Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de investimento do Governo Federal para Minas Gerais
Queridas companheiras de Minas Gerais, queridos companheiros, empresários aqui presentes, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, secretários, meus companheiros deputados federais que tanto tem ajudado e nossas deputadas federais que tem ajudado. Deputados e deputados estaduais.
Eu vou só pedir desculpa para vocês para não ler a nominata, porque vai tomar um tempo de uma pessoa que vai falar, porque, agora, é o seguinte: nós vamos fazer um bem bolado aqui. O governo criou um site chamado ComunicaBR. Esse site é para avisar aos desavisados. E eu queria que a minha companheira Janja fizesse a apresentação do que é o Comunica Brasil. Para que cada um de vocês saibam que, se vocês entrarem no Comunica Brasil, você pode escolher qualquer cidade do Brasil que vocês nem conhecem e vocês vão saber cada centavo e cada coisa do Governo Federal nesse país, em todas as cidades de Minas, em todas as cidades do Brasil. Mas é importante que a gente visite o site, é importante que a gente entre, porque, muitas vezes, a gente faz as coisas e as pessoas não vão atrás. E nós queremos que todo mundo saiba cada tijolo que a gente tiver colocando em qualquer cidade desse país. Por isso, eu vou passar para a companheira Janja mostrar para vocês como é que funciona o Comunica Brasil do nosso governo.
Fala da primeira-dama, Janja.
É porque ontem eu disse que o meu microfone era masculino e o dela era feminino, então agora ela quis misturar.
Olha, queridas companheiras, eu sei do adiantado do horário e eu ainda tenho que ir a Juiz de Fora. Vou almoçar com a nossa querida prefeita de Juiz de Fora. Nós vamos e, depois, o seguinte: a minha agenda está muito complicada, porque eu saio de Juiz de Fora, vou para São Paulo de noite, tenho uma reunião hoje à noite, amanhã de manhã eu tenho dois eventos em São Paulo, de manhã e de tarde. Na segunda-feira eu viajo para a Bahia, para Feira de Santana. Vou para Feira de Santana. À tarde eu vou para Salvador. No dia 2, que é o dia da verdadeira Independência do Brasil, porque foi lá que os baianos expulsaram os portugueses. Eu vou fazer a caminhada do dia 2 de julho e depois eu embarco para Recife, à noite. E, na quarta-feira, eu vou a Goiânia. E se preparem que eu vou voltar a Minas Gerais logo, logo.
Olhe, eu, na verdade, na verdade, eu preciso falar muito pouco, porque os ministros que falaram fizeram uma exposição extraordinária de tudo que a gente está fazendo em Minas Gerais. Vocês estão lembrados que eu tenho uma relação com Minas Gerais muito antiga.
Em 1979, Pacheco, eu era apenas presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. E houve uma greve de trabalhadores da construção civil aqui em Minas Gerais. E a polícia militar matou uma pessoa que eu nunca esqueci o nome: Horacinho. Morreu um trabalhador da construção civil, morto pela polícia, então eu fiz uma reunião em São Bernardo, convoquei alguns dirigentes sindicais e foi a primeira vez que eu vim a Belo Horizonte tentar resolver aquela greve. Fui diretamente com o prefeito. Falei para o prefeito: “Se o senhor quiser que eu resolva essa greve, a primeira coisa é tirar os policiais da rua. A segunda coisa é dar comida para aquele povo. Se acontecer isso a gente vai discutir a greve”. O prefeito ajudou, a polícia se afastou, o pessoal tava no Mineirinho, quem é mais velho aqui, o Arthur lembra disso, o pessoal tava no Mineirinho, o Rogério lembra. No Campo do Galo, acho que era. Ex-Campo do Galo, porque, no Campo do Galo, hoje, nem pobre entra mais, porque é tão chique que… Então, nós conseguimos, eu lembro que a gente teve muito leite, teve pão, teve banana. Aquele povo com fome, com medo de forma desvairada, nego bebia litro de leite inteiro assim na boca, sem parar para respirar. E, depois, nós fomos fazer uma assembleia e conseguimos fazer o pessoal voltar a trabalhar tranquilamente, sem nenhuma busca. Foi a minha primeira vinda.
A minha segunda vinda aqui foi em 1980. Eu vim aqui a Belo Horizonte, peguei um carro, comecei a andar Minas Gerais, passei em Governador Valadares, passei em Salinas, passei não sei aonde, não sei aonde. Eu sei que eu fui chegar em Teófilo Otoni. Eu e o companheiro Apolo [Heringer Lisboa, um dos fundadores do PT], a gente foi para tentar construir – naquele tempo era para construir – o Partido dos Trabalhadores. Foi a segunda vez. E, depois, eu fiquei filho de Minas Gerais, porque veja, eu conheço muito a Minas de Minas, que é Belo Horizonte. Eu conheço a Minas do aço que é o Vale do Aço. Eu conheço a Minas de Jequitinhonha, que é do Vale do Jequitinhonha. Eu conheço a Minas de Mucuri que é Teófilo Otoni. Eu conheço a Minas do Vale do Rio Doce, que eu quero visitar, porque eu quero ver o estrago que a Vale fez na cidade de Brumadinho. Quero saber o que foi feito em Mariana e se o estrago que fez no rio, se vai recuperar. A Vale está muito quietinha e ela sabe que ela tem que pagar, ela sabe que tem que pagar.
Então, essa Minas Gerais, a Minas Gerais do sul de Minas Gerais, perto de São Paulo, a primeira cidade de Minas, perto de São Paulo, a última é uma cidade chamada Extrema. Rapaz, eu, durante um bom tempo, sonhei em comprar um terreno lá para fazer um sitiozinho. Mas nunca tive dinheiro, não pude comprar meu sítio, mas continuo admirando a cidade de Extrema.
Mas quem é que vai falar de Minas sem falar do Triângulo Mineiro? Essa área poderosa de Minas Gerais, de uma economia muito pujante. Mas o que mais me dá saudade aqui em Minas Gerais não é tudo isso, não. O que me dá saudade é comer um torresmo de barriga aqui no restaurante de Minas Gerais. Comer um feijão tropeiro, comer um frango com quiabo feito em uma panela de ferro, em um fogão de lenha. É isso que me dá saudade de Minas Gerais, porque é um estado que tem, além de tudo isso, ainda tem o pão de queijo que hoje é vendido no mundo inteiro, com a cara de Minas Gerais. Essa Minas Gerais de Tiradentes, essa Minas Gerais de Betinho, de Henfil. Essa Minas Gerais de Frei Betto. Essa Minas Gerais de Patrus Ananias [deputado federal]. De Nilmário [de Miranda, ex-deputado federal]. De tanta gente boa. De Odair Cunha [deputado federal]. Essa Minas Gerais tem produzido tanta gente extraordinária, produziu Tiradentes, que é o mártir da independência desse país. Produziu Tancredo Neves, que conquistou o poder central para a sociedade civil. E agora produziu o Pacheco, que está presidindo o Senado da República. Essa é a Minas Gerais. A Minas Gerais extraordinária que eu amo cada vez mais, essa Minas Gerais que me deu o ministro da Comunicação no meu primeiro mandato. E essa Minas Gerais que também produziu a Dilma Rousseff, presidenta do Brasil. É mole? É mole? Essa Minas Gerais que produziu o Sucupira, o nosso prefeito de Teófilo Otoni. Mas produziu a grandiosa Maria José [Hauesen, ex-deputada estadual], uma das mulheres mais extraordinárias que eu conheci. Essa Minas Gerais do Arnaldo Godoy, que está aqui na minha frente. Esse Arnaldo Godoy [vereador de Belo Horizonte] que é uma figura que está na minha relação há pelo menos quarenta anos. Obrigado por ter vindo, Arnaldo. Muito obrigado, querido. Eu sei que você, embora não consiga enxergar, por causa da deficiência visual, você precisa saber que eu sou muito bonito.
Bem, eu queria dizer para vocês o seguinte: os meus ministros citaram todos os números que poderiam citar, então não vou dizer, não. Vou apenas dar uma coisa para vocês. Apenas uma coisa para vocês. Esse país passou quatro anos. Na verdade, desde que deram o golpe na presidenta Dilma, esse país parecia um caminhão velho descendo ladeira abaixo, sem controle. Esse país deixou de fazer política social. Quantas casas foram feitas depois que nós saímos do governo? Quantas casas para o pobre? Hoje a gente faz casa para as pessoas mais pobres e as pessoas do Bolsa Família e o BPC não paga a casa, porque o Estado tem o direito de garantir o direito de moradia para as pessoas. Está na Constituição Federal desse país. Se a gente quiser fazer uma revolução nesse país, Pacheco, a gente não tem que ler um livro de Marx. A gente não tem que leninista. A gente não tem que ser Mao Tsé-Tung. A gente não tem que ser Fidel. Leia a Constituição Brasileira e vamos regulamentar todos os direitos do povo brasileiro que está lá. E é isso que nós estamos fazendo.
Eu, sabe, encontrei nesse país centenas e centenas de hospitais paralisados. Centenas e centenas de UPAs paralisadas. Quase 6 mil creches paralisadas nesse país. Eu encontrei 87 mil casas do Minha Casa, Minha Vida abandonadas. Esses dias eu fui ao Ceará inaugurar uma casa que era para ter sido inaugurada em 2018. Porque essa praga de gafanhoto que passou por esse país nos últimos tempos só veio para destruir, e não para construir coisa nenhuma.
Quando nós chegamos no governo, gente, eles mandaram embora os Mais Médicos que a Dilma trouxe. Mandaram embora. Sabe quantos médicos tinha quando nós chegamos nesse país? Quem é da saúde aqui deve saber. Tinha apenas 12,5 mil médicos. Hoje nós temos 26 mil médicos cobrindo a saúde do povo pobre desse país, das cidades que, muitas vezes, não pode sequer pagar um médico, porque o médico custa caro. Então eu disse para vocês: eu quero voltar a ser presidente. Eu já tinha sido presidente. Eu já tinha sido, sabe, era como, mas eu queria voltar para ensinar uma lição às pessoas que não gostam da gente.
Esse país sempre foi governado para apenas 35% da população. Não chegava a 40%. Sempre foi governado. O pobre só era enxergado em época de eleição, porque, em época de eleição, todo candidato fala mal de banqueiro e abraça o pobre. Quando termina as eleições, o pobre que se dane e eles vão cuidar dos banqueiros que eles desprezaram durante as eleições. E eu queria provar que a política pode ser diferente. Eu, por exemplo, acho que o banqueiro tem que ganhar dinheiro, porque, se ele não ganhar, o governo é obrigado a fazer o que foi feito no Fernando Henrique Cardoso com o PROER. Vinte e poucos bilhões para salvar os bancos. Eu quero que os empresários ganhem dinheiro, porque os empresários ganhando dinheiro vão fazer investimento, vão contratar trabalhador, vão pagar salário, o salário vai virar consumo, o consumo vai para o comércio, o comércio vai crescer, a loja vai comprar mais coisa, a indústria vai produzir e as pessoas vão comer mais. É esse país que eu quero construir. E é possível construir.
Agora, como esse país era governado olhando só para 35% da população, nós resolvemos incluir o povo nesse país. Ou seja, o povo tem que ser levado em conta, porque o povo que é mais pobre, ninguém é mais pobre porque quer ser pobre. Ninguém faz a opção de ser pobre. Eu faço a opção de ser médico, eu faço a opção de ser engenheiro, eu faço a opção de ser advogado, eu faço a opção de ser professor. A única coisa que a gente não faz é “eu quero ser pobre, eu quero comer mal, eu quero morar mal, eu quero vestir mal”. Não existe isso. Não existe, a gente quer comer bem, quer se vestir bem, quer morar bem. A gente quer ter televisão de último tipo, a gente quer ter celular bom, a gente quer viajar de férias, a gente quer ir para a praia, a gente quer comer carne como quem come carne. Por que que a gente tem que ser pisoteado a vida inteira?
Aí, quando vem alguém me perguntar, um jornalista: “Mas, Lula, você não acha que estão gastando demais? O salário mínimo já aumentou duas vezes”. Gente do céu, o mínimo é o mínimo. O nome já diz. Não tem nada mais mínimo do que o mínimo. Ora, como é que eu posso discutir, fazer ajuste fiscal, em cima do mínimo do mínimo. Eu queria fazer ajuste fiscal era na rentabilidade dos banqueiros desse país, que ganham dinheiro especulando na bolsa de valores, especulando, sabe, todo santo dia. Não vou mexer nas pessoas mais humildes. As pessoas mais humildes, o Estado tem que cuidar delas, porque um cidadão de classe média não precisa do Estado. O cara que tem casa, o cara que tem carro, o cara que é bem casado, o cara que tem uma família, os filhos estudando em uma escola boa, ele não precisa do governo. O governo precisa então olhar para quem precisa, é como uma mãe. Eu falo sempre o seguinte: governar é a gente colocar o coração de mãe na nossa cabeça para que a gente aprenda a cuidar de todos, em igualdade de condições, e cuidar com mais carinho daquele mais frágil, daquele mais dependente. Esse é o país que nós vamos construir, gente. É esse o país que eu estou provando que é possível construir.
Eu queria dizer aos deputados e senadores. Eu queria dizer para vocês uma coisa. Queria dizer ao vice-governador, ao meu companheiro que talvez seja a pessoa, além de mim, mais velha aqui. Eu quero dizer o seguinte: eu duvido, e a imprensa está aqui, aqui deve ter muito intelectual, eu duvido que houve um dia no estado de Minas Gerais que um presidente da República veio anunciar a quantidade de coisas que eu vim anunciar aqui. Eu duvido. Duvido.
E nós vamos fazer a BR-381, porque já tentativa de fazer leilão uma vez, e deu vazio o leilão. Porque tem um trecho, perto de Governador Valadares, que é muito complicado. Então falei para o meu ministro: “ministro, é o seguinte: aquilo que o empresário não quiser fazer, que é roer o osso, o governo vai roer o osso e a gente vai fazer essa estrada”. É isso que vai acontecer em Minas Gerais.
E, por isso, eu esqueci de avisar, mas vai ter um instituto no Barreiro. Vai ter um instituto. Falta só o prefeito assinar o documento. Eu espero que o Camilo e o prefeito se acertem para assinar, porque o que eu quero é educar esse povo, porque o povo bem formado, o povo com profissão, o povo vai em frente e ninguém precisa do Estado. E é isso que eu vou construir. E eu vou repetir, eu disse aqui: eu quero ser presidente outra vez para provar que é possível a gente cuidar do povo pobre. E eu quero que vocês saibam: eu vou cuidar de vocês como eu cuido do meu filho, como eu cuido da minha neta, como eu cuido das coisas que eu amo, porque eu só estou onde estou, só sou o que sou, um analfabeto nordestino que só tem curso de torneiro mecânico, chegar à presidência da República. São duas coisas: obra de Deus e obra da coragem de vocês que tiveram o prazer de me eleger.
Eu queria dizer para vocês, para terminar e sair correndo daqui, porque eu tenho que pegar um avião para Juiz de Fora ainda. Eu queria terminar dizendo para vocês que, uma vez, eu estava preso e foram propor para mim se eu queria sair da cadeia e eu sairia, iria para a casa, com uma tornozeleira na canela e sairia da cadeia. E eu disse para a pessoa que me fez a proposta: “eu não troco a minha dignidade pela minha liberdade”. São duas coisas que eu não abro mão. E agora eu quero dizer para vocês: eu não troco a relação que eu tenho com vocês. Eu poderia, manhã de domingo, o presidente da República colocar uma calça branca e jogar golfe. Eu não fico bem de golfe, com o taco na mão. O Stuckert [Ricardo Stuckert, secretário de Audiovisual da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República] carregando aquele negócio de taco. Eu ficaria bem. Eu poderia ficar bem se eu tivesse em um iate tomando vodka, no meio do oceano Atlântico. Eu poderia, o presidente pode isso. Mas eu quero dizer para vocês que eu não troco, eu não troco, a lealdade que vocês tiveram a mim por nada nesse mundo, porque é só por causa de vocês que nós vamos consertar esse país.
Por isso, gente, de coração, eu voltaria outra vez. Eu quero ir a Governador Valadares, eu quero ir a Teófilo Otoni, eu quero ir em Tinga, eu quero ir em Araçaí. Eu quero inaugurar a faculdade em Ipatinga. Eu quero visitar Coronel Fabriciano. Eu quero visitar Januária. Quem não gostar de mim em Minas vai ter que me aturar, porque eu sou mineiro de coração. Um abraço, gente, parabéns a vocês e até a próxima visita, se Deus quiser.