Pronunciamento do presidente Lula durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável
Hoje, acho que todos vocês vão ganhar um pouco na loteria, porque eu estou, decisivamente, comprometido com o horário do aeroporto. Hoje eu não vou falar quanto eu quero, é só o quanto eu posso. Porque sempre minha vontade é falar o quanto eu quero.
Eu queria, primeiro, começar dando os parabéns a esse conselho. Eu lembro que a primeira vez que nós tentamos criar esse conselho, no primeiro mandato meu, houve senadores, houve deputados que acharam que eu estava querendo criar um mecanismo de fugir o debate do Congresso Nacional. O que era uma insanidade, porque o conselho, no fundo, no fundo, era o que é hoje. Um governo que representa a sociedade civil nas suas mais diferentes matizes, os mais diferentes pensamentos, para tentar apresentar ao governo propostas de solucionar problemas que, muitas vezes, o governo sozinho não tem competência. E eu acho que, nesse um ano e sete meses, parece que faz muito tempo, mas só faz um ano e sete meses que nós voltamos ao governo. E tempo de mandato é muito complicado, porque, quem perde a eleição e fica vendo outro governar, acha que o mandato é interminável. E quem ganha acha que o mandato é muito curto, já tem um ano e sete meses que nós estamos aqui, só falta um ano e cinco meses. Então está muito rápido esse mandato.
Mas eu quero agradecer ao conselho, quero agradecer aos ministros que estão ali. Não vou ler a nominata, porque vocês não são candidatos a nenhuma prefeitura, então não preciso citar o nome de vocês. Quero parabenizar os ministros pelo trabalho coletivo. Pela ideia extraordinária que foi criada neste governo da transversalização de todas as políticas que a gente faz. Quero agradecer as pessoas que ajudaram os grupos de trabalho a produzir o material que me foi entregue. Porque, cada um que me entregou um trabalho feito no seu grupo, teve outras dezenas de pessoas que trabalharam e que estão no anonimato.
E quero dizer que vocês vivem um momento em que você tem um presidente da República mais otimista do que 2003, mais otimista do que 2007. E o meu otimismo não se dá apenas pela discussão macroeconômica. Muitas vezes a macroeconomia não representa tudo que acontece no país. Eu lembro que, uma vez, eu estava com o Guido Mantega [ex-ministro da Fazenda] e o Meirelles [Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central] fazendo um debate, em Frankfurt, com quase 1.500 empresários alemães. E o Meirelles e o Guido falaram muito da macroeconomia, da macroeconomia, da macroeconomia. E eu falei: “Eu acho engraçado que o Banco Central e o ministro da Fazenda esqueceram de uma coisa chamada microeconomia”. Uma microeconomia que, muitas vezes, gera muitos empregos, junta muitas oportunidades e, muitas vezes, gera uma produtividade extraordinária, que é o que a gente está fazendo neste instante. É preciso que vocês estudem a macroeconomia, mas saibam o que está acontecendo lá embaixo. Não na pessoa que tomou R$ 1 bilhão emprestado, mas a pessoa que tomou R$ 5 mil emprestado, que tomou R$ 10 mil emprestado, que tomou R$ 500 mil emprestado. É essa economia que está funcionando, a todo vapor, e está muito aquém daquilo que eu acho que ela tem que funcionar.
É por isso que eu repito sempre a minha frase: “muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, significa desemprego, significa prostituição, significa desnutrição, significa analfabetismo. Pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o contrário, significa uma ascensão social de todas as classes sociais, significa mais educação, significa melhor transporte, significa mais salário, significa mais crescimento”. Por que qual é a sociedade que nós buscamos criar? É uma sociedade — cada empresário deve ter isso na cabeça — é uma sociedade que nós queremos que cada trabalhador ou trabalhadora possa consumir aquilo que ele produz. Não é Marx que dizia isso, era Henry Ford. Era ele que dizia, textualmente: “eu quero que meus trabalhadores comprem os produtos que eles fabricam”.
Por isso, eu fiquei muito feliz com a novidade da indústria automobilística, depois de muitas décadas sem fazer investimento, resolveu anunciar o investimento de R$ 129 bilhões nos próximos anos. É um começo muito exitoso. E eu disse para indústria automobilística, fiz questão de dizer, atendendo à Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores]. E que a indústria automobilística simplesmente desapareceu com o Salão do Automóvel. O Salão do Automóvel era uma marca registrada na produção automobilística desse país. Eu fui em todas enquanto presidente, eu falei em todas enquanto presidente. Simplesmente desapareceu. Simplesmente desapareceu. Ora, como é que pode uma indústria com a quantidade de empresas que tem aqui, fazendo essa revolução energética que nós estamos fazendo, sabe, na questão dos carros, como é que a gente não faz um Salão do Automóvel para convidar o mundo a vir aqui? Porque não é só o Brasil que frequenta a feira, é a América do Sul, é a América Latina, são os europeus, são os asiáticos. Agora, como é que alguém vai valorizar se a gente não mostra? A gente sequer admite fazer uma feira para vender a qualidade do produto que eu fabrico.
Outro dia, o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República] estava comigo e eu recebi os companheiros. Eu não sei se eles gostam que chamem de companheiros, mas eu chamo de companheiros, sabe, empresários do aço, do setor siderúrgico, e eles vieram conversar comigo, apresentar uma proposta de investimento de R$ 100 milhões, mas não disseram que vão fazer. Eu fiquei preocupado naquela reunião, porque ninguém falou que vai comprar um forno novo, ninguém falou que vai fazer uma fábrica nova, mas disseram que vão investir R$ 100 milhões.
Mas qual era a grande encomenda deles? A grande encomenda deles era que é preciso taxar a importação de aço da China, porque a importação de aço da China está trazendo prejuízo ao aço brasileiro. É verdade. É preciso que a gente pense em uma tributação que seja coerente para quem produza aqui dentro e que seja bom também para quem exporta. Mas eu fiz questão de dizer – e aqui quero pegar o testemunho do meu querido sindicato da indústria automobilística, meu querido sindicato dos trabalhadores que estão aqui —, eu fiz questão de dizer para eles: “Olha, acho que vocês estão cometendo um problema. O problema não é só a China, porque a China, não há muito tempo atrás, ela produzia, Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda], quase que a mesma quantidade de aço que o Brasil: 45 milhões de toneladas de aço. O que que aconteceu com a China que eles avançaram para 1 bilhão de toneladas e nós continuamos com 35 milhões. Esse é o dado concreto.
E eu fazia questão de lembrar aos companheiros do aço de que, quando eu deixei a presidência, em 2010, a indústria automobilística vendia, exatamente, (incompreensível), 3 milhões e oitocentos mil carros nesse país. E, quando eu voltei, em 2023, a indústria automobilística vendia apenas 1,8 milhão, metade do que vendia em 2010. Está aí o problema do aço. Se eu não produzo carro, não uso aço. Esse país tinha 86 mil trabalhadores na indústria naval. Esse país estava produzindo navios petroleiros enormes, esse país estava produzindo plataforma, esse país estava produzindo sonda. Parou. Está aí o problema do aço.
Quantas casas foram feitas do Minha Casa, Minha Vida ou do Casa Verde e Amarela, que inventaram, durante os últimos seis anos? O dado concreto é que nós voltamos para o governo, Haddad, e você tinha 87 mil casas do Minha Casa Minha Vida paralisadas. Eu fui no Ceará inaugurar um conjunto habitacional que estava pronto desde 2018 e não foi inaugurado. Está aí o problema do aço. Ou seja, se a construção civil não cresce, se a indústria automobilística não cresce, se a indústria naval não cresce. Ou seja, vai faltar aço. Vai ter um problema no aço.
Então eu estou dizendo pra chamar a atenção de vocês o seguinte, olha, eu digo sempre que esse país será do tamanho que a gente quiser que ele seja. O que não pode é cada setor achar que o setor dele é que tem que ganhar. É importante que toda vez que a gente pense nesse país, a gente pense que, se tem uma coisa que o governo deseja, é que a inflação seja baixa. Eu quero que a inflação seja baixa, porque eu fui operário de fábrica e eu vivi com inflação de 80% ao mês. Não era 80% ao ano, era ao mês. E eu tinha que receber meu salário e correr no atacadista para comprar excesso de papel higiênico, excesso de óleo de soja, porque eu só podia comprar o que não era perecível. Para ver se meu salário não perdia importância, Priscila [Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação]. Eu já vivi esse mundo.
Então eu quero, não, eu rogo, eu peço, eu trabalho, para que a inflação seja baixa. Mas eu também rogo e peço para que a gente possa melhorar a vida do povo mais pobre desse país. Não é possível, porque é muito fácil governar um país. É muito fácil de você não olhar para todos. Vocês todos são muita gente estudada, muita gente letrada, sabem do que eu estou falando. Toda vez que você tenta universalizar as coisas, você diminui a qualidade. Esse país já teve escola pública extraordinária. Os grandes intelectuais, os grandes pensadores, todos estudaram em escola pública no ensino fundamental e no médio. Hoje houve uma inversão. O pobre paga e o mais rico estuda na escola federal, porque ele estudou mais na escola fundamental.
Ou seja, o que nós estamos tentando fazer é dar a seguinte oportunidade. Esse país pode se transformar num país de classe média. Vocês acham que eu quero um país igual a Rússia? Acham que eu quero um país igual a Cuba? Não. Eu quero um país com padrão de vida igual a Suécia, Dinamarca, a Alemanha. É esse país que eu sonho para a classe trabalhadora brasileira, Moisés [Moisés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC]. Essa qualidade de trabalho que eu sonho para vocês. É a gente melhorar as condições das pessoas. É garantir que eles tenham um mínimo. Então, quando alguém fala assim para mim: “ah, o mínimo está muito alto”. Pelo amor de Deus, o mínimo é o mínimo. Não tem como o mínimo ser muito alto. Ele é o mínimo. Como é que ele pode ser muito alto?
Sabe qual é o problema, Isaac [Isaac Sidney, presidente da Febraban]? O problema é o seguinte, é um problema de conceito. É que todo mundo que paga, acha que está pagando muito. E todo mundo que recebe, acha que está recebendo pouco. Essa é uma lógica. No Brasil, quando você quer vender uma casa, você fala: “eu tenho uma puta de uma casona, eu tenho uma puta de uma fazendona”. Quando é para pagar imposto, “eu tenho uma casinha, eu tenho uma fazendinha”. É assim.
Eu, sinceramente, quando eu vejo o Haddad, o Haddad sofre. O Haddad é advogado, é economista, é filósofo, é filho de árabe, trabalhou no 25 de março, vendeu calça jeans, vendeu qualquer outra coisa. O Haddad sabe que ele sofre. Ele sofre injustiça. E por que sofre injustiça? Porque todas as pessoas que vêm, só vêm para pedir, não vêm para oferecer. Eu vou dar um exemplo pra vocês de uma coisa que esse moço sofreu e eu sei que ele sofreu. A questão da desoneração dos 17 setores do Congresso Nacional. Eu não sou contra a desoneração porque eu, em 2008, na crise de 2008, os empresários mais velhos se lembram, eu fiz R$ 47 bilhões em desoneração. Qual era a diferença da minha desoneração da de hoje? É que sentava numa mesa de negociação os empresários, o ministro da Economia e os trabalhadores. E eu queria saber qual era a contrapartida para o trabalhador. Se eu vou dar desoneração ou aumentar a capacidade de você ter mais dinheiro, transforma isso na estabilidade, pelo menos dos trabalhadores. Mas fazer desoneração por fazer desoneração? E veja que engraçado. Eu vetei, foi derrubado meu veto. Nós entramos na Suprema Corte. A Suprema Corte deu um prazo para que empresários, governo e Senado encontrassem uma alternativa. O Haddad pensou numa alternativa. Quando eu estava em casa, Haddad, em uma sexta-feira, você tomou tanta porrada que eu jamais imaginei que esse moço tão bondoso ia ser tão achincalhado — e foi. Foi, porque ele fez uma coisa que não era dele. Então eu falei para Haddad: “Não fica nervoso, não, Haddad. A responsabilidade de apresentar compensação é dos empresários e do Senado. Se não apresentar, fica mantido o veto. É simples assim. Por que ficar nervoso com isso?”
Então o que nós queremos é saber o seguinte: é possível a gente construir esse país em que todos possam viver com o mínimo de dignidade? É. É possível. Só que é preciso a gente distensionar a ganância por acúmulo de riqueza de alguns e tentar repartir um pouco do produzido nesse país. O Alban [Ricardo Alban], como presidente da CNI, ele sabe. Ele sabe o significado do trabalhador que entra para trabalhar na fábrica recebendo um salário justo. Ele sabe que a pessoa produz mais. Ele sabe que a pessoa trabalha com mais vontade. Ele sabe que a pessoa quer o bem da empresa. Mas, se ele não está ganhando um salário suficiente, tudo é sofrimento, é como criança ir para a escola. Se uma criança não quer ir para a escola de manhã, pode ter certeza, sabe, que o professor não dá aula legal. E se o professor for um cara bom dentro da sala de aula, a criança levanta com vontade de ir para a escola. “Mãe, eu quero ir para a escola. Pai, eu quero ir para a escola”. Se a aula for boa, se a aula for ruim, ela não vai. Então vamos construir esse país bom.
Veja esse país como é bem esquisito, Isaac, você que representa a Febraban. A Febraban sempre tem dirigentes muito bons. Sabe? A pena que eles não sejam os donos dos bancos, mas eles são muito bons. Todos que eu conheci são extraordinárias pessoas. E veja o que aconteceu ontem: UOL, quando eu terminei a entrevista, a manchete de alguns comentaristas era de que o dólar subiu pela entrevista do Lula. E os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista. Quinze minutos antes. Ou seja, então, esse mundo, perverso, das pessoas colocarem pra fora aquilo que querem, sem medir a responsabilidade do que vai acontecer, é muito ruim.
Eu queria, Haddad, dizer pra você, pode ter certeza, Haddad, quem estiver apostando em derivativos vai perder dinheiro nesse país. Vai perder dinheiro nesse país. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real. Eu já disse isso em 2008. Quem é que não lembra a quantidade de empresas que quebrou? Quem é que não lembra o que aconteceu com a Sadia? Quem é que não lembra o que aconteceu com a Aracruz? As pessoas achavam que era importante ganhar dinheiro apostando no fortalecimento do dólar, no fracasso do aço e quebraram a cara. E vão quebrar outra vez. Vão quebrar, porque eu não voltei pra ser presidente pra dar errado. Eu só voltei porque eu tenho consciência que vai dar certo esse país.
O que eu quero dizer para vocês é o seguinte. Eu vou terminar, porque eu já falei demais. O que eu quero dizer para vocês é que podem ter certeza absoluta, e vocês creem em Deus, podem ter certeza, com a fé que vocês têm, que eu jamais voltaria a ser presidente da República depois de ter saído com 87% de bom e ótimo, 10% de regular e 3% de ruim e péssimo, que foi nos meus aniversários. Então eu voltaria para quê? Eu voltei porque esse país estava precisando de alguém. Alguém que cuidasse desse país. Alguém que cuidasse desse povo. Alguém que olhasse com um pouco de carinho para as pessoas que não tiveram a mesma chance que eu. Vocês já se perguntaram o porquê que eu gosto de educação se eu sou um cara que não tem diploma universitário? Vocês já se perguntaram o porquê que é esse cara analfabeto que mais investiu em universidade nesse país? É o cara que mais investiu em instituição universitária? É o cara que mais investiu em Instituto Federal? Porquê que vocês acham que eu gosto de educação? Eu gosto de educação, Alban, porque eu quero dar ao filho do povo brasileiro aquilo que a minha mãe não pôde me dar. Se eu não tive condição de estudar, eu quero que as pessoas estudem.
É por isso que eu gosto de educação. É por isso que nós criamos o Pé-de-Meia. O que que foi o Pé-de-Meia? Alguns vão dizer gasto, eu já vi comentário de que era gasto. A gente descobriu que 500 mil crianças em idade de ensino médio estavam desistindo da escola para trabalhar, para ajudar no orçamento familiar. E qual foi a atitude que nós tomamos? Pelo amor de Deus, um país que deixa 500 mil crianças saírem da escola para trabalhar, que futuro terá esse país? Então nós vamos criar o Pé-de-Meia. O Pé-de-Meia é simples, é R$ 200 de poupança por mês durante 10 meses e R$ 1 mil no final do ano. Se a criança tiver 80% de comparecimento na escola, então a criança passou de ano. Nos 3 anos, a gente pode chegar a R$ 9 mil na poupança. Lógico que os R$ 200 que a gente deposita ele pode gastar para ajudar no orçamento familiar. Mas o que a gente quer é dizer o seguinte: pelo amor de Deus, vamos mudar o conceito que nós temos. Investir em educação é o mais extraordinário investimento que um país pode fazer do que não existe sem na sociedade. A escola de tempo integral custa mais caro fazer isso, mas é necessário fazer, porque senão as crianças ficam à mercê do que uma parte do dia? Inclusive ajuda na família também a trabalhar, ajuda as pessoas. Então é importante que a gente crie, ao invés de a gente ficar pensando quanto custa fazer isso, pelo amor de Deus, quanto custou não fazer no tempo certo? Quanto custou não investir na hora certa? Essa é a discussão que a gente tem que fazer.
E eu acho, quando a gente resolveu fazer um pacto, fizemos um pacto, eu tô vendo aqui a Neca [Neca Setúbal, banqueira e acionista do Itaú] e a Priscila, nós fizemos um pacto com os governadores e quase todos os prefeitos, pela alfabetização na idade certa. A nossa ideia é chegar até 2030 a 80% das crianças brasileiras alfabetizadas no segundo ano. A ideia é chegar a 100%, mas nós colocamos 80% como parâmetro para que a gente possa dizer que não estamos sendo radicais, estamos sendo condescendentes. E aí é preciso a sociedade fiscalizar se a prefeitura está fazendo corretamente, se o estado está fazendo.
Esse país precisa de uma chance, de uma chance. E eu quero fazer parte da geração que deu essa chance. Eu digo sempre o seguinte: eu tive uma sorte muito grande. Eu nasci numa década em que nasceu parte dos mais importantes artistas brasileiros: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Bethânia, Elis Regina, Gilberto Gil. É tudo da década de 40. A melhor seleção do mundo, que ganhou a copa de 58, é tudo da geração de 40. Então essa geração de 40 está predestinada a evitar que esse país afunde. Porque esse país estava afundando.
Eu às vezes, não fico chateado, eu fico, às vezes, pensando, pô, eu vi um cidadão destruir esse país há quatro anos atrás. Esse país gastou 60 bilhões de dólares na perspectiva de manutenção no poder. Eu não via ninguém falar nada. Esse cidadão conseguia aprovar teto de gasto na hora que ele queria. E nós, ó, aqui, ó, eu aprendi não na USP, eu não aprendi na Unicamp, eu aprendi com a dona Lindu. Eu só posso gastar aquilo que eu tenho. Se eu tiver que fazer uma dívida, tem que ser uma dívida que vai permitir que eu aumente o meu patrimônio. Portanto, vamos parar de olhar a dívida pública brasileira com o medo que se olha. A dívida pública brasileira, comparada com os Estados Unidos, comparada com o Japão, comparada com a Itália, comparada com a França, não é dívida, é troco. De tão pequena que é, se comparada aos outros. Então, gente, pelo amor de Deus, o que falta para nós é um pouco de senso de responsabilidade e de amor por esse país.
Como é que nós vamos fazer os empresários investir se o mercado não reage? Não o mercado da Paulista, da Faria Lima, ou o mercado da FIESP, não. O mercado, sabe, envolvendo 203 milhões de habitantes. Se esse mercado não tiver poder de compra, se esse mercado não tiver capacidade de crédito, ele vai pra onde? Se a gente pegar, Isaac, tem uma coisa que você tem que ajudar. Se a gente pegar o dinheiro disponibilizado para crédito nesses últimos 15 meses, você vai perceber que os bancos públicos estão emprestando mais do que os bancos privados, possivelmente do que alguns bancos que estão comprando títulos do governo, porque interessa comprar com a taxa de juros de 10,5%.
Então eu só quero terminar dizendo para vocês. Eu tenho muito orgulho de ter vocês participando desse conselho, muito orgulho. Eu acho que a história vai provar que um presidente da República é que não tem medo da democracia. Que o presidente da República é que não tem medo de conversar com os contrários. Que não tem medo de conversar com o operário e com o patrão. Eu sou o único presidente do mundo hoje que vou numa reunião, eu converso desde o mais rico até o mais pobre. Não tem nenhum problema. Você sabe por quê? Porque eu não sou o presidente dos mais pobres. Eu sou um deles que cheguei à presidência da República e eu quero que isso seja valorizado. Porque eu não quero esquecer. Eu não quero esquecer de onde eu vim e não quero esquecer para onde eu vou voltar.
Mas eu quero andar nesse país de cabeça erguida, de cabeça erguida. Eu contribuí para ajudar esse país a sair da mesmice que ele sempre viveu. Porque era muito fácil esse país ser bom para meia dúzia e ruim para todo mundo. Passam na rua, tem gente dormindo na sarjeta, nem olho. Vindo pessoas para não olhar, acham que a culpa é do governo.
Então gente, quero que vocês saibam, eu tenho orgulho de vocês e não tenham medo de divergir de mim. Eu jamais arrumei um adversário pela divergência. Divirja, vamos debater e que prevaleça quem tiver mais argumento. Porque nós estamos vivendo numa era em que o argumento vale muito pouco. O que vale é mentira, o que vale é a cretinice, o que vale é maldade. E nós precisamos voltar à era em que o argumento é que justifica a gente fazer as coisas.
Um abraço, que Deus abençoe vocês e muito obrigado ao companheiro Padilha [Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais] pela organização.