Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de financiamento do BNDES às exportações da Embraer
Eu não ia falar, mas eu resolvi falar uma coisa que eu preciso dizer para vocês: a Embraer, desde muitos anos, ainda quando eu era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos anos 80, eu vinha muito à Embraer fazer assembleia com os metalúrgicos. E a Embraer era uma empresa motivo de orgulho nacional.
Todo país que se preza, todo país que tem noção de nação, todo país que se respeita tem coisas que são imexíveis, como diria o Magri, “imexível". Ou seja, eu fiquei muito triste quando eu acompanhava pela imprensa que o governo estava facilitando a venda da Embraer para a Boeing e que a Embraer ia ficar com menos gente aqui e que a Boeing iria produzir o avião.
Eu fiquei imaginando como é que pode um país que tem uma empresa da magnitude da Embraer, com engenharia formada aqui nesse país, preparada nesse país, a terceira empresa de aviação do mundo, como é que pode alguém achar que é só vender e que tudo vai melhorar? Até quando a sociedade brasileira vai acreditar nessas coisas? Graças a Deus, graças a Deus, não foi praga minha, nem foi nada minha, não deu certo e a Embraer está aqui outra vez.
E por que eu vim aqui? O Aloizio Mercadante [presidente do BNDES] poderia ter vindo sozinho com o nosso CEO da Embraer, assinar o acordo aqui, o dinheiro, tudo bem. Mas eu vim aqui porque essas coisas não acontecem de graça. Não é sempre que o BNDES financia a exportação brasileira. Não é sempre que o BNDES tem coragem de emprestar 4 bilhões e meio para financiar avião para uma empresa americana. Isso é decisão política.
Isso não é decisão econômica e técnica. Isso é uma decisão política. E a decisão política é tomada pelo governo. E eu vim aqui porque durante o período passado, o BNDES foi um banco, Aloizio, que só serviu para devolver dinheiro para os cofres do Tesouro Nacional, fazer as loucuras que fizeram nesse país. Passou 4 anos dizendo que encontrar uma caixa preta do BNDES, ele encontrou foi o banco mais equilibrado desse país.
Eu dizia sempre que o BNDES é tão duro, é tão duro, que só consegue pegar dinheiro emprestado no BNDES quem não precisa de dinheiro. Porque a exigência é muito grande, leva 150 dias, 200 dias para liberar o empréstimo. É por isso que a inadimplência é zero. Mas para que nós criamos um banco então, se nós já tínhamos banco particular, se não fosse para ajudar o desenvolvimento do Brasil?
Então, eu confesso que foi um período triste da minha vida saber que a Embraer ia deixar de ser produzida aqui, ou quem sabe fosse produzida aqui, mas que o dono, o detentor seriam os americanos. Esse país já perdeu a história de quem foi que inventou o avião. Esse país já perdeu a história.
Porque todo mundo sabe, todo mundo sabe, aqui e em Paris, que foi o nosso Santos Dumont o primeiro cara a fazer com que algo mais pesado que o ar pudesse voar. Mas os americanos, como tem a indústria cinematográfica, conseguiram vender dois irmãos, que eu não sei nem pronunciar, dois irmãos que usaram catapulta, jogaram o avião e disseram que inventaram o avião.
Outro dia eu estava conversando com o Brigadeiro Damasceno, que é o comandante da Aeronáutica. A gente deveria fazer uma festa na Torre Eiffel, levar o zeppelin, fazer ele voar lá outra vez para a gente mostrar que quem inventou o avião foi o mineiro chamado Santos Dumont.
Uma nação, uma nação tem que ter valores, a moeda é um valor, a bandeira é um valor, a nossa cultura é um valor, mas as empresas também são um valor. A Petrobras é uma empresa de um valor inestimável, para quem tem orgulho de ser brasileiro. A Vale era um motivo de orgulho extraordinário, porque a Vale era uma empresa muito importante quando era pública.
Privatizaram a Vale... Alguém sabe quem é o dono da Vale hoje? Ninguém sabe. A Vale é uma empresa hoje pulverizada por centenas de fundos, por centenas de fundos. Se você quiser falar com a Vale, não tem um dono. A coisa é tão descabida que até hoje ela não pagou a indenização de Mariana e de Brumadinho com o estouro das duas barragens.
E quando você vai conversar, ninguém manda, porque quem manda mais tem só 5%. Então as pessoas estão lá muito mais para vender dividendos, para vender ativos da empresa, do que para construir uma coisa grande. “Ah, mas a Vale cresceu nos últimos tempos”. A Vale cresceu por causa da China. Quem cresceu foi a China.
A China produzia menos aço que o Brasil, que produz 35 milhões de toneladas. A China hoje produz 1 bilhão, e o Brasil continua com 35. Então a Vale cresceu porque a China cresceu. Não foi porque alguém inventou que a Vale ia pesquisar, não. É porque a China compra tudo daqui e da Austrália. Então a Vale hoje está longe de ser a Vale que era motivo de orgulho.
Agora a Eletrobras, uma empresa extraordinária, uma empresa de interesses, sabe, de segurança nacional, uma empresa que era modelo de exemplo, foi privatizada em nome da honestidade, em nome de que é preciso acabar com o Estado, é preciso fazer um monte de coisa. Privatizaram a Eletrobras. Um diretor da Eletrobras, quando ela era pública, ganhava 60 mil reais por mês.
Não sei se aqui na Embraer alguém ganha tanto mais do que 60 mil por mês. Mas lá um diretor ganhava 60 mil por mês. Aí privatizaram, montaram um bando de gente lá. Sabe para quanto foi o salário do diretor-presidente? Trezentos e sessenta mil reais por mês, numa demonstração do que conseguem fazer com a indústria brasileira.
Então você pega uma empresa como a Vale, uma empresa como a Eletrobras, uma empresa como a Embraer, uma empresa como a Petrobras, que são motivo de orgulho. Eu quero dizer para vocês que eu tenho orgulho de quando eu viajo, eu poder tentar vender um avião da Embraer. Isso aqui tem a mão de uma brasileira, de um brasileiro, tem o suor de um brasileiro, de uma brasileira. Esse avião aqui ajudou a levar comida para a casa de muitas pessoas.
Eu, muitas vezes, chegava no aeroporto, quando eu descia do avião, a gente levava um avião reserva, a primeira coisa que eu fazia era chamar o presidente do país para entrar no avião, venha ver o nosso avião. Porque senão a gente não disputa mercado. Todo mundo sabe o que a Bombardier faz historicamente para derrotar a Embraer. Todo mundo sabe.
Então é o seguinte, nós vamos continuar financiando as exportações brasileiras, porque quando a gente financia a exportação brasileira, a gente está financiando emprego, a gente está financiando salário, a gente está financiando acúmulo de conhecimento tecnológico e a gente está exportando inteligência, está exportando conhecimento. A gente está exportando coisas de muito valor agregado, com gente muito especializada.
É por isso que eu vim aqui, só para dizer isso. Poderia nem ter falado, para dizer o seguinte: tenho orgulho, porque no nosso governo o BNDES é um banco de fomento para o desenvolvimento deste país e, dentro da suas possibilidades, vai fazer o que for necessário para a gente fazer as empresas brasileiras crescerem. Mesmo que não for empresa brasileira, mas se estiver produzindo no Brasil, a gente vai ajudar, porque esse é o papel do banco.
Eu disse outro dia, em 2008, quando teve a crise dos derivativos nos Estados Unidos, que o mundo parecia que tinha quebrado, quem salvou o Brasil foi o BNDES. Porque nós transferimos do Tesouro para o BNDES uma quantidade muito grande de dinheiro para financiar o quê? Financiar as empresas brasileiras. Financiar as empresas brasileiras.
Aí o cidadão que passou quatro anos dizendo que ia abrir a caixa preta do BNDES, quando ele tomou posse, ele foi abrir a caixa preta e o BNDES tinha uma caixa de inteligência, tinha uma caixa de competência, tinha uma caixa de profissionais muito bem formados e muito sérios. E nós temos que ter orgulho disso. Nós temos que ter orgulho disso.
Então, companheiros e companheiras da Embraer, companheiros ministros, companheiros diretores, eu vim aqui só para dizer isso. Enquanto eu for presidente, o BNDES estará a serviço do desenvolvimento desse país, do financiamento das nossas indústrias, do financiamento de obras de infraestrutura e, muito mais ainda, do financiamento das nossas exportações. É a única razão pela qual é necessário ter um Banco de Desenvolvimento.
Parabéns, Aloizio Mercadante, pela sua participação e parabéns à Embraer por continuar trabalhando junto com o governo.
Um abraço e até a próxima.