Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento do programa União com os Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais
Bem, companheiros e companheiras, prefeitos e prefeitas, senadores e senadoras, deputados e deputadas, secretários de ministérios, secretários das prefeituras. Eu quero cumprimentar todos vocês. Não vou ler a nominata, porque ela é muito extensa e eu quero dizer umas palavras aqui, eu não posso perder tempo na nominata. Quero cumprimentar os ministros que estão aqui e dar os parabéns à companheira Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima] pela realização deste encontro.
Antes de dizer, eu queria me dirigir a uma pessoa que deve estar aqui: Jane Freitas de Góes Crespo, de Maués. Não sei se a Jane está aqui. Jane, é o seguinte, querida: eu vou dizer para você uma coisa. Faz tempo, faz tempo, que eu já pedi para o prefeito de Maués me mandar um cacho de guaraná. Eu, em 2010, eu plantei dois pés de guaraná, no Palácio da Alvorada, mas, depois, eu fui embora, não sei como ele foi cuidado, eu sei que morreu. Então, eu queria fazer um pedido para você: primeiro, um cacho de guaraná para essas pessoas que estão aqui saberem o que é um guaraná. Porque as pessoas tomam, mas nunca viram um cacho de guaraná.
Uma vez, eu prometi para o Fidel Castro, que adorava tomar guaraná, e eu prometi... Tinha um amigo nosso que ia para Cuba e levava caixa de guaraná, e eu prometi levar um cacho. Quando eu fui embarcar, eu não tinha recebido o cacho de guaraná e eu encontrei, não sei se foi no aeroporto de Manaus, um cacho feito de cerâmica, eu levei um cacho daquele para o Fidel Castro.
Então, eu queria fazer um apelo para você, querida. Diga ao nosso prefeito que, quando ele vier a Brasília, colocar um cachinho de guaraná dentro da mala dele, no lugar da roupa dele, não vai ocupar muito espaço. E trazer duas mudinhas de pé de guaraná, pra ver se a gente consegue plantar aqui e consegue pegar. Eu estou rearborizando o Palácio da Alvorada, estou plantando quase quatro mil árvores entre a casa do Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] e o Palácio da Alvorada.
Estamos plantando, entre o hotel Blue Tree e o Palácio, mais mil e quinhentas árvores e estamos plantando quase 1,6 mil árvores lá na Granja do Torto, para arborizar com árvores da região. E eu precisava de um guaraná. Se você puder, Jane, por favor, me mande um cacho de guaraná, me mande duas mudinhas de guaraná. Eu lhe pago. Ou eu mando o Rui [Costa, ministro da Casa Civil] pagar para você.
Bem, companheiros e companheiras, eu, primeiro, quero agradecer a participação de vocês nesse evento e quero, muito mais do que agradecer a participação de vocês, agradecer a disposição de vocês de ajudar a gente a enfrentar um problema que não é de um governo, que é um problema do Estado brasileiro. Não é do governo Lula ou de qualquer outro governo que venha depois ou que passou. É um problema que o Estado brasileiro tem que assumir a responsabilidade.
Tem coisas que é de governo, tem coisas que é de prefeito, tem coisas que é de governadores. Mas, tem coisa que é do Estado brasileiro. Nós precisamos cuidar da maior reserva florestal do mundo que está sob a nossa guarda. E tentar fazer do cuidado dessa reserva florestal uma forma de melhorar não apenas a qualidade de vida das prefeituras, do povo de cada cidade, mas melhorar as condições financeiras da cidade, que tem que receber ajuda para cuidar.
Ainda no primeiro mandato, eu era presidente e a Marina era ministra. E teve um... Eu não se foi no Pará ou no Mato Grosso, uma cidade chamada Floresta, que pegou, tava... E a gente ficava muito brigando com o prefeito. E, já naquela época, eu dizia para a Marina: "Marina, nós precisamos encontrar um jeito de transformar os prefeitos em parceiros na nossa política de cuidar da Amazônia".
Porque não adianta nada a gente ficar daqui querendo cuidar, porque quem sabe de quem é a terra que está queimando é o prefeito, quem conhece o fazendeiro que está desmatando é o prefeito, ou outro madeireiro. O prefeito conhece, ele está lá. Então, em vez da gente ficar brigando, vamos tentar fazer com que o prefeito tenha um ganho para a sua cidade, ajudando a gente a cuidar. Tentar fazer as pessoas compreenderem que manter a floresta em pé é um ganho econômico muito mais e, às vezes, muito mais do que um rebanho de gado.
Não que não seja necessário criar o gado, mas o gado pode ser criado em um lugar em que você não precise derrubar floresta. No Brasil, nós temos 40 milhões de terras degradadas. Quarenta milhões de hectares. E nós estamos com uma forte política de recuperação desses 40 milhões de hectares, que dá para a gente plantar o que a gente quiser. Dá para a gente reflorestar. Dá para a gente florestar para as empresas de papel e celulose. Para tantas outras empresas. Mas o que é importante é a gente preservar o que tem. Porque está claro, hoje ninguém mais tem dúvida.
Eu tenho um companheiro meu que, até hoje, ele não acredita que o homem foi para a Lua. Não adianta mostrar foto, não adianta mostrar filme, não adianta mostrar depoimento. Ele não acredita que o homem foi para a Lua. Então, eu não vou brigar. Se o cara não acredita, problema teu. Hoje, nós temos gente que não acredita que o desmatamento, que as queimadas, prejudicam o planeta Terra. E muita gente não leva a sério que significa a manutenção das florestas para a manutenção da qualidade de vida nessa casa enorme que é o nosso planeta. E que a gente não tem para onde fugir.
Tem até bilionário tentando fazer foguete, tentando fazer viagem para ver se encontra um espaço lá fora. Não tem. Ele vai ter que aprender a viver aqui. E ele vai ter que utilizar muito do dinheiro que ele tem para ajudar a preservar isso aqui. A melhorar a vida das pessoas, porque muita gente vê a floresta, vê o rio, de forma separada. Vocês e o governo têm que ver a floresta sabendo que aqui mora um índio, que aqui mora uma pescadora, que aqui mora um pescador, que aqui mora um pequeno trabalhador rural. E que essas pessoas precisam de qualidade de vida. Essas pessoas precisam de saúde, precisam de educação, precisam de energia e precisam de condições de trabalhar.
E quem tem que fazer isso somos nós: Governo Federal, governo estadual e prefeito. Acabou o tempo em que a gente ficava jogando a responsabilidade nos outros, né? Quando a coisa está bem, o prefeito fala: "Sou eu". Ou o governador fala: "Sou eu". Ou o presidente fala: "Sou eu". Quando está ruim, ninguém é pai da criança. Aí todo mundo foge do assunto. E nós não queremos fugir do assunto.
Nós temos um compromisso assumido por conta e risco nosso de que, até 2030, a gente vai anunciar ao mundo o desmatamento zero nesse país. E nós queremos transformar isso em um compromisso do povo brasileiro. E, para isso, vocês precisam justificar.
Quando você for conversar com uma pessoa para convencê-la de que não vai poder derrubar floresta, de que não vai poder fazer uma queimada para poder limpar para ele fazer. Fala: "Não, você vai ganhar mais se ela ficar de pé. Vamos brigar para que você receba crédito de carbono pela manutenção da floresta em pé. Você vai perceber que é mais fácil e é melhor para todos nós". Por isso, esse pacto que nós estamos formando aqui é muito importante. É importante que vocês tenham claro que esse ato é apenas o começo.
Eu tinha um locutor esportivo, em São Paulo, muito famoso, da rádio Bandeirantes, chamado Fiori Gigliotti, era um cara que eu ouvia muito e, toda vez que ia começar o jogo, porque futebol é assim: tem o espetáculo antes e tem o espetáculo quando começa. E ele falava assim: "Abram-se as cortinas e comece o espetáculo". Aqui, nós estamos abrindo as cortinas e está começando o espetáculo do cumprimento da nossa tarefa de que a gente vai cuidar da Amazônia, como se ela fosse a coisa mais importante existente no planeta Terra, porque cuidar da Amazônia significa cuidar da vida. Significa cuidar dos nossos indígenas, dos nossos pescadores, dos nossos seringueiros, das pessoas que vivem ali. Essa moça viveu de lá até não sei quantos anos. Eu acho que é importante a gente ter claro.
E o mundo rico, é bom que esteja aqui representantes do Conselho Europeu, o mundo rico tem que compreender que ele tem que pagar para que os países que mantêm floresta em pé levem a sério essa questão. Não é só o Brasil. Na América do Sul, nós somos oito países amazônicos. Nós temos, na África, o Congo. Nós temos a Indonésia. E nós temos outros países que têm.
Então, o que nós precisamos é saber o seguinte: o mundo rico, que se industrializou muito antes de nós, e que não tinha consciência de preservação que tem hoje, eles têm que pagar pelo que fizeram no passado. Eles têm uma dívida com o planeta Terra. Portanto, eles têm que pagar, ajudar a financiar, para que a gente possa dar aos prefeitos, às pessoas que moram, a certeza de que vai valer a pena ele preservar. Vai valer a pena ele ter uma agricultura sustentável. Vai valer a pena ele só plantar onde é possível plantar, sem precisar destruir uma nascente, sem precisar destruir um rio. Ele tem que entender que vai valer a pena. Não pode ser só discurso. Não pode ser só discurso. Ele tem que ter certeza que vai valer a pena.
E o que nós estamos assumindo com vocês hoje é o compromisso de que nós vamos fazer valer a pena o acordo que vocês assinaram hoje aqui. Porque nós vamos fazer com que ele aconteça. Sempre demora um pouco até estruturar tudo que tem que fazer, mas vocês podem ter certeza de que nós vamos nos encontrar outra vez aqui. Ou ainda este ano, começo do ano que vem, para a gente já poder dizer o que está acontecendo na nossa cidade depois que nós resolvemos mudar de comportamento.
Por isso, Marina, parabéns. Parabéns, Rui Costa, que é o cara que coordena essas coisas para a gente fazer direitinho. E parabéns, prefeitos e prefeitas, pelo sacrifício de vocês saírem da cidade de vocês e virem para cá – em um tempo em que as passagens de avião estão muito caras, muito caras. Ou seja, e também aos secretários municipais de Meio Ambiente.
Muito obrigado a todos vocês e eu espero que esse dia de hoje não saia mais da memória de vocês. E que a gente possa, daqui há um ano, dizer: "Valeu a pena a nossa viagem até Brasília. Valeu a pena assinar o acordo, porque as coisas estão acontecendo". E nós queremos que o mundo veja.
Veja, nós estamos com tanta disposição de cumprir aquilo que nós prometemos, porque uma coisa vocês têm que perceber: não tem nenhum país no mundo hoje, nenhum país, nem Estados Unidos, nem China, nem Rússia, nem toda a União Europeia, não tem nenhum país na face da Terra que tenha as condições que o Brasil tem. Quando a gente fala em transição energética, quando a gente fala em transição climática, ninguém compete com o Brasil. Ninguém. Portanto, nós poderemos estar próximos de uma revolução de desenvolvimento econômico neste país, de uma revolução climática e de uma revolução energética, porque o Brasil será imbatível e nós não vamos jogar fora essa oportunidade. E o que nós queremos: que vocês sejam parceiros deste momento importante do nosso país.
Um abraço, muito obrigado e parabéns pelo dia de hoje.