Pronunciamento do presidente Lula no anúncio do início das obras de dragagem do Canal de São Lourenço, em Niterói (RJ)
Bem, eu queria primeiro cumprimentar os homens e as mulheres de Niterói, porque é uma alegria retornar a essa cidade. Eu já vim muitas vezes a Niterói, já fiz muito comício ali na Estação da Barca. Vou aceitar o convite do Rodrigo, que eu espero que seja do prefeito, para experimentar uma praia aqui, em Niterói, porque a verdade é que eu venho ao estado do Rio de Janeiro desde 1975 e nunca ninguém do PT me levou para colocar o pé numa praia, qualquer que seja a praia. Eu só venho aqui para reunião, reunião e reunião. Está aceito o convite, prefeito. Na próxima vinda eu vou vir ver a praia que os militares têm aqui.
Eu vou pedir perdão aos companheiros para não precisar repetir a nominata, porque todos os nomes já foram falados aqui, e eu queria falar um pouquinho sobre a razão da minha visita a Niterói. Mas primeiro, vocês sabem do carinho que eu tenho pelo trabalho na indústria naval brasileira. Desde 2003, quando eu disputei a primeira eleição para presidente, eu disse que a gente iria recuperar a indústria naval brasileira. Naquele tempo, o Mauá, o Ishikawajima, o estaleiro de Angra, estavam todos praticamente paralisados. Naquela época, o presidente da Petrobras dizia que era uma ilusão minha dizer que ia recuperar a indústria naval brasileira porque a gente não estava preparado para recuperar a indústria naval.
A verdade é que naquele tempo a gente não tinha mais sequer engenheiro naval, como a gente não tinha mais engenheiro ferroviário. E nós assumimos o compromisso de que a gente iria recuperar a indústria naval brasileira. E o que aconteceu na indústria naval brasileira? A gente saiu de menos de 3 mil trabalhadores para 86 mil trabalhadores da indústria naval, com todos os estaleiros do Rio de Janeiro funcionando, de Niterói, em Pernambuco, na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Rio Grande e também no Espírito Santo. Mais estaleiros foram montados e a gente passou a construir navios grandes, navios extraordinários, que passaram a ter nomes de personalidades brasileiras.
Eu lembro que o primeiro navio que nós inauguramos tinha o nome de João Cândido, que era uma homenagem ao negro que foi vítima da Revolta da Chibata aqui no Rio de Janeiro. E o dado concreto é que a gente tinha decidido que 70% dos navios brasileiros e 70% dos componentes de uma plataforma ou de uma sonda seriam de fabricação nacional. Por que que a gente dizia isso? Porque a gente queria gerar emprego não apenas no estaleiro ou na Petrobras, mas a gente queria gerar uma indústria de pequenas e médias empresas que pudessem produzir os componentes, gerar conhecimento científico e tecnológico e, ao mesmo tempo, gerar os empregos que esse Brasil precisava. E é por isso que nós vivemos uma época de ouro, de 2003 a 2010, quando a economia terminou crescendo 7,5%, a indústria naval cresceu muito e nós tivemos a sorte de descobrir o pré-sal, onde eu recebi a notícia em fevereiro de 2007.
Pois bem, a partir do pré-sal, a gente começou a perceber que a gente poderia fazer da Petrobras a indústria do futuro desse país. Vocês estão lembrados que a gente criou o nome que a Petrobras e o pré-sal seria o passaporte do futuro da nossa juventude. E nós criamos inclusive a lei da partilha e, dentro da lei da partilha, a gente criou um fundo social, porque a gente queria que uma parte do dinheiro do petróleo fosse utilizado para a gente pagar a dívida histórica que a gente tinha com a educação brasileira, com a saúde brasileira e com a tecnologia brasileira.
Bem, vocês sabem o que aconteceu depois na Petrobras, vocês acompanharam, e vocês sabem que, quando nós descobrimos o pré-sal, os nossos adversários diziam que a gente tinha descoberto o pré-sal, mas que a gente não tinha como explorar o petróleo, porque o petróleo estava muito fundo, a quase 5 mil metros de profundidade, e que a gente não ia conseguir chegar. Hoje a gente consegue colocar o petróleo de 5 mil metros de profundidade quase que ao mesmo preço do petróleo da Arábia Saudita, que é quase tirado na flor da terra.
Por que isso? Por uma coisa chamada de investimento em tecnologia. A Petrobras é a empresa mais preparada no planeta Terra para a prospecção de petróleo em águas profundas. E é por isso que nós estamos tentando recuperar a Petrobras, porque eles não tiveram coragem de privatizar a Petrobras porque tinha que passar pelo Congresso Nacional, eles começaram a vender ativos da Petrobras, como venderam o gasoduto que a gente tinha, como venderam a BR que a gente tinha, como venderam a empresa de gás que a gente tinha, porque o objetivo era tentar desmontar todo o sistema produtivo da Petrobras.
Paralisaram o Comperj durante muitos anos. Esse Comperj era um sonho de que a gente iria ter no Brasil uma forte indústria petroquímica, e eles conseguiram desmontar isso. Faltava 15% para terminar e ela ficou paralisada por mais de 10 anos. Agora nós voltamos e nós temos que recomeçar tudo de novo. Não é fácil o trabalho de reconstruir. Se alguém aqui já fez reforma em casa, sabe que, muitas vezes, fazer uma reforma é mais difícil do que construir uma coisa nova. E nós pegamos esse país desmontado. Esse país estava desmontado. Esse país não tinha mais Ministério da Pesca, não tinha Ministério de Portos e Aeroportos, não tinha Ministério da Cultura e muitos outros ministérios que tinham não funcionavam. Não funcionavam porque nós passamos quatro anos que, ao invés de governança, a gente tinha mentira. Ao invés de empregos, a gente tinha mentira. Ao invés de saúde, a gente tinha mentira.
E nós precisamos recuperar tudo isso. Só obras paradas, entre a saúde e a educação, foram praticamente seis mil obras paralisadas. Só Minha Casa, Minha Vida tinha 87 mil casas que tinham começado a ser construídas e foram paralisadas. Eu fui a Magé agora inaugurar 600 casas que tinham começado em 2013, eu só fui inaugurar agora porque neste país alguém tomou a atitude que não precisava construir, não precisava mais gerar emprego, era tudo verde e amarela, a casa é verde e amarela, a carteira profissional é verde e amarela, não sei o que é verde e amarela. O dado concreto é que a falta de vergonha e a irresponsabilidade tomou conta desse país e a mentira deslavada tomou conta das políticas públicas desse país.
Nós voltamos com o compromisso de colocar a casa no lugar outra vez. Vocês estão lembrados que só no mês de janeiro e fevereiro a gente já gerou 500 mil empregos formais: 180 mil em janeiro e 301 mil empregos no mês de fevereiro. E eu posso dizer para vocês, prefeito, pode ter a certeza que vai vir mais coisa para Niterói. A escola de pesca é uma coisa importante, eu só quero que você me dê por escrito porque esse negócio de me falar eu posso esquecer quando eu descer daqui. Então me dê por escrito para que a gente possa providenciar, junto ao ministro da Educação, como é que a gente pode fazer com que uma escola de pesca venha para Niterói.
A segunda coisa que eu quero que vocês tenham certeza é que a gente vai recuperar a indústria naval brasileira. A gente vai recuperar porque não é possível um país do tamanho do Brasil, 90% de todo o comércio do Brasil é feito através do mar. Então, não tem sentido a gente ter déficit comercial na balança por conta que os nossos produtos são todos exportados e comprados em navios de bandeira estrangeira. É verdade que pode ser mais barato alguns centavos, é verdade que pode ser mais barato alguns dólares, mas o fato da gente alugar o navio lá fora, a gente não vai gerar emprego aqui, a gente não vai criar pequenas e médias indústrias daqui, a gente não vai ter componente nacional.
Significa que a gente vai trazer um produto mais barato, mas o povo aqui está desempregado e não vai poder comprar o produto que vai vir para cá. Por isso, é necessário gerar emprego nesse país, porque o emprego gera renda, a renda gera consumo e o consumo gera desenvolvimento.
Portanto, quando a gente vem aqui participar de um evento em que a grande obra é fazer a dragagem de um canal de 7 para 11 metros, parece pouca coisa, mas é importante lembrar que essa região também aqui é uma região pesqueira e foi dentro de um barco aqui, na campanha de 2002, que eu assumi o compromisso de criar o Ministério da Pesca. E por que Ministério da Pesca? Porque antes não tinha Ministério da Pesca, era uma Secretaria de Pesca ligada ao Ministério da Agricultura. Como peixe não dá em terra, peixe dá na água, e a gente tem 8 mil quilômetros de costa marítima e tem quase 13% da água do mundo, por que não tem o Ministério da Péssica? Por que não tem?
Pois bem, nós criamos e o Ministério da Pesca vai voltar a funcionar porque também não é explicável que um país que tem a quarta marítima do Brasil tenha menos peixe do que o Peru, tenha menos peixe do que o Chile. Significa que o que nós precisamos é ter política de incentivo e essa política de incentivo tem que partir do Governo Federal. Eu lembro que, no meu governo passado, a gente financiava rede, eu lembro que a gente financiava barco e a gente tem que voltar a financiar.
Está aqui o Luiz Sérgio, que foi prefeito de Angra, deputado federal, metalúrgico do Estaleiro de Angra, presidente do sindicato que sabe do que eu estou falando. Então companheiros, eu queria dizer para vocês, não existe possibilidade de a gente recuperar esse país se a economia não voltar a crescer. A economia voltando a crescer, ela vai gerar emprego, o emprego gera consumo, o consumo gera mais emprego e, assim, a roda gigante da economia vai girando, vai girando e a gente vai voltar a crescer.
Eu estou saindo, governador, da inauguração de uma Faculdade de Matemática no Rio de Janeiro. É a primeira Faculdade de Matemática que a gente inaugurou neste país só para que a gente pudesse dar condições aos estudantes de escola pública que ganharam medalha de ouro nas Olimpíadas da Matemática o direito de virarem gênios brasileiros. A gente vai ter 400 alunos, a gente vai ter quarto para eles dormirem e eles vão ficar durante o tempo inteiro da formatura por conta do Governo Federal e do Governo Municipal.
Esse país que nós começamos a construir ainda não está pronto. Você sabe que nós estamos com um ano e três meses de governo, um ano e três meses de governo é muito pouco diante dos compromissos que eu assumi com o povo brasileiro. Vocês podem ter certeza que eu lembro de cada palavra que eu falei durante a campanha, e eu só voltei a ser presidente da República porque eu quero cumprir cada coisa que eu prometi, porque tem uma coisa que eu tenho certeza: eu quero terminar o meu mandato, em 2026, como eu terminei em 2010, andando de cabeça erguida, sabendo que o povo brasileiro está trabalhando, está ganhando mais, está vivendo com decência e dignidade.
Por isso, Niterói, pode contar comigo, pode contar com o Governo Federal porque nós, eu disse em 2003, nós temos a obrigação de ajudar o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro é um estado muito importante para o Brasil e o Rio de Janeiro não pode aparecer nos jornais apenas nas páginas policiais. É importante que o Rio de Janeiro apareça nas páginas de jornais com a cultura, com o emprego, com a indústria naval, com o petróleo, com a indústria pesqueira e com muita gente, com muita gente vivendo às custas do seu trabalho e que a gente possa diminuir a força do crime organizado nesse estado, das milícias nesse estado, porque o povo do Rio de Janeiro é um povo de bem e é um povo trabalhador.
Por isso, prefeito, pode contar com o Governo Federal que nós estaremos dispostos a fazer o que for necessário. Quando o Governo Federal não puder fazer, vá a Maricá e peça para o nosso prefeito ajuda porque eles têm muito dinheiro e eles podem ajudar a cidade de Niterói. Um abraço, gente, um prazer imenso encontrar com vocês e até outro dia, se Deus quiser.