Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida em Maceió (AL)
Companheiros e companheiras do estado de Alagoas, da cidade de Maceió e do conjunto residencial Parque da Lagoa,
vocês sabem que essa época do ano é uma época difícil de a gente inaugurar coisa em qualquer lugar do Brasil. Por que é uma época difícil? Porque a gente está no ano eleitoral e, no ano eleitoral, os partidos políticos começam a fazer movimentação e a gente faz um ato. Esse ato aqui é um ato pra gente homenagear os companheiros do conjunto residencial Parque da Lagoa.
É um ato que não tem partido político. Aqui é um ato institucional. Aqui, está o presidente da República, o governador do estado (Paulo Dantas), o prefeito da cidade (João Henrique Caldas, prefeito de Maceió), o presidente da Câmara (Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados), os meus ministros, sabe, o Renan Filho (ministro dos Transportes), o Wellington (ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), o companheiro Rui Costa (ministro da Casa Civil), o Jader (ministro das Cidades), o presidente da Assembleia Legislativa, deputados federais.
Esse não é um ato da gente fazer a disputa que a gente vai fazer na eleição. Porque vai ter um momento, porque eu vou viajar algumas cidades para apoiar um candidato. A gente não vai estar juntos em todos os lugares, mas a gente precisa apenas aprender a respeitar quando o ato é institucional. Um ato institucional não tem cor partidária. Porque senão fica difícil para um presidente da República viajar para inaugurar coisa, porque as pessoas que vêm aqui são convidadas por nós. E ninguém leva alguém na sua casa pra ser vaiado, pra ser maltratado. É apenas uma questão de comportamento que me incomoda muito.
Eu sei das divergências que existem com os partidos políticos aqui, mas eu queria dizer pra vocês uma coisa: eu só tenho 70 deputados e a Câmara tem 513. Nós, até agora, não tivemos um único projeto do governo derrotado. Todos foram aprovados. Até agora, nós fizemos uma coisa que poucos cientistas políticos acreditavam que fosse possível fazer − aprovamos uma política de reforma agrária, uma política de reforma tributária, exercendo a democracia, com uma Câmara com muitos deputados que não são do meu partido − mas teve a coordenação das lideranças e teve a coordenação do presidente Lira, para que a gente pudesse acordar a primeira vez em 40 anos uma política tributária que vai fazer com que os mais ricos paguem imposto de renda e os mais pobres não paguem imposto de renda.
Até o final do meu mandato, quem ganhar R$ 5 mil não vai pagar nada de Imposto de Renda. Na reforma tributária, que está no Congresso Nacional para ser regulamentada, aqueles alimentos básicos da família brasileira também não vão pagar Imposto de Renda. Para que o povo possa comer melhor e mais barato. Então, eu queria dizer para vocês que eu sou grato à presença do prefeito, à presença do governador, à presença do Lira, à presença dos deputados. Obrigado, porque se não fossem vocês, mesmo na adversidade, a gente não estaria aqui inaugurando esse conjunto habitacional.
A segunda coisa é que eu queria que vocês compreendessem porque é que eu gosto de fazer determinadas coisas. Foi no outro mandato meu de presidente que eu criei o Minha Casa Minha Vida. E criei o Minha Casa Minha Vida, porque era necessário acabar com a desgraça que vive o povo pobre desse país. Não é possível que a gente tenha como destino nascer pobre, ficar pobre quando for adulto, ficar pobre quando casar, criar os filhos pobres e morrer pobre. Não é possível. Não é possível.
Não é possível que alguém que pesca a vida inteira, que levanta às cinco horas da manhã, as marisqueiras que se matam para sobreviver não tenham o que comer, não tenham onde morar, não tenham um banheiro para fazer suas necessidades. Que mundo é esse? Que mundo é esse? Então, quando eu pensei em fazer Minha Casa Minha Vida, eu queria saber por que que eu sou um cara apaixonado.
Eu quando cheguei de Pernambuco a São Paulo, eu fui morar num quarto e cozinha. Você vai se assustar, Jader: era eu, minha mãe e mais onze pessoas. A gente morava num quarto e cozinha. E não tinha banheiro. O banheiro da casa que eu morava era do lado de fora, que os frequentadores dos bares utilizavam o banheiro. Então, imagina a nojeira de um banheiro para uma mulher, como a minha mãe, usar. Não tinha vaso sanitário, era aquela bacia turca que tinha que ficar acocorado. Agora, você imagina que depois de um monte de bêbado ir lá fazer suas necessidades, a mãe da gente ter que ir lá e fazer também.
Foi a primeira casa que eu morei em São Paulo, um quarto e cozinha com 13 pessoas. E não tinha nem fogão. Era um fogão de querosene, que eu tinha a minha irmã caçula, que cada vez que ela acendia aquele fogão para cozinhar alguma coisa, o desgraçado do fogão pegava fogo. Quase que ela morre queimada de tanto cozinhar naquele fogão que não prestava.
Eu só fui ter minha casa própria em 1975. Sabe quantos metros tinha a minha casa? Trinta e três metros quadrados. E nessa casa de 33 metros quadrados, companheiro Jader, companheiro governador, nessa casa de 33 metros quadrados, e eu comprei ela porque o dono dela trabalhava na Ford e os alunos de uma escola que tinha em frente não gostavam desse dono da casa, eles quebravam os vidros da casa dele jogando pedra. E ele, com raiva, ao invés de conversar, ia brigar com os alunos. E eles quebravam mais ainda. Então eu comprei a casa desse empregado da Ford. Comprei uma casa de 33 metros quadrados. Morávamos eu, minha mulher, três filhos, minha sogra e dois cachorros.
Eu estou contando isso pra vocês saberem que eu não sou um estranho, que eu faço a coisa porque eu sou engenheiro, eu não sou engenheiro, eu não tenho diploma universitário. Eu faço as coisas, porque eu vivi o que eu estou fazendo. As coisas que eu faço é porque eu vivi e eu não quero que as pessoas vivam como eu vivi. Eu sou o primeiro filho de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta. Essa mulher teve 12 filhos. Ela criou oito porque quatro morreram. E eu sou o primeiro a ter um diploma primário. Eu sou o primeiro a ter um diploma do Senai. Eu fui o primeiro a ter uma casa, a ter um carro, a ter uma televisão, a ter uma geladeira. E o primeiro a ter uma casa própria de 33 metros quadrados. E eu nunca reclamei, eu estou aqui e sou o presidente da República desse país.
Graças a vocês, graças a vocês. Eu trato as pessoas ricas deste país com muito respeito, eu nunca faltei com respeito com alguém do agronegócio, eu nunca faltei com respeito com o empresário da construção civil, eu nunca faltei com respeito com o presidente da indústria automobilística, eu nunca faltei com respeito com ninguém. Mas eu tenho certeza que essa gente não vota em mim. Quem vota em mim é o povo pobre desse país. Eu tenho certeza disso. E é por isso que isso incomoda.
Por que a gente está dando a casa de graça para as pessoas do Bolsa Família? A gente vai ter casa de graça para algumas pessoas, a gente vai ter casa que vai pagar um pouquinho para as pessoas que ganham um pouquinho mais, a gente vai ter casa mais cara e maior para quem ganha mais. E a gente, agora, está fazendo casa para as pessoas de classe média, quem ganha R$ 8 mil reais, R$ 9 mil reais, R$ 8 ou R$ 6 mil reais. Pessoas que não querem uma casa de 40 metros quadrados, como essa companhia recebeu, 46 metros quadrados. Tem gente que não quer uma casa de 46, muito menos uma de 33, como eu morei durante 12 anos. As pessoas querem uma casa de 80 metros quadrados, de 90 metros quadrados, de 100 metros quadrados. As pessoas querem mais conforto, porque é preciso tirar da cabeça da elite política desse país que pobre gosta de miséria. Pobre não gosta de miséria.
A gente não é pobre porque a gente escolhe ser pobre. A gente é pobre, porque a gente não teve oportunidade de estudar, não teve oportunidade de ter uma profissão. É por isso, companheiros e companheiras, que eu digo em todo lugar, eu tenho muito orgulho. Eu sou o presidente da República, único nesse país, que não tem um diploma universitário. Mas sou o presidente que mais investiu em educação nesse país, que mais fez universidades nesse país, que mais fez institutos federais nesse país. Porque eu quero que os filhos do pobre tenham o que eu não pude ter.
Não pense que eu não tive vontade de fazer universidade. Eu achava maravilhoso ser chamado de doutor. Se eu pudesse estudar, eu teria sido economista. Por que pense num bicho esperto é o economista. Eu digo: economista, gente, ele sabe de tudo. Ele sabe de tudo quando é na oposição. Porque quando chega no governo, ele não sabe de nada. Por quê? Quando você é oposição, qualquer coisa que tu pergunta, você fala: “eu acho isso”, você fala, “eu penso isso”, você fala, “eu entendo aquilo”. Quando você ganha as eleições, você não acha, você não pensa e você não entende. Você faz ou não faz. Porque governar, governar é tomar decisão. Governar é tomar decisões. Governar é você ter lado. É você saber pra quem que você governa, quem é que vai ter prioridade. Porque senão, esse país vai continuar eternamente um país de pobres, de gente passando fome, de gente desempregada.
Hoje as pessoas têm que saber que o pobre gosta de morar bem, gosta de se vestir bem, gosta de comer bem. Ele quer ter as coisas que todo mundo tem. A gente quer ter carro, a gente quer ter computador, a gente quer ter celular, a gente quer poder almoçar no restaurante no final de semana com a família. A gente quer ir ao teatro, a gente quer ir ao cinema. As pessoas acham que a gente nasceu pra ficar em boteco tomando cachaça. Não é assim que é o pobre.
Então, companheiros e companheiras, quando eu venho inaugurar um conjunto como esse, pode saber, minha querida companheira, pode saber. Pode saber, meu pescador de carapeba, que nunca me deu uma carapeba, você pode saber. Você pode saber que eu já passei o que você passou, você pode saber. Eu já morei em casa que entrou um metro e meio de água dentro da minha casa e quando a água vai embora, fica um palmo e meio de lama. A gente vai tirar a lama, é cada sanguessuga nas pernas da gente, a gente tem que jogar cachaça pra desgraçada morrer. Sabe? E a gente limpa a casa depois de tirar um metro e meio de barro, quando a gente limpa a casa, termina uma hora da tarde, às três horas começa a chover e enche a casa outra vez. E você perde geladeira, você perde fogão, você perde colchão, você perde cama, eu já fiz tudo isso na minha vida. Eu já ganhei da prefeitura colchão de capim pra dormir, eu aprendi com a minha mãe, eu nunca reclamei, nunca reclamei porque eu sou um homem que eu creio em Deus, e eu tenho certeza, eu tenho certeza que nós seremos recompensados por isso.
Então, companheiros, eu quero que vocês saibam que eu faço muita coisa nesse país, mas uma coisa que me dá prazer, uma coisa que me dá emoção, uma coisa que faz eu chegar em casa, encostar a cabeça no travesseiro e dormir, é quando eu entrego a chave de uma casa para uma marisqueira, pra uma marisqueira que passa a vida inteira trabalhando. A vida inteira. E se não fosse o marido dela, que um dia vai me ensinar a jogar tarrafa, porque eu não sei jogar tarrafa, eu tenho um lago lá no Palácio do Alvorada, que tem mil peixes, tem peixe de cinco quilos, um dia eu vou te levar lá pra você jogar a tarrafada comigo, e eu vou aprender a pescar.
Mas quando eu entrego a chave para uma pessoa, aquela menina que tem um monte de filho, ela tem cinco filhos, eu falei, “companheira, quando é que vai fechar a porteira, companheira? Não pode mais ter filho”. Ela já tem cinco, ela tem 27 anos de idade, 27. Então, eu falei, “é preciso você se cuidar”, porque na hora que o filho nasce, é preciso saber como é que a gente vai cuidar, e nem sempre o Estado cuida, nem sempre a religião cuida, quem tem que cuidar é o pai e a mãe.
Então, quando eu entrego uma casa, assim, vocês não têm noção como eu volto pra casa feliz. Eu volto pra casa feliz, graças a Deus. Eu entreguei um ninho, porque nós somos que nem passarinhos. Você vê que o passarinho, uma época por ano, eles ficam todos felizes, eles cantam, eles acasalam. Daqui a pouco, eles fazem o ninho dele, aí tem os filhotes dele, e cuida até o filhote aprender a voar. Essa mulher agora ganhou um ninho dela, aquela ganhou um ninho dela. Vai ter uma casa, as crianças vão ter amigos, as crianças vão ter residências fixas.
E aqui eu sei que o prefeito e o governador vão cuidar. É preciso ter área de lazer para essas crianças brincarem. É preciso ter biblioteca para essas crianças aprenderem a ler. Senão a gente vai criar uma sociedade com a linguagem muito curta do Twitter. É preciso aprender a ler. Viajar com os livros desse país pra gente conhecer história. Pra gente conhecer a vida das pessoas. Pra gente saber por que que as coisas acontecem.
Então um conjunto como esse, se deixar abandonado, daqui a pouco virou uma favela, sabe, vertical. E a gente não quer. Pelo amor de Deus, Jader. Pelo amor de Deus, prefeito. Pelo amor de Deus, governador. Esse apartamento que nós entregamos é apenas o começo. Mas é preciso mais coisa. É preciso escola de qualidade. É preciso creche. É preciso que a gente tenha parque, campinho de futebol para essas crianças poderem... Governador, Alagoas teve um jogador muito importante na seleção brasileira de 1958, chamado Dida. Ele era o titular, não era nem o Pelé. Era ele. O Dida deu azar e o Pelé entrou e não saiu mais. Então, se tiver campinho de futebol, governador, prefeito, a gente pode ter outros Didas aqui. A gente pode ter uma Marta aqui, a melhor jogadora do mundo.
Então, gente, olha. Eu quero dizer pra vocês, os professores que estão com a faixa aí. Deixa eu dizer uma coisa pra vocês: se tem uma coisa que eu acho maravilhoso é estar fazendo um governo e chegar num lugar, as pessoas mostrem as suas faixas reivindicando. Porque nesse país, há pouco tempo atrás, vocês não podiam reivindicar. Vocês não podiam nem chegar perto. Então mostrem pra mim, porque vocês sabem que eu vou atender. Vocês sabem que eu vou tratar bem o professor, vou tratar bem o Instituto Federal, vou tratar as pessoas bem.
Acontece que nós temos apenas um ano e cinco meses de governo. A gente não colhe jabuticaba no dia que a gente planta. É preciso esperar um pouco as coisas crescerem. E aqui eu posso garantir pra vocês, a gente pode ter divergência ideológica. Mas no concreto de cuidar com o povo, eu tenho certeza que todo mundo está com o compromisso de que nós queremos ser a geração que tirou esse país da miséria e deu decência a esse país, dignidade e respeito a esse país.
Muito obrigado, companheiras e companheiros. Um beijo no coração de cada mulher e de cada homem. E queria dizer pra vocês que na semana que vem... Nós já estamos cuidando do Rio Grande do Sul, tem muita gente lá ajudando. Nós vamos cuidar daquele estado, porque o Brasil deve muito ao Rio Grande do Sul. E nós vamos cuidar daquele povo como se estivesse cuidando da família da gente.
Obrigado pela solidariedade do povo nordestino ao povo gaúcho. Um abraço, gente, e até outro dia, se Deus quiser. Eu estarei de volta aqui em agosto para inaugurar as outras 750 habitações. Um beijo no coração, gente. Tchau.