Pronunciamento do presidente Lula durante visita a obras do Quarteirão da Educação, em Diadema (SP)
Hoje nós estamos terminando um compromisso que nós fizemos com a minha agenda: eu precisava visitar uma série de lugares, tudo até o dia 5 de julho, quando ainda os prefeitos podem participar em alguma atividade, porque a partir da manhã nenhum prefeito mais pode subir no palanque que eu tiver, porque vão dizer que é campanha eleitoral.
E por que eu fiz isso? Eu já fui a Minas Gerais, já fui ao Rio de Janeiro, já fui a Pernambuco, já fui à Bahia, e agora estou aqui em Diadema, fui a Campinas ontem, inaugurar várias coisas, dentre as quais também obras de mais de bilhões de reais. E em Diadema nós vamos anunciar o instituto. Nós estamos fazendo mais 12 institutos em São Paulo. Nós temos um em Franco da Rocha, nós temos um em Diadema, temos um em Mauá, temos um em Santos, temos um em Carapicuíba, temos um em Cotia, temos um em Ribeirão Preto, São Vicente, Sumaré e Hortolândia.
Ou seja, são mais 12 institutos que nós estamos fazendo. E se tudo der certo, isso só em São Paulo, mais 12, no Brasil são 100, e quando a gente terminar esses 100 nós teremos entregues ao Brasil 782 institutos federais, contra 140 que nós encontramos em 2003. 140 feitos no século, nós fizemos em 15 anos três vezes mais.
A segunda coisa é falar um pouco de educação. É bastante claro que não há nenhuma perspectiva desse país se transformar num país desenvolvido, num país competitivo do ponto de vista do conhecimento científico e tecnológico, do ponto de vista da transição energética, do ponto de vista da geração de emprego de qualidade, se a gente não investir na educação. O que faz uma pessoa ter salário bom é a pessoa ter uma bela de uma profissão, se tornar especialista em alguma coisa e com essa especialidade ele ganhar a sua vida.
São poucas as pessoas que ganharam muita oportunidade sem trabalhar. Sem estudar. Eu sou uma delas que virei presidente da República, o Silvio Santos é outra que conseguiu ficar importante vendendo carteirinha na rua e o Amador Aguiar, presidente do Banco do Bradesco, que também não tinha diploma universitário.
Isso demonstra que a gente não pode arriscar na sorte. A gente tem que estudar. E estudar enquanto pode, enquanto tem tempo de estudar. Porque depois que uma menina ou um menino casa, constitui família, fica tudo mais complicado. Então nós temos que aproveitar a idade. Por exemplo, nós descobrimos que 68%, 78 milhões de brasileiros e brasileiras, não terminaram o curso primário.
Sessenta e oito por cento são quase 100 milhões de habitantes que não conseguiram terminar o curso primário. Nós descobrimos que 480 mil crianças na idade do ensino médio estavam desistindo da escola para que elas pudessem ajudar no orçamento familiar. Nós descobrimos que no Brasil as crianças não são alfabetizadas até o segundo ano de escolaridade (no ensino fundamental). Nós construímos um pacto com os 6 mil prefeitos, com os 27 governadores para ver se até 2030 a gente, no mínimo, consegue fazer com que 80% das crianças no ensino fundamental sejam alfabetizadas até o segundo ano.
E por que essa preocupação? Essa preocupação é porque se uma criança não conseguir se alfabetizar nos primeiros anos de escola, essa criança vai ter sempre problema daí pra frente. É como se uma criança não comesse. Uma criança que não come e não ingere a quantidade de proteínas e calorias necessárias para o corpo humano, as vitaminas necessárias, essa criança pode ter problema. E uma criança com problema tem mais dificuldade do que uma criança que não tenha problema.
Então nós temos que aproveitar e cuidar. Cuidar com muito carinho e, sobretudo, tem gente que não gosta quando a gente fala, mas sobretudo cuidar para as pessoas mais pobres. É porque tem um tipo de gente no Brasil que não precisa do Estado. Tem um tipo de gente que ganha bem. Tem um tipo de gente que está com filho em uma escola boa, particular. Tem pessoas que conseguem dar um padrão de vida bom para os filhos. Isso é invejável e é ótimo que a gente tenha cada vez mais.
Mas, na periferia desse país, muitas vezes as crianças são filhos de pai e mãe analfabetos, que não conseguem orientar essa criança na escola, que não conseguem ajudar na tarefa de casa. Então essa criança sempre estará mais retardada do que as outras no aprendizado. E também, companheira Ana, você que é secretária de educação, nós temos que cuidar da qualidade dos professores.
Porque o professor bom não é aquele que entra em uma sala de aula e fala 45 minutos sem parar e vai embora sem se preocupar se as pessoas entenderam o que ele falou. Por isso que eu sou um cara que defendo provas, provas e provas, para que a gente teste para saber se as crianças estão aprendendo.
Porque não adianta dar aula se as crianças não aprendem. Não adianta dar aula. Uma criança que tem uma família preparada, um pai e uma mãe mais formados, ele consegue aprender em casa muita coisa. Mas na periferia desse país não é assim. Não é assim. Muitas vezes as pessoas têm dificuldade até de ter o que comer. Então o Estado tem que cuidar.
Lamentavelmente, eu sei que tem muita gente que gostaria que todo o dinheiro público fosse canalizado para o superávit primário. Eu sei que tem muita gente que gostaria que os banqueiros não tivessem nenhum problema de dinheiro. Mas não é essa a minha preocupação. Eu fui eleito para cuidar do povo mais necessitado desse país.
Embora a gente tenha que governar para todo mundo. Então a gente está conseguindo fazer aquilo que deveria nunca ter parado, que foi o que nós fizemos, entre o meu mandato e o da Dilma Rousseff, que lamentavelmente foi truncado. Eu participei do primeiro CEU (Centro Educacional Unificado), que a Marta Suplicy fez em Guaianazes (zona leste de São Paulo) quando ela era prefeita. Eu saí da inauguração, Felipe, boquiaberto, de ver a Marta, uma mulher de classe média-alta, como a gente diz na língua popular, uma mulher chique. A Marta tinha a preocupação de garantir às pessoas da periferia uma escola de qualidade igual àquelas das crianças que estão numa escola particular de classe média.
Porque é isso que significa garantir oportunidade para todas as pessoas. Nós encontramos quase 6 mil obras paradas. Só de casas do Minha Casa, Minha Vida foram 87 mil casas paralisadas. Eu estou entregando casa agora que poderia ter sido entregue em 2014. E nós tivemos que chegar, tivemos que refazer o projeto, refazer o contrato, para a gente poder fazer essas coisas. Deu trabalho, mas valeu a pena. Porque hoje eu tenho consciência, companheiro Moisés, tenho consciência de que nós, em 18 meses, já fizemos mais do que muita gente fez a vida inteira governando esse país.
Eu tenho orgulho de chegar em qualquer cidade, em qualquer estado do Brasil. Eu tenho orgulho de perguntar o seguinte: já houve um presidente da República que colocasse a quantidade de dinheiro que nós colocamos em Diadema? Já houve um presidente da República que colocasse em São Bernardo? Que colocasse em Santo André? Que colocasse em Mauá? Ou seja, por que que a gente faz isso?
A gente faz isso porque não é possível você governar de Brasília. É importante que a gente saiba que os problemas estão nas cidades. A pessoa mora na cidade, a rua é na cidade, a educação é na cidade, o transporte é na cidade, tudo é na cidade. Então nós temos que trabalhar em parceria com os prefeitos, Marcelo, para que a gente possa ajudá-los a fazer as coisas. Portanto, vocês se preparem para ganhar a eleição. Se preparem e aproveitem. Aproveitem que vocês me têm na Presidência da República.
Porque o Felipe sabe, aquilo que o companheiro Camilo (Camilo Santana, ministro da Educação) disse do projeto, uma coisa que os prefeitos têm que aprender: não adianta fazer discurso que a prefeitura precisa de R$ 300 milhões para fazer isso, fazer não sei das quantas. Isso não traz dinheiro. O que traz dinheiro é a substância do projeto.
Eu duvido, eu sempre comparo os projetos bem feitos com fotografia de batizado de criança. Você vai batizar um filho, tem um fotógrafo tipo Stuckert, tirando foto, tirando foto, tirando foto. Aí quando termina o batizado, vem um cara e entrega um cartão para você. Ele diz: "Esse é meu cartão, você quer as fotos?". A primeira atitude é dizer: "Eu não quero as fotos". Mas o fotógrafo, esperto, ele faz o álbum.
E um belo dia bate palma na casa das pessoas e fala: "Olha, eu queria apresentar o álbum de fotografia do seu filhinho, da sua filha". Todo mundo compra o álbum, todo mundo paga o fotógrafo. É isso que é um projeto. Quando você faz um projeto que tem cabeça, sabe, tem começo, meio e fim, fica muito difícil o governo recusar, fica muito difícil o ministro recusar.
Aqui nós já fizemos o quarteirão da saúde. Eu lembro o quanto que esse Felipe mexia os pacotes, sabe, porque ia terminar o meu mandato e ele falava: "O quarteirão da saúde, o quarteirão da saúde". Nós viemos aqui colocar tanto ou mais dinheiro do que já colocamos aqui nesse negócio. E a gente não coloca por favor, a gente coloca por obrigação. A gente coloca por consciência de que as pessoas têm necessidade. Então, gente, eu vou terminar por aqui porque eu vou vir na inauguração. Se for antes da eleição, o Felipe não vai poder participar, então nós vamos inaugurar sem ele. É isso. Se você trabalhar, a gente vai inaugurar sem você. Se demorar para passar as eleições, aí você pode participar da inauguração.
Eu estava dizendo para o Felipe que a gente tem que tomar muito cuidado. Nós temos que explicar para o povo de Diadema que uma escola dessa qualidade será feita em todos os bairros de Diadema. Porque senão as pessoas dos bairros que não estão recebendo uma escola dessa vão ficar putas com o prefeito e vão ficar com raiva de que nós estamos privilegiando tal vila, tal bairro.
Então eles sabem disso porque quando a gente inaugurou o quarteirão da saúde eles sabem que pouco tempo depois a gente estava sofrendo problemas porque a gente não conseguiu equipar 100%. E aí a pessoa vê o quarteirão da saúde, aquela coisa famosa. Aí o cara chega para fazer uma ressonância magnética e não tem? O cara fala: "Bela coisa que você fez aqui". Então aqui tem que funcionar, cara. Quando você inaugurar, isso aqui tem que ser o time do Corinthians. Funcionar. Ir para frente e ganhar o jogo.
Eu termino a minha fala. Essa semana foi uma semana muito extraordinária. Essa semana eu fui entregar uma casa em Pernambuco. Para um cidadão com 53 anos de idade, uma mulher de 40, com 10 filhos. As crianças nunca tinham dormido numa cama. As crianças nunca tinham dormido num colchão. As crianças nunca tomaram um banho de chuveiro. Acho que nunca utilizaram um vaso sanitário. Quando nós abrimos a porta da casa e entrou o pai, a mãe e os filhos, a molecada ficou ensandecida. A molecada quase destrói a casa.
Porque era tudo novidade. Era o colchão, era quatro beliches. Eles queriam pular o beliche, encontraram uma caixa de brinquedos. Você tem que ver. Eles nunca tinham visto aquilo. E eu fico pensando quantos brasileiros estão nessa situação. E é o Estado que tem que cuidar. Essa gente não chega no banco, não tem crédito. Essa gente não tem financiamento. Essa gente, na verdade, quando eles estão na rua, com a sua carrocinha, catando papel, muitos nem olham para a cara deles. Viram as costas, desprezivelmente, para não se misturar.
E quem é que pode cuidar dessa gente? É o Estado. Por isso, companheiros, eu vou terminar dizendo pra vocês o seguinte. A minha relação com Diadema é muito antiga. Eu venho aqui muito antes de 80% das pessoas que estão aqui terem nascido. Eu vinha entregar boletim do sindicato dos metalúrgicos de Diadema em 1969, Eduardo. E eu vim aqui amassar barro, porque nenhuma rua tinha asfalto. Aqui todo asfalto que você vê, todo poste que você vê, toda guia que você vê, toda sarjeta, foi o PT que fez. Seja com o Gilson... Esse é o dado. E seja com o Gilson, com o Zé Augusto e com o Felipe.
Eu lembro que a gente vinha. Eu lembro que eu era convidado de vez em quando para comer uma buchada na casa do Zé Augusto. E você sabe quem é nordestino que come uma buchada, sabe que a buchada pesa na barriga depois que você come. E a gente comia a buchada. E pegava uma bandeira do PT. A gente ia fazer caminhada nas ruas de Diadema.
E eu lembro que o prefeito falava assim pra mim. Ô Lula... Eu não era presidente ainda: "Ô Lula, tá vendo aquela guia? Foi o PT que fez. Tá vendo aquela sarjeta? Foi o PT. Tá vendo aquele poste? Foi o PT que fez. Tá vendo aquilo? Foi o PT que fez". E aquilo era verdade. Porque eu conheci essa cidade. Só tinha asfalto na Antônia Piranga. Esse hospital que hoje é o hospital da (inaudível), era um hospital que tinha uma rua com um asfalto muito precário, não tinha nem acostamento. Então, eu digo sempre. O PT transformou Diadema de uma cidade dormitório em uma cidade bonita e que as pessoas têm orgulho de dizer: "Eu moro em Diadema". As pessoas não têm mais vergonha.
E eu tenho mais dois anos e seis meses de mandato. Gente, já passou um ano e seis meses que nós completamos agora. Mas eu posso garantir para você, Felipe: o Paulo Teixeira (ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) sabe, o Marinho (Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego) sabe, o Padilha (Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais) sabe, o Camilo (Camilo Santana, ministro da Educação) sabe. Nesse um ano e seis meses, Meneguelli (Deputado Federal Jair Meneguelli), nós já anunciamos mais políticas públicas do que nós fizemos no passado. Fizemos muito mais. Obviamente que anunciar política pública não significa que ela comece a funcionar no dia.
Isso é que nem um pé de jabuticaba. Não adianta plantar um pé de jabuticaba e ficar perto do pé. "Dá, dá. Eu quero chupar. Dá, dá". Não vai dar. Tem que deixar o tempo passar. Tem que ter muito sol, tem que ter muita água, tem que ter um bom adubo. Aí você colhe até três safras por ano, como eu colhia no meu apartamento, que o companheiro Moisés mora agora.
Eu plantei um vaso, um pé de limão imperial, que está lá plantado. Eu plantei um pé de pitaya, que todo ano dá seis ou sete pitayas por ano, eu trouxe da China pitaya. Plantei num vaso. Estava há mais de vinte anos dando pitaya lá. Já dei pra chácara do Paulo Okamotto. Tudo que o Paulo Okamotto tem lá fui eu que dei para ele a pitaya. Levei agora para Brasília, plantamos um monte de pitaya.
Porque quando a gente planta e a gente vê nascer, é uma coisa maravilhosa. Não tem prazer maior do que você ser administrativo, ser executivo, e você colocar um paralelepípedo no chão e toda vez que você passar, falar: "Esse fui eu que coloquei". E nós estamos fazendo uma transformação no Brasil. Eu quero terminar dizendo pra vocês: eu vivo possivelmente o melhor momento da minha vida.
Olha que eu fui um presidente que quando deixei dia 31 de dezembro o meu mandato, eu tinha 87% de bom e ótimo. Eu tinha 10% de regular e eu tinha 3% de ruim/péssimo. Nunca antes na história do país um presidente terminou tão bem. Agora o mundo político mudou. A coisa está mais polarizada. A coisa está muito mais radicalizada, não no Brasil, no mundo inteiro. Vocês viram na França. A coisa está muito mais radicalizada. Mas mesmo assim, eu quero dizer pra vocês: eu vivo o melhor momento político da minha vida. O melhor, sabe por quê? Porque eu descobri uma coisa. Eu descobri uma coisa, Gilmar, que valida a minha vida.
Uma vez, eu vou contar mais esse caso para terminar. Uma vez eu fui convidado pela primeira vez para ir em Evian. Evian é uma cidade francesa que ia ter a reunião do G7. Eu fui o primeiro presidente do Brasil e da América Latina a ser convidado a participar da reunião em Evian. Eram os sete países mais ricos do mundo, e naquele tempo a Rússia participava. Era G8. Não que a Rússia era a economia forte, que a Rússia tem bomba nuclear. Então ela participava. Então eu fui convidado. Quando eu cheguei na reunião, em Evian, tinha duas coisas que marcaram a minha vida.
A primeira, eu estava acertado com o Celso Amorim, o Kofi Annan. Eu já tinha cumprimentado todos os presidentes. E quando eu me sento, chega o Bush. Quando o Bush chegou, Moisés, todo mundo levantou, como se tivesse chegado Deus. Peguei na mão do Celso e falei: "A gente não vai levantar. Por respeito a nós mesmos. Ninguém levantou quando nós chegamos. Por que que a gente vai levantar para o Bush?". Aconteceu uma coisa. Aconteceu uma coisa fantástica. O Bush sai da mesa de cumprimento dos outros e vai sentar exatamente na mesa que eu estava com o Celso Amorim e com o Kofi Annan. Qual é a lição que eu tenho disso? Ninguém respeita quem não se respeita. Se você se respeitar, todas as pessoas te respeitam.
Terminado esse episódio, ia começar a reunião. Isso era em junho de 2003. Eu tinha só seis meses na Presidência da República. Aí quando eu chego no almoço numa sala, tinha uma coisa como se fosse um aquário. E lá estava Bush, lá estava Tony Blair, lá estava o presidente Fox, lá estava o rei da Arábia Saudita, lá estava o Prodi da Itália, lá estava o Schröder da Alemanha, lá estava o primeiro-ministro japonês. Só gente importante. E aí eu recebi o segundo informe: "Olha, você tem que entrar sozinho. Não tem como entrar com outra pessoa". E eu fiquei pensando: "Pô, como é que eu vou entrar num lugar desse? Eu não entendo espanhol, eu não entendo português. Eu, na verdade, não entendo inglês. Ou seja, como é que eu vou entrar numa reunião dessa?"
Aí o meu intérprete, o companheiro Sérgio Ferreira, que é o melhor intérprete que a gente tem no mundo. O mais leal, o mais competente, que traduz em tempo real. Ele não espera o cara terminar a frase, ele já traduz pra mim. E quando eu falo bobagem, ele corrige. É excepcional. Ele dá mais ênfase do que eu, ele é mais aplaudido do que eu. Porque ele dá muito mais ênfase. Aí o Sérgio falou pra mim: "Lula, é o seguinte, você entra, vai logo lá e coloca o aparelho no ouvido, para você ouvir, e quando alguém tossir para você, eu já respondo". Aí eu fui. Eu fiquei pensando, mas será possível? Aí eu fiquei olhando na cara das pessoas e falei: "Porra, eu tô vendo esses presidentes, tudo gente famosa na televisão. Tô vendo todo mundo lá. Será que alguns caras desses já passaram fome? Será que algum cara desse já ficou desempregado? Será que um cara desse já viu a casa dele encher d'água e colocar sanguessuga na sua canela e lesma na parede? Veio cocô boiando, barata tentando se salvar e rato?" Não, nenhum deles. Eu já tinha.
Então eu falei, sabe o que acontece? Eu sou mais do que eles, eu vou entrar e eu tenho que falar o que eu penso. E por que eu fiz isso? Porque eu descobri que eu não sou eu. Eu descobri que eu sou vocês. E é vocês que estão na Presidência da República desse país. É o povo. É o povo que pela primeira vez teimou, teimou.
E aqui em Diadema, e aqui é uma cidade, Camilo, que eu tenho muita gratidão. Porque aqui nós nunca perdemos uma eleição. Quando a gente perdeu para a prefeitura é porque a gente errou. É bom a gente ter claro que não foi por culpa do povo, foi culpa nossa. Porque aqui é uma cidade em que quando você faz pesquisa, 40% de barato já é petista. Sabe, nós fizemos muita coisa nessa cidade.
Então eu sou muito grato a essa cidade. Mas muito grato. Eu tenho uma gratidão por Diadema, por São Bernardo, por Santo André, por Mauá, porque significa a minha vida. A minha vida faz parte dessa cidade. Então, eu quero que vocês saibam que quando eu estiver fazendo uma coisa errada, ao invés de você falar: "O Lula está errando", você tem que falar: "Eu estou errando. Eu estou errando porque o Lula é o nosso povo na Presidência da República". Se não, não teria sentido eu ser presidente da República. Não teria nenhum sentido para quê? Para receber colar de pedra preciosa? Para quê? Para governar para os de sempre? Então não tem sentido.
Então eu quero dizer para vocês, companheiros, que Deus os abençoe. Que Deus dê a vocês muita força e que Diadema continue sendo uma cidade próspera. E que o Felipe cuide de vocês com o mesmo carinho que ele cuida da mulher dele e dos filhos dele. Porque governar é cuidar. E cuidar é a gente ajudar os que mais necessitam. É preciso a gente governar como se fosse o coração de uma mãe. Ou seja, uma mãe pode ter dez filhos. Ela vai tratar todos iguais. Ela vai achar os dez bonitos. Mas se tiver um frágil, se tiver um com probleminha, é aquele que está com probleminha que ela vai fazer um chamego a mais. Que ela vai dar um cafuné a mais.
Então, Felipe, nós temos que dar um cafuné para o povo brasileiro que não teve a sorte de estudar, que não teve a sorte de ter uma profissão e que vive muita gente perambulando pelo mundo atrás de uma oportunidade. Ninguém é burro. Ninguém é burro. Ninguém nasce burro. A verdade é o seguinte: a gente não tem oportunidade. Quando a gente dá oportunidade, a gente percebe que o filho de uma simples empregada doméstica que trabalha na tua casa, Inês, ela é capaz de competir em qualidade no Enem com o teu filho.
Teve esses três meninos que falaram aqui hoje. Teve essas três crianças que falaram, quatro crianças, porque tem uma adolescente aqui no meio. Você viu o jeito de elas falarem? O Paulo Freire dizia: "Ô Lula, quando a criança come, ela fica inteligente". E é isso, é verdade. Se as crianças comerem, todas as crianças serão inteligentes. E se tiverem prefeitos comprometidos em cuidar da parte mais necessitada sem esquecer dos outros, porque temos que governar para todo mundo, a gente vai mudar a cara desse país.
Por isso, Felipe, parabéns. Parabéns pelo Quarteirão da Educação. E pode ficar certo que o Governo Federal vai contribuir para que você possa inaugurar isso, para que você possa inaugurar o hospital e para que você possa fazer mais coisas. Porque esse povo de Diadema merece.
Um beijo no coração para todos vocês.