Pronunciamento do presidente Lula no lançamento da pedra fundamental do campus Sol Nascente do IFB
Bem, companheiros e companheiras da comunidade Sol Nascente. Eu primeiro queria dizer para vocês que faz mais ou menos um mês e meio, dois meses, eu vim de helicóptero inaugurar não sei o que aqui, e aí eu estava passando aqui em cima, quando me comunicaram: “Presidente, o senhor está passando em cima da favela Sol Nascente”. E eu fiquei olhando aonde é que estava a favela. Eu, sinceramente, fiquei olhando, porque Sol Nascente não tem nada a ver com aquilo que a gente conhece de favela em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará. Tem nada a ver. Não tem nada a ver.
Isso aqui, eu posso dizer para vocês, eu vinha dizendo paro Moraes, que é o major do Exército Brasileiro que trabalha comigo, que morava em São Bernardo, que isso aqui é melhor do que muitos bairros de classe média baixa em São Bernardo do Campo e outras cidades. Então eu, sinceramente, eu imaginava que ia chegar aqui e encontrar um lugar feito de pedaço de madeira, de pedaço de vinco, que não tinha rua, que não tinha nada. Aí, quando eu desço aqui, eu estou numa cidade. Então, obviamente, que isso se deve ao trabalho de vocês, a organização de vocês, a reivindicação de vocês e o atendimento que o Poder Público faz a vocês. Essa é uma conquista extraordinária, e eu quero dizer pra vocês o seguinte: parabéns aos homens e às mulheres da comunidade Sol Nascente. O nome é maravilhoso.
Quando eu venho para uma atividade dessa, eu peço para alguém escrever algumas coisas. Não para falar menos que dois minutos, como a nossa reitora que, primeiro para explicar que era difícil falar dois minutos, falou mais que dois minutos, depois pegou o celular, eu pensei que era um discursinho pequeno, e a bichinha falou bastante. Eu pedi para algumas pessoas virem aqui na frente para conversar com o povo do bairro, da comunidade Sol Nascente. E eu queria dizer para vocês o significado da gente fazer uma escola técnica.
Vocês sabem que eu sou o único presidente da República desse país que não tive a oportunidade de fazer uma universidade. Entretanto, eu tenho uma obsessão pela educação, porque eu não conheço nenhum país do mundo que tenha evoluído sem que antes tenha investido na educação. E tenho também a obsessão pela educação, porque é a formação profissional que faz as pessoas viverem melhor. E eu vou dar um exemplo para vocês. Eu sou filho de uma mulher que teve 12 filhos, 4 morreram e 8 sobreviveram, e eu sou caçula dos homens. Por isso, eu era o xodó da minha mãe.
Eu fui o primeiro filho da minha mãe a tirar o diploma primário. Depois eu fui o primeiro filho da minha mãe a fazer um curso técnico profissional. Por isso eu arrumei um bom emprego, por isso eu fui o primeiro a ter uma casa própria, eu fui o primeiro a ter uma televisão, eu fui o primeiro a ter uma geladeira, eu fui o primeiro a ter um carro e fui o único que virei presidente da República porque os outros não concorreram.
Mas quando a gente tem uma profissão, que a gente fica desempregado e a gente vai procurar emprego, pelo menos o empregador pega o currículo da gente, pega o telefone para contato e a gente volta para casa com esperança de que um dia vão chamar a gente para trabalhar. Quando a gente não tem profissão, que você chega numa loja, numa fábrica, em qualquer lugar para pedir emprego, a primeira coisa que eles fazem é o seguinte: “Tem profissão? Não? Então não tem vaga.”
Aí a gente volta para trás, desanimado, desalentado, porque só vai sobrar uma vaga em alguma coisa que não tenha um salário significativo para nós. E, quando a gente tem uma profissão, a gente tem possibilidade de ter um bom emprego, de ganhar um salário melhor, de poder construir família, de ter uma família vivendo em paz, de ter uma casinha própria, de poder construir um ninho com a sua família e viver dignamente como cidadãos e cidadãs civilizados, vivendo aquilo que todo mundo tem direito. Todo mundo tem direito de morar, de estudar, de trabalhar, de ter acesso à cultura, ter acesso ao lazer, à saúde, à educação e, mais ainda, a gente tem o direito de comer as coisas boas, porque tem gente que acha que as pessoas pobres não gostam de comer coisa boa.
E a gente gosta de comer coisa boa, a gente gosta de se vestir bem, a gente gosta de se calçar bem, o homem gosta de se vestir e a mulher gosta de estar bem bonitona cada vez que vai sair de casa. As pessoas pensam que os pobres nasceram para ser miseráveis. “Ah, o cara é pobre, ele não sabe fazer nada, ele vai trabalhar catando qualquer coisa”. Eu fico pensando sempre, se o lixeiro soubesse a importância da profissão do lixeiro, ele não ganhava tão pouco. Você quer ver a importância do lixeiro é se eles fizerem uma semana de greve numa cidade.
Aí você vai perceber que a função dele é muito importante, portanto, ele poderia receber um pouco mais, porque é muito difícil subir num caminhão, descer, correr, pegar um saco de lixo, jogar e o caminhão andando e ele correndo atrás para no final do mês receber R$ 1.500. Então, se a gente tivesse consciência da importância que a gente tem, a gente sofreria menos. Preste atenção numa coisa: Brasília não tinha instituto federal. Brasília só teve instituto federal quando esse cara que não tem um diploma universitário ganhou as eleições para presidente da República desse país.
Nós, com esses 100 que nós aprovamos agora, nós saímos de 140 institutos feitos em 100 anos. Preste atenção: 140 institutos feitos em 100 anos de história nesse país. Nós fizemos, em 13 anos, 682 institutos. Com esse 100 novos, vão ser 782 institutos, e eu quero chegar a mil institutos, porque da mesma forma que o Pelé queria marcar mil gols, que o Romário queria marcar mil gols, que o Túlio Maravilha queria marcar mil gols, eu quero, quando deixar essa terra, ter feito mil escolas técnicas nesse país.
E as escolas técnicas, elas têm uma função primordial para o jovem poder se autoaperfeiçoar, ganhar conhecimento, arrumar um baita de um bom emprego e viver dignamente. E para a mulher é mais importante ainda, para a mulher é mais importante porque todos nós sabemos que nesse país existe muita violência contra a mulher e violência, às vezes, dentro de casa que o marido não respeita muitas vezes a mulher, muitas vezes.
E eu tenho orgulho, governadora, eu tenho orgulho, por isso é que eu falo muito da minha mãe, porque normalmente as pessoas falam que quando o marido dentro de casa bate na mulher, ela fica com ele porque ela depende dele para comer. A minha mãe tinha oito filhos e ela um dia tomou a decisão de largar do meu pai, porque meu pai era um homem muito bruto.
Meu pai era muito ignorante, meu pai batia muito nos filhos, meu pai não queria que as minhas irmãs entrassem na escola para não aprender a escrever carta para namorado. Só para você ter ideia da cabeça do meu pai. Pois a minha mãe, com oito filhos menores, a minha mãe teve coragem de largar do meu pai e morar num barraco. Meu pai passou mais uns quatro anos implorando para ela voltar, ela não voltou, saiu da onde a gente morava, veio para São Paulo e criou os oito filhos da forma mais decente possível e o caçula dela está aqui, presidente da República.
E a mulher, além da profissão ser importante para o homem e para a mulher, para a mulher, ela é mais sagrada, porque já está provado, cientificamente, que o estudo e uma profissão, uma mulher que pode trabalhar e levar para casa, às vezes ganhar mais do que o marido, ela ganha respeito e ela vai dizer para o marido: “Eu estou com você, porque eu gosto de você, porque você me respeita. Se você levantar a mão para mim, eu largo você e vou cuidar da minha família, porque mulher não foi feita para apanhar”. A minha mãe era analfabeta, ela não sabia fazer um “O” com um copo, mas ela dizia para mim: “Meu filho, se um dia você casar e você tiver problema com a sua mulher, nunca levante a mão para a sua mulher. Se vocês não tiverem vivendo bem, saia de casa, deixe a mulher cuidar da casa e vá procurar o que fazer, mas nunca levante a mão para bater numa mulher”.
E eu acho que é isso que nós homens temos que aprender, porque a mulher, ela aprendeu a ganhar o mercado de trabalho. Por isso é que nós aprovamos no Congresso Nacional, e eu agradeço aos deputados e as deputadas, nós aprovamos uma lei que diz o seguinte: homem e mulher, trabalho igual, salário igual. Não tem essa da mulher ganhar menos que o homem se ela fizer a mesma função. E tem empresário que não quer pagar. Tem gente que não quer pagar. E a gente aprovou essa lei para que a gente faça um reparo na história desse país. A mulher não quer ser tratada como objeto de cama e mesa.
A mulher não quer ser tratada apenas para levantar, lavar banheiro, lavar cozinhar, fazer almoço, fazer jantar, levar a criança na escola, lavar roupa. A mulher aprendeu a ir para o mercado de trabalho, o homem, nós, eu não estou falando de vocês, estou falando de mim também, nós temos que aprender a ir para cozinha, ir para o tanque, aprender a repartir o trabalho que nós fazemos com as nossas companheiras. Afinal de contas, o casamento é uma comunhão de bens.
A gente tem que respeitar e ajudar a nossa mulher a fazer as coisas. Que história que o homem fica sentado no sofá, fica lá com uma bermudona de sábado: “Amor, me traz uma cerveja, amor! Amor, me traz uma batatinha frita, amor! Amor, tá pronto o almoço, amor? Amor, você já preparou a criançada pra ir pra escola? Você lavou a minha roupa?”
Crie vergonha, levante e vá ajudar a lavar, ajudar a passar, porque senão, a gente não constrói um mundo decente, a gente não constrói um mundo digno. E é por isso que nós estamos fazendo essa escola técnica aqui, vamos fazer outra em Sobradinho. E a governadora acabou de falar pra mim: “Presidente, presidente, será possível trazer uma UPA pra cá? Eu falei para ela: “Tá no PAC?”. Não tá no PAC. Mas falei para ela que eu vou falar com a ministra da Saúde, a ministra da Saúde vai ligar para ela, e você vai com argumento, passar lábia da ministra da Saúde, e vai conseguir uma UPA aqui para a comunidade do Sol Nascente.
Aqui mora uma mulher chamada Dona Iraneide. Ela chegou aqui 20 anos atrás. A Dona Iraneide não encontrou nem água, nem luz. Aos poucos, as melhorias foram chegando, veio a luz, o comércio cresceu e agora ela tem creche para a netinha de dois anos. Cadê a Dona Iraneide? Dona Iraneide? Parabéns!
Veja, para estudar, as pessoas precisavam sair do Sol Nascente, como fez a Maria Francilene, uma das quatro filhas de Dona Iraneide. Para conseguir o diploma de técnica de nutrição, a Maria Francilene precisava se deslocar até o Plano Piloto todos os dias. Para quem vai de ônibus, são quase duas horas na ida, duas na volta, além de R$ 11 o custo do ônibus. Não é possível. Então, a gente decidiu. A filha da Dona Iraneide não vai mais para o Plano Piloto. O Plano Piloto vai vir até aqui, trazer a educação que ela precisa para se formar.
Uma outra coisa que eu queria dizer para vocês. Nós fomos eleitos com o objetivo de melhorar a vida do povo brasileiro. Nós fomos eleitos com o objetivo de melhorar a vida do povo brasileiro. Nós passamos um ano, um ano, nós passamos reconstruindo esse país. Os companheiros do hip-hop, que vieram aqui dar um show de cultura para nós, precisam saber que nem Ministério da Cultura a gente tinha.
Esse país está tão abandonado que a capital do Brasil tem um Teatro Nacional há dez anos fechado, porque não é possível. Se vier, governadora, o presidente da França aqui, e ele tivesse falado assim para mim: “Ô presidente Lula, eu quero ver um show no Teatro Nacional, eu quero ver uma peça”. Eu tinha que falar para ele: “Olha, não está funcionando porque está parado há dez anos”. E eu tenho cobrado, eu tenho cobrado não apenas do governo estadual, eu tenho cobrado da nossa ministra da Cultura, que é preciso a gente colocar aquele teatro para funcionar porque ele é um patrimônio da humanidade, tombado pela UNESCO, e nós precisamos cuidar.
Porque no Brasil a gente tem uma mania, o presidente do Iphan está aqui. Aqui no Brasil a gente tem a mania de tombar as coisas. Isso não pode mexer, mas a gente não coloca dinheiro para manter, então as coisas vão se deteriorando. E nós temos hoje no Ministério da Cultura uma cantora fabulosa, uma baiana chamada Margareth Menezes, e o Ministério da Cultura hoje, governadora, é a maior quantidade de dinheiro que já teve nesse país para a cultura é agora. Então todos os prefeitos estão recebendo dinheiro para a cultura, todos os governadores dos estados estão recebendo dinheiro para a cultura. Ninguém vai dizer que quem gosta de cultura é maconheiro, é cachaceiro, é vagabundo, porque não pode fazer.
Cultura significa consciência política, cultura significa geração de emprego. Cultura significa qualidade no conhecimento cultural de um país. É por isso que nós recriamos o Ministério da Cultura. E todo mundo que me conhece sabe. Eu, quando deixei o meu mandato em 2010, muitos presidentes quando deixam o mandato, saem pelos fundos de helicóptero e vão embora. Eu dei posse para Dilma, desci a rampa e fui lá no meio do povo, cumprimentar o povo. Porque eu quero cumprir cada coisa que eu prometi para vocês e pode ficar certo que nós vamos cumprir. Nós vamos aumentar salário, nós vamos gerar mais emprego, mais educação, mais saúde, mais cultura e mais qualidade de vida.
O povo precisa melhorar de vida e também mais segurança pública porque o povo tem que ter liberdade de sair à noite, de passear na praça, de namorar de mãozinha dada com a bem amada. A gente não pode ficar no mundo assustado. Por isso eu vim aqui hoje. O deputado está dizendo que tem uma emenda dele para fazer a UPA. R$ 9 milhões. O deputado está dizendo que ele colocou R$ 9 milhões de uma emenda dele para a UPA, que o governo distrital vai colocar mais R$ 11 milhões e nós vamos ter R$ 20 milhões para fazer uma UPA aqui. Já não vai mais precisar pedir pra Nísia.
Gente, eu estava falando para o Camilo, vocês sabem que nós, hoje, acabamos de ganhar o terreno. O terreno vai ser esse aqui, que a gente vai fazer o instituto federal. O problema é que tem licitação. E a licitação vai demorar quanto tempo, Camilo? Quanto tempo demora uma licitação, reitora? Venha cá. Quanto tempo demora uma licitação?
Eu quero saber quanto tempo. Três meses? Dois meses? Quatro meses? Porque eu tenho falado para o Camilo o seguinte: “Camilo, eu quero vir dar uma aula inaugural aqui, como presidente da República, dentro de um ano, no máximo”.
Porque o que acontece é que, muitas vezes, quando um governo sai, o que entra paralisa tudo. Nós encontramos 6 mil obras paralisadas, 3 mil creches paralisadas, 87 mil casas paralisadas do Minha Casa, Minha Vida, mais de 2 mil postos de saúde paralisados nesse país. Porque o engraçadinho que entra: “Ah, eu não gosto disso, eu não vou fazer, o que eu gosto é de contar mentiras nas fake news, o que eu gosto é de falar palavrão, o que eu gosto é de falar bobagem”. Não. Eu fui eleito para cuidar do povo brasileiro e, quando eu deixar a presidência, eu quero encontrar vocês de peito aberto, de cabeça erguida. Aquela menininha que veio aqui me dar um beijo e me entregar uma cartinha, já vai estar uma mocinha, eu quero encontrar com ela, porque ela já vai estar, inclusive, estudando aqui no instituto federal, que nós viemos lançar a pedra fundamental.
Companheiros e companheiras, ministros, deputados estaduais, deputados federais, nosso querido Capelli. Capelli foi famoso aqui em Brasília, o Capelli foi famoso. Quando aqui houve uma tentativa de golpe, quem é que foi cuidar? O Capelli, para enfrentar alguns militares que não queriam cumprir decisão, que queriam desrespeitar. Pois o Capelli veio aqui, reuniu quem prestava, quem era sério e falou: “Vamos botar esse país para frente”. E arrumou a casa. Hoje os golpistas estão sendo processados, alguns estão sendo presos.
Então, esse país aprendeu a gostar de democracia. Democracia é o único regime no mundo que permite que um peão de fábrica seja presidente da República. Democracia é o único regime do mundo que permite que o povo vá para a rua protestar, que o povo possa fazer greve, que o povo possa reivindicar o salário, que as comunidades possam ir à frente do Palácio reivindicar a coisa para o presidente. Se não for a democracia, tudo piora. E a democracia é bom porque a gente elege um cara. Se ele não prestar, a gente tira o cara e elege outro cara. É isso que é maravilhoso.
Portanto, comunidade do Sol Nascente, que eu considero vocês um bairro, um bairro bonito, eu vou sair daqui, a minha impressão sobre o Sol Nascente não é da favela que eu pensei que era, não, gente. Graças a Deus, vocês moram em um lugar muito razoável. Lógico que todo mundo gostaria de morar no Plano Piloto. Todo mundo diz que é o lugar que moram os ricos de Brasília. É que moram os ricos de Brasília no Plano Piloto.
O povo vai indo para a periferia, para a periferia, para a periferia, até chegar nas encostas dos morros, até chegar nas beiras do rio, e quando dá enchente, quem é que se ferra? É o pobre. Qual é a casa que enche? É a do pobre. Quem é que morre? É o pobre. Então é o seguinte, nós cansamos de ser tratados como cidadãos de segunda categoria. Nós queremos ser tratados como homens e mulheres de primeira categoria, com respeito e dignidade.
Por isso, companheiros da comunidade Sol Nascente, um abraço no coração de cada um de vocês, um grande beijo e até a inauguração do nosso instituto federal.
Um beijo para vocês.