Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento do programa Terra da Gente
O ato vai terminar e o Paulo Teixeira vai na sala leste fazer uma entrevista com a imprensa. Eu só queria pedir desculpa que o companheiro Pimenta não está aqui porque a mãe dele faleceu agora à tarde. Era uma senhora com 90 anos de idade e ela então vai ser velada não sei se hoje à noite ou amanhã de manhã. Mas eu queria só dizer uma coisa que é agradecer ao trabalho que o Paulo Teixeira fez. Eu tenho que assinar um decreto ainda para validar tudo que foi falado aqui. Então, eu quero agradecer ao Paulo Teixeira por tudo que foi feito. É uma forma nova da gente enfrentar um velho problema.
Eu pedi ao Paulo Teixeira que fizesse um levantamento, com a ajuda dos governadores, das secretarias que cuidam das terras em cada estado, com o pessoal do INCRA estadual, pra gente ter noção de todas as terras que podiam ser disponibilizadas para assentamento nesse país. Isso não invalida a continuidade da luta pela reforma agrária. Mas o que nós queremos fazer é mostrar aos olhos do Brasil o que que a gente pode utilizar sem muita briga. Isso sem querer pedir para ninguém deixar de brigar. Eu só queria lembrar vocês uma coisa importante, que vocês retratam o seguinte.
Antes, no Brasil, você não tinha reforma agrária. Você tinha capitanias hereditárias. Era um monte de terra distribuído para um pouco de gente. E agora é a gente distribuindo as terras adequadas para as pessoas adequadas que necessitam produzir. Eu só queria lembrar aos companheiros que, nos primeiros mandatos meus e da Dilma, nós assentamos o equivalente a 754 mil famílias e colocamos à disposição da reforma agrária 51% de todas as terras utilizadas para a reforma agrária em 500 anos de história do Brasil. 51% de todas as terras disponibilizadas para o assentamento foi nos 13 anos que eu e Dilma governamos esse país. Eu estou dizendo isso porque, depois de você fazer o assentamento, tem uma tarefa que é tão ou mais importante do que dar terra, que é torná-la produtiva e torná-la atraente para que as pessoas continuem morando na terra e tendo nela uma razão de viver.
Esse negócio de dizer “vão fixar o homem no campo”, eu aprendi com José Gomes da Silva, que foi o homem que fez do Estatuto da Terra em 64, que quem gosta de ser fixado é estaca. O homem e a mulher querem ser livres para trabalhar no campo e morar onde quiserem, embora possam tirar o sustento deles no campo. E o que é importante é que nós temos, praticamente, dois milhões e meio de propriedades que têm menos de dez hectares de terra. Desses dois milhões e meio, que significa dez milhões de pessoas se você imaginar que cada um tem em média quatro filhos, se você imaginar isso significa que você pode ter alguns milhões de pessoas que tem dois hectares, três hectares, quatro hectares, e que essa gente ainda pode viver no sistema produtivo, que é aquele sistema da agricultura da subsistência. Ou seja, o cara planta apenas para comer e, às vezes, comer mal.
Então, nós temos a obrigação. Contamos com a sabedoria e a expertise da Embrapa para que a gente possa levar a essas pessoas o direito de ter acesso a crédito, de tentar discutir para saber o que é melhor ela produzir, o que é mais lucrativo, o que ela pode plantar pra comer, o que ela pode fazer pra vender. Porque o que nós queremos é que a gente utilize a multifuncionalidade da terra. Essa palavra vocês não sabiam que eu ia falar. A multifuncionalidade da terra para que a gente possa extrair do pedaço de terreno que a gente tem tudo o que a gente possa produzir. Além de criar galinha, além de criar o porco, além de criar o pato, além de criar uma cabritinha, além de criar um bodezinho, além de criar uma vaquinha, além de criar um cavalinho, a gente pode fazer mais coisas.
Tem um monte de coisa e é isso que nós temos a obrigação de tentar. Até mais, nós temos um compromisso, é importante vocês lembrarem, de tomar conta dos biomas brasileiros. A gente só fala na Amazônia, mas nós vimos no domingo na televisão alguém fazer no Pantanal o que jamais poderia ser feito.
Jamais poderia ser feito um negócio utilizado em guerra, que foi utilizado no Vietnã para tentar queimar as plantas no Pantanal. Então, nós temos que dizer em alto e bom som para todo mundo ouvir. Nós queremos preservar a Amazônia, mas nós queremos preservar o Pantanal, nós queremos preservar o Cerrado, nós queremos preservar o Pampa, nós queremos preservar a Caatinga e nós queremos preservar a Mata Atlântica, porque é um conjunto de biomas que compõem a qualidade de vida que nós temos aqui na terra.
Então, nós temos que falar para o pequeno, para o médio e para o grande que nós precisamos cuidar das coisas para que a gente possa sobreviver melhor e com muito mais capacidade de comer comida boa. O companheiro Paulo vai dar uma entrevista agora, e eu queria que a imprensa não tivesse dó e nem piedade, que fizesse as perguntas que tem que fazer, porque o que nós queremos é provar de que somente através de um regime democrático, somente através da convivência democrática na diversidade, a gente pode fazer aquilo que a gente quer. A gente pode, enquanto trabalhador da cidade, reivindicar, fazer greve, pedir aumento de salário, pedir plano de carreira, o trabalhador da fábrica pode fazer greve, pode fazer um monte de coisa, e vocês podem fazer o que vocês quiserem.
O nosso papel é ser honesto com o movimento social, é dizer aquilo que a gente pode fazer, aquilo que a gente não pode fazer, o dinheiro que a gente tem, o dinheiro que a gente não tem, para que a gente possa estabelecer uma relação muito sincera, muito cordial, muito democrática, mesmo que, em alguns momentos, alguém torça para o Corinthians e outro torça para o Palmeiras. Não tem problema nenhum que um seja vascaíno e outro seja flamenguista. Não tem problema nenhum.
O que é importante é que a gente não perca o humor para fazer as lutas que a gente precisa. Eu queria, Paulinho, te dar os parabéns, reconhecer o trabalho extraordinário que vocês fizeram, a você, a toda a sua equipe, ao Incra, a toda a equipe. Eu acho que o Incra nunca trabalhou tanto na vida como trabalhou nesse um ano e quatro meses.
E é importante vocês lembrarem que nós temos apenas um ano e quatro meses no governo. Nem todo pé de jabuticaba que a gente plantou está dando flor ainda. Vocês sabem disso. Então, isso aqui é mais um adubozinho que a gente está jogando, vai jogar um pouco de água e, logo, logo, o que a gente está anunciando aqui a gente vai começar a colher a fruta da jabuticaba do programa Terra da Gente. Paulo, parabéns. Que Deus te ajude a continuar com essa competência. Parabéns a vocês que vieram aqui.
Tem um tal de Lulinha, que é um vereador de Maués, a semana passada, em um evento aqui, tinha uma senhora chamada Jane, que era secretária de Agricultura de Maués, e eu reclamei que eu estava reivindicando um cacho de Guaraná e um pé de Maués, e eu fiquei sabendo que o Lulinha, que é de Maués, que é vereador, trouxe as mudas do pé de Guaraná para que eu plante aqui, que eu plante no Alvorada.
Eu pensei que ele ia trazer um pé com cacho, ele trouxe um pé muito pequenininho, gente, pelo amor de Deus. Eu já estou com 78 anos, se eu não viver cento e vinte eu não vou ver dar Guaraná aqui. Então, agora que eu tenho que viver cento e vinte mesmo.
Eu quero agradecer, querido, agradecer.
É, o Sinésio deve ser plantador de Guaraná lá no Amazonas. Então eu quero agradecer. Eu vou plantar, tem algum ensinamento específico para plantar?
A distância um do outro? Um buraco de quarenta por quarenta, mas vai plantar um pezinho desse tamanho? Mas quanto tempo vai demorar? Quatro a cinco anos? Quatro a cinco anos. Só tenho três anos de mandato, cara. Eu vou plantar em São Bernardo, então. Não vou plantar aqui. Senão, eu vou ter direito a usucapião. Vou ter que continuar para ver o meu pé de Guaraná crescer. É isso?
Obrigado, Sinésio, obrigado, companheiro. Para quem não conhece, o Sinésio é deputado estadual do PT no estado do Amazonas e o nosso companheiro é vereador em Maués.
O pai dele é parecido comigo? É por isso que ele é bonito assim. Gente, obrigado pela presença de vocês.
Obrigado, gente. Até o próximo encontro, se Deus quiser. Eu, agora, vou assinar o decreto, dando validade a tudo que foi falado aqui até agora. Se eu não assinar o decreto, significa que nada do que foi falado aqui vai entrar em vigor. Então, se preparem porque eu vou assinar.
Você veja que a ausência do Pimenta fez com que a gente fizesse uma confusão danada aqui. Eu tenho um título de terra para entregar. Quem é a companheira que vai receber esse título de terra? É uma companheira de Santa Catarina. É a companheira Célia, de Santa Catarina. Ela vai receber o título de terra dela. É importante. É da Bahia, não é de Santa Catarina, ô, Paulo.
É da Bahia mesmo. É seu o título. Parabéns.
Eu vou deixar vocês. Agora o Paulo Teixeira toma conta da festa.