Pronunciamento do presidente Lula durante cerimônia de entregas de unidades habitacionais e anúncios de novos campi em Pernambuco
Olha, eu quero dizer pra vocês que eu não acredito que tem um cabra mais feliz do que eu nesse momento. Porque o prazer de você cuidar das pessoas é você poder atender aquilo que é necessidade básica das pessoas.
Quando eu cheguei na casa do Felipe, que eu fui entregar a chave pro Felipe, ele me disse que tem 10 filhos, era pra ter 13. Ele casou com a menina, ela tinha 12 anos, e ele está apaixonado por ela há 28 anos. E ele está criando a família dele com muito carinho, ele é catador de papel, ele ganha no máximo 20 ou 25 reais por dia para poder sustentar a família.
E eu fico pensando que, há muito tempo atrás, eu comprei uma casa, Felipe. Eu comprei uma casa em 1975. Comprei uma casa num lugar chamado Jardim Lavínia, Rua Verão 273. Era o endereço da minha casa. A minha casa, Felipe, tinha 33 metros quadrados. A sua tem 44. Portanto, cara, você hoje ganhou uma casa maior do que a casa que eu comprei em 1975.
E eu não tinha 10 filhos, mas eu tinha três, a mulher, duas cachorras e a sogra. E a gente morava muito feliz naquela casa. Eu tô contando esse caso pra vocês saberem que eu sei como é que vive esse povo sofrido. Eu sei. Eu sei como é que o povo pobre sofre. Eu sei o desespero de vocês todo santo dia pra sobreviver.
O sofrimento pra ver se tem dinheiro pra pagar a conta de luz. O sofrimento pra ver se tem dinheiro pra comprar o leite. O sofrimento pra ver se tem dinheiro pra pagar o aluguel, porque mora num aluguelzinho num barraco pagando aquilo que ele não ganha. A preocupação de vocês com a criação das crianças, com a educação das crianças.
Eu quando saí daqui, prefeito João [João Henrique Campos, prefeito de Recife] e governadora Raquel [Raquel Lyra, governadora de Pernambuco], eu saí daqui dia 13 de dezembro de 1952. Eu fui num pau de arara, de Guaranhuns até São Paulo. Chegando em São Paulo, nós fomos pra Santos pra encontrar com o meu pai. Meu pai já tava em Pernambuco. Qual não foi a surpresa da minha mãe, quando a gente se encontrou com o meu pai, ele já estava casado com outra mulher e tinha uma penca de filhos.
Vocês acham que a minha mãe ficou chorando? Vocês acham que a minha mãe ficou reclamando? A minha mãe, com oito filhos pequenos, e eu era o caçula, ela teve a coragem e a decência, abandonou meu pai e foi criar os filhos dela com carinho e respeito. Conseguiu formar todos eles cidadãos. Homens que constituíram família. E eu que cheguei a Presidência da República por conta de vocês.
Então, quando eu entrego uma chave de uma casa, quando eu vejo uma pessoa que está: "Lula, eu virei doutor graças a você. Lula, eu estou fazendo um curso técnico. Lula, eu estou recebendo o Bolsa Família. Lula, eu estou fazendo alguma coisa” que o governo está fazendo para vocês, eu fico pensando como é fácil governar para cuidar dos pobres. O que é muito difícil é cuidar dos ricos, porque os pobres efetivamente exigem pouco e são muito agradecidos com tudo aquilo que a gente faz.
O sonho da casa própria é que nem um passarinho na época do acasalamento tentando construir seu ninho. O sonho da casa própria é a construção de um ninho do casal, onde vai nascer o seu bruguelozinho, onde vai nascer as crianças e onde a mulher não vai precisar ficar mudando a cada ano, procurando casa no outro bairro, pagando mais caro. E às vezes a molecada nem consegue se acostumar com os vizinhos, nem consegue fazer amizade.
Então, a casa própria é uma divindade. Ter a casa própria é a gente chegar num pedacinho do céu. E é por isso que eu tenho muito orgulho de dizer para vocês que foi o meu governo, foi o governo do PT, o governo que mais fez habitação na história desse país para atender às pessoas pobres.
E eu faço isso porque quando eu cheguei em São Paulo, que eu fui pro Porto de Santos encontrando meu pai com outra mulher, a minha mãe, em 1956, ela subiu pra São Paulo, pra capital. E ela alugou uma casa. Uma casa era um quarto e cozinha, no fundo de um bar. O banheiro que a gente utilizava era o banheiro das pessoas que frequentavam o bar e utilizavam.
E a gente foi morar em treze pessoas num quarto e cozinha. Dormia eu, meu irmão e minhas três irmãs com a minha mãe. E dormiam outros quatro irmãos e três primos numa cozinha com a caminha de armar. E eu, sinceramente, eu era um ser humano feliz porque eu tinha uma mãe que cuidava da gente com carinho. Que cuidava dos seus filhos e que tentava garantir a integridade moral, ética e política desses filhos.
É por isso que nós decidimos valorizar a mulher. Não é desprezo a nós, homens, não. É porque a mulher tem um quê a mais. A mulher é mais cuidadosa, a mulher é mais humana, a mulher é mais aconchegante. Ou seja, ninguém consegue cuidar de uma criança como a mãe. Porque foi ela que pôs no mundo e ela vai cuidar da sua cria com carinho extraordinário.
Então nós decidimos, quem recebe o Bolsa Família é a mulher. Quem recebe o Minha Casa, Minha Vida é a mulher. E quem recebe outras políticas sociais do governo é a mulher. Porque a gente dando dinheiro pra mulher, a gente tem certeza que aquele dinheiro vai se transformar em bem-estar para os filhos que ela colocou no mundo.
Eu não sei se os companheiros da imprensa e as companheiras prestaram atenção no que foi feito aqui hoje. Eu estava preocupado no avião e conversei com meus ministros que era preciso tomar muito cuidado com os avisos, porque era muita coisa e as pessoas podem não guardar tudo aquilo que foi falado.
Mas aqui hoje, eu duvido, Raquel. Duvido e quero pedir para os companheiros jornalistas estudarem pra ver, os intelectuais aqui presentes, se em algum momento da história de Pernambuco um presidente veio aqui anunciar tanta coisa de uma só vez para vocês.
E por que a gente está fazendo isso? A gente está fazendo isso, prefeito João Campos, governadora Raquel, companheiros prefeitos que estão aqui, prefeitas. A gente está fazendo isso porque a gente tinha começado a consertar esse país de 2003 a 2015. As pessoas estavam melhores cuidadas. Inventaram uma denúncia contra a companheira Dilma Rousseff para tirar ela do governo injustamente, para colocar as tranqueiras que colocaram, que governaram depois dela nesse país.
E a gente sabe o que aconteceu nesse país. A gente sabe o retrocesso que houve, retrocesso no emprego, retrocesso no salário, retrocesso na qualidade de vida, na qualidade das casas, porque nem casa entregava mais.
E a gente voltou para reconstruir esse país. Tivemos um ano muito difícil. É importante lembrar, querida Janja, que nós completamos ontem um ano e seis meses de governo. Nada. Um ano e seis meses. E eu olho para a cara de cada um de vocês, dessas pessoas que estão em cadeira de roda, dessas crianças que têm um problema de deficiência. Eu olho para a cara de vocês e vou dizer para vocês: nós fizemos mais nesse ano e seis meses do que o outro governo fez em quatro anos em todos os estados da Federação. E vamos continuar fazendo mais.
Porque quando eu visito o estado eu não quero saber se a governadora gosta de mim ou não, se ela é do meu partido ou não. Eu quero saber se ela é governadora ou governador e se ela foi eleita pelo povo. E se foi eleita pelo povo, eu vou tratar o povo com o mesmo respeito que eu trato se fosse um governo nosso.
Eu acho que nós precisamos aprender a ensinar esse país a ser mais civilizado, a ser mais democrático. Os entes federados a se respeitarem. Pernambuco passou muito tempo sem receber uma visita de um presidente da República. Pernambuco passou muito tempo sem receber ajuda do Governo Federal, como o restante do Brasil inteiro.
E eu não consigo, eu não consigo compreender você governar sem culminar com prefeitos e governadores. É uma alegria trabalhar com um prefeito da qualidade do João Campos. É uma alegria. Eu, que fui muito amigo do pai dele, possivelmente nunca o presidente da República e um governador tiveram uma relação tão sólida. Eu cheguei com o Eduardo Campos, tá lá no céu, ele tá se mexendo, porque esse moleque vai ser melhor do que ele a governar uma cidade.
E é assim que eu faço. Eu fui no Maranhão, eu disse no palanque, eu queria que os professores, os historiadores, vissem se em algum momento um presidente foi no Maranhão e entregou a quantidade de obras. Eu disse em Minas Gerais, eu fui a Contagem, Juiz de Fora e em Belo Horizonte. E eu disse, eu duvido que em algum momento da história em Minas Gerais, um presidente colocou tanta coisa à disposição.
E não é favor, não é benevolência, é respeito aos entes federados, é respeito aos estados e respeito ao povo. Então quando eu venho aqui, entregar uma casa não foi só casa. Nós anunciamos casa, anunciamos maternidade, nós anunciamos obras no porto, nós anunciamos legalização de terreno para 4 mil pessoas que moram e não têm escritura do terreno. E a escritura é uma coisa extraordinária, porque dá garantia que a terra é da gente e a gente começa a acreditar.
Aqui nós anunciamos mais dinheiro para faculdade, aqui nós anunciamos mais dinheiro para laboratório, mais dinheiro para sala de aula, mais dinheiro para Institutos Federais. E aqui nós temos muita coisa para vir anunciar. A prefeita, a governadora e os prefeitos podem se preparar que eu vou votar muitas vezes em Pernambuco, porque tem muita coisa para fazer em Pernambuco e em todo o território nacional.
Só para vocês saberem, nós vamos sair daqui agora e nós vamos ao espaço cultural da Caixa Econômica Federal. E o que é que nós vamos fazer lá? Vocês estão lembrados da história de uns prédios caixão que foi feito em Recife, em alguma cidade do interior. Vocês lembram quantos caíram? Vocês lembram quantas pessoas morreram? E até hoje, essas pessoas não receberam nada.
Pois bem, meus irmãos e minhas irmãs, nós hoje vamos lá dar um cheque para cada pessoa que perdeu sua casa, para que essa pessoa possa receber os prejuízos que teve. E isso depois de 30 anos de desgraça, a gente vai pagar graças à competência da Caixa Econômica, do nosso advogado-geral da União, o companheiro Messias [Jorge Messias, ministro da Advocacia-Geral da União], e da empresa de seguro que foi obrigada a pagar.
Porque nesse país, as pessoas têm muita facilidade de esquecer de pobre. Vocês viram o que aconteceu em Minas Gerais, em Brumadinho, com aquela barragem que quebrou da Vale? Quantas pessoas morreram? Quantas casas foram destruídas? Vocês viram o que aconteceu em Mariana, com outra barragem da Vale? Até hoje, a Vale não pagou o direito do povo pobre. Até hoje. E o Rui Costa, que é o meu ministro-chefe da Casa Civil, ontem eu falei com o Rui Costa. Na semana que vem, nós temos que chamar a Vale e exigir que ela pague o prejuízo que as pessoas tiveram.
Porque não é possível que só sobre desgraça para as nossas costas. Não é possível que a gente é o primeiro a levantar para trabalhar e o último a ganhar algum benefício nesse país. Portanto, companheiras e companheiros, hoje é um dia feliz. Quando eu chegar em casa de noite, sem me preocupar com os problemas da manhã, porque está cheio de problema, vocês não tem noção, vou tomar um banho, vou tomar uma sopa com a Janja e vou dizer para a Janja: "Janja, efetivamente, você tem um marido que está feliz".
Feliz porque eu vivo um bom momento na minha vida. Feliz porque eu estou bem com a minha espiritualidade. Feliz porque eu estou bem com o meu povo. Feliz porque eu estou bem com meus governadores e com os prefeitos. E sabe, mais feliz, porque os adversários ficam muito putos comigo. Eles nem sempre gostam de mim. E o que eles não sabem é que o Lula não é o Lula. O que eles não sabem é que o Lula são vocês, todos juntos. E é por isso que eles não têm condições de derrubar. É por isso que eles não me aceitam.
Mas nós vamos provar que nós vamos recuperar esse país. O povo mais humilde e trabalhador vai ser mais feliz, vai ter mais emprego, vai ter mais educação, vai ter mais oportunidade na vida. E casos como o do Felipe, as pessoas que receberam a casa, vão continuar acontecendo. Porque o meu compromisso é entregar 2 milhões de casas até o final do meu mandato e dar para as pessoas pobres.
Por isso, companheiros e companheiras, peço desculpa pela demora do evento. Choveu, a roupa de vocês molhou, secou no corpo. Quando chegar em casa, tome um banho quente para não pegar uma pneumonia, para não pegar uma gripe. Eu vou para a Caixa Econômica e volto para São Paulo porque este ano é o ano da colheita. Nós plantamos o ano passado, capinamos a terra, adubamos a terra, colocamos as sementes. E este ano, nós vamos viajar o Brasil inteiro para anunciar as colheitas que o povo precisa para melhorar a qualidade de vida.
Um beijo no coração, um beijo, um abraço e até a próxima visita a Pernambuco.