Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de moradias do Minha Casa, Minha Vida em Fortaleza (CE)
Queridas companheiras e queridos companheiros de Fortaleza, queridos companheiros e companheiras desse conjunto residencial Cidade Jardim. Meu querido companheiro Elmano (de Freitas), governador do estado e sua querida esposa. Nosso sempre governador e hoje ministro, e vai ser o melhor ministro da Educação, Camilo Santana, e sua querida esposa. Nosso companheiro Laércio (Portela), que é hoje o ministro da Comunicação do Governo. O nosso presidente da Caixa Econômica Federal, aquele gordinho simpático aqui, que falou tão bem aqui. O nosso Rui Costa, que é o ministro-chefe da Casa Civil, é o cara que coordena todos nós, é esse companheiro baiano, foi governador oito anos da Bahia e agora está me ajudando no governo. A nossa companheira simpaticíssima Nísia Trindade, ministra da Saúde do Brasil, uma companheira de um valor inestimável que eu tenho certeza que o todo brasileiro ficará com saudade dela, com muita saudade dela. E o nosso companheiro Jader Filho, o nosso ministro das Cidades, companheiro que tem demonstrado uma capacidade, uma competência extraordinária de executar as políticas do governo.
Queridos deputados, queridos deputadas, meu querido Paulo Câmara, presidente do BNB, o banco que mais empresta dinheiro pro Crediamigo, quem tiver precisando de dinheiro emprestado um pouquinho, vai no BNB, que vocês encontram lá pra emprestar. Eu queria cumprimentar nossa senadora Janaína, que está aqui atrás, simpaticíssima. Quero cumprimentar o nosso líder no governo na Câmara dos Deputados, o companheiro José Guimarães. E como eu não recebo nominata de deputado, eu não tenho o nome de todo mundo que está aqui. Deputada Fernanda Pessoa, que está aqui. Ninguém me entrega uma nominata, cadê minha assessoria com a nominata aqui? Pelo amor de Deus. Depois eu perco voto se eu não cito o nome das pessoas. O nosso companheiro Zezinho Albuquerque, secretário da cidade do estado do Ceará. O nosso companheiro, Francisco, presidente da construtora. Aliás, eu queria agradecer à construtora pela qualidade e pela prestação do serviço. Meus parabéns e eu tenho certeza que nós precisamos de mais empresários, com mais compromissos para ajudar a gente a fazer com que esse povo mais humilde do país tenha decência e dignidade.
Eu fui visitar a casa que você fez, 44 metros quadrados, uma casa bonita, uma casa que alguém pode dizer: “mas essa casa é pequena”. É uma casa maravilhosa. Eu vou contar um caso para você, meu querido empresário. Eu, em 1975, comprei uma casinha do BNH. Era um terreno de 5 por 23, a minha casa tinha 33 metros quadrados, e nessa casa de 33 metros quadrados morava eu, morava a dona Marisa, minha mulher, moravam 3 filhos, 2 cachorros e uma sogra, numa casinha de 33 metros quadrados. E foi um período que eu fui muito feliz na minha vida, porque eu estava morando numa coisa que era minha.
Eu vou aproveitar que eu entreguei a casa para essas pessoas humildes, e eu queria contar um pequeno caso pra vocês. Eu saí de Pernambuco em 1952, com 7 anos de idade, da cidade de Caetés e fui pra São Paulo com uma mãe e oito filhos. Meu pai já tava em São Paulo e a minha mãe pensava que meu pai tava chamando ela, porque o meu irmão que estava com meu pai escreveu uma carta pra minha mãe como se fosse meu pai. E a minha mãe foi com os oito filhos. Eu era bem barrigudinho, canela fina. Acho que era esquistossomose, tomar aquela água suja de açude, tomar água com caramujo, com cocô de cabra, de cavalo, sei lá.
Quem sabe o que é pegar em açude sabe o que eu tô falando. Eu saí, tinha só cabeça, de carne eu só tinha língua, porque era bem magrinho, bem barrigudinho, canela fina. E a minha mãe saiu com oito filhos. Oito filhos. Qual foi a surpresa da minha mãe, gente? Quando nós chegamos em Santos, no Porto de Santos, meu pai trabalhava num armazém de café. Quando a minha mãe chega, que meu pai aparece, a gente ficou sabendo que meu pai já era casado com outra mulher e já tinha mais uma penca de filhos com a outra mulher.
A minha mãe, a minha mãe analfabeta, pegou os oito bruguelinhos dela, saiu de casa, fomos morar num barraco, um barraco bem pobrezinho. E a minha mãe nunca mais, nunca mais quis olhar pra cara do meu pai. E ela sozinha, analfabeta, com muita coragem de nordestina criou oito filhos e fez um deles virar presidente da República desse país. Mas eu queria que vocês soubessem, a primeira casa que eu fui morar em São Paulo, eu fui morar numa casa chamada “ruaida". Eu morava no fundo de um bar. No fundo de um bar tinha casa, que era um quarto e cozinha, e tinha um banheiro que as pessoas que estavam no bar bebendo utilizavam banheiro.
Vocês imaginam o que é um banheiro de bar, com nego tomando umas cachaças e indo lá no banheiro toda hora. Era naquele banheiro que a minha mãe e oito filhos conviveram alguns anos. E na minha casa, que era um quarto e cozinha, a gente morava em treze pessoas. Eu e meu irmão dormíamos junto com a minha mãe e mais três irmãs, e outros primos meus dormiam num quarto naquelas caminhas de armar, aquelas caminhas de mola que a gente arma pra dormir, de manhã a gente fecha e vai embora. Pois foi assim que eu comecei a minha vida. Quando chegou em 1969, eu estava com todos os meus irmãos desempregados, eu tomava conta da minha mãe e duas irmãs. E eu, então, casei. Porque pobre, lascado, pelo menos vou casar com a minha mulher e ficar bem com ela. Aí, casei.
Companheiro, Elmano, eu casei, eu fui alugar uma casa. Eu lembro na época como se fosse hoje. Era uma nota de 100 cruzeiros. Era uma nota meia vermelha, de um lado meia avermelhado, e eu pagava 100 reais. Era um quarto e cozinha. Era um quarto e cozinha. Quando chovia, você tem que ver a parede como ficava úmida. E aparecia cada lesma daquelas pretas na parede. Eu tinha que levantar de manhã, ficar jogando sal, pra gente poder matar a lesma, pra poder ir trabalhar, porque a minha mulher tinha nojo da lesma. Eu morei um ano e cinco meses nessa casa. E eu falei: “um dia eu vou comprar uma casa”. Mas depois que eu saí dessa casa, eu fui morar num outro lugar.
Eu fui morar num bairro lá em São Paulo, divisa São Paulo com São Caetano. Eu fui morar numa casa. A casa era nova. A casa era bonita. A casa era cheirosa. Cheirava tinta nova a casa. Eu feliz da minha vida. Eu não conhecia a minha mulher ainda. Eu não conhecia. Isso foi em 1962. Eu não conhecia minha mulher. E quem morava vizinho de mim numa casa geminada? A moça que veio a ser minha mulher, depois. Ela morava. Eu mudei em dezembro, passei o Natal numa casa nova. Quando chegou em janeiro, deu uma chuva, entrou um metro e meio de água ali na minha casa. Aí eu vi que era um sacrifício de acordar de noite dentro da água suja, com rato, barata, cocô, tudo e a gente tem que tirar, tem que tirar a mãe, tem que levantar colchão. Não tinha geladeira, não tinha televisão, então não estragava nada. Mas a gente tinha que tirar a minha mãe de dentro de casa porque era mais velhinha. Eu peguei três enchentes. Três enchentes. E quando a água ia embora, ficava um palmo e meio de lama, a gente ia limpar aquela lama, aquela sanguessuga na canela da gente, a gente tinha que pegar álcool e jogar pra tirar a sanguessuga.
E quando a casa tava limpa, vinha outra chuva e enchia a casa outra vez. Foi assim a minha vida até 1975, quando eu comprei minha primeira casa, que foi a casinha de 33 metros quadrados do BNH. Eu estou dizendo isso para vocês saberem que quando eu resolvi criar o programa Minha Casa, Minha Vida, é porque eu acho que a coisa mais sagrada para um pai ou para uma mãe que quer criar sua família é ter uma casinha, é ter um ninho para colocar os seus filhotes e não ficar tendo que mudar todo o ano de bairro, todo o ano de vila. A molecada não faz amizade, não se acostuma na escola, então ter uma casa é quase uma bênção de Deus. Todo mundo sabe o endereço que mora, todo mundo tem o endereço de pagar a conta da luz, a conta da água.
Então resolvi fazer o maior programa que esse país já tem conhecimento de habitação, que foi o Casa Minha Casa, Minha Vida. Esse programa já fez até hoje 7 milhões e 800 mil casas mais ou menos, mas ele poderia ter feito 12 milhões de casas se a gente não tivesse dado o golpe e derrubado a presidenta Dilma, e colocar aquela praga de gafanhoto pra governar esse país e destruir aquilo que a gente tava construindo. Eu, quando voltei à Presidência da República, a primeira coisa que eu disse foi: nós vamos retomar o Minha Casa, Minha Vida. E vocês não têm noção, a quantidade de casa que nós encontramos abandonada, conjuntos que foram começados a fabricar em 2012, conjuntos que foram começados a fabricar em 2013.
O Camilo começou isso aqui em 2012. Ou seja, quando você começa uma coisa, você tem que terminar logo. Na hora que você deixa, você não tem preocupação com o povo mais humilde, com a dona de casa, com a mãe que tem dois filhos. Veja aquela menina que veio aqui com três crianças. Aquela moça tem 25 anos de idade, ela tem três filhos. Eu falei pra ela: “minha filha, a primeira coisa que você tem que fazer é parar de ter filhos, porque você já tem três”. E falei pra ela que ela tem que estudar, porque agora ela tem três filhos pra cuidar. Três filhos, não é mole. Eu tenho cinco, ela tem três. Então, ela tem que voltar a estudar, ela precisa aprender uma boa profissão, para ela poder cuidar direitinho dos filhos dela. O que eu estou feliz da vida é que ela já tem a casinha dela, para cuidar dos filhos dela e não vai ficar perambulante.
Essa coisa é que faz a diferença entre governar e cuidar. Tem gente que fala: “eu estou governando, eu vou governar o Brasil, eu vou governar”. Não, eu não governo, eu cuido. Porque um presidente da República ele tem que cuidar de pessoa, tem que cuidar de gente, tem que cuidar de mulher, tem que cuidar de homem, tem que cuidar de adolescentes e tem que cuidar de criança. O cuidar. É por isso que eu digo sempre, governar é governar como se fosse o coração de uma mãe, nada é maior, nada é mais aconchegante, nada é mais fraterno e amoroso do que o coração de uma mãe. Não tem nada melhor do que mãe. Mãe é mais do que uma benção de Deus. Porque a mãe é o seguinte. A mãe, ela aguenta desaforo do filho, o filho chega bêbado, ela vai lá, dá banho no filho, ela frita ovo pro filho, faz o filho comer. Ela não briga com o filho, ela tá cuidando, tá cuidando do bichinho dela e cuidando com carinho. Se ele falar alguma bobagem, ela perdoa, não é isso? Isso é ser mãe.
E assim que tem que ser o presidente da República. O Camilo foi governador por oito anos nesse estado. Um dos melhores governadores que esse país já teve. Entretanto, o presidente da República nunca veio fazer uma visitar pra ele. Nunca. O presidente da República que nós substituímos nunca visitou esse aqui que era governador, nunca visitou esse aqui que era governador, nunca visitou Rio Grande do Norte, nunca visitou Pernambuco. Ele não visitava porque ele gostava era de contar mentiras na internet e gostava de dizer pro povo não tomar vacina, que ele inventou remédio para curar a Covid-19.
Então, queridos companheiros, eu volto daqui. Eu vou para o Piauí, do Piauí eu vou para o Maranhão inaugurar casa também. Eu volto para casa agradecendo a Deus, porque Deus foi muito generoso comigo, foi muito generoso. Se a gente olhar a minha vida, eu tinha tudo para não dar certo, tudo, tudo para não dar certo. Morei no sertão nordestino, passando fome e fui para São Paulo, não tirei diploma universitário. Eu só tenho um diploma primário e um curso de torneiro mecânico, mas sou o presidente que mais fez universidade na história desse país.
E por quê? Porque eu quero que o filho dos trabalhadores, eu quero que as pessoas mais baixas tenham o direito de virar doutor. Tem que ter uma profissão, porque se você tiver uma casa e tiver uma profissão, a sua família vai ser criada sob a graça de Deus, com muita harmonia e muita tranquilidade. É por isso, companheiros e companheiras, que eu quero, Elmano, te dar os parabéns por essa inauguração.
Dar os parabéns, Jader, dar os parabéns à Caixa Econômica e ao nosso empresário, que certamente sabe. Eu falei pro Jader, eu tomei uma decisão, que todo o conjunto habitacional daqui pra frente tem que ter uma pequena biblioteca, para as meninas e os meninos aprenderem a ler, ler livro de história, aprender coisa bonita e conhecer a história do seu país. Esse aqui já era mais antigo, não tem, mas, empresário, se você puder contribuir, para fazer uma pequena bibliotecazinha, que caiba quatro pessoas sentadas, cinco pessoas sentadas. A gente vai fazer campanha para doar livro.
Eu já falei até com a Academia Brasileira de Letras para doar livros. A gente vai fazer com que esse país uma vez na vida trate com respeito mulheres, homens e crianças nesse país, que trabalham para enriquecer esse país. Por isso, gente, eu quero me despedir dando um abraço e um beijo no coração de cada uma de vocês, de cada um de vocês, dizendo a vocês, se Deus permitir, que o nordestino de Garanhuns virasse Presidente da República, não desistam nunca. Pelo amor de Deus, não desanimem.
A minha mãe, às vezes, dia de sábado e domingo, não tinha comida pra colocar no fogo, oito filhos lá em volta de uma mesa esperando, e a minha mãe nunca reclamava. Ela falava: “hoje não tem, mas amanhã vai ter”. E eu quero que vocês saibam que nos momentos mais difíceis da vida de vocês, levantem a cabeça, pense em Deus e converse com Deus, e diga: “eu vou em frente, porque eu nasci pra vencer, eu não nasci pra perder, eu não nasci pra ser derrotado”. E que Deus abençoe vocês, porque eu vou continuar trabalhando para o povo pobre desse país virar gente, virar cidadão e ter respeitado.
Um abraço, gente, até em setembro, quando eu vou voltar pra inaugurar outras mil casas. Um beijo, gente!