Pronunciamento do presidente Lula durante apresentação de ações do MMA por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente
Eu preciso dar uma explicação aqui no anúncio das questões levantadas pela companheira Marina [Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima] da questão ambiental.
Vocês perceberam que nós mudamos o modelo e aqui na frente só tem imprensa, porque a ideia desse lançamento do programa da Marina é que ela, ao anunciar os decretos e os governadores assinarem o Pacto, a gente vai se retirar e vocês vão ficar com a Marina para fazer as perguntas necessárias.
E por que eu não vou falar? Porque o foco hoje é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Se eu for falar de qualquer outro assunto, se eu for falar do crescimento do PIB, se for falar da blusinha, se for falar, vai ser o que vai tomar conta do noticiário e não a questão ambiental.
Como nós queremos dar consciência à sociedade brasileira de que a questão ambiental não é mais uma questão de ativista, não é mais uma questão universitária, não é mais uma questão, como se dizia antigamente, de bicho grilo. A questão ambiental é um chamamento à responsabilidade dos nossos humanos, que são considerados de todas as espécies animais mais inteligentes do planeta, para que não destruam a sua casa, para que não destruam o seu barco, para que não destruam o ar que respiram, para que não destruam a água que bebem.
Então nós temos que aproveitar esse momento para fazer um chamamento à sociedade brasileira, aos humanos do planeta Terra, de que nós temos uma chance. E a chance depende só de nós. Nenhum animal do planeta Terra mata o outro por vingança, mata o outro sem uma causa. Não destrói o seu ninho, não destrói a sua casa. Somente o humano é capaz de fazer isso. Somente o ser humano é capaz de fazer isso.
Então nós temos que aproveitar esse instante, Marina. Eu espero que na discussão da bioeconomia, e aí é preciso conversar muito com nossos governadores, porque outro dia eu estava conversando com o Ministro do Turismo, eu estava imaginando, numa conversa com ele, a seguinte questão. Muita gente viaja a Paris, não apenas para ver Paris, mas para ver o Museu do Louvre, para ver... Muita gente vai a Berlim para ver os museus históricos de Berlim, muita gente vai à Disney, muita gente vai ver o Museu Espacial em Washington, ou seja...
Agora, nós temos uma coisa que é tida como a coisa mais importante para a manutenção da qualidade do ar que nós respiramos. Nós temos uma coisa que é mais importante para que a gente possa manter o planeta de forma sadia, oferecendo qualidade de vida à humanidade, que é as nossas reservas florestais, que são os nossos biomas, seja o Pantanal, seja a Caatinga, seja o Pampa, seja o Cerrado, seja a Mata Atlântica. Nós temos uma riqueza imensa. Entretanto, nós não temos uma política de desenvolvimento do turismo para visitar essas nossas florestas.
Nós fizemos tantas reservas aqui agora. É importante que, junto com isso, a gente pense no desenvolvimento do estado. Porque a nossa juventude, muitas vezes, os estudantes pegam um avião, passam por cima da Amazônia e vão ver a Disney. E vão ver outra coisa. Quando a gente poderia fazer dessa riqueza que a humanidade tem hoje uma coisa extraordinária para desenvolver economicamente os estados do Norte do país.
Porque eles não querem ser eternamente extrativistas. Eles querem continuar tendo acesso ao desenvolvimento, à exploração financeira, não apenas na produção agrícola, na criação de gado, mas na questão do turismo. O Pantanal aqui tem dois estados que têm 100% do Pantanal. O Mato Grosso do Sul diz que tem mais Pantanal que o Mato Grosso. Mas o Mato Grosso diz que o Pantanal dele é melhor e mais bonito que o do Mato Grosso do Sul.
Então, essa divergência é saudável porque permite que as pessoas visitem os dois Pantanais. Ou seja, que é um só, na verdade, mas em dois estados. E a beleza que significa essa nossa juventude conhecer a Amazônia. Conhecer o que é a densidade da floresta amazônica.
Tanta gente no mundo, historicamente, tem uma paixão pela Amazônia. Um tempo desse eu estava conversando com uma jornalista e ela me disse que ela era muito pequena quando o pai dela comprou um metro de terra, não sei quantos metros de terra, que era para ajudar a Amazônia. Aqui no Brasil, nós precisamos aprender a fazer isso.
Como o coração só sente aquilo que a gente enxerga, é importante que a gente, então, crie condições de fazer com que os nossos jornalistas, com que os nossos empresários, com que os nossos estudantes, os nossos viajantes, conheçam a Amazônia, conheçam a riqueza da biodiversidade da Amazônia, para que tenham a noção da importância de todas essas terras que a gente está marcando aqui.
Esse decreto todo foi muito aplaudido aqui, mas vocês sabem que tem muita gente que fica com raiva quando a gente faz um decreto desse. Você sabe disso, tem muita gente que acha, sabe, que era preciso passar uma motosserra e acabar com essa floresta para plantar qualquer coisa. Quando hoje está claro, hoje está claro, que manter uma floresta em pé e bem cuidada pode ser tão rentável para o estado e para os povos que moram na floresta do que qualquer outro investimento.
É apenas uma questão de compreensão e de opção para que a gente leve mais a sério essa questão ambiental. O mundo está cheio de desastres ambientais que são quase que incontroláveis. E quando a natureza se revolta, é difícil controlar. E nós precisamos, a partir do Brasil, que é uma referência mundial hoje na questão do meio ambiente, na questão ecológica, na questão da transição energética, nós precisamos fazer disso uma coisa extremamente importante para que a gente atraia investimentos para que a gente ajude a desenvolver esses estados, porque o povo do Norte tem o direito de ter acesso às coisas materiais que tem os companheiros do Sul e tem os companheiros do Sudeste.
Então é isso, Marina. Eu queria te dar os parabéns. Eu vou me retirar. Eu estou convidando os governadores para ir tomar um café comigo lá em cima. E você fica, você e o Laércio [Laércio Portela, ministro interino da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República], por conta da nossa gloriosa imprensa. A nossa imprensa, que quem escreve editorial errou mais uma vez, quem faz a primeira página dos jornais tem errado mais uma vez, alguns comentaristas têm errado, porque surpreendentemente o PIB cresceu mais do que os negacionistas divulgaram pela imprensa. E vai continuar crescendo mais.
Um abraço.