Pronunciamento do presidente Lula durante reunião com reitores das universidades e institutos federais
Eu estou com um tempo muito restrito, porque parece que foi um boicote de não me deixar falar, por último. Eu só tenho 15 minutos para falar. Eu primeiro quero dizer para vocês que eu estou muito feliz cada vez que eu participo de um ato sobre educação. Eu tenho clareza de que nunca antes na história desse país a gente teve um governo que tivesse tanta preocupação com a educação como nós temos.
E vocês sabem que a minha preocupação é uma coisa muito elementar, não é uma coisa muito intelectualizada. A minha preocupação com a educação é simplesmente porque, como eu não tive o direito de fazer universidade, eu acho que é preciso, eu estando na Presidência da República, garantir que todas as pessoas que ainda hoje vivem na situação que eu vivia quando tinha 18 anos, tenham o direito de estudar numa universidades.
É por isso que eu gosto de falar de educação.
A segunda coisa são os institutos profissionais. Nós vamos chegar a 782. Não é pouca coisa. De vez em quando a gente precisa fazer comparação. Em 100 anos foram feitos 140. Nós, em pouco menos de 15 anos, já vamos entregar 782 institutos nesse país. E por quê? Porque nós também achamos que não é possível você desenvolver as cidades periféricas, as cidades médias e pequenas no interior do país se você não tiver institutos federais que possam, em função desse curso existir, você adaptar a realidade local para que você tenha a capacidade de produzir o desenvolvimento regional.
Não é no Instituto Federal de Ipatinga a gente querer ensinar a mesma coisa que ensina no Instituto Federal da cidade do Rio de Janeiro ou da cidade de São Paulo. Não. Lá pode ter muitas coisas iguais, mas nós temos que saber qual é a aptidão do desenvolvimento daquela região, o que o instituto pode fazer para que a gente crie um mundo de trabalho mais dinâmico, um mundo de trabalho inovador para esses milhões de jovens, porque também não adianta nada a gente dar curso para todo mundo e ele terminar no curso e não vai ter emprego, porque estão aprendendo a mesma coisa que todo mundo está aprendendo.
Então, é importante que a gente leve em conta isso, é a gente voltar com os nossos institutos a fazer ensino profissional. Eu digo todo dia, se as pessoas soubessem a importância que tem uma profissão, se as pessoas soubessem a importância que tem uma formação no Instituto Federal, as pessoas até não desistiriam de estudar. Porque, eu não sei se vocês perceberam, nós falamos de bolsa aqui pro Instituto Federal, para as pessoas mais pobres, mas nós estamos fazendo o Pé-de-Meia para quase 4 milhões de jovens das escolas do ensino fundamental que passam pro ensino médio e que desistem da escola.
Se a gente não tiver a preocupação de fazer esse investimento, a gente, no ano seguinte, vai gastar fazendo cadeia ou contratando polícia para diminuir a violência nos lugares. E por que eu estou começando com isso? Eu estou começando a dizer isso porque eu queria fazer um apelo a vocês. Nós já anunciamos 100 novos institutos. Nós acabamos de anunciar mais 10 campi das universidades, inclusive o Baturité vai ter uma extensão da Unilab. Em Baturité vai ter uma extensão da Unilab.
A UNILA, depois de muito tempo parada, eu fico muito triste porque eu achei que a universidade não parava nunca. E eu, depois de voltar para a presidência, descobri que a UNILA estava como nós deixamos. Ou seja, não aconteceu nada na UNILA. E você sabe que para refazer o projeto é mais caro porque tem que fazer estudo para saber se o prédio está rápido, se é só para fazer alguma coisa nova. Eu queria fazer um apelo para vocês. Eu cobro toda semana no Camilo [Camilo Santana, ministro da Educação]. “Camilo, pelo amor de Deus, nós temos que começar a construir os institutos que nós anunciamos”. Se não tem terreno, vamos comprar o terreno. Os reitores podem ir nos prefeitos e saber se tem prédio na cidade em que a gente pode colocar o instituto.
O que a gente não pode é anunciar, e um ano depois não ter acontecido nada com a desculpa de que não tem terreno, com a desculpa de que é moroso, com a desculpa que o projeto é demorado, com a desculpa de que não, pelo amor de Deus, nós temos que fazer acontecer. Nós temos que fazer acontecer.
E vocês perceberam que nós escolhemos os novos campi, que a gente quer fazer, pelo vazio educacional. Não teve critério político-partidário, político-eleitoral, não. Qual é a região que tem menos curso superior? É lá que a gente vai fazer. É lá que a gente vai atender. Jequié, por exemplo, na Bahia, que foi uma inclusão do Rui Costa [ministro da Casa Civil] na Bahia, pra gente colocar Jequié. Aí você tem várias cidades pequenas, que muita gente fala: “mas a cidade só tem 50 mil habitantes, como é que vai ter um curso lá?”.
Mas não é só para aquela cidade, é para as cidades vizinhas também. O que nós queremos é interiorizar a possibilidade das pessoas estudarem. Então, eu não vou falar dos números porque seria repetir os números que o companheiro Camilo falou. Eu só queria que vocês levassem em conta o seguinte, gente. Se a gente colocar em andamento as coisas que nós estamos anunciando, se a gente conseguir aplicar rapidamente o dinheiro que foi anunciado, a gente tem chance de ir buscar mais dinheiro.
Eu digo pra vocês que, muitas vezes, o dinheiro aparece quando você tem um projeto que seja um projeto incontestável. Não é discurso que faz dinheiro, é projeto. Então, como vocês têm um presidente da República que não tem de diploma universitário mas que gosta de universidade, como vocês têm um presidente da República que gosta de educação, que acha que a educação é a única saída para esse país virar um país desenvolvido, realmente desenvolvido, competitivo, em qualidade e quantidade, nós precisamos fazer as coisas acontecerem.
Então, o dinheiro para os hospitais tem que ser feito logo, precisa ir em cima pra fazer. Se tiver licitação, fazer rápido e começar a construir, até porque o país precisa de emprego. Nós queremos que no final o Caged anuncie mais emprego. Porque a gente está vivendo um momento extraordinário no Brasil.
Veja que coisa interessante, Camilo. Em quatro meses nós geramos 911 mil empregos formais, mais do que em muitos anos. Nós voltamos a recuperar o poder de compra do salário mínimo. Nós estamos vendo a massa salarial crescer quase 11% nesse país. Nós estamos vendo a inflação controlada. Nós estamos vendo a entrada de investimentos internos aqui no Brasil. E nós estamos com o PAC começando a funcionar.
Ou seja, tudo isso é para gerar um otimismo nesse país de que a coisa vai acontecer. E eu posso dizer para vocês que as coisas vão acontecer. Elas vão acontecer porque têm que acontecer. Porque o Brasil não vai jogar fora esse novo ciclo de desenvolvimento que se apresenta para o Brasil com essa coisa da transição energética. A gente não vai perder o bonde da história como muitas vezes o Brasil perdeu.
E para isso a gente precisa de ter mais universidades, ter mais alunos estudando, ter mais institutos federais. E por isso eles têm que ser feitos com uma certa rapidez. Esse é o apelo que eu faço para vocês, é que a gente coloque esse dinheiro para gerar emprego, gerar sala de aula, gerar laboratório, levar, sei lá o que, salão para reunião, qualquer coisa, mas que o dinheiro seja aplicado rapidamente para que a gente possa fazer mais um pacote de mais dez, depois mais um pacote de mais dez.
Senão acaba esse, não tem novo pacote, até acabar esses. Então está na mão de vocês a bola. Está na mão de vocês, liderado pelo ministro da Educação. Outra coisa que eu queria fazer um apelo aos institutos e às universidades.
Eu participei de uma reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, e a reunião era para discutir inteligência artificial. Eu resolvi fazer um desafio ao conselho que estava reunido para que eles me apresentassem, era para ser agora em junho e foi adiado para agosto, foi adiado à Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, para que a gente apresente um projeto de Inteligência artificial feito por esse país e eu quero fazer o desafio para as universidades aqui presentes.
Eu quero fazer o desafio para as universidades aqui presentes, que os nossos magníficos reitores e reitoras levem para o debate no conselho que é o seguinte: cada universidade pode tentar apresentar um projeto para o governo em inteligência artificial.
Em toda reunião que eu vou agora, qual é o assunto? Inteligência artificial. Eu vou para o G7 essa semana. Eu vou participar da reunião do G7. Qual é o assunto? Inteligência artificial. Aí vai ter no G20: inteligência artificial. Aí vai ter nos BRICS: inteligência artificial. E cada reunião que você faz é inteligência artificial. E nós ficamos só ouvindo os outros falar o que tem e nós, o que nós temos?
Então, desafio a fazer o seguinte. Nós temos Luciana (Santos), ministra da Tecnologia, nós temos ministro Camilo, da Educação, nós temos reitores e reitoras, capacidade de produzir um projeto nosso de inteligência artificial. Nós seremos capazes de fazer. Então, vamos fazer para a gente chegar no mundo e apresentar um projeto, um projeto feito no Brasil em língua portuguesa por brasileiros de todos os tipos que a gente quiser.
Mas vamos fazer esse debate na universidade, vamos abrir esse debate sobre essas coisas que é o futuro desse país. A última coisa que eu queria dizer para vocês. Primeiro, eu comecei falando da minha alegria de participar de uma reunião com a educação. Não é a primeira e não será a última. Eu quero que, quando alguém for escrever uma biografia minha, alguém diga o seguinte: “o Lula foi o único presidente da República que nunca recusou uma reunião com reitores dos institutos e das universidade. E quando os reitores não pediam reunião, era o Lula que telefonava pra ele que queria fazer uma reunião”.
Primeiro, porque pra nós é importante saber como é que vocês... Eu fico muito triste, converso pra vocês que tem uma coisa que me baqueia é ver no jornal: “Universidade Federal do Rio de Janeiro não tem dinheiro nem pra pagar a conta da luz. Universidade não tem dinheiro pra fazer tal coisa”. Isso é uma coisa melancólica. É uma coisa triste.
Então, ao invés de sair na imprensa venha para o governo e diz o seguinte: tá faltando tal coisa. Prove que tá falando que a gente tem que arrumar dinheiro. Porque se a gente não consegue atender a necessidade básica das universidades, esse negócio de refeitório pra meninada comer, esse negócio de lugar para as pessoas dormirem.
Isso é o elementar pra gente poder colocar o Brasil em situação de igualdade com outros países que já enfrentaram a educação. E vocês têm que ajudar o governo, por que? Porque nesse país, a elite política nunca teve preocupação com a educação do povo, porque os filhos deles foram estudar no exterior.
Esse negócio de aparecer governo preocupado em colocar indígenas na universidade, colocar quilombola na universidade, esse negócio de colocar gente da escola pública na universidade, isso não é normal. O normal é que universidade foi feita para rico, universidade foi feita para rico, não para pobre. E quando a gente faz uma inversão, de que universidade não é para rico nem para pobre, universidade é para quem quer estudar e consegue, dentro da regra do jogo, competir, é para todo mundo.
Essa é a inovação que nós estamos fazendo, que a gente gostaria de ter, da parte de vocês, um empenho para que a gente começasse logo. Camilo sabe, nós temos só em São Paulo 12 novos institutos para anunciar. Doze novos institutos para anunciar. Eu por mim, eu levaria um instituto pronto, eu levaria uma coisa já pronta. Se tivesse um modelo Lego, eu já levaria. Porque é o que vai fazer a gente colocar essa molecada para estudar.
E depois, a escola tem que ser muito boa. Eu, às vezes, eu preciso até fazer um estudo para saber se as pessoas desistem da escola porque tem necessidade de desistir, porque precisa viver, ou se a escola não está sendo atraente. É preciso saber se o curso está sendo atraente. O curso desperta tesão no aluno. Ele levanta de manhã: “eu vou porque eu não quero perder aquela aula, eu não quero perder aquele professor, eu vou porque lá…”.
É isso. Ele fala: “eu vou para a escola chata, chata, que professor chato, que professora chata, que não sei o que é chato”. Eu estou dizendo isso, porque quando a gente pensou em criar a Olimpíada da Matemática aqui nesse país, diziam que muitas escolas públicas não queriam ir para a Olimpíada da Matemática. “Aluno pobre não gosta, é só para a escola privada”.
E hoje nós temos a maior Olimpíada da Matemática do mundo. E hoje tem a Universidade de Matemática que foi criada para premiar os medalhistas de ouro. Agora, Camilo, amanhã nós vamos entregar medalha. Tem menino que tem a sexta medalha, a quinta medalha, a quarta medalha. E essa molecada são os nossos gênios que a gente tem que aproveitá-los aqui dentro, formá-los aqui dentro para não deixar eles escaparem que nem jogador de futebol.
Marca um gol e já vai embora pro exterior. Não, nós queremos que marque gol e fique aqui, sobretudo, na questão da matemática, na questão da engenharia, na questão de outros cursos importantes para o Brasil.
Portanto, companheiros e companheiras, eu quero que vocês saibam que a vinda de vocês aqui para mim é um presente. Falar que eu farei mais uma reunião. Tá anotado ali para colocar no meu currículo, mais uma reunião do Lula com reitores.
Eu queria só pedir aos companheiros que, eu sei que não é o caso de falar com reitores aqui. Essa questão da greve, a greve ela tem um tempo para começar e tem um tempo para terminar. A única coisa que não se pode permitir é que uma greve termine por inanição. A única coisa que não pode acontecer, porque se ela terminar, as pessoas ficam desmoralizadas.
Então, o dirigente sindical tem que ter coragem de propor, ele tem que ter coragem de negociar, mas ele tem que ter coragem de tomar decisões, que muitas vezes não é o tudo ou nada que ele apregoou. Eu sou um dirigente sindical porque eu nasci no tudo ou nada. Para mim era o seguinte, ou 100% ou é nada, ou 100% ou é nada, ou 83% ou é nada, ou é 45% ou é nada. Muitas vezes eu fiquei com nada.
E eu acho que nesse caso da educação, se vocês analisarem o conjunto da obra, vocês vão percebemos que não há muita razão para essa greve estar durando o que está durando, porque quem está perdendo não é o Lula, quem está perdendo não é o reitor, quem está perdendo é o Brasil e os estudantes brasileiros. É isso que precisa ser levado em conta, e não é por 3% ou 2% ou 4% que a gente fica a vida inteira de greve. Vamos ver os outros benefícios.
Vocês já têm noção do que foi oferecido. Vocês conhecem o que foi oferecido? Vocês conhecem? Porque no Brasil está cheio de dirigente sindical que é corajoso para decretar uma greve, mas não tem coragem de acabar com a greve. Eu fui dirigente sindical, eu sei como é que funciona as coisas, sabe? Já participei até da greve da USP, 1979, mas eu só queria que levasse em conta o seguinte, gente. O montante de recursos que a companheira Esther [ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos] colocou à disposição é um montante de recursos não recusável.
Eu só quero que leve isso em conta, porque senão nós vamos falar em universidade e Instituto Federais e os alunos estão à espera de voltar à sala de aula.
Muito obrigado. Parabéns a vocês. Parabéns, Camilo.