Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento da pedra fundamental de novos campi em São Paulo
Companheiros e companheiras da Zona Leste, esse dia é um dia muito esperado por mim, porque eu sei que não é de hoje que vocês pleiteiam, que vocês se organizaram e que vocês brigam para que a gente tenha a educação de qualidade na Zona Leste, da creche à universidade.
Eu tive o prazer de ter no companheiro Fernando Haddad o melhor ministro da Educação que esse país já teve. Eu tenho o prazer de ser o presidente da República que mais investi em universidade, que mais investi em institutos federais, que agora estamos investindo em escolas de tempo integral, que agora estamos investindo no ensino médio, porque nós queremos formar cidadãos, porque esse país não pode ser eternamente um exportador de commodities, esse país tem que ser um exportador de inteligência, de conhecimento, e por isso nós precisamos garantir educação de qualidade para as crianças desde o primeiro ano do ensino fundamental ou da creche.
Por isso é que é um dia marcante para mim, porque eu já vim aqui o ano passado na Zona Leste e já falei que eu vinha, que a gente ia fazer a universidade e que a gente ia fazer o instituto. Mas eu queria pedir desculpas aos companheiros que são palmeirenses, aos companheiros que são são paulinos, aos companheiros que são santistas, mas essa não é a primeira universidade aqui, porque a primeira universidade é o estádio do Corinthians, que é a universidade do futebol brasileiro.
Obviamente que nós estamos com um problema na nossa universidade do futebol. Me parece que os professores não estão muito bem. Me parece que os alunos não estão estudando, porque o Corinthians só chega em primeiro lugar se a gente virar a tabela de ponta-cabeça, e isso não é possível. Não é possível.
Então eu estou feliz, porque quando eu era dirigente sindical nos anos 75, 78, 79, 80, eu vinha muito à Zona Leste. Eu vim fazer muitos debates nas Coab 1, Coab 2. Ou seja, porque tinha muito metalúrgico no ABC que morava aqui. Então, às vezes, a gente vinha de sábado e domingo fazer uma discussão com esse pessoal.
E é um prazer estar aqui com a companheira Marta Suplicy. Essa companheira que todo o povo de São Paulo tem na mente, proativamente, a mulher que criou o CEU (Centro de Educação Unificado), que criou o transporte integrado. Ou seja, uma pessoa que fez uma gestão extraordinária. Eu, desde que a Marta não ganhou a reeleição, eu dizia pra Marta quando eu vim inaugurar o CEU de Guaianases. Eu vim inaugurar o primeiro CEU. Eu já era presidente da República.
Eu fiquei bestificado de ver a qualidade do CEU. E ver uma escola que a gente sonha para o nosso filho. Uma escola com sala de aula arejada, com ar-condicionado. Uma escola com computador. Uma escola com teatro. Uma escola com piscinas para as pessoas poderem praticar. E quem frequentava aquela escola era o pessoal mais pobre da periferia de São Paulo.
E eu disse para a Marta: "Marta, você vai perder as eleições, porque você cuidou muito das pessoas mais pobres. E algumas pessoas que não são tão pobres acham que você não deveria fazer só para os pobres, que os filhos deles também querem uma escola de qualidade, querem o CEU".
E eu tenho certeza que foi esse preconceito que derrotou a Marta. Porque quando a Marta foi derrotada, ela tinha 60% de aprovação de bom/ótimo. Então a única coisa que justifica é o preconceito contra as pessoas que fazem políticas dando preferência para os pobres.
E eu queria dizer pra vocês que quando a gente fala de preferência pelos pobres, tem muita gente que fala: "O Lula só fala pra pobre. O Lula só fala pra pobre". Não. Eu falo pro povo brasileiro. Acontece que eu sempre disse que eu queria governar o Brasil e o meu coração tem que funcionar como se fosse o coração de uma mãe.
Uma mãe, ela pode ter 10 filhos. Ela acha os 10 bonitos. Ela acha os 10 inteligentes. Mas ela vai ter sempre um carinho especial por aquele que está mais fragilizado. Por aquele que está mais debilitado. Por aquele que tá mais magrinho. É nele que ela vai fazer um cafuné a mais. É nessa criança que ela vai fazer.
Então eu quero governar o país para os empresários. Eu quero que os empresários ganhem dinheiro. Porque ganhando dinheiro, ele gera emprego. Gerando emprego, gera salário. Gerando salário, gera consumo. Consumo gera comércio. Comércio gera mais emprego, gera mais salário. Então eu quero que a economia cresça. Eu quero que todo mundo cresça.
Mas é importante que a gente coloque o povo mais humilde para subir um degrau na escala social desse país. E começa pela educação. Começa pela educação. Não é de hoje que eu falo. Desde que eu fui candidato a governador em 82 aqui em São Paulo, eu dizia. Eu só ficarei sossegado o dia que a gente tiver um país em que as crianças disputem uma vaga na universidade não pelo berço que nasceram, não pelo hospital que nasceram, não. O Estado tem que garantir à filha mais humilde de uma empregada doméstica o direito de entrar na universidade em que vai estudar o filho da patroa, se ela for universidade pública, tem que ser igual para todo mundo.
O que é que eu quero? Eu não quero tirar dela. Eu não quero tirar de ninguém. Eu não quero que o filho mais rico deixe de estudar para o pobre estudar. Não é isso que eu quero. O que eu quero é apenas igualdade de oportunidade. Apenas igualdade de oportunidade. Como aquele jogador que fica no banco de reserva. Ele fica pensando: "Pô, deixa eu entrar pra eu mostrar que eu sou bom". Às vezes entra e não faz nada. Mas eu acho que é esse sonho.
A outra coisa importante de dizer pra vocês é parar com essa ideia das pessoas acharem que as pessoas gostam de ser pobres. Gente, ninguém gosta de ser pobre. Ninguém gosta de não ter profissão. Ou seja, porque quando a pessoa é engenheiro, a pessoa procura uma vaga. Quando a pessoa é dentista, tem emprego garantido. Quando é médico. Mas quando a gente não tem profissão, a gente não é nada. Ajudante geral. É uma profissão, sabe, que não tem um salário alto.
Então, o que é que nós queremos? Nós queremos dar oportunidade para que cada criança, cada adolescente, cada pessoa tenha a oportunidade de ter mais oportunidade, mais estudo que o seu pai e que a sua mãe tiveram para ajudar a cuidar da família.
E depois é o seguinte, dizer que a gente se veste mal, pobre gosta de coisas de segunda categoria. Não é verdade. Esse negócio de dizer que pobre gosta de ir na feira, na xepa, às 11 horas, porque ele vai pegar aquelas coisas que já estão amassadas. Porque os que vão primeiro aperta ovo, aperta tomate, aperta batatinha, aperta o alface. Quando a gente vai, está tudo amassado. Não! O povo mais humilde quer ir na feira de manhã para comprar os melhores produtos. As melhores laranjas.
É isso que nós queremos, gente. E nós achamos que o Brasil pode fornecer pra todo mundo isso. Então, eu, efetivamente, eu não sou o pai dos pobres. Eu não sou. Eu sou um pobre que chegou à Presidência da República por causa dos pobres desse país que me elegeram. Eu nada mais sou do que um de vocês que teve oportunidade de vir aqui.
Porque na minha vida, companheiro Boulos, na minha vida, eu sei o que é fome. Eu sei o que é desemprego. Eu fiquei um ano e meio desempregado, andando com uma carteira profissional no bolso da bunda e só ouvindo ‘não, não’.
Eu sei o que é ir morar em enchente. Eu peguei cinco enchentes na minha vida. Duas em São Caetano e três na Ponte Preta, e mais uma na Vila Carioca. Eu sei o que é acordar de noite com água dentro de casa, com rato, com barata, com fezes boiando. Eu sei o que é a gente ter que tirar as pessoas mais velhas e levar para um lugar para dormir. E esse país não pode continuar assim.
Esse país é um país em que todos têm que ter o direito de trabalhar, o direito de morar, o direito de estudar, o direito de ter acesso ao lazer, o direito de ir uma vez por mês no restaurante levar a família para comer alguma coisa.
E aí, é por isso que nós, quando fomos presidentes da outra vez, a gente criou o Simples, para que a gente pudesse fazer investimento no pequeno e médio empreendedor desse país, ajudar o pequeno e médio empresário, ajudar o pequeno e médio comerciante, porque ele gera emprego e ele gera o desenvolvimento na periferia desse país, é isso que nós temos que fazer.
É por isso que o Haddad apresentou, numa reunião do governo, um programa chamado Acredita. Ele ainda não está funcionando, porque não está totalmente aprovado, mas o Acredita é a mais importante política de crédito já feita nesse país.
E é por isso que eu gosto de dizer: se tiver crédito, tem crescimento econômico, se tiver crédito, tem desenvolvimento social, se tiver crédito, a economia cresce. E é por isso que nós queremos fazer política de crédito para que as pessoas possam ter acesso.
Nós temos um banco chamado BNB, é o Banco do Nordeste, ele tem uma política chamada Crédito Amigo. São 4 milhões de pessoas que pegam emprestado R$ 2 mil, R$ 3 mil, R$ 4 mil, acho que não chega a R$ 20 mil. E essas pessoas, quando pegam o empréstimo para desenvolver uma atividade, sabe, artesanal, a coisa vai para frente.
É esse país que eu quero criar, e é por isso, reitora, que eu imploro para você, pelo amor de Deus, eu quero vir inaugurar esse instituto no meu mandato, e quero inaugurar a universidade no meu mandato. Eu tenho medo de deixar e as coisas não acontecerem, porque eu encontrei universidade que a gente fez no tempo do Haddad, que ainda falta fazer laboratório, falta fazer sala de aula, porque quem veio depois não deu a atenção necessária, sobretudo nos últimos 8 anos.
Então, companheiros, estar aqui com vocês podendo dizer para vocês que a gente vai consertar esse país é pouco. Nós estamos apenas há um ano e sete meses no governo. Nós encontramos esse país, eu não sei se vocês veem na televisão, a Faixa de Gaza lá dos palestinos. Eu não sei se vocês veem a destruição que a guerra está fazendo lá. Nós encontramos um país assim. Nós encontramos um país sem ministérios. Nós encontramos um país sem funcionários. Nós encontramos um país com um rombo de quase R$ 300 bilhões.
Nós encontramos um país em que se não fosse uma PEC de transição, a gente não governava, porque nós tivemos que fazer uma PEC. É a primeira vez na história do Brasil que alguém começa a governar antes de tomar posse. Foi o que nós fizemos de governar antes de tomar posse, porque o desastre que esse país tinha submetido, ele será inesquecível. E o povo leva um tempo para amadurecer.
A outra coisa que eu quero dizer para vocês é que nós estamos vivendo um bom momento. Eu não sei se vocês acompanham os números da economia na televisão. Hoje tem um número importante. Hoje nós temos o menor desemprego desde 2014. Ou seja, significa que nós temos hoje o menor desemprego desde 2014, ou seja, há dez anos.
Hoje nós temos um crescimento da massa salarial, da renda das pessoas, de 11,7%. Hoje nós temos aumento do salário mínimo de acordo com o crescimento do PIB. Hoje nós temos condições de dizer para vocês, os acordos salariais feitos pelos sindicatos no governo passado, 80% era feito abaixo da inflação. Hoje os acordos são feitos com aumento real.
Nós tínhamos uma indústria automobilística que fazia 20 anos que não anunciava um investimento. Eles foram anunciar para mim, para o Alckmin e para o Haddad, investimentos de R$ 129 bilhões. Hoje nós temos um PAC que investe R$ 1,7 trilhão nesse país.
Hoje eu vim aqui, num estado que não é governado pelo PT, num estado que é governado por adversários. E viemos anunciar um monte de coisas, inclusive financiamento para o metrô. Porque eu não estou preocupado quem é o governador do estado, eu estou preocupado quem é o povo de São Paulo que necessita que a gente trate deles.
Então, companheiros, nós vivemos um bom momento. As coisas estão indo muito bem. Eu tenho certeza que vocês sabem que as coisas estão indo bem. Esses dias eu decidi importar 1 milhão de toneladas de arroz para baixar o preço do arroz, porque estava R$ 36 um pacote de 5 quilos.
Deu uma confusão desgraçada, mas eu acho que o arroz começou a baixar. E eu quero que o feijão baixe, eu quero que a carne baixe, porque aquele sonho de que a gente vai voltar a comer uma picanha e tomar uma cerveja vai e já está acontecendo. É isso.
Então, as coisas têm que funcionar corretamente. Se o pequeno comerciante, o pequeno empresário estiver dando certo, ele vai gerar emprego. Se ele gerar emprego, ele vai gerar mais um consumidor. Se o restaurante da nossa vila estiver vendendo bem, ele também vai gerar emprego. Na hora que ele gera emprego, a economia começa a crescer. O pequeno cresce, o médio cresce e o grande cresce.
É esse o país que nós queremos construir. E a Zona Leste é o exemplo maior de um povo resiliente, de um povo de muita resistência e de um povo de luta. Por isso, meus companheiros e companheiras, eu, no primeiro mandato meu, nós fizemos aquela propaganda que o Haddad falou. Nós colocamos o Ronaldão. Não sei se vocês lembram o nosso Ronaldo, o artilheiro na Copa do Mundo de 2002, o Fenômeno. Ele tinha machucado o joelho no jogo da Internazionale de Milão. E a imprensa brasileira dizia que tinha acabado a carreira do Ronaldo. Ele tinha acabado pro futebol. Nós fizemos uma propaganda em que a gente mostrava o Ronaldo treinando, fazendo treino todo santo dia. E ele volta e é o artilheiro da Copa do Mundo de 2002.
E por isso nós falamos: nós somos brasileiros e não desistimos nunca. Nós somos brasileiros, acreditamos em nós e nós vamos lutar. E sobretudo vocês, sobretudo vocês dessa periferia sagrada, vocês têm que dizer: "Eu sou da Zona Leste. Eu tenho orgulho de ser da Zona Leste. Eu moro na Zona Leste, eu gosto da minha rua, eu gosto da minha vila, eu gosto da minha casa".
Ninguém tem que ficar de cabeça baixa porque está diante de alguém que olha pra gente com certo desprezo. A gente não pode baixar a cabeça, tem que andar de cabeça erguida, sem nariz empinado, mas dizer: "Eu sou brasileiro, não desisto nunca e quero vencer pra minha família vencer". É por isso que nós fazemos investimento em educação. Porque não existe modelo de país desenvolvido sem que antes investissem na educação.
A inteligência, o saber é que faz a diferença. E a escola, professora, pelo amor de Deus, um instituto federal e uma escola técnica, ela precisa formar a juventude de uma cidade, sabe, pra tentar descobrir a aptidão de desenvolvimento daquela região. Aqui deve ter um mercado extraordinário de coisas que somente o povo que tá aqui sabe.
Por isso, meu compromisso com vocês. Meu compromisso com vocês é o seguinte: eu vou voltar pra inaugurar. Eu vou voltar para inaugurar o instituto, para inaugurar a faculdade, mas mais do que isso, eu vou voltar quando o Corinthians estiver em uma posição melhor na tabela do Campeonato Brasileiro, porque ele não tá muito bem.
No mais, eu quero agradecer o carinho, a gentileza e o respeito que vocês sempre tiveram comigo. Eu só quero que vocês saibam. Eu não sou um presidente da República que está junto do povo. Eu sou o povo que está na Presidência da República desse país por conta de vocês.
Um abraço, gente.
Parabéns, Camilo. Parabéns, Haddad. Parabéns, Alckmin. E até a inauguração da nossa universidade e de nossos institutos.