Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de anúncio dos resultados do Novo PAC Seleções Cidades
Eu tinha dito ao cerimonial que eu não precisava falar. Primeiro porque a fala do companheiro Jader (Jader Filho, ministro das Cidades), ela disse tudo o que é o propósito do governo no atendimento das necessidades das pessoas.
Eu sempre disse que no Brasil, o Brasil sempre teve um tipo de governante, e muitas vezes vale para prefeito, para governador, para presidente da República, que não gosta de investir em saneamento básico. Ou seja, esse negócio de enterrar manilhas para catar dejetos humanos não é correto.
O importante é fazer ponte, viaduto porque dá para colocar nome de parente, dá para colocar nome de homenageado, e as pessoas veem. E eu acho que as pessoas não levam em conta que quando a gente faz investimento numa encosta, a gente está mais do que fazendo investimento numa encosta, a gente está garantindo que pessoas não mais vão morrer por conta de um deslizamento de terra em qualquer lugar desse país.
Quando a gente faz financiamento de um tratamento de esgoto, a gente não está apenas fazendo tratamento de esgoto, a gente está fazendo investimento na saúde, a gente está fazendo investimento na qualidade de vida das pessoas, e isso leva em conta.
Isso não aparece numa placa, mas aparece na longevidade das pessoas, que vão viver mais e vão viver decentemente. O meu ministro aqui falou de um prefeito de um partido de oposição que está recebendo R$ 65 milhões. Eu queria dizer para vocês que custa caro para nós, ser republicanos. Esse país não tem o hábito de republicaridade.
Eu conheço muitos governadores que amargaram comendo pó, porque durante mandatos de presidentes nunca receberam um centavo. Bastava fazer oposição a um presidente ou um prefeito fazer oposição a um governador ou ser de um partido diferente, que naquele município, naquele estado, não ia uma obra federal. E nós mudamos isso.
Eu sei, Gleisi (Gleisi Hoffmann, presidente do PT), a presidenta do meu partido está aqui. Eu estou vendo o prefeito do PT aqui. Eu sei que daqui a pouco eu vou receber uma reclamação. "Mas presidente, nós somos do PT e não fomos selecionados". E não são poucas pessoas. Os deputados virão aqui e vão dizer: "Eu sou do PMDB, eu lhe apoiei. Eu sou de tal partido, eu lhe apoiei. Eu sou do PSB, mas eu não fui sorteado." E é verdade. Nós vamos pagar esse preço. Mas é o preço de a gente tentar mudar a relação na sociedade brasileira. É o preço.
É o preço da gente fazer política e tentar criar uma imagem civilizatória desse país. Nós não temos o direito de continuar achando que eu posso só dar dinheiro para os amigos e para os adversários, nada. Não.
O dinheiro não é nem para amigo, nem para adversário. O dinheiro é para as necessidades vitais do povo brasileiro, que continua sendo o povo, em qualquer cidade que ele mora, governado por qualquer partido político. Do PT, ou do PL, ou de outro partido, não tem problema nenhum. O povo é o povo, e é em função dele que nós estamos aqui para governar.
Seria... Vocês sabem quem é o prefeito e o governador, seria muito mais fácil, ao invés de eu estar fazendo uma plenária como essa, eu estar fazendo uma reunião de amigos. Trago quatro governadores amigos, três prefeitos amigos, conversamos, anunciamos, fazemos matéria paga na televisão, mas isso não é correto. Isso não é justo. Isso não é politicamente certo. Isso não politiza a sociedade brasileira.
Se há uma coisa que a gente pode deixar nesse país, que sirva para todo mundo, é o exemplo. O exemplo de que esse governo não vai perseguir nenhum governador, nenhum prefeito, e muito menos eu quero saber de que partido ele é, qual é a religião dele, não tenho interesse nem pro time que ele torce.
Eu quero saber que ele é prefeito, ele é governador, porque ele foi eleito pelo povo. O mesmo povo que votou favorável a mim ou votou contra mim. Esse povo tem o mesmo direito de receber os benefícios do Estado brasileiro, que não é feito com o dinheiro do Estado, é feito com o dinheiro do próprio povo.
É por isso, companheiros, que esse PAC foi lançado no Rio de Janeiro há mais de seis meses. E esse Rui Costa (Ministro da Casa Civil) parece o técnico Tite, todo dia convoca uma seleção, todo dia convoca uma seleção. E essa é a última, é a penúltima seleção. Porque vai ter uma última daqui a quinze dias que vai tratar também de problemas muito sérios, que é o cuidado da saúde do povo com muito saneamento básico que a gente vai ter que fazer nesse país.
E tem muita coisa. Eu conheço cidade em que foi colocado dinheiro para encostas em 2013. E esse dinheiro não foi investido e não foi aplicado. Eu poderia simplesmente denunciar o prefeito, sabe? De mau gestor, de irresponsável. Não. Eu prefiro, sabe, recolocar o prefeito dentro do mapa da seleção do recorte do Jader e fazer com que ele faça as coisas outras vezes.
Vocês sabem que esse ano a gente dedicou, nesses quinze meses de governo, uma grande parte dele a gente dedicou a ajudar a enfrentar o problema no Rio Grande do Sul. Nós começamos em fevereiro com uma seca muito grande no Rio Grande do Sul, que prejudicou muitos pequenos e médios produtores rurais.
E mais de 18 ministros do meu governo estiveram por diversas vezes no Rio Grande do Sul para ajudar a resolver o problema. Depois, em setembro, teve a enchente do Vale de Taquari. Era a maior enchente até então que se tinha conhecimento no Rio Grande do Sul.
Outra vez, mais de 18 ou 19 ministros do governo estiveram lá, cuidando de compartilhar e ajudar que a gente encontrasse uma solução. E posso dizer para vocês que grande parte dos recursos que foram arrumados foram do Governo Federal, até porque nós compreendemos a situação difícil de finanças que vive o estado do Rio Grande do Sul. E agora, essa outra enchente que é a maior que se tem história. Diziam que a maior era uma de 1941. E essa enchente, a gente não tem dimensão dela ainda, porque a gente só vai ter dimensão do que foi esse desastre climático quando a água voltar à normalidade.
E quando voltar à normalidade, companheiro Rui Costa, companheiro Alckmin (Geraldo Alckmin, vice-presidente da República), eu quero visitar todos os municípios que foram atingidos para ver o que aconteceu de fato. Porque nós estamos comprometidos a fazer com que o Rio Grande do Sul receba da parte do Governo Federal tudo aquilo que o Rio Grande do Sul tem direito. Porque o Rio Grande do Sul já deu muito para o Brasil e eu acho que o Brasil tem que dar um pouco para o Rio Grande do Sul.
E isso vale para todas as outras cidades. Isso vale para todas as outras cidades. Eu queria que vocês tivessem consciência de que eu estou inaugurando casas que foram começadas em 2013. Eu tenho que ir atrás de quase 3 mil creches que foram anunciadas em 2013. Tenho que ir atrás de UBS que foi anunciada em 2014, 2015, que o dinheiro foi disponibilizado e não aconteceram.
Não é um processo fácil porque muitas das obras que nós encontramos, o contrato está vencido, está deteriorado, as pessoas saquearam muitas coisas. E nós temos que fazer nova licitação para que a gente possa efetivamente consertar definitivamente esse país. A palavra correta é consertar o país.
Eu digo sempre, prefeito de Niterói, que os problemas dos prefeitos que governaram, governavam o Brasil e as cidades a partir dos anos 80 e com o crescimento da ocupação, na verdade todos vocês estão fazendo uma recuperação da forma desordenada que as grandes cidades foram ocupadas quando começou o êxodo rural no final da década de 40, começo da década de 50.
Se naquele episódio tivesse sido cuidado da urbanização de forma correta, a gente não teria a quantidade de gente morando em situações difíceis hoje. Porque é muita irresponsabilidade. Se você está percebendo que uma pessoa está ocupando um lugar que não é correto para a vida dela, e você não tira quando tem um, quando tem mil você não tira mais.
E aí tem prefeito que vai lá e faz asfalto, tem prefeito que vai lá e faz um monte de coisa sabendo que quando der uma chuva aquilo vai desmoronar. E nós não queremos que isso aconteça mais. Portanto, para nós, investir em encosta, investir em obra de saneamento básico, investir em canalização de córregos é um dinheiro tão bem empregado quanto qualquer dinheiro investido em outra coisa nesse país.
Nós não estamos atrás de homenagear pessoas com o nome de ponte. Nós estamos atrás de garantir que o povo brasileiro vá viver um pouco mais com respeito e com dignidade.
Por isso eu queria, Rui Costa, parabenizar mais uma vez a Casa Civil pelo trabalho extraordinário que é feito pelo Rui, pela Miriam (Miriam Belchior), pelo Maurício (Maurício Muniz Barretto de Carvalho), e por todo mundo que trabalha lá, porque quando a gente fala de um tem que falar de uma equipe, porque trabalham e trabalham muito.
Eu não vou dizer que ganham pouco porque senão vocês vão pedir aumento de salário, mas trabalham muito. Quero, Jader, dizer o seguinte: você é uma bela surpresa no meu governo. Você é uma bela surpresa. Eu pensei que só o seu pai e sua mãe eram bons de política. Mas você é uma bela surpresa.
Eu queria também falar do nosso Pastor Isidório, do nosso sargento que está ali com a sua bíblia, embelezando todos os encontros que a gente faz aqui. Eu quero agradecer aos deputados, dizer para vocês que eu fiquei muito agradecido ao presidente Arthur Lira (presidente da Câmara) e ao presidente Pacheco (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado), que foram comigo ao Rio Grande do Sul, ao presidente do Tribunal de Contas e ao presidente da Suprema Corte em exercício. E por que eu convidei eles para viajarem comigo? É porque minha mãe dizia o seguinte, aquilo que os olhos não veem o coração não sente.
Eu queria levar as pessoas para as pessoas verem a dimensão do que aconteceu no Rio Grande do Sul. Meus queridos companheiros, governadores, prefeitos, eu sinceramente vi o Zé Múcio (José Múcio Monteiro, ministro da Defesa) que estava em Santa Maria quando começou o temporal, ele que é de uma região em que a gente está habituado, Jerônimo (Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia), a sair em procissão o mês inteiro, de março, rezando, pra São José trazer uma chuva,
O Zé Múcio chegou aqui dizendo: "Presidente, eu nunca vi tanta água na minha vida. Eu nunca vi." Chegou assustado aqui. E realmente, quando eu fui lá, é uma coisa estarrecedora. Sinceramente, eu não sei o que Deus está pensando, não sei o que aconteceu no planeta Terra, mas o que aconteceu no Rio Grande do Sul é um aviso para todos nós, seres humanos. Nós precisamos ter em conta que a Terra está cobrando.
Não é no Rio Grande do Sul, foi um, mas tem acontecido coisas estranhas em tudo quanto é lugar do país e do mundo. Não é apenas agora. Então nós temos tempo de mudar isso. E é por isso que nós estamos muito, muito empenhados em fazer uma COP 30 no estado do Pará, em que a gente vai pedir para a Amazônia falar para o mundo.
Todo mundo dá palpite sobre a Amazônia, mas nós queremos que a Amazônia diga para o mundo o que é que ela deseja. E isso vai acontecer. Nós vamos fazer a grande COP, ou seja, eu acho que vai ser o melhor evento climático que nós já fizemos. A COP 30. Não vai ser uma coisa pequena, vai ser muito grande. E eu quero que os deputados e senadores acompanhem, porque vai ser um evento de muita magnitude.
Parabéns, Jader, parabéns, Rui, e parabéns ao Alckmin, que vai viajar com o Rui. Veja só, vocês se prepararem, Jerônimo, porque eles vão para a China e vão para os Emirados Árabes. Pega o projeto da sua ponte e coloca no bolso do Rui Costa. Ele tem que mostrar. Eles vão levar muitos projetos de infraestrutura, porque nós queremos dizer para vocês uma coisa: aqueles que estão torcendo para que o Brasil não dê certo, podem tirar o cavalo da chuva.
Eu disse, eu disse essa semana ao ministro Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda). "Haddad, eu vou te dizer uma coisa pra você ser o mais otimista dos ministros da Fazenda. Preste atenção no que eu vou te dizer. Se tudo der errado, ainda vai dar certo." De tão otimista que eu estou com esse país. E quero dizer aqui, não tem jeito. Não tem jeito. Mesmo que você erre, Miriam, Maurício, você, sabe, os ministros todos aqui podem errar. Não tem jeito.
Está escrito. O Brasil vai voltar a ser uma grande economia, o povo vai voltar a ganhar mais e vai melhorar a qualidade de vida das pessoas. Escrevam isso, porque nós estamos apenas com 15 meses no governo, menos de um terço do mandato. Portanto, nós vamos fazer três vezes mais do que fizemos até agora para poder atingir o ápice das coisas boas desse país. Muito obrigado, gente. Parabéns a vocês e até o próximo encontro.