com a China, já me reuni com os Estados Unidos, já me reuni com os BRICS, já me reuni com os G20, já me reuni duas vezes com os G7. Ou seja, porque nós não vamos perder uma oportunidade de fazer com que o país vire de verdade um protagonista internacional no mundo da política, no mundo dos negócios, no mundo do crescimento econômico.
Esse é o lugar que está reservado ao Brasil. Basta que a gente tenha a dimensão de grandiosidade do Brasil. E isso nós vamos fazer.
Uma coisa importante para vocês lembrarem aqui: a primeira reunião que eu fiz quando eu voltei para a presidência foi reunir os três comandantes das Forças Armadas, reunir, convidar o companheiro Luciano Coutinho, convidar a Federação das Indústrias de São Paulo, que tinha um projeto, e convidar o ministro da Defesa para a gente discutir a recuperação da indústria bélica brasileira. A indústria da Defesa precisa ser forte, precisa funcionar, porque ela gera tecnologia, ela gera emprego. E a gente não pode, num país desse tamanho, ter umas Forças Armadas que dispensam soldados às 11h porque não têm dinheiro para pagar o almoço. Tem soldado que não ganha sequer o salário mínimo. Foi assim que eu encontrei, em 2003. Graças à nossa parceria, nós criamos o Soldado Cidadão para que, durante o ano em que ele fosse recruta, ele pudesse, no SENAI, fazer um curso de formação profissional.
Esse país tem que ser do tamanho que pensa a cabeça do governo do presidente. Se a gente pensa pequeno e a gente sonha pequeno, as coisas não acontecem. A gente tem que pensar cada vez mais grande, porque, mesmo que não aconteça tudo o que a gente quer, o que vai acontecer é maior do que se a gente pensasse pequeno.
Por isso, quando eu voltei à presidência, o entorno regional voltou ao centro da nossa atuação diplomática. A Argentina e o Uruguai foram meus primeiros destinos no exterior desse mandato. Promovi o retorno do Brasil à Unasul e à CELAC.
Retomei a transmissão de cúpulas de presidentes sul-americanos como espaço relevante de concertação política. Revigoramos a organização do Tratado de Cooperação Amazônica ao sediar, após 14 anos, uma nova cúpula de líderes de seus oito países.
Somente este ano estive na Guiana, onde participei da cúpula do Caricom e realizei visitas à Colômbia e à Bolívia, ao Paraguai e ao Chile, com importantes agendas de cooperação, comércio, integração física e energética.
Sigo convencido de que é urgente olhar coletivamente para a região. E todas as viagens, agora, todas as viagens minhas agora, eu levo comigo um grupo de empresários. Em todos os países que eu vou, a gente vai fazer debates com empresários brasileiros e empresários do país, porque, na verdade, o presidente da República pode abrir a porta, mas quem está sabe fazer negócio são os empresários.
Quem sabe discutir interesse, quem sabe discutir joint-venture, quem sabe discutir parceria, são vocês. Então, o nosso papel, sabe, é abrir a cancela e deixar vocês tomarem conta do negócio.
Nos últimos anos, permitimos que conflitos e disputas se sobreponham à nossa vocação de paz e cooperação. Num contexto de acirramento da competição geopolítica, a questão que se impõe é se nossos países querem se integrar ao mundo, unidos ou separados.
Infraestruturas comuns são a base para um continente mais próspero. Interconexões rodoviárias, ferroviárias, aéreas, fluviais e marítimas são chave para aumentar o comércio e os investimentos.
Pontes, como a que construímos sobre o rio Tacutu com a Guiana em 2009 e como a que construiremos com a Bolívia sobre o rio Mamoré, fazem bem aos países mais que mil reuniões.
É importante lembrar, gente, uma história: a primeira ponte construída entre Brasil e Bolívia fui eu que fiz, em 500 anos. A primeira ponte entre Brasil e Peru fui eu que fiz entre o estado do Acre e o Peru. Ou seja, isso demonstra a nossa visão de mundo, como era pequena, como era pequena, ou seja, um país que tem o poder de inserção, que tem o poder de convencimento, que tem o poder de produção, deixar fora os seus potenciais compradores, seus potenciais parceiros nisso.
Não é razoável que seja mais fácil e rápido para o empresário brasileiro ir à Ásia do que atravessar os Andes. Precisamos de uma integração regional profunda, baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação para a geração de emprego e renda. Quem conhece a história da região valoriza o estado como planejador e indutor do desenvolvimento.
Aqui no Brasil se criou a bobagem de discutir se o Estado é máximo ou se o Estado é mínimo. Ou seja, de vez em quando a gente traz para a nossa discussão coisas que não interessam nada, que não acrescentam nada, que não mexem com nada, só mexem com a vaidade intelectual dos que pensam assim. O Estado não tem que ser máximo, não tem que ser mínimo, o Estado tem que ser o Estado.
Eu já disse para todo mundo, eu não quero um Estado empresarial, mas eu não abro mão do Estado indutor. Quem é que vai levar a indústria para o Nordeste brasileiro? Porque se a gente não tiver uma discussão, companheiro Rui Costa, você que foi um especialista na Bahia, se a gente não tiver condições de pensar diferente as regiões, tudo e qualquer investimento vai para o Sul do país e para o Sudeste, porque é lá que tem mais mão de obra qualificada, tem mais infraestrutura, tem mais mercado consumidor, está tudo lá.
Então, nós temos que dizer o seguinte: nós precisamos desenvolver outros lugares do país. Temos que incentivar as indústrias a ir para lá para a gente poder tornar esse país um pouco mais equânime.
Eu quero que o nordestino venha para São Paulo de férias, não para ser pedreiro. Como eu quero que o pessoal do Centro-Oeste também. Que a gente seja um país de muita circulação para que a gente possa integrar esse país de verdade. Mas isso pressupõe que a gente tem que ter um Estado competente para isso.
Bem, vocês sabem, estamos colocando o pé no ousado plano de cinco rotas de integração e desenvolvimento que eu sei que a Simone Tebet vai fazer aqui uma fala depois que eu for embora.
Nós estamos reforçando o vínculo do nosso país com o mercado da Argentina, Paraguai, Bolívia, Chile, Peru, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname. Instruí a ministra Simone Tebet a viajar o Brasil e a região para promovê-las. Unindo o Caribe, o Atlântico e o Pacífico, vamos conectar o Brasil a regiões mais dinâmicas do mundo.
Lembrando a vocês que é a primeira vez que o Brasil é convidado para participar da APEC no Peru. E eu vou participar da APEC. Os chineses querem discutir conosco a Rota da Seda, nós vamos discutir a Rota da Seda.
Nós não vamos fechar os olhos, nós vamos decidir o que que tem para nós. O que que eu tenho com isso? O que que eu ganho? Porque essa é a discussão. Por isso, companheiros e companheiras, o Brasil precisa estar preparado porque depois do G20, eu tenho a bilateral aqui em Brasília com a China. É uma reunião que a gente vai comemorar os 50 anos de relação diplomática, mas é uma reunião em que a gente vai discutir, se prepare, uma parceria estratégica com a China de longo prazo. Ou seja, nós queremos ser uma economia mais forte do que jamais nós fomos. E nós precisamos de procurar parceiros.
Não pense que quando eu falo da China eu quero brigar com os Estados Unidos. Pelo contrário: eu quero os Estados Unidos do nosso lado tanto quanto eu quero a China. Eu quero saber aonde é que nós entramos. Qual é o lugar que eu vou entrar? Com quem que eu vou dançar? Porque o Brasil precisa se respeitar e a gente vai se respeitar se a gente tiver projeto.
Bem, nós temos que levar em conta o seguinte: a China é o maior parceiro comercial do Brasil há 15 anos. O montante das nossas exportações para o ASEAN é quase metade do que vendemos para a União Europeia.
Depois de mais de uma década, o Mercosul assinou um Acordo de Livre Comércio com Singapura e está em tratativas com a Indonésia e o Vietnã. E quero lembrar a vocês que nós estamos prontos para firmar o acordo Mercosul-União Europeia. Agora depende da União Europeia, porque nós aqui já decidimos o que queremos e já comunicamos eles.
A União Europeia que se vire com a França, que tem dificuldade dos produtos agrícolas brasileiros, certamente tem medo de disputar com o nosso queijo de Minas, tem medo de disputar com o nosso vinho de Rio Grande do Sul, mas, nós estamos... Eu já liguei para a Ursula von der Leyen, dizendo para ela: está pronto, nós do Mercosul estamos dispostos a assinar o acordo. É só vocês quererem que nós assinamos. Agora depende deles, não depende mais de nós.
Queridas amigas e amigos, a América do Sul reúne biomas fundamentais para o enfrentamento da mudança do clima, como a Amazônia, o Pantanal e a Antártica. Compartilhamos a maior floresta tropical do mundo, uma reserva de biodiversidade incomparável e fonte de conhecimento e tecnologias muito valiosas. Somos o continente com as maiores reservas de água doce do planeta.
Mesmo assim, no último ano e meio, vivemos secas históricas na Amazônia, nos Pampas, no Pantanal, que também padece com incêndios cada vez mais frequentes. O Rio Grande do Sul sofreu enormes perdas humanas e materiais, com inundações sem precedentes. Em outubro, na COP16, em Cali, mostraremos a magnitude da biodiversidade sul-americana.
No próximo ano, na COP30, em Belém, lideraremos os esforços para evitar que o aquecimento global ultrapasse a perigosa marca de 1,5°C. Serão oportunidades para a América do Sul apresentar uma visão coletiva sobre o desafio do desenvolvimento sustentável. Com o compromisso de caminhar rumo à descarbonização, vamos ampliar os investimentos em energias limpas.
O Alexandre Silveira daqui a pouco irá falar para você. Porque a verdade é o seguinte: se todo investimento que ele diz para mim, que vai acontecer no Brasil, aconteceu, nós vamos ser logo, logo, a segunda economia do mundo. Porque tem uma coisa que as pessoas falam e não explicam direito. E eu peguei uma frase que o cacique Raoni disse numa palestra com a ministra Nísia, que ele não entendeu uma questão da saúde, e ele ficou bravo e falou: “eu não entendi o que você falou, eu não entendi. Aí, me explica.” Aí a Nísia explicou. E falou: “está vendo? Se me explica, eu entendo.”
Então, veja, nós estamos falando aqui em inteligência artificial. Eu, sinceramente, acho que um país que tem tanta gente inteligente, não precisava de inteligência artificial. Mas, de vez em quando, as palavras da moda, inteligência artificial, tudo se resolve com inteligência artificial. O que as pessoas não falam é quanto de energia a gente vai consumir para essa nova indústria de dados e de informações. São os chamados grandes computadores.
A gente pensa que é a fábrica de alumínio que gasta muita energia, pois você vai ver. E aí nós temos que nos preparar para isso. As pessoas têm que saber que a gente tem que se preparar, concomitantemente, entre o fornecimento de energia e investimento para que a gente seja detentor da inteligência artificial.
E aí, uma coisa extraordinária que aconteceu no Brasil. Eu fiz uma reunião com o Conselho de Ciência e Tecnologia. E, na reunião do Conselho, eu desafiei os cientistas brasileiros no congresso que houve com mais de 3 mil pessoas, a apresentarem proposta de inteligência artificial em língua portuguesa. E eles apresentaram. Agora, nós estamos com a proposta do projeto. Certamente, vamos fazer uma discussão a nível de sociedade brasileira, porque nós não queremos ficar em segundo lugar nem em terceiro. Nós queremos participar. Se não chegar a medalha de ouro, não é por esforço nosso, mas nós vamos trabalhar.
E aí eu estou na expectativa do discurso do Alexandre Silveira com a quantidade de energia.
Noventa por cento da energia elétrica consumida no Brasil tem origem em fontes renováveis. Desenvolvemos tecnologias eficientes na produção de biocombustíveis e motores flex à base de etanol.
A nova política industrial brasileira se propõe a aumentar a complementaridade com os vizinhos e a adentrar nossas cadeias produtivas. Os ônibus elétricos que circulam em nossas metrópoles poderiam ser produzidos na América do Sul e não do outro lado do mundo. Temos tudo para nos tornar um elo importante na cadeia de semicondutores, baterias e painéis solares.
Aqui um outro dado para você, Alban. Quando nós adotamos o modelo de TV digital japonês, que nós criamos o nipo brasileiro, ou seja, nós convencemos muitos países da América do Sul, que já estavam adotando o modelo europeu ou o modelo americano, a entrar no modelo chinês porque aqui no Brasil ia ser feita uma fábrica de semicondutores. Ia ser feita uma fábrica aqui.
Bem, eu mandei para o Japão a Dilma Rousseff, que era a minha chefe da Casa Civil, mandei o Furlan que era ministro da Indústria e Comércio e mandei o nosso ministro da Secom fazer uma viagem, o Hélio Costa, ao Japão. E foi feita uma comissão de trabalho porque iríamos implantar na América do Sul e dentro da América do Sul no Brasil uma fábrica de semicondutores e nunca apareceu essa fábrica.
Então, os japoneses nos devem. Quando nós nos encontrarmos nós vamos cobrar. Eu vou fazer uma visita de Estado lá em março e nós vamos cobrar. Cadê a nossa fábrica de semicondutores? E também é um lugar que eu quero levar muitos empresários brasileiros. Muitos. Para o Japão. Agora nós temos um avião grande aí, um avião grande que dá para encher de empresários para nem pagar passagem.
Bem, podemos formar uma aliança de produtores de minerais críticos para que os benefícios do processamento desses recursos fiquem em nossos países. Nós queremos exportar sustentabilidade.
Já estamos na metade da presidência brasileira do G20. Essa também é uma presidência que fala aos temas de interesse de toda a região. Há um mês, apresentei ao mundo a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no âmbito do G20. No mesmo espírito de reduzir as desigualdades dentro dos países, entre eles, estabelecemos como prioridade a taxação dos super-ricos e a reforma da governança.
E veja como nós estamos flexíveis. Eu já não falo taxar o rico, que aí eu posso pegar o Alban. Então, quando eu falo super-rico, ele está fora. Bem, você sabe que, no mesmo espírito de reduzir as desigualdades dentro dos países, entre eles, nós vamos cuidar muito, mas muito, mas muito forte da integração.
Eu estou convencido que nós temos que convencer os países vizinhos de que, sozinhos, nós deixaremos de ser pequenos. Juntos, a gente pode fazer muita coisa. Quando eu sonhei em trazer a indústria naval de volta ao Brasil, os empresários devem saber que a indústria naval brasileira, na década de 50, era quase que a segunda maior do mundo.
Ou seja, quando eu tomei posse em 2003, a gente tinha três mil empregados. A gente não produzia mais nada, a não ser reparação e limpeza de casco. Nós resolvemos fazer navios outra vez. E nós chegamos a ter 86 mil trabalhadores construindo navios em Pernambuco, na Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo. E tive uma briga enorme, uma briga enorme, uma briga de cunho ideológico com a Petrobras, que não era ninguém de direita que estava lá, era meu amigo José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, meu amigo baiano, que me dizia: “presidente, a gente não pode, a gente não pode produzir sondas, a gente não pode produzir navios, não pode produzir sondas mensais, porque fica 100 milhões de dólares mais caro. Se a gente comprar, vai ficar mais barato.”
Tudo bem, mas se a gente comprar, a gente não vai ter emprego, a gente não vai ter imposto, a gente não vai ter conhecimento tecnológico, a gente não vai ter uma indústria competitiva. Por que eu sou obrigado a comprar de Singapura e não competir com eles? Por que eu tenho que ser só comprador e não vendedor? Essa é a cabeça de um dirigente político.
Como não tem curso de política na universidade, você não aprende a ser presidente na universidade, não aprende a ser prefeito. Porque tomada, a grande coisa do mundo político é tomada de decisão. E a tomada de decisão é que é a coisa extraordinária, uma coisa que vem de dentro da pessoa, vem da quantidade de informações que a pessoa tem e vem do pensamento de mundo que a pessoa quer.
Se eu não tenho visão do mundo, não tenho visão de nada. E eu digo sempre o seguinte, eu quando digo para todo mundo que eu vou viver 120 anos, ainda faltam 32 anos, cara. E eu falo isso porque é o seguinte: todo ser humano que tem uma causa não fica velho.
Quem faz a velhice é você não ter perspectiva de futuro. Você fica: “ah, estou no fim da vida, ah, não sei o que está acontecendo”. Pois eu, Alban, levanto todo dia, cara, com uma causa. Eu quero viver 120 anos.
Já disse para Deus: “não guarde lugar para mim aí tão cedo.” Sabe? Se tiver algum amigo meu que queira ir, eu até mando na frente, mas eu não quero. Eu não quero.
Bem, queridas companheiras e companheiros, eu tive a sorte de viver o mais profícuo momento de integração na América do Sul de 2003 a 2015. Havia divergências políticas, mas tínhamos certeza de que somente juntos poderíamos ter indústrias competitivas, crescimento econômico, distribuição de renda, educação de qualidade e geração de empregos. É isso que faz a diferença na vida das pessoas.
Nós precisamos assumir a responsabilidade de definir a América do Sul que queremos. O diálogo e a negociação são fundamentais para a estabilidade política. É essa abordagem que estamos empenhados em promover com México, Colômbia e Venezuela, e que fizemos agora no Chile uma grande reunião com empresários chilenos e brasileiros.
E aí o Sebrae e a Apex têm sido muito colaborativos e, amanhã, espero que as federações e as indústrias de todos os estados organizem empresários para mandar, para as pessoas saírem do seu mundinho, para as pessoas saírem, e conhecer a perspectiva que tem no mundo.
Eu não sei se você aprendeu na Bahia, na minha parte social que eu nasci, a gente aprendia: o coração não sente o que os olhos não veem. Então, se você não leva as pessoas para ver as coisas que existem no mundo. Você tem que ir a Xangai, você tem que ir a Pequim para você saber o que aconteceu nesses últimos 30 anos, nos últimos 40 anos.
Você não acredita, você não acredita que seja possível fazer o que foi feito com o crescimento da China. A China virou um problema, virou um problema para quem? Não para nós, virou um problema para os Estados Unidos. E virou um problema para os países capitalistas que acharam que era fácil aumentar a sua riqueza explorando a mão-de-obra quase que escrava da China.
Os chineses, diferentemente de nós, souberam aproveitar a oportunidade. Não ficaram muito preocupados com essa tal de propriedade intelectual e foram aprendendo a fazer as coisas, foram mandando gente estudar lá fora, foram mandando a gente... E hoje a China é o que é, sabe? Uma coisa invejável. E aqui no Brasil também ensina a gente, companheiros. É o seguinte, vocês acreditam que o Brasil é o país do mundo que, sozinho, forma mais advogados do que o restante do mundo junto?
Nada contra advogados. Nós precisamos formar, formar gente com especialidade na questão da engenharia, na matemática, na questão digital, na produção de software. Ou seja, nós precisamos entrar nesse mundo. E aí nós precisamos formar a nossa meninada. Nós estamos agora com mais 100 novos institutos federais e nesses institutos a gente quer dizer o seguinte: que curso a gente vai dar?
Ele já aprendeu que Cabral descobriu o Brasil. Agora o que é que a gente vai ensinar para o futuro dele? Qual é a expertise que nós queremos que ele tenha? E aí é que eu acho que nós vamos precisar utilizar a inteligência de todo mundo para a gente poder fazer as coisas com muito mais força, muito.
Queridos companheiros e companheiras, a democracia e o desenvolvimento caminham lado a lado. Eu estou convidando uma reunião dia 24 (em setembro), na sede da ONU, com os governos democratas do mundo. Eu ia convidar governos progressistas, mas aí quando eu fiquei fazendo o levantamento tem pouco governo progressista no mundo. Então, eu falei: bom, para não deixar nenhum amigo de fora, eu vou convidar os governos democratas. E estou fazendo uma reunião.
Falei com o presidente Biden, falei com o Macron, falei ontem com o primeiro-ministro do Canadá, falei com o primeiro-ministro novo da Inglaterra, que é o meu companheiro, do mundo sindical. E falei para ele que nós precisamos fazer alguma coisa para defender a democracia. A democracia não é uma coisa pequena, a democracia é o que existe de mais perfeito que o ser humano criou, sabe, na arte da governança.
Eu, sinceramente, eu vejo a União Europeia como uma construção, um patrimônio democrático da humanidade. Imaginar a França e a Alemanha, depois de se auto destruírem, criar um bloco que fez um Banco Central, que fez um Parlamento, que fez uma moeda própria e que tem um Parlamento que decide as coisas, é invejável. E é isso que a gente tem que fazer.
A gente sempre coloca na mesa o problema. Eu vou fazer tal coisa, mas tem esse problema. Não, pelo amor de Deus, vamos colocar a solução. O cara, quando vai no médico, ele não quer diagnóstico, ele quer o remédio. Então nós, aqui no Brasil, eu vou terminar dizendo para vocês que nós, aqui no Brasil, nós temos grandeza, nós temos inteligência, nós temos histórico e o Brasil tem que ser o carro chefe da integração da América do Sul. Nós não queremos ter um comportamento hegemônico, nós queremos construir parcerias, nós queremos andar de mãos juntas para que a gente possa viver.
Eu lembro, Fausto. Cadê o Fausto do nosso SESI? Eu vou lhe dizer uma coisa porque eu fui escolhido presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo em 1975. Eu era diretor delegado de uma fábrica da Vilares e o presidente do sindicato precisava deixar de ser presidente porque a empresa dele tinha mudado do São Bernardo do Campo.
Aí nós provocamos o Dieves, a companheira Lurdinha, mulher do nosso ex-companheiro Barelli, a Neiva Andraus, foram no sindicato fazer um curso para a gente medir quem que era a liderança, quem não era liderança. E pegaram algumas pessoas e falaram o seguinte: “o que você entende por sindicalismo? O que é o sindicato para você?” Aí o cara que era o meu concorrente fez um cara ficar agachado, subiu nas costas do cara e ficou como se fosse um avião para cima de todo mundo.
Aí, quando eu fui fazer, eu peguei todo mundo que estava na sala, peguei a mão de todo mundo e falei: sindicato é isso, é a união dos trabalhadores. Isso me fez virar presidente do sindicato e, por que não presidente da República? Para governar esse país, o Brasil tem que se apresentar sim, sabe, com muita sabedoria, mas, ao mesmo tempo, com muita humildade, para as pessoas não desconfiarem, nós não queremos ser imperialistas.
Eu fui, o Paulo Skaf era presidente da Fiesp, eu trouxe a Argentina para um encontro na Fiesp sobre desenvolvimento. E o Paulo Skaf fez uma apresentação da pujança da Fiesp, da pujança do estado de São Paulo, que era, era para afundar o argentino lá dentro, porque, não tinha um milímetro de humildade, cara. “É o seguinte, nós somos os grandes, nós somos os poderosos, nós temos isso.” Eu estava vendo a hora do governo afundando na cadeira. Então, o Brasil precisa se apresentar com muita humildade, com muita delicadeza.
Os empresários que têm viajado conosco sabem que a gente ganha e a gente tem frutos. Levantar a desconfiança do México. Eu estive muitas vezes no México, eu estive no México, o pessoal tem uma desconfiança de nós, porque acha que nós somos nossos empresários, são o imperialismo. E eles são vítimas dos americanos, estão lá, vizinho deles. Então é a construção de uma relação de confiança e de interesses que nos faz a gente criar a ideia de fomentar a América do Sul como um bloco.
Nós temos divergências ideológicas, porque nós temos um fenômeno acontecendo no mundo hoje, que é a política do não-argumento e nós precisamos recuperar isso. Por isso eu vou fazer esse encontro em Nova York e por isso eu vou continuar andando o mundo. Eu espero que a CNI participe do G20 aqui no Brasil, que vai ser um marco para o Brasil, depois eu tenho que ir para a Rússia participar dos BRICS, vou na cidade de Kazan, depois eu vou em Baku participar da COP. Depois, eu vou para a APEC conhecer essa rota da Seda e aí mostrar para eles a integração que a Simone está apresentando para mostrar que nós vamos diminuir 15 mil quilômetros de distância entre nós e a China. A gente vai mostrar que é mais perto a gente ir pelo mar do que a gente de avião agora, porque tudo vai acontecer de bom.
É por isso que eu digo, gente, mesmo que dê errado, vai dar certo. Sabe por quê? Porque vocês têm um presidente de sorte. Eu tenho sorte. Um cara que aos 78 anos está apaixonado. Um cara que... Eu fico sempre brincando o seguinte: Fernando Coelho, você que é um... pensa um cara esperto é esse Fernando Coelho. Você acha que é você que é esperto, ou eu? Você não sabe quem é. Vou te falar uma coisa até, Fernando.
Eu fico sempre pensando nas possibilidades que o Brasil jogou fora. A gente muitas vezes, se a gente vai fazer uma coisa, mesmo agora no governo, quando a gente senta para discutir, sabe? Você tem o pessoal preocupado em que a gente não consiga, sabe, gastar o dinheiro que precisa e você tem as pessoas que sabem o que precisa gastar. Os que não querem também sabem o que precisa gastar. Mas tem a responsabilidade de dizer para a sociedade: nós não temos tudo isso.
E eu sempre provoco o pessoal para discutir o seguinte. Custa fazer tal coisa? Vamos nos perguntar quanto custa não fazer. Quanto custou ao Brasil não fazer as coisas na década de 50? Na década de 60? Porque é o que os prefeitos das cidades, hoje, vivem nos grandes centros urbanos, que é uma reconstrução da irresponsabilidade da ocupação dos anos 50 e dos anos 60. Então, esse país está sempre em um processo de reconstrução.
Companheiros, deixa eu dar uma coisa para vocês: eu jamais imaginei que eu voltasse nesse país, sabe, tendo 33 milhões de pessoas outra vez no mapa da fome. A gente tinha acabado com isso em 2014. E veio a coisa que destruir é muito simples. Você leva um ano para construir uma casa, um século para construir um castelo, para destruir é meia dúzia de dinamite e um japonesinho para colocar, está acabado o castelo.
Gente, eu confesso para vocês que é o seguinte, você veja que eu não me queixei no discurso de posse, esqueci o governo passado no discurso de posse, porque eu fui eleito para governar. Mas nós pegamos esse país, gente, destroçado.
O tal da Casa Amarela prometida não aconteceu. Nós tivemos 87 mil casas do Minha Casa, Minha Vida paralisadas. A gente está inaugurando, hoje, casa que foi começada em 2012. Isso significa refazer projeto, refazer licitação. Você sabe o que é? É muito difícil. Nós temos 6 mil creches de escola em processo de reconstrução. Eu peguei o Ibama por 700 funcionários a menos do que tinha em 2010. Setecentos funcionários a menos. Quando poderia ter pelo menos um a mais, mas é menos.
Então, esse país foi um pouco abandonado, tá? E a minha intenção é tentar entregar esse país a quem vier depois, com o país arrumado. A política tributária aprovada no Congresso talvez não seja a política tributária do sonho de todo mundo, porque não há política tributária unânime. Não há. Nós temos que botar na cabeça que a única coisa unânime é Deus não pecar. O resto, tudo é possível.
E essa política tributária, eu tenho discutido, o meu companheiro Boric no Chile, ele tem 78 parlamentares do lado dele e 77 contra. Não, ele tem 78 contra e 77 favoráveis. E não consegue aprovar um projeto. O Obama passou quantos anos no governo sem conseguir aprovar um projeto?
Pois, esse cara de sorte, que montou um governo de sorte, porque o Rui teve sorte na Bahia, o Renan teve sorte em Alagoas, o Camilo teve sorte no Ceará, o Waldez teve sorte lá no Amapá. Então, como eu montei um governo de gente de sorte, a gente conseguiu num país em que o partido do presidente da República só tem 70 deputados num colégio de 513, e só tem 9 senadores num colégio de 81, a gente conseguiu aprovar, até hoje, mais do que em qualquer outro momento da história desse país.
E conseguimos aprovar uma coisa inédita: uma reforma tributária que há 40 anos se tentava fazer nesse país. E fizemos nesse mundo político adverso, mas com muita conversa. Estão aqui os ministros sabem quantas horas de conversa, quantas noites, sabe. E é assim mesmo, porque você não governa se você não tiver tolerância de ouvir os contrários. Quando um presidente da República manda um projeto pro Senado ou pra Câmara, ele não tem que achar que aquele projeto vai ser aprovado como ele quer.
Ele tem que ter consciência que os deputados e os partidos têm interesse de mudar alguma coisa, e ele aceitar as mudanças. É difícil? É. Exige conversação? Exige. Mas esse é o forte da democracia, Alban. Esse é o forte da democracia. É a gente construir consensos mesmo na convivência adversa. Então eu digo pra vocês, eu sou grato ao Congresso Nacional com todos os problemas que muitas vezes é manchete do jornal que diz que tem briga, não sei de quem com não sei quem.
Não tem briga com ninguém. Um presidente da República não briga. Um presidente da República tem que estar calmo todo santo dia. Eu levanto calmo e vou pra casa calmo. Não levo os problemas daqui pra minha casa, porque esse país tem que dar certo. Eu quero terminar o meu mandato, Alban, dizendo o seguinte: esse país finalmente encontrou o seu caminho e não vai voltar atrás. Deixar coisas concluídas para que quem vier toque o barco e toque esse país para frente porque o povo está cansado. O povo está cansado. Sobe um degrau da escada, depois derruba aquele degrau e volta para baixo. Aí sobe outro degrau, depois derruba, volta pra baixo. Não é possível que a gente não trabalhe para esse povo subir o segundo degrau.
Quando a gente levou a empresa automobilística para Pernambuco, quantas críticas a gente resolveu? Mas é só ir lá para ver o benefício que aquilo trouxe e junto com a empresa estamos levando o Instituto Federal para formar profissionais especialistas. É assim que a gente vai fazer esse país se desenvolver.
Então, Alban, eu quero sempre você, que você pode contar. Você vai perceber que vai ser estranho, mas eu vou lhe tratar sempre como companheiro e vou dizer o porquê. Porque é o seguinte. Eu não conhecia você, mas o meu amigo Rui Costa dizia: “Lula, o Alban é um cara bom, o Alban é um cara sério.” O Jaques Wagner dizia: “ô, Lula, o Alban é um cara bom. O Alban é um cara sério. O Otto dizia: “ô, Lula, o Alban é um cara bom, um cara sério.” Agora, se todos os meus amigos que eu confio, confiam em você, por que eu vou desconfiar? Então, quero que você saiba que você terá um parceiro.
A Carta Capital, Manuela, precisa continuar existindo. Quem puder ajudar, ajude, porque precisamos de uma imprensa, pelo menos, neutra nesse país. Um abraço e obrigado.