Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento da pedra fundamental do Projeto Orion em Campinas (SP)
Eu mesmo vou me apresentar.
Companheiras e companheiros, eu quero cumprimentar a minha querida Luciana Santos [ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação], a Nísia Trindade [ministra da Saúde], o Márcio França [ministro do Empreendedorismo]; o nosso querido deputado Carlos Zarattini e o nosso querido deputado Jonas Donizette; cumprimentar o nosso querido Dom João Inácio Muller, arcebispo metropolitano de Campinas; meu querido Aloizio Mercadante [presidente do BNDES]; Wandão Almeida, vice-prefeito de Campinas; deputadas Márcia Lia e companheira Ana Perugini; nosso querido Antônio José, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa e Energia e Materiais (CNPEM); companheiro José Paulo Porsani, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia de São Paulo; nosso querido Pedro Tourinho, ele não tem uma nomenclatura, não sei o que você é.
Então, é o seguinte, ele vai assumir o cargo de deputado federal, porque o Rui Falcão de se afastou para ele assumir o cargo de deputado federal. Então, vocês estão tendo aqui um novo deputado federal que na segunda-feira estará com vocês lá em Brasília. E quero cumprimentar os companheiros funcionários, os nossos pesquisadores, nossos diretores de área, nossas pesquisadoras, nossos companheiros professores, alunos e alunas e professoras.
Eu, na verdade, eu não queria falar. Não sei se vocês perceberam que o ritual aqui era falar o nosso chefe aqui, depois falava Luciana. Mas eu pensei que a pedra fundamental era uma coisinha pequena para a gente enterrar em algum lugar e veio um pedrão daquele. Eu ainda tenho uma atividade hoje em Campinas, mas eu queria que… o Aloizio Mercadante vocês sabem, ele foi senador do estado de São Paulo, foi deputado federal, foi assessor econômico da CUT, foi ministro de Ciência e Tecnologia da Dilma, foi ministro de Educação da Dilma, foi chefe da Casa Civil da Dilma.
A Nísia vocês conhecem e o Márcio vocês também conhecem, porque o Márcio foi governador de vocês aqui em São Paulo, foi prefeito de São Vicente, foi deputado federal e quase vai pro Senado, não foi por azar, mas de qualquer forma, como você é jovem, você tem chance ainda. Então, eu achava que era importante eles terem falado, por isso eu vim aqui garantir que eles falassem.
Mas eu queria dizer uma coisa para vocês. Eu, de vez em quando, eu fico imaginando como é que este país poderia ser muito mais poderoso do que é, se a gente acreditasse um pouco mais na nossa capacidade, se a gente não tivesse complexo de inferioridade, que eu costumo dizer complexo de vira-lata, se a gente acreditasse que é possível fazer. Porque você veja uma coisa... Um país que teve a capacidade de, em 1973, em pleno Regime Militar, criar uma Embrapa, não é pouca coisa. Isso demonstra que nós temos pesquisadores de qualidade.
Um país que foi capaz de criar um banco de desenvolvimento, como o BNDES, um país que foi capaz de criar um banco como o Banco do Brasil, um banco como a Caixa Econômica Federal. Um país que foi capaz de criar a política de etanol que nós criamos por causa da crise do petróleo em 1973. Um país que foi capaz de sair na frente para criar o biodiesel.
Eu não esqueço nunca, o dia em que o Roberto, o ministro da Agricultura, entrou na minha sala para dizer: “presidente, nós poderemos fazer uma revolução nesse país. Nós vamos anunciar que a gente vai começar biodiesel”. Na época, eu não tinha noção de que a gente poderia produzir biodiesel. A gente não queria de soja, porque soja é alimento. Aí surgiu uma planta para mim chamada pinhão-manso.
O pinhão-manso é uma planta muito parecida com a mamona que ela tinha, historicamente, ela dá em lugares que não chove muito. Eu falei: “bom, então vamos fazer biodiesel de pinhão-manso, vamos fazer de mamona, vamos fazer de dendê, vamos fazer do que tiver”. A gente hoje faz de mamona, a gente hoje faz de soja, porque a capacidade de produção de soja do Brasil é muito grande e a gente não tem porque não fazer isso. Mas o mais importante ainda, um país que teve a capacidade de criar uma estrutura de energia elétrica como o Brasil criou a Eletrobrás. Não é qualquer país.
Esse país que hoje é um dos maiores países agrícolas do mundo. O nosso Márcio disse bem. Muitas vezes a gente encontra uma dicotomia entre o agronegócio e a indústria brasileira. E depois muita gente fala, de certa forma desprezível, como se exportar commodities fosse só ruim. É importante que leve em conta uma coisa. Os avanços da tecnologia na agricultura e os avanços da genética na nossa pecuária. É importante a gente nunca esquecer que a gente matava um boi em 48 meses. Hoje se mata em 15. Um frango se matava em 90 dias. Hoje se mata em 35 dias. A capacidade de produção por hectares aumentou muito. E ainda nós temos o privilégio de ser o país que tem 87% da sua matriz energética renovável e 55% do total da sua energia, incluindo combustível renovável.
Então esse país ainda descobre o pré-sal. Esse país que tem um centro de pesquisa como o CNPEM na Petrobras, que é o segundo mais importante centro de pesquisa do mundo. Eu fico imaginando o que que a gente não poderia ser se a gente acreditasse um pouco no Brasil. Acontece que durante muito tempo não se quis levar muito a sério o Brasil. Nós fomos o último país a acabar com a escravidão, fomos o último país a fazer a independência e tem duas independências.
Tem independência que foi o grito do Imperador, que a gente nem sabe se deu o grito mesmo. Mas está lá dito que foi o grito, tem uma fotografia, uns cavalos. Aquele cara que está no carro de boi naquela foto, acho que sou eu aquele cara, na outra encarnação. Pois bem, mas tivemos a verdadeira independência do Brasil, sabe, que foi o resultado final da expulsão dos últimos portugueses, que foi o 2 de julho, em Salvador, na Bahia, aonde ali houve luta e houve mulheres heroínas, muitas mulheres que lutaram para garantir a independência. Eu, agora, vou tentar transformar os dois dias em ato oficial da Independência.
E mais ainda, vamos ter que recontar a história desse país. Porque nós temos que saber o que representou os Malês na Bahia, temos que saber o que representou a Balaiada, no Pará, temos que tentar mostrar as lutas nesse país, que foram feitas pela Independência. Pernambuco, em 1817, tentou fazer a revolução. Em 1824, tentou fazer a Confederação do Equador. Por conta disso, perdeu metade do território que margeia o Rio São Francisco para a Bahia, por isso o estado de Alagoas, que era de Pernambuco, virou estado. E a Independência foi acontecer quantos anos depois, depois de muita luta. Então, a pressão política fez o Rei fazer a Independência. Gritaram lá, deram o grito, assinaram o documento. Aquele conchavão. Imagina aquele conchavão. Em vez de briga, vamos fazer um acordão aqui e tá tudo bem, fica como está, eu continuo mandando, o país é independente, mas eu continuo mandando. E aí entra a questão da educação.
Vocês não acham muito esquisito que o Brasil foi descoberto em 1500. A América foi descoberta em 1492 e 50 anos depois da descoberta o Peru já tinha a sua primeira universidade, que era São Marcos. E o Brasil só foi ter a sua primeira em 1920. Vocês não acham um pouco estranho que o Brasil demorou tanto para fazer a Independência, para fazer a luta contra a escravidão. Aliás, o direito de voto nós conquistamos somente em 1934, porque uma mulher, no Rio Grande do Norte, na cidade de Mossoró, entrou na Justiça e a Justiça deu o direito dela votar. Se não, nem isso a gente tinha.
Então, a nossa educação ela foi tratada de forma premeditada para que o povo pobre, indígenas e negros não estudassem. A elite que tinha o dinheiro poderia mandar estudar em Paris, poderia mandar estudar em Londres, poderia mandar estudar em Chicago, poderia mandar a Coimbra, em Portugal. O pobre não. O pobre tinha duas coisas, ou ia ser garimpeiro ou ia cortar cana. Ou trabalhar carregando dejetos humanos dos hotéis para jogar nas praias. Isso é o que aconteceu conosco até pouco tempo atrás. Em 1930 não se poderia dançar capoeira no centro do Rio de Janeiro, porque capoeira era considerada uma coisa perigosa. Não se poderia fazer batuque. Porque o samba subiu os morros? Porque eles não podiam tocar lá embaixo. Eles eram afastados, não podia ter batuque, esse negócio de samba. tambor, essa coisa toda, tudo é coisa de pobre, vai lá pra fora.
Então, eu fico pensando se esse país tivesse acompanhado o ritmo dos outros países, a Argentina, em 1920, já tinha feito a sua primeira reforma universitária. E a gente estava criando a nossa primeira universidade. Então, isso significa um atraso que perdura até hoje.
Proporcionalmente, o Chile tem mais estudantes de 17 anos a 24 na universidade do que o Brasil. Proporcionalmente, a Argentina tem mais jovens na universidade do que o Brasil. Porque eu sei como é que funciona no Brasil. No Brasil não estava previsto as pessoas pobres entrarem na educação. E o que aconteceu? O que que aconteceu de fato? O povo teve a ideia de eleger um cara que não tinha diploma universitário. E aí é que eu quero dizer para vocês da minha obsessão pela educação.
Eu, quando acho que a gente tem que fazer mais universidade, e vocês não imaginam o orgulho que eu tenho de ser o presidente da República que mais investiu em educação nesse país, que mais criou universidade, que mais criou laboratório, que mais criou instituto federal, que mais colocou estudante na universidade. Por uma razão muito simples. É porque como eu fiquei muito magoado a vida inteira de não ter tido a oportunidade de entrar na faculdade, eu resolvi que nós teríamos que garantir que o filho das pessoas humildes pudesse entrar na universidade. Eu quero um país, eu quero um país em que a gente não tire direito de ninguém. Eu não quero tirar direito de ninguém. Eu não quero supremacia branca nesse país. Também não quero supremacia negra. Eu quero um país de forma civilizada. Um país que tenha diversidade, mas um país que saiba conviver de forma respeitosa entre os seus seres humanos. Mais fraternidade, mais amor, mais carinho, mais democracia, mais paciência, menos armas e menos ódio. Então, esse país é possível de ser construído. É muito possível de ser construído.
Eu lembro, eu tinha quase que uma doença, quando a gente queria colocar pobre na universidade. Porque o Brasil tem uma contradição. Agora diminuiu essa contradição. Mas o Brasil era assim. O filho das pessoas mais ricas estudava no ensino fundamental numa escola de mais qualidade. O filho do pobre estudava no ensino fundamental, nas escolas públicas.
Aí quando chega na hora de fazer o vestibular, o filho do rico passa na federal e o filho do pobre não passa, é obrigado a ir numa particular. Então, é o filho do pobre que paga a universidade que o filho do rico poderia pagar. Eu nem acho que o filho do rico também devesse pagar, se ele pagar imposto correto a gente tem direito de oferecer ensino público e gratuito de qualidade. Eu ficava pensando como é que a gente vai fazer para criar a possibilidade. Cheguei a pensar em liberar o Fundo de Garantia, eu cheguei a pensar em usar o Fundo de Garantia para que a gente pudesse financiar as pessoas para estudarem.
Graças a Deus, foi a Ana Estela, a mulher do Haddad [ministro da Fazenda], que teve a ideia do Prouni. A gente transformar a dívida que as universidades particulares tinham com o governo em bolsa de estudo. E aí aconteceu uma coisa extraordinária.Começou uma revolução na educação desse país. As pessoas negras, indígenas, as pessoas da periferia, as pessoas de escola pública começaram a ocupar o espaço.
É tão forte isso que a USP de São Paulo, que há 20 anos atrás era uma universidade tipicamente, majoritariamente branca, hoje se você for na USP você vai ver a cara do Brasil ali. Ali tem negro, tem pardo, tem pobre, tem rico, ali tem da periferia. É isso que nós queremos. É fazer uma universidade heterogênea com todos os cidadãos e cidadãs desse país participando. Aí depois veio o FIES. O FIES já existia, não fomos nós quem criamos. Mas o FIES era um financiamento feito pela Caixa que ninguém conseguia, por quê?
Porque o aluno chegava para fazer o empréstimo na Caixa Econômica para estudar. Aí a Caixa perguntava: “você trabalha?”. “Não, não trabalho, eu estudo”. “Quem vai pagar se você der o calote?”. “Ah, não sei”. “Tem fiador?”. Não tem. E nem pai quer ser fiador de filho. Nem pai. Esse negócio de ser fiador é complicado. A gente pensa que só acontece com os outros, mas dentro da fábrica, quando a gente mora de aluguel, a gente venceu o contrato de aluguel, a gente vai procurar uma outra casa. A gente acha uma casa, a primeira coisa que os caras pedem é um fiador.
Um fiador ou pagar três meses adiantado. Como o pobre nunca tem dinheiro para pagar três meses adiantado, é mais fácil ele ficar três meses sem pagar, do que pagar três adiantado. Ou seja, a gente pedia para um companheiro. “Ô, Aloizio Mercadante, você não quer ser meu fiador? Ou nosso querido arcebispo, quer ser meu fiador?”. Ele falava: “Eu vou conversar em casa com a família, depois eu te falo”. E nunca mais falava, porque a família não deixa. Então, o que nós fizemos para garantir que a meninada pegasse dinheiro do FIES? O Governo foi o fiador.
O governo acredita de que é possível esses caras pagarem. Obviamente que vai ter calote. Todo mundo sabe aqui. Tem cara que é bom pagador e tem cara que não gosta de dever. Tem cara que se dever 10 centavos, se ele não pagar, ele não dorme. Mas tem cara que se puder não pagar, não paga. Então, esses alunos a gente fez uma aposta e eu pensava assim: se esses alunos derem o calote, a gente sempre tem perspectiva de cobrar deles que eles vão pagar imposto de renda em alguma atividade.
Mas se eu não investir, eles vão ficar mais caros, porque se eu não der para eles perspectiva de futuro, se não der perspectiva de uma profissão, se eu não der perspectiva do instituto federal ou de uma faculdade, esse cara pode ser desencaminhado. A desgraça está pairando no ar, e se a gente não tomar cuidado a gente cai nela. E eu fiquei pensando, será que é mais barato a gente fazer escola ou fazer cadeia. Será que é mais caro cuidar de um aluno numa escola ou cuidar de um preso na cadeia. Porque a gente sempre discute nesse país, custa caro fazer as coisas, custa caro.
Tudo que você vai fazer custa caro. A gente nunca pergunta quanto custa não fazer. Quanto custou não alfabetizar esse país na década de 40? Quanto custou não fazer Reforma Agrária na década de 50? Quanto não custou fazer universidade para todo mundo que queria estudar, estudar, na década de 40, 50, de 60? Não… Custa caro. Por isso é que na primeira reunião de governo eu disse: “ô, vamos acertar aqui entre nós, quando se falar de educação não se utilize a palavra gasto. Educação é investimento, e investimento para esse país se transformar num exportador, não de commodities ou de qualquer coisa mais barata, a gente quer exportar é conhecimento e inteligência”.
É isso que vai colocar o país num padrão de respeitabilidade, competitividade com o mundo, fora disse a gente está perdido. Então, nós estamos tentando fazer uma recuperação do tempo que nós perdemos ao longo de tantos e tantos anos. De tantos e tantos anos. E é por isso que eu anunciei mais 100 institutos federais. Formar técnicos. Nem todo mundo quer ir para universidade, mas formar técnicos, para o cara ter na sua idade, na hora que terminar o ensino médio, ele ter uma profissão. E sabe o que nós criamos? Um programa chamado Pé-de-Meia. Nós descobrimos que 480 mil jovens estavam desistindo do ensino médio, porque eles tinham que ajudar no orçamento familiar. E aí nós decidimos dar uma bolsa para esse jovem, uma poupança.
Então, nós estamos pagando 200 reais por mês, durante dez meses, para os jovens que estão no ensino médio, as pessoas mais pobres, obviamente. Se chegarem nos dez meses e ele tiver comparecimento de 80% e ele passou de ano, ele vai receber mais mil reais. Com dez de duzentos, eram dois mil, mais uma de mil, vai para três mil. Então ele já passa de três mil na poupança, se ele não comer os duzentos. No ano seguinte, a gente faz a mesma coisa. Mais dez de 200, no final do ano mais uma de mil.
No terceiro ano, a mesma coisa. Ele vai terminar o ensino médio, se ele for cuidadoso, com uma poupança de 9 mil reais para ele começar a vida dele. E aí aparecem os analistas, os analistas de mercados, os comentadores, os críticos. “Não! Mas isso é jogar dinheiro fora, gastar dinheiro com ensino médio, pagar para aluno estudar!”. E eu fico pensando o que custa mais caro, o que que é melhor para o país. É eu colocar esse dinheiro para garantir que ele esteja na escola ou amanhã eu ter que fazer mais cadeia para colocar ele na cadeia, e mais tratamento para tratar das pessoas viciadas em drogas, e mais dinheiro para tirar do crime organizado. É apenas uma questão de opção.
E essa opção não é econômica. Essa opção a gente não aprende na escola, não aprende na universidade, essa é opção política, pura e simplesmente política. É por isso que eu, às vezes, fico chateado de ver político ter vergonha de ser político. Ou seja: a coisa mais importante é você saber tomar decisão política e elas custam caro. Elas custam caro. Mas você tem que tomar porque ela que define a cara do país que você quer, a cara do povo que a gente vai ter, a nossa formação política.
Vocês viram uma declaração do Mbappé [jogador de futebol francês] na França? Aquele jogador que foi contratado pelo Real Madrid, eu pensei que ele vinha para o Corinthians mas o Corinthians não está pagando salário nem dos que estão lá, como é que ele vai pro Corinthians. Então, ele preferiu ir para o Real Madrid, deixou meu coringão aqui solito, solito, solito. Mas ele fez uma declaração exorcitando o povo francês a não permitir que os fascistas, os nazistas, a extrema-direita voltem a governar a França, porque ele sabe o que é o nazismo, porque viveram na pele a ocupação nazista na França.
Um jogador de futebol, que poderia ser igual tantos outros. Não. Mas ele teve uma formação. Ele aprendeu aquilo na escola ou aprendeu aquilo com o pai ou a mãe. Hoje eu vi o Raí [ex-jogador de futebol brasileiro], o Raí fazendo discurso em Paris, não sei se vocês viram. Extraordinário, porque, veja, se a gente não tomar decisões políticas corretas, a gente vai errando uma atrás da outra. Às vezes tem muita crítica, a gente não faz as coisas porque tem medo. Ah, mas se vai criticar. Eu vou contar um caso para vocês.
Vocês viram a questão da saidinha, que eu vetei a saidinha das pessoas que estavam presas para as pessoas visitarem a família. Quase que por unanimidade o Congresso Nacional aprovou aquilo. E eu tomei a decisão que eu ia vetar por uma questão de princípio. Se a gente acredita que a família é a base da sociedade e é o primeiro pilar da democracia que a gente acredita, como é que eu, enquanto chefe de Estado, vou permitir que um cara que está preso por cometer um delito, e quando ele comete um delito ele vai preso não pra piorar, para melhorar, a perspectiva da prisão é tentar recuperá-lo para trazer de volta para a sociedade.
Como é que eu posso deixar o cidadão, sabe, que não cometeu nenhum crime hediondo, que não fez estupro, como é que eu posso impedir esse companheiro de ver a família? Porque a família é um dos elos que vai recuperá-lo. É a família que vai tentar comover esse cara para ele parar. Mas aí o pessoal derrubou o meu veto. Então, não tem saidinha. Tem porque a Constituição garante, já existe uma garantia por lei.
Aí entra um monte de discussão que não tem nada a ver. E eu tomei uma decisão de voltar para a Presidência para discutir somente o principal. E é por isso que vocês podem ter certeza: não faltará dinheiro para a educação nesse país. Não faltará dinheiro, porque a educação é o oxigênio que faltou na época da Covid para o povo brasileiro. A educação é inteligência que não deixaram o povo brasileiro adquirir no tempo da escravidão.
Educação é, na verdade, o passaporte que a gente pode garantir para o futuro desse país. E como todos nós temos responsabilidade, eu quero deixar para os meus netos, para minhas bisnetas, um mundo infinitamente melhor, mais humanista, mais saudável, mais democrático do que aquele que eu recebi dos meus pais.
E eu acho que é isso que deve prevalecer na nossa cabeça: que mundo que a gente quer. Que mundo que a gente quer. E é isso que me faz ficar orgulhoso de vir aqui, participar de um lançamento de pedra fundamental de um centro de pesquisa extraordinário como esse, e um laboratório em que não tem similar no mundo. Eu tenho orgulho de falar, somente o Brasil tem. Eu tenho orgulho de falar, o melhor do mundo. Agora eu estou muito mais orgulhoso porque agora eu não sou mais um país de terceiro mundo. Agora sou do Sul Global. Sul Global, sabe?
Então, companheiros, hoje é um dia gratificante, porque a coisa mais extraordinária que você tem quando você governa um país, uma cidade, é você ver que árvore que você plantou está dando frutos. O prazer de chupar a laranja da árvore que você plantou, o prazer de chupar a jabuticaba do pé que você plantou, o prazer de você comer uma coisa que você fez é muito importante.
Então uma coisa que eu mais tenho orgulho é quando eu entro, a quantidade de jovem que me abraça e fala: “Lula, obrigado, por causa do Prouni, eu sou médico, por causa do Prouni eu sou engenheiro, por causa do Prouni eu sou psicólogo, por causa do Prouni eu sou professor, por causa do Prouni eu sou advogado”. Sabe, é uma coisa extraordinária. É uma coisa fantástica você saber que as pessoas aproveitaram a chance.
É só o governo do Lula que faz isso, da Dilma? Não. Mas acontece que nós fazemos com mais rapidez. Eu vou terminar dizendo para vocês: esse país teve o primeiro instituto federal feito em 1909, na cidade de Campos dos Goytacazes, feito pelo presidente Campos Salles. De 1909 a 2003, quando eu cheguei na Presidência, tinha 140.
Eu vou deixar o mandato agora com 782 institutos federais nesse país para garantir que as pessoas possam resolver o problema desse país. Eu agora, com essa maquete que eu ganhei, com essa maquete que eu ganhei você vai ver o fuzuê que eu vou fazer. Eu vou andar com essa maquete dizendo: “vocês conhecem isso aqui? Vocês conhecem o que é o Orion? Tá aqui, ó!”.
É uma coisa extraordinária que coloca o Brasil na vanguarda para descobrir tantas coisas importantes. Então, eu quero agradecer a Deus de ter permitido que eu viesse aqui em 2008 com o Sérgio Rezende e tivesse a ideia de inventar: “Vamos fazer, vamos bancar, vamos fazer”.
E tem mais a ideia de voltar 15 anos depois, pô, 15 anos depois, mais de 15 anos. 2008. São 16 anos depois. Voltar aqui e dizer para vocês: “vamos fazer mais! Vamos fazer mais, vamos fazer melhor e vamos fazer porque esse país não pode retroceder. Esse país tem que se transformar num grande país, numa economia forte, num povo bem formado e bem preparado e isso depende de gente inteligente como vocês.
Um abraço, gente, que Deus nos abençoe e que garanta um bom futuro para esse país.