Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de resultados do Novo PAC Seleções
Você sabe que eu tinha comunicado ao meu chefe de cerimonial que eu não ia falar. Primeiro pela eloquência das pessoas que já falaram. O Jader [Filho, ministro das Cidades] está se preparando para ser locutor das rádios FM do interior. Aquela voz poderosa. O Rui Costa [ministro da Casa Civil] sabe...
Eu queria que ele falasse na reunião ministerial. Tinha números muito importantes para ele contar. E eu falei: “Rui, é você que vai apresentar”. Fica sempre aquela história “não é o senhor”. “Não, é você que vai apresentar”.
Aí era número interessante, o crescimento. E o Rui começou a falar, começou a falar. Eu falei: “porra, cara, passa entusiasmo, fala uma coisa”. Ele ao invés de falar, não, escreveu: “o presidente está pedindo para eu dar entusiasmo”.
E não deu entusiasmo. Eu então resolvi falar para dizer algumas coisas para vocês. Primeiro, os meus agradecimentos. Não aos ministros meus que estão aqui, porque é obrigação deles estar aqui quando são convidados, dentro do possível. Mas aos governadores.
Ao Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia] a Raquel [Lyra, governadora de Pernambuco], ao Elmano [de Freitas, governador do Ceará], ao João Azevêdo [governador da Paraíba], ao Renato Casagrande [governador do Espírito Santo], a Rafael Fonteles [governador do Piauí], ao Fábio Mitidieri [governador de Sergipe] e ao Wilson Lima [governador do Amazonas].
Eu sei que não é fácil vocês saírem dos estados para vir aqui toda vez que a gente chama. Mas a gente só chama porque é importante a gente trazer o Brasil de volta à civilidade. A civilidade significa que os entes federados precisam ter, construírem parceria. Significa que eles têm que trabalhar junto. Significa que um depende do outro. Significa que juntos a gente pode fazer muito mais do que separado.
É apenas por isso que a gente chama as pessoas aqui, porque nós queremos compartilhar. Nós não queremos chegar e dizer: o governo federal que está fazendo uma obra no estado de Pernambuco. Não. Nós queremos dizer: o Governo Federal, em parceria com o governo do estado, em parceria com os municípios, está fazendo tal coisa. Por respeito ao povo e para que o povo também aprenda a respeitar os entes federados.
Porque, se não, o país desanda, o mau humor toma conta da sociedade. Então, eu resolvi falar para agradecer aos nossos deputados federais. Vocês sabem que nós conseguimos uma proeza extraordinária. Quem faz política sabe que meu partido só tem 70 deputados federais em 513 e só tem 9 senadores em 81. E nós, até agora, não tivemos nenhum projeto importante que nós mandamos rejeitado. Todos foram aprovados.
Inclusive, com duas coisas importantes, que foi o Marco Regulatório, a PEC da Transição e a Política Tributária, que estava há 40 anos esperando que fosse votada. E ela foi votada com muita conversa dos ministros, do meu organizador político, Padilha [ministro das Relações Institucionais], do presidente da Câmara, do presidente do Senado.
Porque a gente quer mostrar à sociedade brasileira que a convivência democrática respeitosa na adversidade é salutar para uma cidade, para um estado e para a União. Eu, todas as vezes que eu viajo para um estado, eu convoco o governador. Convoco o governador porque eu quero que ele vá, eu quero que ele fale, eu quero que ele diga o que ele tiver que dizer para o povo lá.
Alguns não têm comparecido. Possivelmente ainda pela imagem negativista de um presidente da República que só viajava para o estado que ele gostava, só viajava para atender amigos e não dava importância para aqueles que pensassem diferente dele. É uma coisa absurda.
Pois bem, esse ato aqui é um ato que tem muitos significados. Eu digo sempre que, eu vi o Jader agradecendo a equipe dele, o Rui agradecendo a equipe dele, obviamente que o sucesso de cada ministro está ligado não apenas à inteligência de cada ministro, mas está ligado à competência da equipe que ele conseguiu montar e à dedicação dessa equipe. Porque se fosse a gente sozinho, as coisas não dariam certo.
E para governar o Brasil é necessário isso. Olha, não é porque o governador do Pará é oposição, porque o de São Paulo é oposição, porque, sabe, que eu vou deixar de atender os projetos. Quando a gente fez uma coisa chamada PAC Seleções, é importante que todo mundo compreenda, é uma novidade na política brasileira, desde que o Brasil faz política, desde que o Brasil foi descoberto.
Nunca, nesse país nunca, se chamou o ente federado para discutir política pública. Nunca. Era política de amigo para amigo, era política de compadre. Eu atendo o governador porque é meu, eu atendo o prefeito porque é meu e o povo que se dane. Nós resolvemos mudar a lógica. O que nos dá o direito de andar de cabeça erguida é que a gente não prioriza o governante, a gente prioriza a importância da obra e os benefícios que aquela obra leva para a população daquele município, independentemente se o prefeito é corintiano, são paulino, palmeirense, ou flamenguista, ou Botafogo.
Não me interessa isso. O que me interessa é se a obra é necessária, se o projeto é bem feito, e se é uma obra de interesse do povo. Aí quem apresentar projeto vai receber recursos. É esse o critério. E não é um critério fácil, Rafael. Não é um critério fácil, porque eu já assisti polêmica de companheiros prefeitos do PT dizendo: “pô, cara mas eu não estou sendo contemplado no PAC Seleções, o cara que é contra a gente está sendo contemplado”.
Eu já cansei de ouvir isso. E ao invés de concordar, eu tenho que explicar para o prefeito por que tem que ser feito assim. Porque o cidadão da cidade do prefeito do PT é igualzinho o cidadão da cidade do cara que não é do PT. Então nós temos que tratar é os interesses de cada cidadão. Se quando eu deixar a Presidência da República, eu tiver deixado como legado a compreensão de que é possível de forma civilizada, de forma democrática, uma convivência adversa, seria maravilhoso para esse país. Seria extraordinário que esse país conseguisse fazer com que as coisas fossem compromissadas por todo mundo.
O que é triste é que quando você chega, depois de um período de 15 anos afastado da Presidência da República, você encontra obras que eu comecei a fazer e pelo fato de ser eu que comecei a fazer, as obras simplesmente foram paralisadas. O que é triste é que você tem casa que parou de ser construída a partir de 2013, 2014 ou 2016, quando a Dilma deixou a Presidência da República, e ainda cheio de pontes, 6 mil creches, não sei quantas UPAs, não sei quantas UBS, tudo paralisadas. “Ah, porque foi o governo adversário que começou a fazer”.
Ora, o que o povo tem a ver com isso. Por que o povo pode ser vítima dessa pequenez política no comportamento de um governante? Então, se eu deixar a Presidência e a sociedade tiver essa compreensão de que o critério para eleger um presidente da República é saber se o presidente é civilizado ou não, se ele gosta de diálogo ou não, se ele aceita a diversidade ou não. Porque, se não, vão brigar pela monarquia e indicar o imperador para governar o país.
A beleza do processo eleitoral é a possibilidade da alternância de poder. Um dia tá um jovem como Jerônimo, todo bonitão, governando a Bahia, isso é resultado da democracia. Porque quando ele começou a disputar, ô João, ele só tinha 3%. O adversário dele tinha 67%. E depois que abriu as urnas, ele ganhou as eleições. Aí valeu para você, Rafael, valeu para o João, valeu para todos os governadores eleitos.
Ora, então o que nós queremos construir para esse país? É um outro jeito de fazer política. É um outro jeito de tratar o povo. Nós somos um país em que, historicamente, a elite governando nunca se preocupou com o povo. Esse é um dado histórico. Isso vem do tempo do império.
A elite nunca se preocupou com o povo. Aliás, havia muitos governantes que davam de barato, Jerônimo, que o Brasil seria bom se fosse governado para 35% ou 40% da sociedade. O resto é resto. O resto, o cara é pobre porque o cara é pobre, nasceu para ser pobre, o destino dele é ser pobre. Aí o cara está na rua porque ele é vagabundo, porque ele é preguiçoso, porque ele tem que estar na rua.
A empregada doméstica só sabe fazer esse trabalho porque esse trabalho é para gente que não estudou. Se dá isso de barato, e não se faz um único esforço para a gente mudar essa realidade e fazer com que as pessoas galguem um degrau na sociedade desse país. Um degrau, dois degraus.
Nós somos de um tempo, Rafael, você que é muito jovem, nós somos de um tempo em que as pessoas que compravam uma casa ou um terreno e no rio, e tinha um rio atrás, aquele rio era o esgoto. As manilhas saiam diretamente para jogar os dejetos in natura lá no esgoto. Ou seja, isso ficou para trás, gente.
Nós temos uma cidade bonita como Florianópolis, veja quanto, quanto de esgoto é recolhido e tratado para ser jogado fora. Faça um levantamento. Por quê? Porque cuidar de enchente é um problema do prefeito, eu não moro na cidade. Cuidar de desbarrancamento, de deslizamento de terra é um problema de pobre que mora lá, eu não moro lá. E assim as pessoas vão sendo esquecidas.
E a gente vê que projetos que foram anunciados em 2012 sequer saíram do papel. Em vários estados da Federação, em várias cidades. Por quê? Porque cada prefeito, cada governador e cada presidente da República quer ter a sua marca. “Ah, eu preciso ter uma marca. Se o Lula fazia assim, eu não posso fazer assim. Se o Lula gosta de vermelho, eu tenho que gostar de amarelo. Se o Lula faz o Minha Casa, Minha Vida, eu vou fazer a Minha Casa Amarela. Se a carteira de trabalho é azul ou marrom, eu vou tirar uma verde e amarela”.
Ou seja, é um critério imbecil de tomar decisão e de fazer as coisas num país que precisa tanto do Estado. Tanto. E é por isso que nós estamos fazendo desse jeito. Esse é o último PAC Seleções que nós vamos fazer. Depois de um ano e meio de trabalho e é importante a gente lembrar que essa história começou durante a campanha, eu dizendo que logo que eu tomasse posse, eu ia convidar os 27 governadores de estado, iria perguntar para cada governador qual era a obra mais importante para o seu estado, que ele colocasse isso num projeto que nós iríamos ajudar a fazer.
E assim foi feito. Depois com os prefeitos. E assim foi feito. Era muito mais fácil eu escolher as prefeituras dos meus amigos e falar: “olha, vai, dá logo 300 milhões para aquele prefeito, passa logo 400 para aquele”.
Como sempre foi feito nesse país. Não, nós resolvemos mostrar: é possível fazer diferente. Afinal de contas, vocês têm na Presidência da República e na Vice, as duas pessoas com mais experiência nesse país. Eu digo sempre, só tem mais do que nós, o Dom Pedro, que foi 69 anos Imperador, e o Getúlio Vargas, que teve 15 anos de um regime forte, vocês sabem que as pessoas diziam ditadura, e teve um período democrático de 50 a 54. Só eles têm mais experiência do que nós dois.
O Alckmin [vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], além de ser prefeito, governador 16 anos, ainda foi vice mais dois. Ou seja, ele ganha do Wellington, ganha do Waldez. Então, o que nós estamos tentando fazer é mostrar: gente, nós temos que governar esse país diferente. Nós temos que conversar com todo mundo, nós temos que dialogar, nós temos que ver o que a gente pode compartilhar, o que um estado pode ajudar o outro.
Por exemplo, vocês vão ver no PAC Seleções que os estados mais ricos e a cidades mais ricas, a gente está oferecendo financiamento. E os estados mais pobres, a gente está tentando colocar recursos do orçamento. Mas tem que ser assim mesmo, é como o programa Pé-de-Meia, nós estamos dando uma bolsa para os alunos do ensino médio, sabe, mais pobres.
Seria bom se eu pudesse dar para todos, mas vamos chegar a quatro milhões de jovens, Rafael, quatro milhões de jovens. Quatro milhões de jovens. E um estado como São Paulo, vice-governador, um estado como São Paulo vai receber Pé-de-Meia para 550 mil estudantes do Pé-de-Meia.
Eu vou propor ao Haddad [ministro da Fazenda], vou propor ao Haddad para que na renegociação da dívida dos estados, uma forma dos estados pagarem o que devem é fazer o Pé-de-Meia estadual para complementar os estudantes que não foram contemplados pelo CadÚnico. É um jeito bom de gastar dinheiro investido na educação desse país.
Esse projeto que o Lewandowski [ministro da Justiça e Segurança Pública] apresentou, obviamente que é um projeto para 30 cidades, é um projeto piloto, mas isso foi pensado quando o Tarso Genro criou o Pronasci. Qual era a nossa ideia? Criar centro de convivência na perspectiva de fazer com que o povo pobre tenha acesso a coisas importantes.
Eu fui esses dias anunciar o Instituto em São Paulo, no Jardim Ângela, lá no fim da Zona Sul de São Paulo, que era tido como o bairro mais violento de São Paulo. Eu saí de lá conversando com a Janja no carro e falei: “porra, é impressionante como esse povo está isolado do mundo. É um lugar que não tem um shopping, é um lugar que não tem um teatro, é um lugar que não tem um cinema. Ou seja, o que essa gente faz?”.
O Carlos [Vieira, presidente da Caixa Econômica Federal] me prometeu, e eu vou aproveitar e cobrar publicamente, você me prometeu no ato que você tinha uma obra, um terreno da Caixa Econômica, um salão da Caixa Econômica, um prédio que você ia dar para que aquele povo pudesse ter uma área de lazer, aquele povo puder construir alguma coisa para eles. Então, por favor, quando terminar, suba comigo para me dizer logo que vai assinar.
Porque, gente, essa é a nossa função. A nossa função de governante é tentar olhar para aquelas pessoas mais vulneráveis, mais necessitadas. É a gente tentar cuidar, porque tem gente que não precisa do Estado. Você acha que um cara bonitão como o Jerônimo precisa do Estado? Não. O cara é professor, o cara tem um salário, sabe? Esse aqui? Não, não precisa do Estado. O Estado atrapalha porque cobra imposto de renda dele, mas ele cobra mais barato ainda, porque ele paga menos do que o coitado que ganha 2.500 reais, R$ 2.600.
Então, um país em que as pessoas foram predestinadas a ser pobre. A pobreza não é um fenômeno da natureza. A pobreza é resultado da incompetência política das pessoas que dirigem esse país. Eu agora, no lançamento do programa de combate à fome, que nós fizemos no Rio de Janeiro, eu estava contando para o Alckmin, a presidenta do FMI veio me abraçar chorando, dizendo que eu tinha emocionado ela.
O que eu falei de verdade? O que eu falei aqui agora. A pobreza não é um fenômeno da natureza. Não está escrito que a pessoa nasceu para ser pobre, ou a pessoa nasceu para ser rica. Está escrito que se o Estado criar as condições para que todos tenham oportunidade, que todos possam ter a mesma informação, os mesmos conhecimentos, a gente pode fazer uma mudança radical na sociedade brasileira.
Minha mãe não precisava ter saído de Pernambuco em dezembro de 52, com oito filhos agarrados no rabo da saia, para poder comer lá em São Paulo. Ela poderia ter ficado na terra dela, ficado com as irmãs dela, com os irmãos dela. Não, saíram. E está aqui essa beleza agora que o povo elegeu presidente da República. Se ela não tivesse saído, talvez eu não estivesse aqui, Raquel.
Então, eu fico pensando, gente, o seguinte, se a gente cuidar do povo, se a gente tiver um mínimo de carinho. Outro dia eu fiz uma experiência no sindicato. Você pega mil reais, pega mil reais, junta cem pessoas e divide dez reais para cada pessoa. Né? E você vai ver o que... não, você dá mil reais para cada pessoa. E você vai ver o que as pessoas vão fazer.
Agora você pega esses cem mil reais, outros mil reais e divide por cem. O cara que vai receber dez, ele vai automaticamente fazer esse dinheiro voltar para a economia. Porque ele vai comprar coisas das necessidades dele, vai comprar coisas básicas, vai no boteco, vai na padaria.
O outro vai para o banco. Porque eu queria que vocês colocassem na cabeça de vocês uma ideia que não é de economista. Economista não fala isso. Porque quem estuda muito não pode falar isso. É só para quem é quase analfa como eu. Bote na cabeça a seguinte ideia: muito dinheiro na mão de poucos significa o Brasil de hoje.
Significa pobreza, significa analfabetismo, significa prostituição, significa fome. Como é que pode a gente ter acabado com a fome em 2014 e voltar em 2023 com 33 milhões passando fome outra vez? Como é que pode? Como é que pode em 2010 a indústria automobilística vender 3 milhões e 800 mil carros? Não, em 2012, 3 milhões e 800 mil carros e em 2023 tinha caído para 1.900. O que aconteceu nesse país? Qual foi o terremoto?
Qual foi o furacão que fez com que a gente em 15 anos reduzisse a nossa produção naquela indústria que era o carro-chefe do PIB brasileiro na década de 80 caísse pela metade? Ou seja, então, companheiros, eu queria dizer para vocês o seguinte, esse lançamento de hoje é uma convocatória para que a gente possa trabalhar junto, para que a gente possa compartilhar. Outro dia o Rafael me fez um pedido e ele falou para mim: “O Rui Costa está bravo porque o Rui Costa acha que eu estou pedindo muito”.
É porque ele quer fazer um problema no Rio Parnaíba e aí eu descobri que o dinheiro da Vale é para isso, da Eletrobras, tem um terço é para o Piauí então nós vamos ter que garantir que esse dinheiro chegue para que possa fazer as coisas que tem que fazer. É porque é assim, gente todos vocês são mais espertos do que eu e sabem que política a gente não aprende na universidade, a gente não aprende.
Você pode ir para Harvard, você pode ir para… Vai pra onde você quiser, você não aprende política. Política é uma coisa é instinto, política é sensibilidade, política é tomada de decisão e vocês sabem que tomar decisão não é fácil, sobretudo quando você tem uma pressão de muitos lugares. Se você ganha as eleições no Brasil e resolve governar dizendo que pobre é pobre mesmo, que trabalhador precisa de aumento de salário mínimo.
Esses dias o presidente do Banco Central deu uma declaração para a imprensa que eu não quis acreditar, eu não quis acreditar. Um cidadão jovem, bem sucedido na vida, diz o seguinte: “esse negócio do aumento de salário mínimo e a massa salarial crescendo pode gerar inflação”. Ou seja, significa que para não ter inflação é preciso o povo ganhar pouco? É preciso? Será que essa pessoa não tem respeito?
Será que as pessoas pensam que alguém ganha um salário mínimo porque quer ganhar um salário mínimo? Será que alguém pensa que o pessoal é pobre porque quer ser pobre? Não! Não! Dê uma oportunidade ao pobre como o povo deu a esse pernambucano aqui, que ele vira presidente da República. Dê oportunidade. Eu lembro das Olimpíadas da Matemática quando nós fizemos, havia uma crença aqui nesse país, Rafael, de que “não presidente, não vamos fazer a Olimpíada da Matemática porque criança de escola pública não participa”.
Já foi tentado? Não! Nós tentamos fazer, a primeira inscrição foi 10 milhões de crianças e eu não esqueço nunca a imagem do menino do Ceará que ganhou a medalha de ouro na Matemática. Dle ia para a escola num carrinho de mão porque ele era tetraplégico, o pai levava ele lá. Olha, se aquele moleque provou que a deficiência dele não impedia de que ele fizesse essas coisas, que ele fosse inteligente, o que pode impedir da gente melhorar a vida do povo?
É só cada prefeito pensar no orçamento e deixar um pouquinho pro pobre, o governador vai fazer o orçamento, deixa um pouquinho pro pobre. O governo federal vai fazer alguma coisa, deixa um pouquinho pro pobre, não é nem a grande parte, é um pouco. E no PAC, com parceria, muito importante que vocês aproveitassem pra contratar pessoas do local onde está sendo feita a obra. É muito importante porque quando a gente deixar a obra, o cara já está na sua casa já está com a sua família, ele não tem que voltar pra outro estado ou voltar pra outra cidade.
Portanto, eu quero dizer que hoje nós estamos completando um ano e sete meses de governo e eu quero dizer pra vocês uma coisa, Jerônimo. Acho que o Brasil nunca teve na sua história um presidente otimista como eu. Eu estou convencido, eu não posso nem falar o nome dos prefeitos que eu estou vendo, porque eu não posso falar, se falar vão cassar os prefeitos. Mas eu estou tão convencido, Jerônimo, que nós recuperamos esse país e que a economia vai crescer e que o salário vai crescer e que a massa salarial vai crescer e que o emprego vai crescer e que a inflação vai cair.
Eu estou tão convencido disso, que eu digo pra Janja todo dia: “eu pela primeira vez, aos 78 anos de idade, eu me considero um cidadão pleno”. Eu estou espiritualmente de forma extraordinária pensando como é que a gente vai poder viver feliz nesse país quando a gente provar que a gente vai tirar o Brasil da fome. Em apenas um ano e sete meses nós tiramos 24 milhões de pessoas da fome, e vamos chegar em 2026 com zero de fome nesse país.
É importante lembrar que nesses um ano e sete meses, nós já criamos 2 milhões de 700 mil empregos formais e é pouco, porque os investimentos que estão sendo anunciados ainda não começaram a gerar. Grande parte das obras que nós anunciamos ainda não começaram a brotar. E é isso que interessa ao governante, seja da Presidência ou da prefeitura da cidade, é que o povo viva bem, é que o povo tenha tranquilidade, é que a família possa cuidar com muita tranquilidade dos seus.
Todo mundo quer. É isso que a gente está fazendo, companheiros. Eu espero que vocês que são muito jovens, e que ainda vão fazer política muito tempo, porque eu só tenho mais 40 anos, que eu estou querendo viver 120, eu só tenho mais 40 anos para fazer política, eu queria que vocês não perdessem de vista isso.
A única razão, a única razão que existe para a gente ser político, de enfrentar as adversidades que a gente enfrenta numa campanha, das ofensas que se recebe um candidato de qualquer partido político. Todo político já foi chamado de ladrão, todo político já foi chamado de corrupto, todo político é chamado de ladrão, ninguém acredita que político é honesto.
Então nós temos que fazer jus a todo esse xingamento, primeiro ser honesto e segundo utilizar o que nós temos de sabedoria para dar uma chance àqueles que nunca tiveram oportunidade àqueles que estão precisando de uma chance, àqueles que querem comer três vezes por dia, àquele que quer entrar numa escola de qualidade, àquele que quer ver formar o seu filho doutor. Eu fui peão de fábrica ninguém é peão porque quer. Ninguém é.
Esse aqui resolveu ser advogado, o outro resolveu ser economista, o outro resolveu ser médico, o outro resolveu ser presidente da Caixa Econômica, o outro resolveu ser professor, mas o peão, ele não escolhe. O cara não escolhe “eu sou peão". Que tipo de peão? Peão. Peão tem qualificação? A gente não tem qualificação, a gente é ajudante, a gente faz o que quiser que a gente faça, catar a coisinha no chão.
Eu comecei a minha vida trabalhando perto de uma prensa. Os caras cortavam material, a sobra dos tarugos de ferro que sobrava, eu recolhia. Era minha função durante mais de seis meses até eu saber o que era um torno e começar a trabalhar e me formar. O peão quer uma chance. Por isso é que nós resolvemos investir mais em cem institutos novos. E esses institutos, Rafael, você que é muito esperto, matemático. Bicho matemático é mais esperto que economista. Raquel, você não tem noção da esperteza desse menino.
Rapaz, eu não sei como é que alguém fala inteligência artificial conhecendo o Rafael. Eu quero ele pra ser minha inteligência artificial, ficar perto de mim contando coisas toda hora, me ensinando a fazer as coisas. Ô João, você não tem noção, cara, você não tem noção. Mas o que que a gente quer? Esses institutos federais, a gente quer formar as pessoas em coisas que sejam do futuro. Nós temos que ensinar essa menina a produzir software, nós temos que levar essa menina pra produzir chips, nós temos que fazer esse menino desenvolver essa indústria de inteligência artificial e a gente aprender a fazer uma indústria de dados.
No caso do Brasil a coisa é tão grave, que é o seguinte: o Governo Federal não consegue juntar os dados do Governo Federal. Não sei se na Bahia é assim, não sei se na Paraíba é assim. Por que você não consegue? Porque os dados da Saúde é da Saúde, os dados da Justiça é da Justiça, o dado da Fazenda é da Fazenda, o dado do Minha Casa é do Minha Vida, ou seja... Então, você nunca vai ter uma inteligência artificial se você não tiver um banco de dados único que você possa fazer os números se cruzarem.
E nós vamos começar agora eu vou participar, presta atenção no que vai acontecer. Vai ter a conferência nacional, a Conferência de Ciência e Tecnologia. Eu fiz uma reunião com o Conselho e desafiei, há três meses atrás, o Conselho me apresentar uma proposta de inteligência artificial em português. Não quero nem mandarim, nem inglês, eu quero em português. Porque todo mundo fala em inteligência artificial, inteligência artificial, inteligência artificial. Eu falei: o que é isso?
Aí eu fiquei sabendo, que uma pessoa me explicou, e eu sou que nem o Raoni, se me explica eu entendo. Então, ou seja, nada mais é do que você juntar todos os dados. Quando você está falando no telefone, você está dando dados para uma empresa que vai pegar aquilo e depois vai vender o serviço para você com o teu trabalho. Então nós vamos ter, o Governo vai ter que se apoderar disso. Eu vou fazer uma reunião com o ministério, Rui Costa, não essa semana que vem, a outra, e nós vamos dizer o seguinte: acabou o silêncio de dados por ministério, por instituição.
Uma vez eu tentei criar um gabinete de inteligência. O general Hertz, que era o meu ministro, o ministro da Segurança Institucional, e eu queria montar um escritório que juntasse a Polícia Federal, juntasse o Exército, juntasse a Marinha, juntasse a FAB e a gente montasse uma inteligência para não acontecer o que aconteceu nas torres dos Estados Unidos. Ou seja, tinha muita polícia, cada um sabia um pedaço, eles não conversavam entre eles, os caras foram lá e explodiram.
E vocês sabem que nós não conseguimos, Rafael? Você sabe por quê? Porque informação é poder e quem tem não quer repartir. Os dados do CadÚnico é meu, os dados do SUS é meu, os dados da Presidência é meu, os dados não sei do que é meu. Ou seja, aí o Brasil fica sem. Então vou ter uma reunião com o ministério e se prepare na pauta. Um dos assuntos é que nós vamos socializar as informações para que o Estado brasileiro comece a utilizar a inteligência artificial em benefício de todos nós.
Companheiros, obrigado pela presença, obrigado pela presença prefeitas que eu não posso anunciar, ministros, deputados e companheiros da imprensa. Escrevam muito bem sobre o que aconteceu nesse um ano e sete meses de governo, porque eu vou dizer pra vocês, João: as coisas vão dar certo.
Eu falo com o Haddad todo dia: “Haddad, cabeça fria, cara, porque se tudo der errado ainda vai dar certo, se tudo der errado ainda vai dar certo". Então é com esse clima que nós vamos governar esse país.
Daqui pra frente, companheiros governadores, se preparem porque as coisas já foram plantadas, algumas já estão brotando e agora é época da colheita e eu vou viajar o Brasil inteiro para discutir com governadores e com prefeitos, inaugurar obra e fazer com que o povo brasileiro volte a acreditar que ele pode ser feliz.
Um abraço gente e até o nosso próximo encontro.