Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de medidas relacionadas ao Rio Grande do Sul
Primeiro, eu queria começar agradecendo o papel extremamente importante e solidário do Congresso Nacional. Seja na Câmara, na pessoa do presidente Lira (Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados), seja no Senado, na pessoa do Pacheco (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal). Agradecer a participação da Suprema Corte, que eu fiz questão de convidar para fazer a viagem a Porto Alegre. Para que todo mundo visse o que está acontecendo no Brasil, naquele pedaço de chão do Brasil, para que todo mundo ficasse sensibilizado e que a gente pudesse trabalhar de forma conjunta, como se fôssemos uma orquestra, e a gente pudesse atender o mais rápido possível as pessoas.
Também eu já agradeci publicamente o presidente do Tribunal de Contas, que participou com a gente, o companheiro Bruno Dantas, e que hoje não está aqui no Brasil. O que vocês perceberam, é que também dentro das desgraças todas que a gente tem falado nos últimos dias, eu ontem à noite fui dormir inquieto, com a imagem de um cavalo em cima de um telhado.
Ou seja, eu fico imaginando se aquele cavalo pensasse, como a gente imagina que são os pensamentos, o que aquele cavalo estava pensando, sozinho, em cima de um telhado. Eu não sei como aquela telha de brasilit não quebrou, e hoje eu fiquei sabendo que já salvaram o cavalo. Conseguiram tirar o cavalo. Espero que ninguém monte naquele cavalo durante um bom tempo, porque ele merece um bom descanso.
O que vocês viram anunciar aqui foram as primeiras medidas de crédito. Isso não termina aqui. Eu tenho dito aos ministros que nós temos que nos preparar, porque a gente vai ter tamanho da grandeza dos problemas quando a água baixar e quando os rios voltarem à normalidade. A gente vai ver o que se perdeu em cada casa, o que se perdeu em cada cidade, o que se perdeu em cada igreja, o que se perdeu em cada lugar.
A gente vai ter uma dimensão dos prejuízos dos trabalhadores, dos empresários, do grande, do pequeno, do médio. O que se perdeu de casa, de geladeira, fogão, cama, colchão, televisão. Acho que muita gente perdeu muita coisa e nós temos que levar isso em conta. E por isso a Casa Civil, o Ministério da Fazenda e outros ministérios vão ter que trabalhar muito neste final de semana.
Desculpem, eu vou viajar para Alagoas agora, porque essa é a contradição do Brasil. Eu estou indo para Alagoas para dar início de obra à construção de um canal do sertão que vai beneficiar dezenas de cidades alagoas que vivem sofrendo muito por conta da seca.
Essa é a contradição, nós vamos levar a água para um lugar e estamos pedindo a Deus para a água do Rio Grande do Sul ir embora logo para o Oceano Atlântico, para que a gente possa dar tranquilidade ao povo gaúcho.
Na segunda-feira, eu espero que o companheiro Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) se reúna com o governador do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite) para que a gente possa fazer um acordo sobre a questão da dívida e dar tranquilidade ao governador do Rio Grande do Sul e ao povo do Rio Grande do Sul.
Na terça-feira, a Casa Civil vai ter que preparar sábado, domingo, sexta, sabe, segunda-feira, porque nós temos que começar a pensar nas pessoas. Nós vamos ter que agora começar a pensar como que a gente vai atender as pessoas.
Porque eu já sofri enchente de um metro e meio dentro da minha casa. E quando a água vai embora, a desgraça é muito feia. A desgraça, você não tem noção do que é uma casa quando a água vai embora. Você não tem noção da quantidade de lama que fica, a quantidade de sanguessuga, a quantidade de bactérias, a quantidade de baratas mortas, o negócio é um inferno.
E essa gente perdeu aqueles bens. Muita gente acha que uma televisão é uma pequena coisa, que não tem muita importância, mas para o pessoal mais humilde, a televisão é um patrimônio. O fogão é um baita de um patrimônio. A geladeira, então, nem se fala. E uma máquina de lavar roupa é uma coisa muito importante para as mulheres, que estão sobrevivendo um verdadeiro sofrimento e martírio com essa chuva.
Então a gente vai anunciar segunda-feira possivelmente um acordo com o Estado do Rio Grande do Sul da dívida e a gente vai na terça-feira anunciar as medidas de atendimento das pessoas físicas.
E aí é importante que a gente tenha... Eu pedi pro ministro Pimenta (Paulo Pimenta, Secretaria de Comunicação Social), eu pedi pro ministro Waldez (Waldez Góes, Integração e Desenvolvimento Regional), que estão no Rio Grande do Sul, eu pedi pra eles tentarem falar, visitar o maior número de lugares possíveis de serem visitados, porque depois nós vamos ter que fazer, Haddad, uma visita, sabe, em todo o estado do Rio Grande do Sul, vamos ter que percorrer as cidades, para que a gente tenha noção de que a gente não pode permitir que nenhum viés burocrático, mas nenhum viés burocrático possa atrapalhar a urgência das medidas que nós estamos anunciando.
Ou seja, não tem como. E ainda vamos precisar do esforço de todo mundo. Por isso, Lira, eu quero agradecer à Câmara dos Deputados pela urgência que votou o decreto. Quero agradecer a todos os companheiros que têm participado e, sobretudo, ao povo brasileiro.
Não é a primeira vez, o Rui (Rui Costa, ministro da Casa Civil) tem razão, nunca antes na história do Brasil houve um desastre dessa magnitude, houve uma solidariedade dessa. Mas toda vez que tem uma desgraça em algum lugar, o povo brasileiro se manifesta.
Obviamente que você tem de outro lado as pessoas torcendo para a desgraça aumentar. É só você ver a quantidade de fake news, a quantidade de provocações, a quantidade de mentiras, a quantidade de leviandades. Pessoas que não levam em conta sequer o sacrifício do jeito que está trabalhando no Rio Grande do Sul. Muitas vezes as pessoas têm dormido duas ou três noites e estão ofendidos, xingados, sabe, por uma quadrilha de malfeitores, que estão tentando atrapalhar o sossego de quem quer trabalhar.
Então a solidariedade é uma coisa excepcional. Eu acho que se um dia tiverem que dar um prêmio Nobel de solidariedade ao povo de algum país, eu não tenho dúvida que o povo brasileiro receberá esse prêmio Nobel, porque é um povo muito solidário e muito generoso, apesar de alguma minoria ser tão perversa como é. Por último, eu queria dizer para vocês que... Eu vou repetir.
A gente nunca tem todo o dinheiro do mundo. Nunca tem. E eu já disse três vezes. Não faltará esforço desse governo. Vamos tentar cavucar dinheiro aonde tiver dinheiro. O Barroso (Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal) acabou de descobrir que tinha R$ 100 milhões lá em alguma coisinha na Justiça. O cara da Caixa Econômica já falou que os velhinhos lá já arrumaram 709 mil reais.
Então se a gente ficar cavucando, a gente vai encontrar os recursos necessários pra gente devolver a dignidade ao povo gaúcho. É isso que nós vamos fazer. Queremos contar com o apoio dos deputados, queremos contar com o apoio dos senadores, queremos contar com o apoio da máquina administrativa do Governo Federal, do Poder Judiciário, para que a gente dê um exemplo de que não há crise nesse país que consiga vencer o ânimo do povo brasileiro.
Boa sorte, gente, a todos nós. Boa sorte ao povo gaúcho. Minha solidariedade ao povo gaúcho e boa sorte pra nós. Miriam (Miriam Belchior, Secretária-Executiva da Casa Civil), você e a sua turma podem se preparar para trabalhar. Dário (Dario Carnevalli, secretário-executivo do Ministério da Fazenda), na Fazenda, pode se preparar para trabalhar muito. E Haddad, pode se preparar porque você vai ter que fazer uma boa negociação com o governador porque eles têm que consertar o estado.
E é isso, gente. Obrigado. Nós vamos agora embarcar para Alagoas. E amanhã estaremos aqui de volta acompanhando o trabalho da Casa Civil, da Fazenda e dos outros ministérios pra que a gente detenha essa crise o mais rápido possível. Um abraço.
E à tarde, daqui a pouco, vai ter uma entrevista coletiva logo em seguida com os ministros. À tarde, o Silvio (Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos) vai anunciar um programa de restabelecimento, em certa parte, da normalidade dos voos para o Rio Grande do Sul, envolvendo vários aeroportos, inclusive o aeroporto de Canoas. Você já vai poder ir pegar um avião e descer em Canoas, no aeroporto de Canoas.
E a gente vai trabalhando. A cada vez que a gente tiver uma coisa preparada, a gente quer fazer questão de anunciar à imprensa brasileira pra que ela nos ajude a ajudar o Porto do Rio Grande do Sul. Obrigado, gente. Bom final de semana pra quem fica. E boa viagem pra quem parte agora. Um abraço.