Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de investimentos em instituições de educação e saúde no Ceará
Queridas companheiras e queridos companheiros, meus queridos companheiros deputados federais, nossa senadora Janaína [Farias] e a nossa ex-senadora e secretária Augusta [Brito, secretária da Articulação Política do Ceará]. Meu querido ex-governador e atual ministro, companheira primeira-dama, governador e primeira-dama, ministros que me acompanham, Rui Costa [ministro da Casa Civil] e o companheiro da Comunicação Social, Laerte [ministro interino da Secretaria Extraordinária para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul]. Companheiras, ministra da Saúde, companheiros reitores, queria… companheiros prefeitos e prefeitas que estão aqui, companheiros, professores, estudantes, povo em geral do estado do Ceará.
Depois de ouvir dois reitores, depois de ouvir o Camilo [ministro da Educação] falar de educação, como ele falou. Depois de ouvir o nosso governador falar, eu estou aqui em pé com o microfone na mão me perguntando o que que eu vou falar? O que que eu vou falar? Então, eu fiquei pensando em contar uma coisa para fazer uma provocação, uma boa provocação, aquela provocação saudável aos historiadores que estão aqui presentes, aos professores, doutores, mestres e à querida imprensa investigativa do estado do Ceará. Uma boa provocação.
Procurem algum momento na história do Ceará em que um presidente da República veio falar tanto em educação e saúde como nós fizemos hoje aqui. Procure na história do Ceará um presidente da República que veio aqui falar de institutos federais como nós fizemos hoje. Eu tenho consciência tranquila e disse hoje numa entrevista para a jornalista Jéssica. Eu tenho muito orgulho, muito orgulho de encontrar qualquer prefeito desse país e dizer que eu duvido que em algum momento daquela cidade teve mais dinheiro do que nos mandatos do Lula e da Dilma nesse país. Duvido.
E eu posso perguntar isso para o governador de São Paulo, para o governador de Goiás, para o governador de Minas Gerais, para o governador de qualquer estado. E por quê? Porque nós não governamos com uma cabeça com ódio. Nós quando assumimos a presidência da República, a gente tem a responsabilidade de não olhar quem é que está governando um estado ou uma cidade, a que partido aquele governador, prefeito ou prefeita pertence. A nós, cabe olhar se a reivindicação daquele estado é correta e se o povo necessita daquele benefício. Se o povo necessitar, a gente vai atender, seja quem for o governador do estado ou prefeito da cidade.
É por isso que eu olho com muito orgulho e digo em todas as reuniões. Eu estava na marcha dos prefeitos, tinha muitos prefeitos lá e eu disse pros prefeitos: eu duvido que vocês aí saibam de algum presidente da República que mais colocou recursos na cidade de vocês, que mais respeitou vocês, que mais conversou com vocês do que esse jovem de 78 anos que está vos falando aqui agora. E eu faço essa provocação pra contar uma história para vocês.
É importante a gente saber porque o Brasil tem um retrocesso na educação ao longo da sua história. O Brasil tem menos estudantes universitários de 17 a 29 anos do que o Chile. O Brasil tem menos estudantes proporcionalmente do que a Argentina e talvez de outros países. E por que é assim? Então, eu tenho consciência do que a gente está fazendo nesse país e tenho consciência de um pouco da história desse país. Esse país foi descoberto em 1500, foi descoberto pelo português, porque os índios já tinham descoberto ele há muitos anos atrás. Pois bem, e esse país só foi receber a primeira Universidade Federal em 1920, 420 anos depois da descoberta. O Peru recebeu a sua primeira universidade, reitor, em 1554, que é a Universidade de São Marco.
A pergunta que se faz é: por que que o Brasil, que é o maior país da América Latina, que foi descoberto apenas oito anos depois da chegada de Colombo nas Américas, por que que nós demoramos tanto para ter universidade? E a resposta também é simples, porque esse país foi descoberto por europeus e eles se sentiam superiores aos indígenas que moravam aqui.
Depois, quando os indígenas forem explorados ao máximo, e dizimados, eles resolveram, então, fazer disso aqui o paraíso da escravidão. E durante 350 anos, a gente importou negros livres na África para se transformar escravos nesse país. Então, indígena, trabalhador pobre, cortador de cana não precisam de escola, porque os autores da época mandavam seus filhos estudar em Paris, mandavam seus filhos estudar em Londres, mandavam seus filhos estudar em Boston, mandavam seus filhos estudar em Madri, mandavam estudar em Coimbra. Para que universidade nesse país? Para que que pobre quer estudar? Pobre tem que trabalhar, trabalhar e pagar imposto de renda para os ricos mamarem naquilo que o povo paga de imposto de renda nesse país.
A pessoa pode dizer: “mas o Lula tá radical”. Não tô radical, não tô radical, eu tô apenas tentando contar uma história pra vocês, e vou contar mais história ainda. Em 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder desse país pela Revolução de 30. Getúlio Vargas começou a governar o Brasil. Em 1932, os paulistas se rebelaram contra o Getúlio Vargas e tentaram fazer uma revolução, que na verdade era um golpe contra o governo central. Então Getúlio Vargas ganhou porque o chamado governo federal derrotou. E o que que a elite de São Paulo pensou? Bem, é verdade que o Getúlio ganhou as eleições e vai governar o Brasil, mas nós vamos conquistar a inteligência desse país e construíram uma universidade extraordinária que é a USP. E a USP passou, ainda hoje é a melhor universidade do país e ainda hoje forma muitos extraordinários quadros intelectuais, empresários, economistas, filósofos, sociólogos, historiadores, ou seja, ela forma muita inteligência nesse país e durante muito tempo essa inteligência governou o país.
E é por isso que o povo foi esquecido. São Paulo é um estado extraordinário a que eu devo tudo na vida porque eu saí de Pernambuco com sete anos e aprendi tudo em São Paulo. Então eu devo tudo a São Paulo. E São Paulo é um estado extremamente importante para o país. Mas a verdade é que São Paulo não tinha Universidade Federal, porque era competição, era inteligência paulista contra o restante do Brasil.
Pois bem, eu quando cheguei à Presidência da República, eu fiquei pensando: São Paulo é grande, extraordinariamente industrializado, melhor infraestrutura, melhor mão de obra qualificada, tem tudo de importante que todo mundo quer ter. E depois você tem Rio de Janeiro, que é a capital maravilhosa, foi capital desse país, é um estado extraordinário, uma das coisas mais bonitas que eu vejo na vida é toda vez que eu vou ao Rio de Janeiro. Aí tem Minas Gerais, que é um estado extraordinário, o estado de onde se extraiu durante 150 anos grande parte do ouro que empobreceu esse país, mas que enricou a Inglaterra, porque Portugal pegava o nosso ouro para pagar dívida com a Inglaterra, e esse ouro também não ficou aqui.
Então esse país não cuidou dignamente e decentemente do seu povo. E aí eu ficava olhando: por que no Nordeste a gente tem menos universidades? Por que no Nordeste tem menos mestres, menos doutores? Por que a gente tem menos institutos de pesquisa? Por que a gente tem menos laboratório? Por que a gente tem mais desnutrição? Por que que a gente tem mais mortalidade infantil? Por que que a gente tem mais analfabeto? E eu ficava pensando: não é normal, Deus não pode ser injusto com o povo do Nordeste. É preciso dar ao povo do Nordeste a chance dele poder competir. A gente não quer tirar nada de ninguém, a gente quer apenas ter a mesma oportunidade. O nosso filho não quer tirar o rico da universidade, a gente quer ter o direito de competir com ele no vestibular. No Enem, desculpa Camilo, no Enem, a gente quer ter apenas a chance de disputar. Sentar lado a lado e ver quem estudou mais, porque dizem que o pobre é mais burro do que o rico, é mentira, porque quando Paulo Freire dizia: “quando as crianças comem, todo mundo vira inteligente, não tem um mais do que outro”.
Então eu tomei quase que como uma profissão de fé, quase que como uma profissão de fé. Campos Salles fez o primeiro instituto federal em Campo de Goytacazes, no Rio de Janeiro, em 1909. De 1909 a 2003, eles fizeram no Brasil inteiro 140 institutos federais. E como eu sou cidadão que sei o que é não ter profissão, sei o que é ganhar pouco, sei o que é procurar ficar procurando emprego com carteira profissional no bolso da bunda e só receber não, e não, e não. E quando pergunta pra gente “o que você sabe fazer?” Nada. Ah, eu sei um pouco tudo. Quem sabe um pouco tudo não sabe nada, não sabe nada, ou seja, a verdade é o seguinte: se a gente não tiver uma boa formação, se a gente não tiver uma formação e uma profissão, a gente não é tratado com respeito. As pessoas nem pegam o currículo da gente.
Eu falei: então, a minha missão, a minha missão é tentar criar as condições para que o povo mais humilde desse país, dos estados mais distantes, tenha a chance de disputar todo e qualquer pedaço de pão nesse país, porque não é justo que uns comam dez pães por dia e a maioria fica sem comer um pão durante tanto tempo. E por isso eu tenho orgulho, tenho orgulho de, junto com a companheira Dilma Rousseff, em apenas 13 anos de governo nesse país, nós já passamos para a história, como o governo que mais investiu em educação fundamental, mais investiu em creche, mais investiu no ensino técnico e mais investiu em universidade.
Aliás, reitor, eu quero agradecer o título Dr. Honoris Causa e dizer pro magnífico reitor: eu, embora não tenha diploma universitário, eu sou o brasileiro com mais título de Dr. Honoris Causa nesse país. Então, o que nós fizemos aqui hoje não foi um gesto pequeno. Eu disse na entrevista coletiva: quando eu convidei esse homem pra ser ministro da Educação, não foi porque ele é bonitão, porque ele é bem casado, porque ele tem uma casa na praia que me convidou para ir lá. Você viu aquela fotografia na praia que apareceu minhas coxas causando inveja para todo mundo aí. Foi na casa dele.
Pois bem, quando eu convidei esse cara para ser ministro da Educação, é porque aqui do Ceará, aqui desse estado, desse estado sofrido, com falta d'água, com seca, com muita gente retirando, na minha cidade de São Bernardo do Campo, tem um bairro inteiro de cearense, um bairro inteiro de gente que foi embora porque precisava sobreviver, porque precisava trabalhar, porque precisava comer. Então, eu fiquei pensando, eu vou levar. Qual é a melhor experiência educacional do Brasil? Era o estado do Ceará. E quem era o governador? Era o Camilo. Eu falei: então, eu vou trazer para ser ministro da Educação e o Camilo sabe da responsabilidade dele, porque até ele chegar no governo, o Haddad era o mais importante ministro da Educação desse país e ele agora vai ter que ter a primazia de falar o Haddad pode ser o melhor ministro da Fazenda, mas o melhor ministro da Educação, vou ser eu, Camilo Santana, ex-governador do Ceará e ministro da Educação.
Então eu faço isso com prazer. O investimento na educação para mim é uma coisa que eu faço prazerosa, porque eu quero que as pessoas humildes tenham aquilo que eu tinha vontade de ter e não consegui ter. Eu adorava, imaginava ter um diploma universitário. Ah, como eu sonhava ser doutor, mas o máximo que eu fui foi torneiro mecânico, foi o máximo que eu fui, foi torneiro mecânico. E sou agradecido à dona Lindu, que pegava no meu braço todo santo dia, andava a pé quase oito quilômetros para me levar para uma escola para estudar uma profissão. E graças a essa profissão, eu estou aqui hoje, retribuindo para o povo nordestino o direito de estudar, o direito de trabalhar, o direito de pesquisar, o direito de ser mestre, o direito de ser doutor, porque ninguém nasceu para ser inferior a ninguém. Nós nascemos para ser iguais, é assim que Deus criou a humanidade e é assim que a gente quer ser.
Então, a gente precisa ter consciência que toda vez que vocês ouvirem eu falar em educação, é uma profissão de fé, é uma coisa que está na minha entranha, porque eu sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta e morreu analfabeta. Mas o filho dela que chegou a presidente da República não quer deixar nenhum brasileiro mais morrer analfabeto, porque nós temos obrigação de cuidar dessa gente e dar a eles oportunidade.
Por isso, companheiros e companheiras, terminando esse ato aqui, eu espero que alguém me dê um almoço, eu espero que tenha um almoço, porque eu acordei 5h30 da manhã no Rio de Janeiro, estou até agora aqui. As pessoas dizem “ah, mas o Lula está cansado, ele está velhinho”. Eu não canso trabalhando, eu canso ouvindo bobagem das fake news que os adversários contam, as mentiras. Eu trabalhando eu passo acordado o dia inteiro, mas preciso comer, preciso comer para ter sustância.
E depois nós vamos inaugurar um conjunto habitacional aqui e eu quero dizer para vocês: vocês vejam como que é o desgoverno: esse conjunto habitacional que eu vou inaugurar, ele poderia ter sido inaugurado em 2018, faltava 2% para acabar. Pois entrou uma praga de gafanhoto para governar esse país, comeu todas as esperanças do povo e não inaugurou a casa. Pois hoje eu vou entregar uma chave com 8 anos de atraso para as pessoas desse estado que precisam de moradia e vai ter mais, vai ter mais de vinte mil casas construídas nesse estado.
Então gente, eu queria dizer para vocês o seguinte. Eu, tem gente que me pergunta assim: ô Lula...
Olha, quando, quando a gente fica um pouco mais de idade, a gente fica mais respeitoso com as pessoas. E de vez em quando eu falo um palavrão, as pessoas se incomodam. Mas o palavrão que eu falo não é um palavrão, é força de expressão, é aquela coisa que sai por amor, é aquela coisa que sai porque dá vontade de falar. Eu quero dizer um palavrão para vocês agora. Eu amo o povo do Ceará. Eu quero ajudar esse menino a fazer um governo melhor do que o Camilo fez, melhor do que o Cid [Gomes] fez, essa é a tua tarefa. É sempre melhorar, é sempre melhorar, porque o Brasil precisa ter uma chance, gente. Esse país tem que ter uma chance. A gente tem uma revolução energética para fazer esse país. A gente tem, e são os estados do Nordeste que serão o carro chefe da economia brasileira.
Então eu quero dizer para vocês: levantem a cabeça, construam na cabeça de vocês, a causa de vocês, porque quem não tem uma causa não tem motivação para viver. É preciso ter uma causa, ter uma razão de levantar de manhã, de bom humor, nunca azedo, levantar a cabeça e falar: eu estou vivo e essa vida é o maior dom que Deus me deu e eu vou lutar para melhorar a minha vida e melhorar a vida do meu povo.
Um abraço, que Deus abençoe todas as mulheres e todos os homens do Ceará. Obrigado, Elmano [governador do Ceará]. Obrigado, companheiro deputado e senador. Um beijo, gente.