Pronunciamento do presidente Lula durante ato em homenagem ao Dia do Cinema Brasileiro e anúncios para o setor
Só lembrar a vocês que eu pretendo fazer um decreto exigindo que o presidente da República seja o primeiro a falar nas solenidades. Depois que ele falar, o restante pode falar a noite inteira. Porque quando você vem numa solenidade, inauguração de estúdio, é importante lembrar que eu sou da cidade em que tem um estúdio chamado Vera Cruz que produziu muita coisa no cinema brasileiro.
Aliás, é importante lembrar que meu partido foi criado no Vera Cruz. É importante lembrar que nas greves de 79, Elis Regina, Gonzaguinha, Chico Buarque, ia todo mundo fazer samba lá para que a gente arrecadasse dinheiro para o fundo de greve da Vera Cruz. É importante lembrar que a CUT [Central Única dos Trabalhadores] foi criada na Vera Cruz.
Mas queridos companheiros e companheiras, eu não vou aqui repetir a nominata. Eu queria, cumprimentando a Marieta Severo e o companheiro Pitanga [Antônio Pitanga], cumprimentar todas, todos os artistas que estão aqui. Todos. E porque os dois? Porque são os dois mais experientes que estão aqui. Não falei mais velhos, mas os mais experientes.
Bem, também eu queria alertar vocês que quando eu fui pedir a Janja em casamento, eu pedi ela para ela mesma. Aí eu falei para a Janja: "Você precisa tomar cuidado, porque quando a gente passa dos 70, a gente costuma ser repetitivo. Então se você perceber que eu estou contando a mesma história para uma pessoa, me alerta que eu já contei. Mas se por acaso eu estiver conversando com uma pessoa tão velha quanto eu, não precisa lembrar, porque se eu conversei com ele na semana passada, ele também já esqueceu". Então fica tudo como se fosse uma novidade.
A outra coisa que eu queria falar para vocês é que eu acho que, nunca antes na história do país, os companheiros ligados à indústria da cultura ouviram tantas notícias boas como ouviram aqui hoje. Nunca.
A quantidade de dinheiro que a Margareth Menezes [ministra da Cultura] falou, e ela vinha no avião me perguntando: "Presidente, não deixa eu cortar o orçamento do Ministério da Cultura, não deixa eu cortar, eu vou conversar com o senhor". Depois que ela citou tanto milhão, tanto bilhão aqui, ela não tem nem direito de reclamar de qualquer corte, porque é muito dinheiro.
E ainda veio o Aloizio Mercadante [presidente do BNDES] aqui: "Porque é o juro mais barato do Brasil, é o juro mais barato". Já tem gente ali pedindo o endereço teu pra ir pegar o dinheiro emprestado. Mas a verdade nua e crua é essa, companheiros.
Quando vocês têm na Presidência da República um presidente que não sabe tudo, fica mais fácil lidar com ele. Porque quando o cara sabe tudo, tudo que você propõe, ele vai dizer: "Isso eu já ouvi, isso eu já vi, isso não deu certo, isso não vai acontecer". Quando é um cara como eu, tudo que me fizer de proposta eu acho boa. Eu vou estudar, eu vou ler, eu vou discutir.
Eu aprendi com o cacique Raoni, numa palestra que ele estava na Presidência da República, a nossa ministra estava falando da política de saúde para os indígenas, e o Raoni falou, sabe: "Eu não entendi nada, eu não entendi. A senhora pode me explicar?" Aí a nossa querida Nísia foi explicar pro Raoni, quando terminou, ele falou: "Tá vendo? Se me explica, eu entendo".
Então, eu costumo fazer assim com as coisas. Eu não conheço de tudo, mas não duvido de nada. Eu acho que tudo que é proposta, a gente tem que estudar, tem que ouvir uma opinião, duas opiniões, três opiniões para a gente colocar em prática. Eu nunca acreditei no Ministério da Cultura e Esporte. Ou o cara é do esporte ou é da cultura. Não dá.
Eu nunca acreditei no ministério da Cultura e da Educação. Embora a educação também esteja na cultura, cultura é cultura, e não dá pra misturar.
Eu, pra valorizar o Ministério da Cultura, levei dois baianos. Levei o Gilberto Gil, no primeiro mandato, depois o substituto do Gilberto Gil também era baiano, e a Margareth Menezes. Pra mostrar o quê? Pra mostrar que a gente vai tratar a cultura com a seriedade, com respeito, e que a competência é que ela é sempre tratada no Brasil, porque um país que não tem cultura, um país que não investe na cultura, na verdade, não se transforma num país. O povo não é povo, é massa de manobra, porque a cultura politiza e refresca a cabeça das pessoas. É por isso que nós acreditamos muito na cultura e investimos na cultura.
Eu estava com um discurso aqui escrito que era tão bonito, gente. Mas que eu não vou fazer. Começava o meu discurso assim: há 85 anos nasceu um brasileiro que se tornaria um dos maiores nomes do cinema e que eternizou a máxima: Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Peço licença ao saudoso Glauber Rocha para complementar essa frase.
A história do cinema brasileiro que celebramos hoje foi e está sendo escrita com câmeras e ideias, sem dúvida, mas também com muito suor, com uma criatividade única e com a diversidade cultural mais bela e rica do nosso planeta, que é a nossa cultura brasileira.
Uma história que nos eleva como nação e nos transforma como indivíduos. Que há décadas nos leva aos tapetes vermelhos mais renomados e que a cada apagada de luzes e tela acesa, como mágica, nos transporta para mundos diversos, emoções e sentimentos únicos.
Mas que também é espelho de luz e expressão, parte importante da formação da identidade do nosso país. Cada filme brasileiro é uma janela para nossa alma. Nosso cinema é um reflexo do nosso espírito resiliente e criativo, do humor à crítica social. Ele alia força, narrativa e resistência cultural. Reafirmamos hoje a potência do nosso cinema e a importância das políticas públicas para a indução desse setor.
Queridas companheiras e companheiros, vou parar de ler o discurso, e eu vou contar uma história para vocês.
Primeiro é o seguinte: eu saí de Pernambuco, dia 13 de dezembro de 1952, com sete anos de idade, com a mãe e oito filhos, e fomos para Santos procurar o meu pai, porque meu pai, supostamente, tinha mandado uma carta para minha mãe. "Lindu, venha para São Paulo, que eu estou com saudade de você, e traga os meus filhinhos que eu quero ver".
E a dona Lindu lá pegou os oito filhos e foi para São Paulo, quando nós chegamos em São Paulo, a carta não era do meu pai, a carta era do irmão meu, que teve com o meu pai, e não contou que o meu pai já estava casado, que tinha outra mulher, e já tinha acho que uns oito filhos também.
Então nós fomos morar separados, meu pai alugou uma casa, nós fomos para uma casa, meu pai ficou com a outra companheira dele para outro, e meu pai não morava duas vezes, ele não morava três dias com uma, três dias com outra, e no sábado ele ia pescar ou caçar.
Levava a vida assim, até que a minha mãe resolveu se separar. Se separou e nós fomos morar em um barraco perto de uma padaria. Foi o meu primeiro contato com o cinema brasileiro. Não tinha cinema em Vicente de Carvalho, lá em Santos, um bairro entre o Guarujá e a cidade de Santos.
E aí eu ia ver cinema na parede da padaria. De sábado ou de sexta-feira à noite, a gente pegava a cadeira que a gente tinha, levava, sentava no terreno baldio, chegava um cidadão com uma câmera lá e passava um filme pra gente.
E foi assim que eu tive a primeira introdução com o cinema brasileiro, que está sendo ameaçado de acabar há muito tempo. Se tentou acabar depois da televisão, se tentou acabar depois das produções da Netflix, dessas coisas. E a verdade é que o cinema continua sendo uma paixão do povo brasileiro, sobretudo pela criatividade dos artistas brasileiros. E é por isso que o cinema não acaba e é por isso que nós vamos brigar para que ele não acabe nunca.
Bem, depois de eu assistir os filmes, eu até chorei quando eu assisti a primeira vez Cinema Paradiso. Eu fui assistir Cinema Paradiso em Barcelona. Veja que chique. E o filme era espanhol, então eu entendia metade e não entendia metade. Quando falava "Cueca Cuela" eu entendia. Quando falava "Abre la januela" eu entendia. Mas no mais eu não entendia. Mas o Cinema Paradiso marcou. Marcou muito a minha vida. Porque era o início da minha infância.
Aí eu completei 14 anos de idade. Morava num bairro chamado Vila Carioca. Era distante do centro desse bairro, que era uma avenida chamada Avenida Silva Bueno, que tinha bonde. Vocês nunca andaram de bonde aberto. O bonde aberto era legal pra você andar, porque você não pagava, você pulava correndo. E às vezes você quebrava a cara ao pular.
De vez em quando ficava mais barato pagar, porque o dinheiro que você comprava para curar o rosto era mais caro. Mas aí, eu tinha 14 anos de idade. E eu gostava de cinema. Eu gostava de cinema. Acontece que no cinema naquele tempo tinha que ter paletó.
Eu tinha dois cinemas. Cinema Anchieta e Cinema Sammarone, nessa tal dessa Silva Bueno. E a gente pra sair de onde eu morava, pra chegar no cinema, era mais de uma hora a pé. Mais de uma hora a pé, por rua que não tinha asfalto, era rua de terra.
Pois bem, eu como não tinha paletó e eu tinha um companheiro chamado Cláudio. Ele tinha uma deficiência física, que ele tinha uma certa dificuldade de andar. E aí, juntou a fome e a vontade de comer. A mãe do Cláudio queria que ele fosse ao cinema. E eu queria ir ao cinema. Então, ela me pagava pra eu acompanhar o Cláudio, e ainda me dava um paletó. Porque só podia entrar de paletó no cinema. E eu fui muitas vezes no cinema, com o meu amigo Cláudio, utilizando o paletó dele.
Quando foi um dia, eu briguei com o Cláudio. Eu não acreditei que eu fui brigar com o cara que era dono do meu paletó. E aí o cara falou: Não, me dá meu paletó, me devolve meu paletó, não vai mais para o cinema comigo". Eu falei: "Cláudio, pelo amor de Deus, Cláudio. Pô, tu vai deixar o coitadinho do Pernambucano, filho da dona Lindu, aqui sozinho?".
Ele também não podia tirar meu paletó porque ele tinha dificuldade de andar. E eu falei: "Cláudio, é o seguinte, vamos nos colocar de acordo, cara. Eu não posso deixar você sozinho e nem você pode me deixar sem paletó. Vamos juntos para o cinema".
E fomos juntos paro cinema. E continuamos indo juntos para o cinema durante muito tempo. Depois que eu passei essa fase... O cinema era interessante, gente, vocês não sabem. Aqui talvez tenha alguém que saiba, mas a gente tinha que ir de paletó e gravata no cinema. Em cinema de bairro, paletó e gravata, era uma coisa chique ir em cinema. Não era pra qualquer um ir no cinema, não.
E pois bem, passou o tempo. Eu virei presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo. E quando eu virei presidente, em 1975, nós criamos algumas coisas no sindicato. A primeira coisa que nós criamos foi um hábito cultural. Eu contratei uma companheira que cuidava de cinema, teatro, cuidava de fotografia. E a gente passou, então, a montar grupo de trabalhadores. A gente levava esses trabalhadores no cinema. A gente escolhia o filme e depois a gente trazia os trabalhadores pra gente discutir o que cada um tinha interpretado do filme.
Eu não esqueço nunca que o primeiro filme que nós levamos 36 trabalhadores da Mercedes, da Volkswagen, da Ford, nós fomos assistir "Tempos Modernos", para que depois a gente fizesse uma discussão com os trabalhadores para saber o que que a gente tinha entendido do filme.
Depois a gente tinha um grupo de teatro. Você acha que metalúrgico é pouca coisa? A gente tinha um grupo de teatro e tinha uma equipe de mais de 20 companheiros e companheiras que viraram artistas de teatro lá no sindicato. E depois fizemos um curso de fotografia. E depois fizemos um filme chamado "Linha de Montagem", que tem a trilha sonora do Chico Buarque de Holanda, que aliás está fazendo aniversário hoje, eu falei com ele hoje em Paris.
Então nós fizemos esse filme, "Linha de Montagem", que conta a história das greves de 79 e 80. É um bom filme, onde eu apareço muito, bastante, eu estou aparecendo muito. Depois nós fizemos um filme sobre o acidente de trabalho, também no sindicato. E depois nós ajudamos muita gente com esse negócio de cinema.
Depois o Renato Tapajós trabalhou muito tempo conosco, todo mundo aqui conhece o Renato Tapajós. Eu depois passei um bom tempo trabalhando com o filme do Jorge Furtado chamado "Ilha das Flores", tentando fazer as pessoas entenderem, para politizar o pessoal.
E agora eu tô na presidência, aqui junto com a Margareth Menezes, dizendo pra vocês, tudo isso aqui que a gente tá fazendo, é pra gente dar uma oportunidade para as pessoas que não tiveram a oportunidade de ter acesso às coisas que nós já temos.
As pessoas têm que aprender a gostar, mas as pessoas não amam o que não veem. É preciso as pessoas verem para começar a amar. A mãe de vocês deve ter dito: olha o coração, sabe, como é que fala, o coração, a gente não ama aquilo que a gente não enxerga, o coração não sente aquilo que os olhos não veem.
Então é importante que a gente consiga fazer com que o nosso povo brasileiro consiga ver os filmes brasileiros. Ô gente, vocês não sabem, eu gostava do Mazzaroppi. Eu fui conhecer o estúdio do Mazzaroppi em Taubaté, sabe. Era uma coisa tão rica.
Hoje, quando eu ligo a televisão e vem e passa um filme velho lá, o Mazzaroppi, os meus filhos todos que estão na sala comigo, levantam e vão embora. Eu fico sozinho, mas eu assisto por uma questão de fé, por uma questão de compreensão de que é preciso valorizar o cinema brasileiro.
Aquelas outras coisas cheias de gente fantasiada, cheias de tiro pra lá e pra cá, não. Eu gosto é mesmo de coisa brasileira. Enredo das coisas, as coisas bobas que a gente faz, as coisas boas que a gente faz. E é por isso que a nossa querida Margareth Menezes sabe, no governo do presidente Lula, não faltará, em algum momento, disposição para que a cultura se transforme numa indústria, não apenas de cultura, mas numa indústria para gerar oportunidade de desenvolvimento para milhões de pessoas que, através da cultura, poderão alcançar aquilo que talvez não alcançassem em outra atividade.
Porque a cultura exige inteligência, exige criatividade, exige perspicácia e, sobretudo, exige competência. Porque quem não tiver competência não vence a vida. Você tem que ter alguma competência, e a cultura exige muita competência, sobretudo a competência de você atrair sobre você aquilo que você quer despertar nas pessoas.
Então, eu tenho dito para Margareth Menezes que a gente vai cuidar com muito carinho. Eu já sou, na história do Brasil, veja que engraçado, eu sou na história do Brasil o presidente que mais investiu em educação, que mais investiu em ciência e tecnologia, que mais investiu em institutos federais.
No governo meu e da Dilma, se vocês analisarem bem, 99% das coisas culturais foram aprovadas no período em que nós governamos esse país. Quando nós saímos, é como se tivesse passado uma praga de gafanhoto. Acabou.
Eu vou contar uma bobagem para vocês. Eu, quando resolvi criar o Ministério da Pesca, é porque o Brasil tem uma costa marítima de 8 mil quilômetros. De costa marítima, de água. Apesar que o Brasil tem que tomar conta de 5 milhões e 300 mil quilômetros quadrados, porque o Brasil tem uma área marítima muito maior do que a nossa fronteira marítima.
Pois bem, nós temos 12% de água doce do mundo, temos rios extraordinários. E por que o Ministério da Pesca estava ligado ao Ministério da Agricultura? Quando resolvi criar o Ministério da Pesca, eu falei, eu não conheço ninguém pescando em terra, pesca-se na água. Então, se o cara não planta na água, planta na terra. Então, que se plante o Ministério da Agricultura, mas que se crie o Ministério da Pesca.
O cinema é a mesma coisa e a cultura é a mesma coisa. É preciso arraigar na cabeça das pessoas a ideia da força, porque se a gente não fizer isso, eles desmontam. Eu estou há um ano e sete meses no governo. Um ano e sete meses. Nesse um ano e sete meses, a gente passou 90% do tempo reconstruindo a coisa que já tinha construído e que eles desmancharam.
Não deixaram pedra sobre pedra. E nós estamos reconstruindo. E vamos reconstruir. Eu já fiz nesses um ano e sete meses mais políticas públicas do que eu fiz em oito anos passados.
Aí vocês podem me perguntar: "Ah, mas eu não vi ainda". E não viram mesmo. Porque você não come jabuticaba no dia que você planta. Você planta, aduba, joga água, espera um tempo e você vai colher. E este ano é o ano da colheita que a gente vai fazer neste país das políticas que nós queremos construir.
E ela começa com um ato como esse. Ela começa com um ato como esse. Porque eu sou da turma em que artista, cinema e novela não é pra ensinar putaria. É pra ensinar cultura. É pra contar história. É pra contar narrativas. E não pra dizer que nós queremos ensinar as crianças a fazer coisa errada. Nós não queremos fazer isso com crianças. Não. Nós só queremos fazer aquilo que se chama arte. Arte. Quem não quiser entender o que é arte, dane-se. Porque nós queremos muita arte, muita cultura e muita disposição das pessoas a participarem.
O que nós não podemos é ter medo de fazer esse debate. O que nós não podemos é ter medo de fazer o debate. Muita vez aparece um maluco aí, falando bobagem, gritando bobagem, xingando bobagem. A gente fica quieto. Não, nós temos que defender o nosso direito.
Eu lembro que uma das lições que eu aprendi foi aqui no Rio de Janeiro. Uma vez eu vi aqui, os artistas de teatro estavam em greve. Em greve. E me convidaram pra ir numa greve, numa assembleia. Era de noite, era numa rua meio esquisita e eu vi os artistas falando, e as pessoas não podiam bater palmas. A pessoa ficava assim com o dedo. O cara falava, falava e o pessoal... Ah gente, isso não vai dar certo, porra.
Ninguém vai atender a reivindicação de vocês. Ninguém vai atender, ninguém grita, ninguém xinga, ninguém bate palmas com força. Aí, eu comecei a falar: "gente, vamos gritar. Vamos fazer barulho". "Não, mas não pode acordar os vizinhos".
Porra, como é que você quer ganhar uma guerra sem fazer barulho, cara? Não, nós temos que fazer barulho pras pessoas saberem que nós existimos. Nós existimos. E essa existência nossa tem que ser carimbada todo santo dia. Por isso eu queria terminar dizendo pra vocês uma coisa, companheiros.
Vocês podem ficar certos. Nós temos dois anos e cinco meses de mandato ainda. Dois anos. Nós temos mais do que nós já fizemos. E pode ficar certa uma coisa. A gente vai recolocar pedra sobre pedra nesse país. A gente vai transformar a cultura numa indústria poderosa. Agora que o Lulinha disputou o Festival de Cannes... Eu não vi o documentário, mas eu ouvi dizer que eu tava lá. Ouvi dizer.
Eu só acho isso, gente. Esse país precisa de uma chance. Sabe o que acontece? O Brasil precisa de uma chance. Tem que ter uma geração que acredita no Brasil. Tem que ter uma geração que acredita, que briga por isso.
Hoje eu fui lá no ato da Petrobras pra dizer: "Pô, quantas vezes tentaram acabar com a Petrobras? Quantas vezes tentaram negar que a gente não tinha direito a petróleo?" E toda vez que a gente queria uma coisa... privatizaram a Eletrobras. A Eletrobras era uma empresa poderosíssima e uma coisa estratégica pro país. E hoje privatizaram, fizeram uma política de lesa pátria. Privatizaram a Vale. Quiseram privatizar o BNDES. Quiseram privatizar o Banco do Brasil. Quiseram privatizar a Caixa Econômica. Faz quantos anos que tentam privatizar o Correio?
E sempre tirando a ideia de que o que é público não presta. Ali só tem vagabundo, o pessoal é marajá, o pessoal não trabalha. E a sociedade vai acreditando nessa bobagem e nós não brigamos.
Por isso, é que quando eu pedi a Janja de casamento, eu falei pra ela: "Baixinha, se prepara que você vai casar com o um pernambucano. E eu tenho 70 anos de idade, 75 na época. Mas eu quero te dizer que eu tenho energia de 30 e tenho tesão de 20".
Não sei se ela acreditou, mas eu falei. Mas por que eu falei isso pra ela? Porque se a gente não colocar na vida da gente uma causa, uma causa. O homem ou a mulher tem que ter na vida dele uma causa que ele levante todo dia com possibilidade e com vontade de realizar aquela causa. Todo dia nós temos que levantar com vontade de fazer alguma coisa.
A gente não pode se entregar. "Ah, eu tô perto de me aposentar". Eu não vou me aposentar. E já falei com Deus. Só me leve daqui... eu aprendi com Suassuna, a Dona Caetana nem veio aqui. Ela que procure outro espaço porque eu quero viver 120 anos. Goste quem gostar. Vou durar.
Porque eu tenho que fazer as coisas, gente. A gente tem que acreditar fazendo as coisas. Fazer cinema é uma crença. Porque fazer cinema com muito dinheiro é muito fácil. Mas fazer com sacrifício, com o suor do nosso que trabalha é muito difícil.
Então o que o governo tem que fazer? O governo não tem.. O governo não tem que ser o patrocinador de tudo. O governo tem que ser o indutor de tudo. O governo tem que criar condições para que vocês tenham acesso a fazer as coisas.
Que o sistema financeiro e que o empresariado tenha uma postura digna de financiar filme. De acreditar que ele vai ter retorno se ele financiar um filme corretamente. É importante que a gente diga que ninguém quer favor de ninguém.
A gente quer apenas a oportunidade de exercer a nossa profissão e a nossa criatividade. E por isso nós temos que regulamentar o tal do VoD (vídeo sob demanda). Nós temos que regulamentar o tal do VoD por quê? Porque se a gente brigar, se a gente brigar... Agora no Congresso Nacional as coisas são votadas pelo celular.
Então quando tem um clima quente os deputados não vão, fica cada um na sua casa, na sua cidade e pelo celular votam. Não é assim, Benedita da Silva? Não é assim, Benedita da Silva? É assim. É assim. Deputado hoje, Janira tá aqui, deputado muitas vezes são convocados para votar pelo celular.
Então é importante que a marcação seja homem a homem, mulher a mulher. Eu acho que a gente tem condições de fazer uma regulamentação para que esse país se transforme num país livre, soberano e dono do seu nariz. Dono dos seus artistas, dono da sua arte e dono do nosso futuro.
Um beijo no coração e feliz dia do cinema nacional.