Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de moradias do programa Morar Carioca, no Rio de Janeiro
Eu não vou ler uma nominata que tem nome de vereadores, mas, certamente, eu quero dar os parabéns aos vereadores que têm ajudado o Eduardo Paes a tão bem governar essa cidade. Quero cumprimentar os deputados federais, cumprimentando a companheira Laura, que é uma deputada que tem nos ajudado muito em Brasília e tem permitido que a gente consiga aprovar as coisas para governar. Mas eu quero tudo dizer para vocês que eu estou emocionado com as pessoas que receberam essas casas.
Veja, nós tínhamos começado a construir o Minha Casa, Minha Vida em 2009. Quando eu deixei a Presidência da República, em 2010, a gente tinha feito um milhão de pessoas inscritas no Minha Casa, Minha Vida. Nós já conseguimos fazer quase 7,8 milhões casas.
Lamentavelmente, houve um período conturbado nesse país, e a gente teve um governo que esqueceu de fazer as coisas para o povo e passou a contar mentiras para esse povo. Eu encontrei, quando eu voltei em 2022, 87 mil casas que tinham sido começadas em 2011, 2012, 2013, 87 mil casas totalmente abandonadas.
Essa semana, eu fui a Fortaleza entregar um conjunto habitacional que era para ter sido entregue em 2018, mas não entregaram. E as pessoas do lado do prédio, olhando para o prédio pronto, e não teve um governo com a decência de respeitar o povo e entregar aquela casa. Então, nós começamos, o ano passado, a retomar todas as obras paralisadas. Só de escola, Eduardo, só de escola, eram quase 6 mil obras paralisadas nesse país. Seis mil!
Na saúde, quase que 3 mil obras paralisadas. Ou seja, esse país, ele foi abandonado, porque governar não é mentir, governar não é falar, governar é fazer. E, por isso, vocês estão lembrados, vocês estão lembrados, que a Dilma tinha criado o programa Mais Médicos.
O Mais Médicos era para levar médicos em todos os lugares que não tinham médicos. Quem é da saúde sabe. Aqui no Rio de Janeiro, mesmo na periferia mais pobre, tem médico que não quer ir, porque, às vezes, ele não tem segurança, ele tem medo da violência, ele quer ficar lá perto de Copacabana, de Ipanema, que lá é mais tranquilo.
Então, o Mais Médicos era para levar médicos em cada lugar que ninguém quisesse ir. Nós chegamos a ter 23 mil médicos. Quando eu voltei para a Presidência da República, a gente só tinha 12 mil e 500 médicos no Mais Médicos. Hoje, nós temos 26 mil e 500 médicos trabalhando na saúde.
Bem, eu estou mostrando... Só aqui no Rio, tem 400 médicos do Mais Médicos. Por que que a gente está fazendo isso? Porque o povo mais humilde, o povo trabalhador, ele só é lembrado pelas pessoas na época da eleição.
Na época da eleição, o povo pobre é muito falado no palanque. Todo mundo gosta de pobre, todo mundo elogia pobre e todo mundo fala mal de banqueiro, fala mal de empresário, mas elogia o pobre, porque a maioria é pobre, a maioria tem voto. Só que, depois que as pessoas ganham as eleições, nunca mais essas pessoas se lembram do pobre.
Aí começam a conviver, andar de jet ski, começam a visitar, sabe, um monte de coisa. Eu, por exemplo, não precisaria estar aqui. Eu, por exemplo, hoje, eu estava, eu saí quinta-feira de Brasília, eu fui a Contagem, Minas Gerais, eu fui a Belo Horizonte, eu fui a Juiz de Fora, bem aqui perto do Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde eu fui entregar dois institutos federais, anunciar em duas comunidades muito pobres, uma faculdade na Zona Leste de São Paulo, um instituto federal no Jardim Tiradentes, na Cidade Tiradentes, que é um lugar muito pobre, e no Jardim Ângela, que era o lugar mais violento de São Paulo, onde eu fui anunciar um instituto federal para formar as crianças daquele bairro em cidadãos e cidadãs decente.
E hoje, hoje, eu ia para casa. Eu ia para Brasília de manhã, quando a dona Janja falou: “Olha, o Eduardo Paes, ele está querendo que a gente vá no Rio de Janeiro, porque ele vai inaugurar um prédio na Comunidade do Aço, e ele acha que você tem que estar presente porque é uma coisa histórica, é uma recuperação da dignidade do povo pobre daquela região do Rio de Janeiro.”
E eu, toda vez que eu participo de uma obra de reconstrução da vida das pessoas, eu conto um pouco a minha história para as pessoas saberem de uma coisa. Quando eu saí de Pernambuco, que eu cheguei em São Paulo, a primeira casa que eu fui morar era um quarto e cozinha, nos fundos de um bar, e que o banheiro que a minha família usava, minha mãe e oito filhos, era o banheiro que as pessoas, que viviam no bar, iam utilizar. Um quarto e cozinha, a gente morava em 13 pessoas. Dormia naquelas caminhas de armar, aquelas caminhas de bola.
Depois, quando eu pude comprar minha primeira casa, em 1975, Eduardo, eu fui comprar uma casa, 33 metros quadrados. Este apartamento tem 48. Pois a minha casa tinha 33 metros quadrados. E eu morei lá até a campanha de 1989. Eu morava nessa casa de 33 metros quadrados, com mulher, três filhos, uma sogra e duas cachorras. E era feliz, e era feliz, porque eu estava morando em uma coisa minha.
Era pobre, mas era minha. Era pobre, mas eu tinha comprado com o meu salário. Eu conto isso para vocês saberem que vocês não têm, como presidente da República, um estranho no ninho.
Eu vinha contando para o Eduardo. Eu morei em uma casa em São Paulo. Eu não esqueço a vila: Vila Carioca. Não esqueço a rua: Rua Auris Verde. Não esqueço o número: 1156. Eu morei lá em 1958.
E lá, Eduardo, tem um armazém de 44 mil m² do IBC, abandonado. Em 2010, eu tentei tomar aquele prédio para fazer uma área de lazer para aquele povo pobre. A Justiça Federal me deu, mas não deu. Ela me entregou um papel, mas eu deixei a Presidência. Eu não sei o que aconteceu, porque o prédio não devolveram para o governo.
Agora eu fui atrás. É um prédio que dá dez Maracanãs. É muito grande, coberto, alto. E eu estou querendo pegar aquilo para quê? Para fazer uma coisa de lazer, porque o povo mais humilde não tem cinema, não tem teatro. As pessoas não podem participar de nada, porque tudo é feito no centro das cidades.
Ontem, eu fui no Jardim Ângela. Aquela meninada vive a uma hora do centro de São Paulo, sabe? É uma desgraça. Aquelas pessoas nunca foram no cinema, nunca foram no teatro.
Então, eu morei nessa casa, Eduardo. A gente morava em 27 pessoas num cortiço. Vinte e sete pessoas. Só tinha um banheiro. Não tinha descarga. Tinha que levar um balde para dar descarga. Não tinha chuveiro. A gente tinha que ter um balde com chuveirinho. Colocava água, suspendia. E nem papel higiênico tinha. Era jornal, era revista, era tudo.
Porque a vida era desgraçada.
A gente levantava entre 6 e 8 horas, 27 pessoas para ir no mesmo banheiro. Tomar banho a gente não tomava. Naquele tempo, a gente só lavava o rosto, tirava remela e ia trabalhar. Tomava banho na fábrica quando voltava para casa.
E eu estou aqui. Eu nunca fiquei chorando as desgraças que eu passei. Eu sempre acreditei que era possível a gente levantar a cabeça, acreditar muito em Deus, ter fé e a gente vencer na vida.
Então, é com muito orgulho, com muito orgulho, que eu sou o primeiro presidente da República que não tenho diploma universitário. Mas eu sou o presidente da República que mais fiz universidades nesse país, que mais fiz institutos federais e que mais estamos investindo na formação técnica desse povo. E eu faço isso porque eu tenho uma obsessão.
Eu, Eduardo, sempre quis estudar. Mas eu, com 12 anos, já tinha que trabalhar de tintureiro. Já tinha que trabalhar de engraxate para poder comprar as coisas para comer. O meu maior prazer da vida era quando eu engraxava três pares de sapato, eu comprava meia bengala de pão, colocava a mortadela dentro, comprava uma tubaína e comia meia bengala, sabe, com a tubaína, era a coisa mais fantástica. Meia bengala é meio filão de pão. Aquilo era o maior prazer da minha vida.
Então veja, eu sou o filho de uma mulher que teve oito filhos, que teve a coragem de largar do meu pai, porque meu pai era muito violento, e ela foi cuidar de oito filhos sozinha. E criou cinco homens e três mulheres. Todos, todos, constituíram família.
E eu fui o primeiro a ter um diploma primário, eu fui o primeiro a ter um diploma do SENAI, eu fui o primeiro a ganhar mais que um salário mínimo, eu fui o primeiro a ter uma televisão, eu fui o primeiro a ter uma geladeira, eu fui o primeiro a ter um carro, eu fui o primeiro a ter uma casa e fui o único a ser presidente da República por conta de Deus e de vocês.
Então, eu quero que vocês saibam que eu não sou o pai do pobre. Eu, na verdade, sou vocês. Vocês, vocês, na verdade, é que fizeram com que eu estivesse aqui. Então, eu falo o seguinte: eu sou um de vocês, que, por causa de uma força muito poderosa lá de cima, porque para chegar onde eu cheguei, não tem explicação se não foi a mão de Deus.
Não tem explicação. Eu tenho certeza de que a mão de Deus me trouxe até aqui. E eu, eu sei que tem gente que não gosta de mim, tem gente que preferia, Eduardo...
Ao invés de estar aqui, na Comunidade do Aço, eu poderia estar numa pista jogando golfe. Eu poderia estar passeando de barco. Não, mas a gente veio. E eu, eu vim aqui, eu vim aqui por respeito à dignidade do trabalho que esse moço faz. Eu e esse moço, a gente não se dava bem.
Eu não conhecia o Eduardo, mas eu sabia que ele, como deputado, batia muito em mim. Batia muito. Batia, mas batia de verdade. Quando foi em 2008, eu já presidente da República, me aparece o governador do Rio de Janeiro com essa figura e pede para mim: “Presidente Lula, eu estou aqui com o candidato Eduardo Paes, eu sei que vocês têm divergência, mas eu acho que seria importante a gente ajudar ele a ganhar as eleições”.
Eu fiquei quieto. A Marisa estava comigo. A Marisa nem esticou a mão para ele, nem esticou a mão para ele, nem cumprimentou ele. Mas, como eu sou político, eu falei: “Bom, deixa eu ver o que esse moço quer”.
Ele fez uma carta muito decente. Uma carta pedindo desculpa para Marisa e entregou a carta para Marisa. Mesmo assim, a Marisa não o perdoou. Mas eu, com esse coração grande, resolvi perdoar. Resolvi ajudar esse companheiro a se transformar em prefeito do Rio de Janeiro.
E, hoje, eu estou aqui por conta disso. Porque esse moço, ele fala de bilhão, de bilhão, de bilhão, mas ele sabe que eu digo sempre: “Quem quiser dinheiro do Governo Federal, não faça discurso, apresenta projeto.” Apresenta projeto porque se o projeto for bem apresentado, e o projeto for uma coisa possível de ser feita, não tem porque um presidente da República deixar de passar dinheiro.
É por isso que a gente passa dinheiro para a prefeitura. É por isso que a gente ajuda a prefeitura. Porque a gente sabe que cada real que chega aqui nessa cidade é aplicado em benefício do povo trabalhador dessa cidade, desse estado.
Eu estou aqui para dizer para vocês que eu tenho muita amizade com o prefeito. Muita. Conheço muitos prefeitos e trato todos com muito respeito. Mas eu queria dizer para vocês que eu estou aqui diante do possível melhor gerente de prefeitura que esse país já teve, que é o Eduardo.
Eu... Eu ajudo o Rio, sabe por quê? Porque o Rio de Janeiro é a cara do Brasil. Quando você fala em qualquer parte do mundo do Brasil, o pessoal lembra do Rio de Janeiro. Ou ele lembra de Ipanema, ou lembra de Copacabana, ou lembra do Cristo Redentor, ou lembra do Pão de Açúcar, e agora lembra do Dudu. Não é só Pão de Açúcar. Então, eu ajudo o Rio de Janeiro, porque o Eduardo, ele é muito competente.
Cada vez que ele encontra comigo, ele me leva para uma sala, chama a assessoria dele, pega um computador e coloca um projeto. E aquele projeto, falando bem das coisas e pedindo: “Presidente, libera dinheiro. Presidente, libera dinheiro.” E eu, com esse coração mole aqui, sabendo que é para atender aos interesses do povo do Rio, eu faço com que o dinheiro chegue na mão da prefeitura do Rio de Janeiro.
Então, eu vim aqui hoje por isso. Primeiro, pelo prazer de entregar uma casa. O prazer... Eu, uma vez, vim no Rio de Janeiro entregar casa, e quando eu cheguei no prédio, eu perguntei para o presidente da Caixa Econômica, que era o Hereda, e perguntei para o empresário: “Por que vocês não fazem uma varandinha? Uma varandinha de dois metros. O que que custa fazer uma varandinha? Por que que o povo tem que ficar dentro de um apartamento, olhando só para a parede e não tem uma sacadinha?”
Aí, eu não tinha mais argumento para falar. Eu falei: “Vamos fazer a varanda do pum.” Porque todo mundo sabe que tem dia que a gente está com um excesso de flatulência, sabe? E é importante que a gente não fique fazendo as coisas perto da família. Vai na varandinha e faz o que tem que fazer sem incomodar. Quanto custa isso? Não custa nada. Não custa muita coisa, mas é respeito.
As pessoas precisam saber que as pessoas mais pobres não gostam de coisa ruim. A gente gosta de se vestir bem. A gente quer morar bem. A gente quer comer bem. A gente quer ganhar bem. A gente quer passear. A gente quer ter férias. A gente quer ter tudo que todo mundo tem direito.
Por que que as pessoas pensam que o pobre tem que ser tratado com coisa inferior? Por que as pessoas acham que a gente só quer comer carne de segunda? Não. A gente tem vontade e quer comer carne de primeira. A gente...
Eu fui entregar umas casas em Angola. Angola. Cheguei lá, fui ver a casa. Era uma empresa brasileira. Fui ver a casa. Eu olhei que não tinha chuveiro. Era um cano d'água. E eu perguntei para o construtor: “Por que aqui não tem chuveiro?” “Ah, porque o povo aqui não tem hábito de tomar banho quente.”
Tudo bem. Aí, eu fui na cozinha. Cheguei na cozinha, tinha uma pia e um fogão. E você já ficava com a bunda na parede. Não tinha lugar para a mesa. E eu falei: “Onde é que as pessoas comem?” “Ah, presidente, aqui eles não têm o hábito de comer em mesa. Eles comem lá fora.”
Falei: “Gente, pelo amor de Deus. Não é hábito. O que eles não tiveram é oportunidade.” Faça uma cozinha com mesa para saber se eles vão sentar lá fora ou vão sentar na mesa para comer. Coloca o chuveiro d'água quente, e você vai ver se eles vão tomar banho gelado ou vão tomar banho quente.
Quem é que não gosta de tomar um banho quentinho? Quem é que não gosta? Quem é que gosta de banho frio? Isso é para o cara quando está bêbado. Sabe que a gente é obrigado a jogar ele embaixo de uma ducha d'água gelada? Mas todo mundo, as crianças querem banho quente, as mulheres querem banho quente, a minha mãe quer. A minha mulher quer.
A Janja esquenta o chuveiro que quase se queima. Mas todo mundo quer. Então, é preciso esse país acabar com a mania de achar que as pessoas mais humildes não gostam de coisas boas. A gente gosta de coisa boa. A gente gosta de ser bonito. A gente gosta de parecer bonito. As mulheres gostam de se pintar. As mulheres têm que tratar do cabelo. Se a gente pode ficar mais bonito, por que vai ficar feio?
Então, vamos parar de preconceito contra as pessoas mais humildes, O cara que levanta às cinco horas da manhã para trabalhar, anda duas horas de ônibus e depois volta para casa para chegar às oito da noite, esse cara precisa ter respeito. Precisa tratar esse cara com decência.
Então, hoje, Eduardo, eu queria te dizer que eu vim aqui, eu falei com as companheiras que receberam a casa, e eu fui visitar uma casa de uma companheira que não vai receber casa. Não vai agora. Hoje, ela não recebe.
Ela estava desalentada. Ela falou: “Eu estou desesperançada.” Aí eu falei: “Eu vim na sua casa, vou tirar uma fotografia com você, porque é um compromisso de honra. Para mim e para o Eduardo, vir aqui entregar a casa para cada morador da Comunidade do Aço.”
Eu tenho mais dois anos de mandato. E vou vir aqui. Cada vez que tiver entrega de casa, eu aqui estarei. Porque é preciso testemunhar coisas boas para a gente passar coisas boas para a sociedade brasileira.
E eu tenho fé em Deus. Eu tenho fé em Deus que a gente está recuperando esse país. A gente vai gerar mais emprego. A gente vai aumentar o salário mínimo. A gente vai diminuir o pagamento do imposto de renda. Vocês vão perceber que esse país vai melhorar. Esse país vai dar uma chance para essas crianças.
Eu queria terminar dizendo para vocês o seguinte. Nós criamos um programa agora chamado Pé-de-Meia. Esse programa foi criado porque nós descobrimos que 500 mil crianças do ensino médio estão desistindo da escola para ajudar no orçamento familiar.
Então, a gente não pode deixar uma criança de 15 anos, uma menina ou um menino de 16 anos, deixar de estudar porque tem que ajudar no orçamento familiar. Porque se essa criança não estudar, o futuro dela será incerto. Se ela estudar, o futuro terá efetivamente um rumo.
Então, nós decidimos criar um programa chamado Pé-de-Meia. O programa vai ser assim. As crianças que estão no ensino médio vão receber 200 reais por mês, depositados em uma conta dele, no nome dele. Durante dez meses. Durante dez meses. No final dos dez meses, se ele tiver 80% de comparecimento na escola, e se ele passou de ano, ele vai receber mais 1 mil reais. Então, já soma 3 mil reais.
No segundo ano, a mesma coisa. Ele vai receber dez parcelas de R$ 200. Se ele tiver 80% de comparecimento e passar de ano, a gente deposita mais 1 mil reais. Aí, já são 6 mil reais.
No terceiro ano, ele vai receber outra vez dez prestações de R$ 200. E no final do ano, se ele tiver passado de ano, ele vai receber mais 1 mil reais. Vão ser 9 mil reais na poupança desse jovem.
E a gente está fazendo isso para ele não desistir da escola. Porque ele tem que ter uma profissão. Ele tem que fazer um instituto federal. Ele tem que fazer uma universidade. Ele tem que virar um doutor. Porque é assim que a gente é respeitado no mundo. Se a gente não tem diploma, a gente não é respeitado. Se a gente tem diploma, a gente ganha um salário melhor, um emprego melhor e vai criar a família da gente melhor.
Tem muita gente que fala: “Mas, o Lula, o Lula está gastando muito dinheiro com os pobres. Está gastando muito dinheiro. Pra que dar poupança para os pobres estudarem?” Eu dou dinheiro para a poupança porque se eu não cuidar, depois, eu vou ter que gastar dinheiro fazendo cadeia para poder colocar essas crianças que não tiveram emprego.
Então, companheiros, eu tenho uma coisa na minha vida que é o seguinte. Eu já passei por muita miséria na minha vida. Muita. Não foram poucas as vezes que eu ia trabalhar de segunda-feira, Eduardo, e eu não tinha coragem de abrir minha marmita na fábrica. Quem trabalha em fábrica sabe como é. Tem sempre uma turma que senta na mesma mesa.
E eu chegava de segunda-feira, eu levantava a tampa da minha marmita bem devagarinho, porque tinha segunda-feira que não tinha sequer um ovo de mistura. E eu, com vergonha dos companheiros, fechava a minha marmita, ia para dentro da fábrica. Quando todo mundo começava a trabalhar, eu abria a gaveta, ia dando garfada na minha comida e comia a comida.
Muitas vezes, a minha mãe não tinha comida para colocar no fogo para o filho. Eu nunca vi minha mãe reclamar. Ela falava assim: “Hoje não tem, mas amanhã vai ter.” E eu digo para vocês. Hoje, a gente não fez tudo ainda, mas amanhã a gente vai fazer. Porque a gente vai consertar esse país. A gente vai melhorar a vida do povo, os pobres vão ser tratados com decência. Nós queremos que as pessoas sejam respeitadas. Nós não queremos tirar nada de ninguém.
Ninguém que seja rico, tenha medo de nós. A gente quer que os empresários produzam. A gente quer que os empresários ganhem dinheiro porque, se eles estiverem produzindo e ganhando dinheiro, eles vão contratar trabalhador, vão pagar salário. O trabalhador vai virar consumidor. Quando o trabalhador virar consumidor, ele vai na loja, vai comprar uma coisa. A loja vai contratar mais um comerciário, a loja vai contratar a coisa da empresa, e, assim, a roda da economia começa a girar e todos participam.
Então, guarda uma coisa na cabeça. Guarda uma coisa para você não esquecer nunca. Isso não é economia. Isso é uma coisa que eu tenho na minha cabeça. Muito dinheiro na mão de poucas pessoas significa pobreza, significa analfabetismo, significa mortalidade infantil, significa fome, significa miséria, porque muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza.
Mas pouco dinheiro na mão de muitos muda o jogo. Todo mundo vai poder comprar um pouquinho. Todo mundo vai poder comer melhor. Todo mundo vai na padaria. Todo mundo vai tomar um café. Todo mundo vai comprar uma coisa qualquer e a economia gira.
E é esse país que eu quero fazer. Eu já fiz uma vez. Eu vou dizer para vocês. Um torneiro mecânico, metalúrgico, vai provar, outra vez, que esse país nasceu para ser grande. Esse país nasceu para ser importante. E ele só será grande se seu povo for grande, se seu povo estiver comendo, estiver trabalhando, estiver estudando. Se a molecada tiver área de lazer, tiver como praticar esporte.
É esse país que eu quero criar. É esse país que o Dudu está criando aqui, quando ele resolve dizer: “Nós vamos dizer que vocês já estão com a paciência esgotada e que vocês agora querem ser tratados com respeito.”
É por isso que eu quero dar os parabéns ao Dudu, parabéns a vocês. E continuem brigando porque se vocês não brigarem, a gente não faz as coisas.
Um beijo no coração de cada mulher, de cada homem, do nosso prefeito, de todos vocês. Um abraço, gente. E até a volta, porque eu vou voltar aqui para inaugurar outras casas.
Um beijo.