Pronunciamento do presidente Lula na celebração dos 10 anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar
Não. Eu agora fiquei decepcionado, porque eu tinha acabado de pedir um cafezinho pro meu companheiro... Foi buscar... Quando o café chegou, me chamou para falar. A culpa não é da moça que me chamou, é da minha assessoria que eu disse para ela: “Canta mais uma vez o Hino Nacional e deixa o Lula tomar o seu cafezinho.”
Olha! Alô, alô, alô, tá bom.
Bem, eu queria primeiro cumprimentar a nossa querida e magnífica Ana Beatriz de Oliveira, reitora da Universidade Federal de São Carlos. Eu vim aqui, principalmente, em homenagem ao companheiro Raduan. O Raduan [Raduan Nassar, escritor] é daquelas pessoas que eu lamento muito, lamento profundamente, que eu só tenho conhecido o Raduan há pouco tempo atrás. E ele também só me conheceu há pouco tempo atrás. Eu não sei por que que ele, morando em Pinheiros, e eu, morando em São Bernardo, a gente não se cruzou, sabe, mais rapidamente.
De qualquer forma, eu tive o prazer e a oportunidade de um dia, à tarde, receber um telefonema de um cidadão chamado Messias, que trabalhava com o Raduan, dizendo que o Raduan estava tentando doar essa fazenda para a Universidade de São Paulo. Me parece que de Piracicaba. E a burocracia, possivelmente, fez com que a universidade não respondesse, e, depois de dois anos, o Raduan ficou cansado, e o assessor dele falou: “Vamos ver com o Governo Federal se ele quer.”
E o Gilberto Carvalho entra na minha sala. O Gilberto Carvalho era chefe de gabinete, entra na minha sala e falou: “Lula, tem um tal de professor Raduan que ele quer doar uma fazenda de 640 hectares para fazer uma universidade que tenha todos os cursos rurais que for preciso fazer nesse país. E ele está chateado porque ele queria dar e ninguém quis receber e tal.”
Eu na hora liguei para o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda], e o Haddad conhecia o Raduan. O Haddad já tinha lido o Lavoura Arcaica, Um Copo de Cólera, e outras coisas, mas artigo dele na Folha de São Paulo. Em 24 horas, a gente estava com essa universidade no nosso poder, e, é por isso, que eu estou aqui em homenagem a esse homem extraordinário.
Porque nos Estados Unidos, quando uma pessoa tem herança e ela morre, 40% da herança é paga de imposto. Uma fazenda dessa, se fosse vendida para os herdeiros, 40% era de imposto. Então, nos Estados Unidos, como o imposto é caro, você tem muitos empresários que fazem doação de patrimônio para a universidade, para institutos, para laboratórios, para fundações. Aqui no Brasil, você não tem. Você não tem ninguém que faça doação, porque o imposto sobre herança é nada: é só 4%.
Então, a pessoa não tem interesse em devolver o patrimônio dele. E quando aparece um homem, que aos 75 anos de idade, naquela época, assume a vontade e a responsabilidade de se desfazer de um patrimônio dele como esse aqui, para que a gente pudesse formar milhares e milhares de meninas e meninos nesse país. Para ajudar o país a se transformar num país grande, num país importante, num país competitivo. A gente só tem que dizer, graças a Deus, Raduan. Deus te pôs no mundo, e você está colocando essa dádiva que Deus te deu para o futuro desse país.
Bem, eu quero cumprimentar os meus ministros, Camilo [Santana, da Educação], Paulo Teixeira [do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] e Laércio [Portela, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República]. Quero cumprimentar a reitora Lia Rita, da Universidade Federal de São Paulo; o Dácio Roberto Matheus, da Universidade Federal do ABC; o Silmario Batista dos Santos, do Instituto Federal de São Paulo; o nosso companheiro Germano Almeida, prefeito do município de Buri; o Alexandre, secretário de Educação Superior do MEC; o nosso companheiro Edinho, prefeito de Piracicaba; Ana Terra Reis, secretária de Abastecimento e Cooperação e o Edinho é de Araraquara.
Bem, eu quero agradecer, Edinho, a tua presença aqui, porque Araraquara é uma das cidades muito importantes de São Paulo. Uma cidade, que eu diria, muito bem estruturada, muito bem, que é o sonho de toda e qualquer cidade, ter o mesmo nível que Araraquara consegue dar para o seu povo, e o Edinho é um extraordinário prefeito.
Eu quero cumprimentar o Mário Sérgio, da cidade de Itapeva; o Alex do Rogério Camargo de Lacerda de Itaberá; o Jucemara Fortes do Nascimento, de Nova Campina, e o Sérgio Victor Borges Barbosa de Apiaí.
Quero cumprimentar o Alberto Carmassi, diretor do Campus da Lagoa do Sino da UFSCar; o Fábio Grigoletto, diretor do Centro de Ciência de Natureza da UFSCar; o meu querido companheiro Gilmar Mauro, da Direção Nacional do Movimento Sem Terra; o companheiro Murilo Araújo Picoli, estudante do curso de engenharia; a nossa querida companheira Alessandra da Silva Carvalho, representante da Cooperativa da Terra, e a Jéssica Roberta de Lima, funcionária do Campus Lagoa do Sino.
Companheiros e companheiras desse extraordinário Campus Lagoa do Sino, companheiros de Buri, das cidades da região, gente de Itapeva que está aqui. Eu só queria que vocês entendessem uma coisa importante. Não sei se vocês já participaram daquele jogo de palitos. Eu não sei se existe ainda, aqueles palitinhos coloridos que você coloca em cima de uma mesa, solta ele e você vai tirando aquele que não pode mexer com o outro. Se mexer, você perde, e o adversário começa a jogar.
Governar é um pouco isso. Governar é exatamente isso. Se você pega 203 milhões de habitantes, você solta e, depois, você vai tentar mexer com aquele, sabe, que não te dá problema, porque se te dá problema, você não mexe. E esse problema é um palito chamado povo. Ele está sempre por baixo. Ele está sempre abaixo de tudo e é o mais difícil de um governante pegar e de um jogador de palitinho pegar, porque se ele tentar mexer com o povo, ele vai mexer nos ricos, sabe, ele vai mexer nos grandes fazendeiros, ele vai mexer nos grandes empresários, nos banqueiros. Vai mexer em setores da classe média alta.
Então, é preciso não mexer com o povo. Deixa o povo pobre lá. Mexer com ele é perder o jogo. E nós resolvemos mudar a lógica desse jogo de palito. A gente precisa ter coragem de mexer com o palito chamado povo para que a gente tire o povo dessa linha de submissão que ele é colocado a vida inteira. E é exatamente por a gente ter coragem de mexer nesse palito chamado povo, é que eu sou muito fanático por educação.
E eu quero dizer para vocês que a minha obsessão pela educação não é porque eu sou estudado. Todo mundo sabe, eu não tenho diploma universitário. Todo mundo sabe que a minha vida é uma vida de torneiro mecânico durante 27 anos dentro de fábrica. E depois eu fui do sindicato e depois eu virei político. Todo mundo sabe disso.
Pois bem, a minha obsessão pela educação é que quando eu era menino eu tinha vontade de estudar. Eu tinha sonho de estudar. Eu tinha sonho como todas as pessoas têm sonho. Mas a pobreza era tão grande e a miséria era tão grande que não deu para estudar.
Então, veja, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter um diploma primário, de oito filhos, eu fui o primeiro. Eu fui o primeiro a aprender uma profissão. Eu fui o primeiro a ter um emprego ganhando mais que quatro ou cinco salários mínimos. Eu fui o primeiro a ter uma televisão. Eu fui o primeiro a ter uma geladeira. Eu fui o primeiro a ter uma casinha. E a minha primeira casinha era uma casinha de 33 metros quadrados e morava eu, minha mulher, três filhos, a minha sogra e dois cachorros. Em uma casinha de 33 metros quadrados.
Então, a minha obsessão, depois de tudo isso que eu passei, é permitir que todas as pessoas desse país, nascidas dentro desses 8 milhões e meio de metros quadrados, que tenham o nosso sangue, o nosso DNA, tenham o direito de estudar. Tenham o direito de ter oportunidade. Tenham o direito de fazer um curso profissional. Tenham o direito de fazer um curso técnico. Ter direito de virar doutor ou doutora. E o que a gente faz para isso conseguir?
Eu sofri no meu primeiro mandato, porque era preciso dinheiro para a gente fazer mais universidade e colocar as pessoas mais humildes nas universidades. Eu cheguei a pensar em utilizar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço como se fosse um empréstimo para os trabalhadores emprestaram para os seus filhos estudarem.
E aí, o companheiro Haddad era o meu ministro da Educação. Ele tinha tido uma experiência em São Paulo, não sei aonde, mas a Ana Estela, a mulher dele, é autora da ideia. Ela resolveu propor que a gente criasse o PROUNI.
O que era o PROUNI? O PROUNI era a gente transformar as dívidas que as universidades privadas tinham com o governo em bolsa de estudo para os estudantes da periferia. E aí nós fizemos o programa mais extraordinário que já passou por esse país, que foi fazer com que alunos do ensino médio, de escolas públicas brasileiras, da periferia, gente filha de trabalhador, gente filha de empregada doméstica, gente filha de pobre, gente filho de pedreiro, sabe, pudesse sonhar em ter a oportunidade de fazer um curso, ser um doutor na vida.
E é por isso que depois da gente fez o REUNI. O REUNI, não sei se vocês se lembram, o REUNI aconteceu por causa de uma coisa que eu vi no Paraná. No Paraná teve uma universidade federal que abriu o ano lotado. Um monte de gente ficou de fora e depois, de quatro ou cinco meses, muita gente tinha abandonado o curso, e o pessoal que ficou de fora queria entrar e não permitiam.
Aí eu disse, ô Haddad, vamos ter que dar um jeito nisso. E nós conseguimos criar o REUNI, que era para você saltar de 12 alunos para 20 alunos, no mínimo, em uma sala de aula, para que as pessoas pudessem estudar. Aí, depois eu ainda não fiquei contente porque não conseguimos atender todas as pessoas com o PROUNI.
Aí, nós tínhamos o FIES. O FIES não fomos nós que criamos. O FIES já existia. Era um financiamento feito pela Caixa Econômica Federal. Qual era o problema do FIES? Por que ele não funcionava? Porque, vamos ser francos, um estudante, quando ele vai em um banco pedir um financiamento para estudar, o banco pergunta: “você trabalha?”, “Não. Só estudo”, “quem vai pagar isso?”, “meu pai.”, “E quanto é que ganha teu pai?”
Ele vai perceber que o pai não ganha para pagar o dinheiro que ele vai tomar emprestado. Então, o jovem não pegava dinheiro emprestado porque é impossível. Ele não tinha avalista. E vocês sabem que avalista é uma coisa difícil.
Ô, Camilo... Raduan nunca pagou aluguel, não sabe disso. Mas avalista é uma desgraça. Às vezes, você chega na fábrica, mil companheiros seu, mesmo na universidade se alguma professora precisar alugar um apartamento, aí o dono do apartamento fala: “eu preciso de um avalista. Eu preciso de alguém para garantir.” Aí, você vai falar com a companheira, com o companheiro, ele nunca fala “não”. Ele fala: “eu vou conversar com o meu marido”, “Eu vou conversar com a minha esposa.”
E o dado concreto é que, no dia seguinte, 90% recebe um “não” arredondado porque ninguém quer ser fiador de outra pessoa e depois essa pessoa não pagar, arcar com o pagamento da dívida. O que é que nós fizemos? O estudante, ele vai pegar [enquanto] aluno, e ele vai pagar depois que ele se formar.
E mais ainda: quando ele se formar, se ele for trabalhar na rede pública, ele não precisa pagar. É por isso que o FIES, em pouco tempo, teve mais de 2 milhões de jovens. É por isso que nós saímos de 3 milhões e meio de estudantes em universidade para 8 milhões e meio quando eu deixei a Presidência da República. Porque, pela primeira vez, a gente conseguiu fazer com que o povo mais humilde pudesse estudar.
Eu fui na USP um dia desse, Camilo, e eu tomei um choque de entusiasmo. Porque a USP, há 20 anos atrás, há 30 anos atrás, era uma universidade de brancos. Era uma universidade de brancos e uma universidade de instrutores médios da sociedade. O cara que ganhava um bom salário, um bom rendimento e tal. Não era para pobre da periferia.
Hoje, você entra na USP, metade dos estudantes é negro, pardo, meninas negras, pardas e muita gente da periferia, de escola pública estudando na USP. É esse país que nós precisamos criar para a gente poder dizer: um país de todos.
A outra coisa foi com o instituto. Quando eu entrei na Presidência, eu descobri que o primeiro instituto federal tinha sido criado pelo presidente Campos Salles, em 1909, na cidade de Campos, no Rio de Janeiro. E, de 1909 a 2003, eles tinham feito, no Brasil inteiro, 140 institutos federais.
Pois bem, quando eu terminar o meu governo agora, nós vamos ter 782 institutos federais para garantir que nesse país todo mundo tenha o direito de ter uma profissão, todo mundo tenha o direito de ter conhecimento, todo mundo tenha o direito de tirar proveito da sua inteligência para aperfeiçoar o seu conhecimento, melhorar a produção do Brasil, melhorar cientificamente as coisas que nós fazemos, melhorar do ponto de vista tecnológico, porque um país importante não é aquele que só exporta soja, milho e minério de ferro. É aquele que exporta inteligência, aquele que exporta conhecimento, aquele que exporta gente para produzir coisas de valor agregado.
É com esse país que eu sonho. E,por sonhar, eu digo para os meus ministros: não utilize nunca a palavra gasto quando estiver falando de educação, nunca! A palavra gasto vale para qualquer coisa, só não vale para você cuidar da educação e para você cuidar da saúde, porque cuidar da saúde é investimento. Porque uma pessoa com saúde, ela trabalha melhor, ela vive melhor, ela está mais feliz. Uma pessoa doente está sempre doente, sempre mal, sempre precisando de ajuda, sempre tomando remédio e trabalhando pouco.
Então, a gente quer que as pessoas compreendam duas coisas: investir para melhorar a qualidade de saúde das pessoas é investimento e não gasto. Investir na educação é investimento e não gasto. Esse é o critério para que a gente possa, quando a gente jogar os palitinhos da gente, a gente não ter medo de mexer naquele palito que está lá embaixo, sufocado por todo mundo.
Pois bem, companheiros, com base nisso, a gente voltou a governar esse país. Esse país, eu diria, o que eles fizeram nesses últimos, depois do impeachment da Dilma, é que o Netanyahu está fazendo na Faixa de Gaza, lá na Palestina. O que eles fizeram com esse país foi um pouco isso. Só no final de semana agora, no final de semana, morreram mais 70 pessoas na Faixa de Gaza.
A semana passada morreram mais 90. E quem é que está morrendo? É soldado? Não. É terrorista? Não. Quem está morrendo? São mulheres e crianças que são vítimas dos ataques, todo santo dia, de um governo que já foi condenado pelo Tribunal Internacional.
O mesmo Tribunal que condenou o Putin pela guerra da Ucrânia condenou o Israel porque está fazendo isso com a Faixa de Gaza. E não é o povo de Israel, porque o povo de Israel também não quer guerra. O povo de Israel quer paz. É o governo que é irresponsável e não tem sequer respeito pelas decisões da ONU.
Então, companheiros e companheiras, esse país estava assim. O que o Camilo falou de obras na Educação, se a ministra Nísia, da Saúde, estivesse aqui, ela falava também das obras paralisadas, da construção de UPAs e UBS por esse país.
Só para vocês terem ideia, o Mais Médico, que tinha 20 mil médicos quando a Dilma foi impichada, quando eu assumi a Presidência, o Mais Médico só tinha 12 mil médicos. Hoje, já somos 26 mil médicos porque nós queremos levar médicos para todo mundo.
Nós fizemos um pacto com todos os governadores de estado e com todos os prefeitos para a questão das escolas de tempo integral. Nós fizemos um pacto para alfabetizar as crianças na idade certa porque nós queremos que, quando uma criança estiver no segundo ano do ensino fundamental, ela já esteja alfabetizada.
Porque se ela estiver alfabetizada, ela vai poder progredir no terceiro ano, no quarto ano, no quinto ano. Se ela não for alfabetizada na idade certa, ela vai ser sempre uma criança com dificuldade na escola. Então, nós fizemos um pacto assinado por 27 governadores, o ministro da Educação, quase 6 mil prefeitos, de que a gente vai, até 2030, alfabetizar corretamente as nossas crianças na escola para que a gente possa ter um país, sabe, melhor.
Gente, a Bolsa, a Bolsa da Capes, a Bolsa do FINEP, sete anos de reajuste? Essa semana eu fui me despedir dos jogadores, dos atletas que vão para as Olimpíadas. Eu criei um programa chamado Bolsa Atleta, em 2003, para ajudar as pessoas pobres que querem praticar esporte e que não têm dinheiro sequer para comprar um tênis.
Quando o cara é famoso, todo mundo patrocina, mas quando o cara é pobre, ninguém quer patrocinar. Então, nós criamos uma coisa chamada Bolsa Atleta. Só para você ter ideia, 70% das pessoas que estão em Paris, hoje, são pessoas que recebem Bolsa Atleta. São pessoas que recebem.
E eles passaram 10 anos sem dar reajuste. Ou seja, eu fico imaginando, se você tem um governo que não cuida da saúde, se você tem um governo que não cuida da educação, se você não tem um governo que cuida do emprego, se você tem um governo que não cuida sequer do aumento do salário mínimo, por que eles ficaram também 10 anos sem aumentar... Porque o importante é saber a diferença entre o aumento e a reposição inflacionária. Quando você dá no salário a inflação, você está apenas repondo o poder aquisitivo. O aumento a gente está dando quando a gente dá o crescimento do PIB de aumento para as pessoas. Ou seja, é o chamado aumento de mérito, aumento de produtividade.
E nós, nesses dois anos, já aplicamos 11% desse aumento de mérito e vamos continuar aplicando. Porque quando o salário mínimo aumenta, o povo vira consumidor, a classe média vai vender mais coisas, o bar vai vender mais um pãozinho, mais um café, mais uma cervejinha. O shopping vai vender mais alguma coisa, a loja vai vender mais um caderno, mais um lápis, mais uma caneta. As pessoas vão comprar uma blusinha nova, vão comprar um sapatinho novo, vão comprar um chinelo novo.
Aí, o comércio começa a funcionar, o comércio começa a encomendar da indústria, a indústria começa a produzir. Aí, as pessoas começam a receber salário e a roda gigante da economia fica girando, onde todo mundo possa participar definitivamente. O povo consumindo mais vai comer mais. Comendo mais, os agricultores vão ter que plantar mais. Plantando mais, a gente vai ter comida mais barata e a gente vai ser mais bonitão, mais gordo e mais saudável nesse país.
Por isso, eu voltei a governar esse país, porque eu quero provar, mais uma vez, quero provar, nesse um ano e sete meses, nós já tiramos 24 milhões de brasileiros da linha de pobreza e da fome. Vinte e quatro milhões e meio. E vamos acabar outra vez com a fome.
Eu vou contar um caso para vocês, só para vocês terem noção do que aconteceu com esse país. Porque tem gente que fala: “Não, isso é o Lula que fala. Isso é esse tal do PT que fala. Esse tal de comunistas que fala.” Eu vou dizer para vocês.
Vocês todos aqui têm uma parte de gente muito culta, sabe, deve ser professor, deve ser doutor. Vocês vão acompanhar: em dezembro de 2010, esse país chamado Brasil vendia 3 milhões e 800 mil carros por ano. Em 2010, eu deixei a Presidência dia 31 de dezembro. Esse país vendia 3 milhões e 800 mil carros por ano. Eu voltei 15 anos depois, esse país estava vendendo 1 milhão e 800 mil carros por ano. Simplesmente, menos da metade daquilo que a gente produzia em 2010.
O que aconteceu com a economia desse país? O que aconteceu com o desenvolvimento desse país? O que aconteceu com a educação desse país? Tudo desapareceu. Tudo desapareceu, porque eles trocaram tudo isso a troco da fake news, a troco da mentira, a troco da venda de arma. Libera arma para o povo comprar. O povo não quer arma. Quem quer arma é o crime organizado. Quem quer arma são os bandidos desse país, porque o povo não quer, sabe, ficar armado.
Então, esse país mudou, esse país retrocedeu. Esse país ficou 6 anos sem que um presidente do Brasil viajasse para o exterior ou alguém viesse aqui. Ninguém queria. Ninguém queria receber o nosso governo e ninguém queria vir ao Brasil. O Brasil virou pária. O Brasil virou pária. Pois bem, eu resolvi recuperar a participação geopolítica do Brasil porque o Brasil é o único país do mundo que não tem contencioso com ninguém. A gente só briga entre nós mesmos. A gente não quer briga com ninguém. Nós somos da paz.
Pois bem, eu estou há um ano e oito meses na Presidência. Eu já fiz reuniões com 54 presidentes da África. Eu já fiz reuniões com 27 presidentes da América, da Europa. Eu já fiz reuniões com 15 presidentes do CARICOM, que são os países do Caribe. Eu já fiz reunião com 33 presidentes da América Latina. Eu já fiz reunião do G20 com mais 20 países. Eu já fiz uma dos Brics com mais 20 países. E já participei de duas reuniões do G7.
Ou seja, em apenas um ano e oito meses, eu já tive mais contato como presidente da República do que o outro governo jamais imaginou ter.
Aliás, eu vou dizer para vocês uma coisa, Raduan. Acho que, na história do Brasil, nunca teve ninguém que tivesse a quantidade de contato que a gente está tendo, de gente que quer vir investir no Brasil. Você sabe quantos mercados novos nós abrimos para as exportações brasileiras? Cento e sessenta e cinco novos mercados em 55 países. É por isso que a gente está batendo o recorde nas exportações. É por isso que a gente está vendendo mais. E é por isso que tem mais gente querendo vir para o Brasil.
Porque agora o que está na moda é transição energética. E transição energética é com o Brasil. A gente tem 80% da nossa energia totalmente limpa. A gente tem 50% da energia, envolvendo combustível, limpa. A gente tem etanol há 40 anos. A gente tem biodiesel já há 20 anos. E a gente agora quer fazer muita, mas muita coisa de eólica, muita coisa de solar, muita coisa de biomassa e hidrogênio verde, que é o desejo do mundo de acabar com a emissão de carbono para o planeta.
É isso. É isso que o Brasil vai fazer esse ano. É por isso que eu digo todo dia, e vou terminar, Raduan. Eu digo todo dia. Não tem um brasileiro mais otimista do que eu. Eu tenho 78 anos de idade. Pareço um jovem, mas já tenho 78 anos de idade. Mas, bem, eu confesso a vocês que quando a gente tem uma causa, a gente não envelhece. Porque a causa é que mobiliza a gente e motiva a gente.
Por isso, eu queria pedir para vocês, estudantes. Eu sei que, de vez em quando, os estudantes são arredios. Os estudantes não gostam de política. Os estudantes, às vezes, falam: “Não. Porque política não presta. Ah, porque todo político é ladrão. Porque todo político é corrupto.”
Eu sei como é que vocês fazem na casa de vocês. Sei como é que vocês agem quando estão em grupinho. Porque vocês nunca tiveram a minha idade, mas eu já tive a idade de vocês. Então, é mais fácil eu saber como é que vocês pensam do que vocês saberem como é que eu penso.
E o que eu queria dizer para vocês, o que eu queria dizer para vocês, gente, é o seguinte: Ou a gente faz política ou a gente está lascado. Ou a gente faz política... Veja, eu não estou dizendo para vocês escolherem partido, não. Eu estou dizendo que a política é decisão política. Tudo no mundo é decisão política. Se você vai invadir a Ucrânia, é decisão política. Se você vai sair da Ucrânia, é decisão política. Se você vai atirar nos palestinos, é decisão política. Se você não vai atirar, é decisão política. Se você vai combater a fome, é posição política. Se você não vai combater a fome, é posição política.
Por quê? Porque tudo você tem que decidir. É por isso que a política a gente não aprende na universidade. Você não aprende na universidade a tomar decisões políticas. Porque ela depende muito, mas muito, muito, da sua cabeça, do seu dia a dia, da sua intuição, do seu compromisso de classe.
Você quer governar para quem? O Brasil não teria problema nenhum se você quiser governar só para 35% da população. Aí você tem 35% no padrão de classe média, sabe, que tem de tudo, que pode viajar. E o restante? Vai para onde? Então, tem que ter alguém que pense no restante. Tem que ter alguém que pense no restante. E eu só fui eleito porque eu quero provar que o povo pobre desse país não é problema. O povo pobre é solução na hora que eles participem do processo de desenvolvimento.
Por isso, eu quero terminar dando um aviso aqui, aos nossos jovens, meninas e meninos, que são o futuro desse país. Quando vocês acordarem azedo – tem dia que acorda a azedo, tem dia que acorda acabrunhado, nada está bom, o café da mãe não está bom, o feijão da mãe não está bom, ou seja, tem dia que a gente acorda meio virado do avesso. Quando vocês tiverem esse dia, mesmo assim, não desistam da política. Não desistam.
Escolher uma reitora é uma decisão política. É.
Escolher alguém é como escolher um síndico de um prédio. Parece banal, mas se você não escolher um síndico que seja leal aos outros condôminos, ou seja, o prédio vai ser uma zorra. Então, tudo é decisão política. E como eu acho que o Brasil está precisando de políticos de qualidade, de políticos com P maiúsculo, eu queria dizer para vocês, quando vocês não estiverem acreditando em ninguém, quando vocês acharem que todo mundo é ladrão, que o Camilo é ladrão, que o Lula é ladrão, que o Raduan é ladrão, que o Paulo Teixeira é ladrão, mesmo quando você estiver aí pensando tudo isso, ainda assim, não desanime.
Entre na política porque o político honesto que você deseja está dentro de você. Assuma. Assuma. Assuma o compromisso. Assuma o seu compromisso e vamos à luta, companheiros. E vamos à luta porque nós vamos fazer com que este campus aqui tenha 11 cursos universitários, que é um desejo de vocês, e nós vamos garantir que isso aconteça.
No mais, um beijo no coração, um abraço a todos vocês. Que Deus abençoe cada um de vocês. Obrigado.