Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de novo campus na Zona Sul de São Paulo
Adilson, vem pra cá. Ô Stuckert, eu queria que você tirasse uma fotografia daqui de cima para pegar o povo lá. Porque quando a gente vem na periferia de uma cidade, e São Paulo é um estado que tem muita periferia, a gente percebe o descompasso entre as classes sociais nesse país.
Eu canso de participar, Alckmin, de inaugurações. Eu canso de participar de lançamentos de pedras fundamentais. Eu canso de participar de muita coisa. E você chega nos salões grandes, nobres, com muita luz, com muito refletor. E nós estamos aqui, no Jardim Ângela, inaugurando a ideia do instituto federal e o povo está no escuro, porque certamente se esqueceram de colocar luz pra iluminar o povo, pra gente ver o povo daqui.
É uma contradição que eu carrego, de ver a diferença que acontece em cada lugar que eu visito nesse país. Então, você fotografou, Stuckinha? Porque isso é importante pra marcar. Na próxima vez, quem montar um barraco desse para gente fazer um ato, pelo amor de Deus, coloque uma luz para iluminar, para o presidente enxergar a cara das pessoas. Eu vou embora daqui sem ver a cara de vocês. E vocês estão vendo a minha cara aqui, porque tem duas luas na minha cara. Então, isso é um problema sério.
Eu pedi pra esse moço vir para cá. Esse moço está parecendo Moisés. Porque eu vou explicar para vocês a razão pela qual o instituto está sendo instalado aqui. Eu já frequentei muitas vezes o Jardim Ângela. Eu já visitei muitas vezes a paróquia do padre Jaime. Eu já tomei café, já comi bolo, já tomei vinho com o padre Jaime. A última vez que eu vim no Jardim Ângela foi na paróquia do padre Jaime.
Lamentavelmente, ele não está entre nós. Mas, quando o Camilo começou a discutir comigo a construção de institutos federais, ele começou a consultar muitas pessoas, deputados, inclusive, para saber quais as cidades que a gente ia fazer institutos federais.
E a gente começou a escolher por um vazio educacional. Aonde é que tem menos possibilidade das pessoas estudarem? Onde é que está vazio? Onde é que não tem instituto federal? Onde é que não tem universidade? E eu falei pro Camilo: “Companheiro Camilo, a gente pode escolher onde você quiser, mas eu vou querer o instituto federal no Jardim Ângela.”
E por que, e por que que eu tomei a decisão de indicar o Jardim Ângela? É porque esse moço trabalha comigo há mais de 30 anos. Esse moço trabalhou no PT quando Paulo Okamotto era presidente do PT. Esse moço trabalhou no Instituto Lula. Esse moço me ajuda... Esse moço me ajuda há mais de 30 anos.
E eu sei do sacrifício que ele faz para sair daqui. Eu não sei se ele trocou de carro, mas um carrinho que era um Chevettezinho, pra ir trabalhar em São Bernardo. Gastava mais gasolina do que ganhava de salário. E eu falei: sabe de uma coisa? É pensando no Adilson, na família dele, que é uma família muito sofrida, ele trabalha muito pra sustentar filho e neto. Às vezes está trabalhando, às vezes está desempregado. Mas ele é um homem religioso, ele é um cara que trabalha na paróquia, ele faz campanha de fraternidade, ele recolhe alimento, ele distribui alimento, todo sábado e domingo.
Quando eu cheguei aqui, eu não vi o Adilson. Aí, eu liguei pra casa dele: “Pô, eu indico o Jardim Ângela por sua causa e você não tá presente?” Aí, eu esqueci que ele não foi comunicado. Aí, eu mandei buscar o Adilson.
E eu, Adilson, tenho fé em Deus que ainda verei um neto seu se formando no Instituto Federal do Jardim Ângela, para que essa meninada tenha futuro. Bem, além do meu amigo Padre Jaime... Pode sentar, Adilson. Então, eu tenho uma relação muito antiga com Santa Bárbara.
E eu queria fazer um apelo a mim mesmo. Como a nossa companheira falou, eu agradeço a mim, então, também quero fazer um apelo a mim mesmo. Qual é o apelo que eu quero fazer? Nós temos um terreno grande para fazer o instituto federal. É um terreno enorme.
Você sabe, Camilo, que esse povo daqui não tem cinema para ir. Você sabe que esse povo daqui não vai em teatro porque não tem teatro aqui. Então eu quero assumir um compromisso com vocês. Eu vou acertar com a nossa ministra da Cultura para que a gente faça, junto com o instituto, um teatro, um cinema, uma área de lazer para as pessoas.
O que a gente percebe, que a gente percebe nas cidades brasileiras... Está aqui, ô! Quando a gente...Está lembrando daquele ditado: quem não chora não mama? Pois bem. Eu estou reclamando do teatro aqui. Venha cá, Carlos. Eu estou reclamando do teatro aqui. O Carlos é o presidente da Caixa Econômica Federal. Ele está dizendo, ele está dizendo que pode ceder o Centro Cultural da Caixa Econômica aqui para que vocês possam ter atividade cultural. Regina, está um compromisso feito com o nosso presidente da Caixa. Obrigado, Carlos.
É isso, é isso. A gente tem que teimar, a gente tem que reivindicar, a gente tem que brigar que as coisas acontecem. Não esqueça que foi prometido o Centro Cultural da Caixa Econômica para atividade cultural aqui.
Bem, dito isso, companheiros e companheiras, eu realmente tô preocupado com a escuridão lá no fundo e eu não vou tomar muito tempo de vocês.
Veja, quando o PT chegou ao governo, em 2003, o Brasil tinha 140 institutos federais, que o primeiro foi feito em 1909, pelo presidente Campos Salles, na cidade de Campo de Goytacazes, no Rio de Janeiro.1909. De 1909 a 2003, 100 anos depois, tinha 140.
Depois que eu cheguei no governo, em menos de 15 anos, nós vamos entregar 782 institutos federais nesse país. E por que nós vamos continuar fazendo universidade, Regina?
Não pare de reivindicar faculdade não, sabe por quê? Porque eu fui hoje na Zona Leste e acabamos de lançar a pedra fundamental da faculdade da Zona Leste. Por que não pode ter uma aqui? Então é o seguinte, Camilo, vá pensando... Vá pensando no seu programa aqui, porque é o seguinte, gente: não adianta alguém falar pra mim: “Ô Lula, você está gastando muito em universidade, está gastando muito em instituto, está gastando muito não sei das contas…” Eu não estou gastando nada! Eu estou investindo na juventude desse país! Eu estou investindo no futuro desse país, porque eu sei o quanto é importante a gente ter uma profissão.
Eu sei o quanto é importante uma menina ou um menino ter uma formação. É por isso que o Camilo falou do Pé-de-Meia. Nós descobrimos que quase 500 mil meninas e meninos, de 15, 16, 17 anos não fazem o ensino médio porque têm que parar para trabalhar e ajudar a família.
E não é normal um país ter criança, que devia estar na escola, não está na escola porque tem que ajudar no orçamento. Aí, nós criamos uma poupança para o pessoal do ensino médio. Cada menino, ou cada menina, vai receber R$ 200 por mês. Durante 10 meses vai ser depositado na conta dela. Já está depositando em todos os estados.
Se chegar nos 10 meses, essa jovem ou esse jovem tiver tido 80% de comparecimento na escola, e se ele passar de ano, ele vai continuar, no segundo ano, recebendo 10 prestações de R$ 200. E, no final, se ele tiver 80% de comparecimento, e ele tiver sido aprovado, ele vai ter mais R$1 mil. Então, já são aí, na verdade, R$ 6 mil.
No terceiro ano, a mesma coisa. Ele vai receber 10 prestações de R$ 200, se ele tiver comparecimento de 80%, e se ele passar de ano, mais R$ 1 mil. Significa que quando terminar o ensino médio, ele pode ter R$ 9 mil pra começar a vida dele, e para poder seguir estudando para frente, sabe?
Então, companheiros e companheiras, a gente está, obviamente, oferecendo isso para as pessoas mais pobres, mas já são quase 4 milhões de jovens que vão receber esse dinheiro, e a gente quer ver se a gente atinge a totalidade.
A mesma coisa vale para o ensino técnico. Ô gente, para a juventude entender o que é uma profissão... Eu sou filho de uma mulher que teve oito filhos. Eu fui o primeiro a ter um diploma primário. Eu fui o primeiro a ter uma profissão.
Pelo fato de ter uma profissão, eu ganhava um salário razoável na indústria que eu trabalhava. Então, por conta desse salário razoável, eu fui o primeiro filho da dona Lindu a ter uma televisão. Eu fui o primeiro filho da dona Lindu a ter uma geladeira. Eu fui o primeiro filho da dona Lindu a ter uma casa própria. Eu fui o primeiro a ter um carro. E o único a ser presidente da República porque vocês me ajudaram.
Então... Então, eu queria fazer um apelo para a juventude. Pelo amor de Deus, não parem de estudar. Não parem. Eu sei. Eu sei que, muitas vezes, uma pessoa que está com 16 anos, 17 anos, com energia a 100%, ele fala: “Não, hoje eu vou na balada, hoje eu não quero estudar, hoje eu vou...” Pelo amor de Deus, façam a balada que vocês quiserem, mas não troquem os estudos pela balada. Façam os dois e se dediquem ao estudo.
Porque quando vocês tiverem uma profissão, vocês vão perceber como é que a vida de vocês vai melhorar. E, sobretudo, as meninas. As meninas, para elas não ficarem dependendo de alguém, de um homem que, muitas vezes, é até... Vocês acompanham a violência contra a mulher. Todo dia tem violência contra a mulher. Todo dia.
Agora, se a mulher, ela tiver uma profissão, ela não vai aguentar o homem ficar gritando no ouvido dela. Ela só vai ficar com o cara se ela gostar do cara, e se o cara respeita ela e tratá-la com carinho. Por isso, é extremamente importante vocês estudarem.
Quem está dizendo para vocês é um cidadão com 78 anos, um cidadão que não tem diploma universitário. Eu tinha vontade de ter, mas não tenho. E a minha obsessão pela educação é que eu quero que vocês tenham aquilo que eu não tive oportunidade de ter.
Eu quero que os filhos dos trabalhadores, as pessoas mais humildes, tenham o direito de estudar. Vocês têm o direito de ser médica, de ser dentista, de ser psicanalista, de ser o que vocês quiserem. E, por isso, cabe a nós darmos oportunidade para vocês.
Isso aqui, no Jardim Ângela, é apenas o começo. Eu queria fazer esse ato no terreno que vai ser o instituto, mas me parece que não tem condições de fazer lá. Me parece que não tem condições.
A gente aqui, hoje, ia assinar o contrato da estação do metrô para chegar aqui, mas o prefeito, que nos deu o terreno, não veio e o governador. Então, a Caixa Econômica Federal e o ministro das Cidades resolveram não assinar porque é importante a gente fazer isso junto com o governador e com o prefeito do estado.
Porque, para nós, quando a gente quer fazer investimento, quando a gente quer fazer crédito, a gente não se preocupa de que partido é o governador. A gente se preocupa se o povo daquele estado, se o povo daquela cidade precisa das coisas que a gente faz. E é por isso que trazer o metrô pra cá é uma necessidade de dar conforto a vocês.
De fazer com que um companheiro ou companheira que trabalha não perca três horas na fila do ônibus. Que esse companheiro possa dedicar mais tempo para cuidar da família, para cuidar dos filhos. E a mãe, sobretudo a mãe. A mãe que tem, às vezes, quatro ou cinco tarefas. A mãe precisa ter mais comodidade. E é por isso que nós temos que fazer escola de tempo integral.
Não é só para melhorar a qualidade do ensino da criança não, que é extremamente importante. Mas a gente quer também criar condições de dar à mãe a tranquilidade, que está trabalhando, de saber que o seu filho está dentro de uma escola, sendo cuidado e que ele não vai ser vítima de droga, que ele não vai ser vítima de violência ou vítima de uma bala perdida.
É por isso que eu queria esse instituto aqui. E saio daqui muito orgulhoso. Primeiro porque a Janja conheceu o Jardim Ângela. Porque a gente que está na Presidência, a gente conhece muita coisa. Vocês sabem que eu viajo muito o mundo, sabe? Visito palácio, visito presidente, visito rei, visito sheik, todo mundo. Mas nada é tão prazeroso como estar aqui com vocês no Jardim Ângela.
Saber que vocês estão nessa luta há muitos anos. Saber que vocês brigam todo santo dia para conquistar o direito de sobreviver dignamente. E o nosso papel é garantir o mínimo de conforto para vocês.
Por isso, companheiras e companheiros, por isso, meus amigos e minhas amigas, eu quero agradecer aos deputados que estão aqui, quero agradecer a nossa reitora da universidade e nosso reitor do instituto. Quero agradecer...
Eu não posso falar o nome do Boulos porque eu já fui multado uma vez porque falei o nome dele. Não posso falar.
Então, deixa eu dizer uma coisa pra vocês. Eu falar uma coisa para vocês. Gente, olha, é importante ter em conta o seguinte: vocês não tenham preocupação de reivindicar as coisas. Regina. Regina, é o seguinte: eu só tenho uma razão pela qual eu fui eleito presidente da República. Só tem uma razão. É melhorar a vida do povo trabalhador desse país.
Só tem uma razão. Eu não tenho outro compromisso na minha vida a não ser fazer as pessoas viverem com dignidade, com respeito. Eu quero que todo mundo tome café, almoce e jante. Eu quero que todo mundo tenha o direito de ter televisão, geladeira, máquina, telefone, iphone, o que tiver. Eu quero que todo mundo tenha o direito de fazer o curso que quiser. Eu quero que todo mundo tenha o direito de conquistar tudo o que quiser.
Eu quero gente alegre. Eu quero gente feliz. Eu quero gente vivendo dignamente. Por isso, eu estou aqui. Então, companheiros... Vocês do escuro que estão me vendo, eu não estou vendo vocês. Um abraço, um abraço, gente.
E eu quero deixar um beijo no coração de cada mulher, de cada homem, de cada companheiro aqui. Obrigado, Jardim Ângela. A gente ainda tem que fazer muita coisa para melhorar a vida do povo da periferia desse país.
Um beijo no coração.
Olha, deixa eu falar mais uma coisa para vocês. Uma coisa para vocês saberem o que está acontecendo. Às vezes, as pessoas dizem que eu sou o pai dos pobres. Eu não sou o pai dos pobres. Na verdade, o que eu sou? Eu sou um pobre igual vocês que chegou à Presidência da República. Eu sou vocês na Presidência da República. É isso que eu sou. Essa é a diferença, sabe? Espera aí, eu vou descer aí.