Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de novas ambulâncias do SAMU em Salto (SP)
Querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Companheiras e companheiros ministros de Estado que me acompanham, a nossa companheira Nísia Trindade, ministra da Saúde; o nosso companheiro Márcio França, Ministério do Empreendedorismo, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte; nossa querida Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia e Inovação.
Companheiro senador Chico Rodrigues, obrigado pela presença aqui; companheiros deputados federais, Carlos Zarattini e Orlando Silva, obrigado pela presença de vocês aqui. Deputadas e deputadas estaduais, eu queria cumprimentar a nossa querida companheira Márcia Lia, que está aqui também; o Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada da Saúde do Ministério da Saúde. Prefeitos e prefeitas Ana Lúcia, de São Luiz do Paraitinga; Jô Silvestre, de Avaré; Thales Gabriel, de Cruzeiro, Nando Cardoso, de Ibiassucê; companheiro Thiago Gonçalves de Lima, de Xexéu.
Companheiro Caio Bernardo, assessor do Departamento de Atenção e de Urgência do Ministério da Saúde; Leandro Soares, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba; Márcio Rodrigo de ngelo, diretor de estratégia de Flash Engenharia, Márcio Barbieri, presidente da Associação Paulista de Municípios, a nossa querida Tamara, enfermeira que fez uso da palavra; a Carolina Maluf Garcia, operadora multifuncional de Flash Engenharia, companheiros e companheiras.
Eu estava dizendo para a minha ministra Nísia que a coisa mais extraordinária na vida de um político é quando ele planta uma coisa e ele consegue colher aquilo que ele plantou. É como qualquer um de vocês, que tem no quintal vontade de plantar um pé de mamão, um pé de laranja, um pé de carambola, um pé de romã, um pé de qualquer fruta e de jabuticaba. A coisa mais prazerosa é quando você vê que deu a primeira safra e você chupa uma fruta da planta que você plantou.
O SAMU pra mim significa isso. Antigamente, os prefeitos de todo o território nacional viviam num desespero muito grande, porque não tinha ambulância para levar as pessoas às outras cidades que tinham hospital, porque muitas vezes tinha que pagar táxi para levar as pessoas. E eu conheço cidades como a minha, em São Bernardo do Campo, em que era luxo um vereador ter ambulância para ele, vereador, cuidar das pessoas. Isso acabou. Acabou por quê? Porque nós tomamos a decisão de que o Estado brasileiro tem que assumir a responsabilidade de cuidar do seu povo.
E é por isso que nós criamos o SAMU, para dar conforto, para dar a ideia de responsabilidade, para dar a ideia de compromisso. Ninguém pode morrer por falta de assistência. Ninguém pode morrer porque demorou muito para tirar a pessoa que estava ferida numa estrada. Ninguém pode morrer porque não aparece uma ambulância. Então nós decidimos que era possível mostrar ao mundo que o Brasil não é um país pequeno. O Brasil é um país grande. O problema desse país é que muitas vezes ele foi governado por gente que tinha pouca massa encefálica na cabeça e não pensava corretamente, sabe, sobre o futuro do seu país.
Como é que você pode imaginar ficar dez anos sem renovar a frota do SAMU? Porque uma ambulância, ela tem que estar bem de manutenção, ela tem que estar boa. A hora que ligou o motor, ela tem que pegar. Da mesma forma que o motorista tem que estar acordado, a ambulância tem que estar acordada. Ligou, pegou, e vai salvar vida. Agora, como é que pode você chegar numa cidade e ter uma ambulância, sabe, escancarada, o motor não presta... Tem gente que rouba até motor, sabe?
Então nós resolvemos, depois de um longo e tenebroso inverno, nós resolvemos renovar outra vez a frota do SAMU. Renovar, porque essa companheira, essa companheira ministra, que foi presidente dos maiores laboratórios do Instituto Fiocruz, ela não brinca em serviço. Ela veio para melhorar o serviço de saúde ofertado pelo Brasil.
E é importante que o povo muitas vezes, sabe, lembre: não tem nenhum país do mundo com 100 milhões, com mais de 100 milhões de habitantes, não tem nenhum país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um sistema universal de saúde como o SUS que foi criado por nós na Constituição de 1988. Não tem. E muitas vezes a gente fica vendo o SAMU apenas pelo noticiário. Só aparecia na televisão e no jornal aquele caso que não era atendido.
Então as pessoas, mesmo que não frequentassem o SAMU, achavam que o SAMU não valia nada, porque mostrou uma pessoa que não foi atendida, mostrou uma pessoa dormindo no corredor. Mas outras 800 pessoas que foram salvas, não se mostrava. Aí veio a Covid. E a Covid, ela veio num momento em que a gente tinha um governante irresponsável, que brincou com a saúde do povo brasileiro. E quem é que evitou uma desgraça maior nesse país foi exatamente a existência do SAMU, as nossas enfermeiras, os nossos enfermeiros, os nossos funcionários, que muitos perderam a vida tentando salvar vida.
Não foram poucas as pessoas que perderam a vida tentando salvar a vida de pessoas que nem conheciam. Mas a responsabilidade da função fazia com que essas pessoas crescessem. E o SAMU saiu da Covid. É verdade que nós perdemos mais de 700 mil pessoas. É verdade que tem gente que tem responsabilidade pelo menos pela metade. Porque eu nunca vi, eu nunca vi na história da sociedade brasileira alguém receitar remédio sem anuência dos médicos. Eu nunca vi alguém inventar remédio para malária para cuidar da Covid, mas nesse país se inventou tudo e se contou tudo que é mentira. Graças a Deus prevaleceu a verdade e o SUS está aqui, orgulhoso de servir ao povo brasileiro.
Eu também estava dizendo para a Nísia que quando eu chego numa cidade qualquer, que eu vejo a ambulância e eu vejo os médicos e os enfermeiros do SAMU, eu fico orgulhoso. Sabe o que eu penso? Fui eu na Presidência da República que criei essa bênção de Deus para salvar pessoa nesse país. Então, eu fico, eu quero que vocês saibam que toda vez que eu ver um de vocês, vocês podem saber que o meu coração vai bater muito mais forte, porque eu sinto orgulho, orgulho de verdade do trabalho que vocês prestam.
E aos empresários, aos empresários eu quero dizer que a gente tem mais 1.780 ambulâncias para fazer. E depois dessas, já vai ter outras que vão ser envelhecidas, a gente vai ter que renovar a frota. Renovar a frota para nós é uma obrigação ética, é uma obrigação moral, da mesma forma que o prefeito tem que cuidar da sua ambulância como ele cuida da sua roupa. Não pode deixar a ambulância ter problema, não pode deixar a ambulância ficar sem manutenção.
Não pode, porque a ambulância do SAMU foi criada para salvar vidas humanas que podem ser salvas. E a gente tem orgulho da qualidade da nossa ambulância do SAMU. Vocês não sabem o orgulho que eu tenho a cada vez que eu chego em uma cidade qualquer que está me esperando no aeroporto uma ambulância do SAMU. Eu sempre peço a Deus para não precisar, mas se precisar eu sei que está lá e eu sei que eu vou ser bem tratado.
A outra coisa é a necessidade que nós temos de gerar empregos. Companheiros, eu tenho 27 anos da minha vida dentro de uma indústria. Eu sei o que é um trabalhador com profissão e sei o que é um trabalhador sem profissão. Eu sei quanto ganha um com profissão e quanto ganha um sem profissão. E o trabalho é uma coisa extraordinária, porque não tem nada que dignifique mais um homem ou uma mulher do que ele trabalhar e, no final do mês, ele levar para a sua casa o seu dinheiro para sustentar a sua família, as suas crianças, com o suor do seu trabalho e com o suor do seu sangue.
Essa é uma divindade que ninguém pode tirar do ser humano, e quando eu vejo as pessoas, sobretudo muitas mulheres trabalhando, eu fico pensando: nós precisamos de mais emprego. Mais emprego. Quanto mais emprego a gente tiver, mais a gente vai ter salário. Quanto mais salário a gente tiver, mais a gente vai ter consumo. Quanto mais consumo a gente tiver, mais vai ter gente comprando no comércio. Quanto mais gente comprar no comércio, mais o comércio vai encomendar da indústria. E assim a gente cria um círculo vicioso em que todo mundo trabalha, todo mundo ganha. É a chamada política de ganha-ganha, ninguém perde. Só perde aqueles que não querem fazer nada de bem nesse país.
Por isso, vocês poderiam perguntar, vocês poderiam perguntar: “o cargo de presidente da República é tão importante? Por que que um presidente da República sai de Brasília e vem a uma cidade pequena como Salto entregar ambulância”. Sabe por que que eu venho? Eu venho porque eu trato a questão da saúde como se fosse um filho, eu quero o bem, eu quero que funcione e eu vim aqui para tirar uma fotografia para o povo saber, esse país já teve muitos presidentes, esse país já teve fazendeiro, já teve advogado, já teve sociólogo, já teve empresário, já teve todo mundo, mas é a primeira vez que ele tem um metalúrgico com 27 anos de experiência dentro de fábrica. É a primeira vez.
Então, ninguém precisa ficar analisando se nós somos bons ou ruins. Pega a biografia de todos os presidentes e veja o que foi feito nesse país. Veja o que foi feito nesse país, porque a verdade é que as pessoas mais humildes, as pessoas mais necessitadas, não são levadas a sério, só são levadas a sério nas estatísticas em época de eleição. E nós temos que cuidar das pessoas é a vida inteira.
Gente, ontem, eu voltei de Pernambuco com o coração partido. A Nísia estava comigo, a Luciana estava comigo. Eu fui entregar uma casa de 44 metros quadrados para um homem e uma mulher. Ele com 53 anos, ela com 40 anos, com 10 filhos. Eles nunca tomaram um banho de chuveiro. Eles nunca usaram uma privada, eles nunca tinham dormido num colchão, eles dormiam em papelão.
Então, quando a gente entrega uma casa para uma pessoa como essa, a gente tem noção de que a gente está dando a oportunidade daquela pessoa virar cidadão, ele não é miserável porque ele quis ser miserável, ele não é pobre porque ele quis ser pobre, ele é assim porque o Estado brasileiro não cuidou dele, não cuidou da educação, não cuidou da formação profissional e não é todo mundo que tem oportunidade.
Então eu entreguei uma casa de 44 metros quadrados. Eu falei para ele: “a casa é pequena, a casa é pequena”, mas aí eu contei para ele que quando eu vim de Pernambuco, que eu fui morar em São Paulo num bairro chamado Vila Carioca, quase divisa com São Caetano, onde tem a estação de trem do Ipiranga. Eu fui morar numa casa, eu, minha mãe e oito filhos. Mais três primos. A gente morava numa casa de um quarto e cozinha. Um quarto e cozinha. Eu e meu irmão dormíamos com a minha mãe e com as três irmãs. E os meus irmãos dormiam na cozinha, naquela caminha de armar.
E o banheiro que a gente utilizava era um banheiro público em que o pessoal que vivia no bairro utilizava. Então, vocês imaginam a situação das mulheres entrar naquele banheiro. Eu contei isso para ele, para dizer para ele que ele está dando o primeiro passo na melhoria da sua vida. Ele pode ter uma casa maior, porque a primeira casa que eu comprei do sistema financeiro, Alckmin, no Jardim Lavínia, Rua Maria Azevedo Florêncio, 273, no Jardim Lavínia, em São Bernardo do Campo, a minha casa tinha 33 metros quadrado, e eu morava lá com a Dona Marisa, três filhos, dois cachorros e uma sogra. E vivi bem. Muito bem. Eu nunca fui de me queixar da vida, não.
Eu tinha uma mãe, eu tinha uma mãe que quando a gente não tinha o que comer, ela falava assim: “hoje não tem, mas amanhã vai ter”. Ela nunca foi de reclamar. E assim é que a gente tem que governar esse país. Eu não posso ficar imaginando as coisas que eu não posso fazer, eu tenho que pensar as coisas que eu posso fazer. E vocês sabem que quando a gente tem essa disposição, eu digo sempre o seguinte: o homem ou a mulher tem que construir uma causa, uma razão de viver.
A gente tem que ter uma motivação, levantar todo dia de manhã querendo fazer alguma coisa, querendo fazer algo que não tem nada impossível para o ser humano. Você veja uma coisa, vocês já imaginaram que eu ia convidar o Alckmin para ser meu vice depois de a gente ser adversário, depois de ele ter me derrotado aqui, e depois de ele derrotar o PT, quatro ou cinco eleições aqui em São Paulo? Eu era para ter bronca dele, esse Geraldo só derrotou, derrotou.
Bom, o que eu fiz? Eu preciso governar, não para as pessoas do PT. Eu preciso governar para as pessoas do Brasil. Tem gente de todos os partidos políticos, tem gente que torce para todos os times de futebol, tem gente que frequenta todas as religiões, eu tenho que cuidar dessa gente sem perguntar se ela gosta de mim ou não, se ela é corinthiana ou são paulino ou palmeirense ou santista, se é flamenguista ou vascaíno, se é evangélica ou se é católica, se é evangélica. Eu não tenho que perguntar, eu tenho que cuidar, porque eu tenho que cuidar de gente, eu tenho que cuidar de homens e mulheres e de crianças.
Por isso eu não tenho que perguntar se o governador gosta ou não gosta de mim, eu não quero casar com o governador, eu quero governar esse país. E é por isso que eu venho. É uma pena, porque o governador poderia vir com a gente, mas ele não vem em nenhum lugar que eu convido. Ele não vem.
Hoje, eu vou sair daqui, eu vou sair daqui e nós vamos visitar um terminal do BRT aqui em Campinas. É uma obra que tem investimento da Caixa Econômica e do BNDES. Ele está convidado para vir, mas ele não vem. Ele não vem porque ele diz: ”o dinheiro é do BNDES, não é do Lula. Eu tomei emprestado, eu vou pagar”. O que ele tem que saber? É que o BNDES empresta dinheiro para o governador no meu governo, porque no governo deles não emprestava um centavo.
Em 2008, nós colocamos quase R$ 500 bilhões do Tesouro no BNDES para salvar a economia desse país. Por isso é que nós fomos o último país a entrar na crise e o primeiro a sair. E vocês sabem que quando eu deixei a Presidência, a economia crescia a 7,5%. Vocês sabem o momento virtuoso que esse país viveu. Pois bem, quando eu voltei, 15 anos depois, você sabe quantos carros o Brasil produzia em dezembro de 2010? Vamos ver se alguém aqui tem a memória boa.
O Brasil produzia 3 milhões e 800 mil carros. Quando eu voltei, 15 anos depois, o Brasil produzia 1 milhão e 800 mil carros. Metade. O que aconteceu com esse país? O que aconteceu com esse país? A verdade é que esse país passou por um momento de desgoverno, de irresponsabilidade. Coisa que eu fui procurar o Geraldo, porque o Geraldo embora seja adversário político, era, agora não é mais, era, é um homem de caráter, é um homem de respeito, e política a gente faz com um jeito de respeito.
Então, eu vim aqui por isso, eu vim aqui para tirar uma foto e para mostrar para todo mundo: nós estamos fazendo com que o sistema de ambulância nesse país seja renovado, não fique envelhecido, está gerando emprego para mulheres e para homens, está pagando o salário, e eu quero que cada vez mais pague mais salário, cada vez mais ambulância, cada vez mais saúde e cada vez mais Brasil, é isso que nós queremos.
Um abraço, gente!