Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento do programa Acredita
Eu quero começar a minha fala agradecendo ao Ministério da Fazenda, ao Ministério da Pequena e Média Empresa, ao Sebrae, ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e à Casa Civil, sobretudo esses ministérios, pela dedicação na construção dessa proposta. Não é uma proposta feita por uma pessoa. Ela é pensada por uma pessoa, é colocada no papel por uma pessoa e depois é discutida por muitas pessoas para que a gente possa trazer uma coisa para entregar para o povo brasileiro.
Duas coisas que nós temos que fazer, Haddad. Uma, eu não sei se é no ministério do Márcio, que a gente deveria criar uma espécie de um 190, de um 180. Um telefone para que as pessoas pudessem telefonar e se queixar se as coisas não estão acontecendo. Porque, muitas vezes, as pessoas não têm a receptividade que elas imaginavam que iam ter e não tem para quem reclamar. Então, ao invés de ficar xingando a gente, é importante que a gente tenha pelo menos um ouvidor para que as pessoas possam se queixar e dizer que o Sebrae não é tudo aquilo que o Décio prometeu, que o seu ministério não é tudo aquilo que prometeu, e o Wellington também e muito menos o Banco do Brasil.
Então, eu preciso que tenha um lugar para o povo colocar para fora as suas angústias. Essa é a primeira coisa que eu acho importante a gente pensar em anunciar. A segunda coisa que o companheiro Haddad, como tinha coisa muito importante para falar, não falou, é que nessa Medida Provisória está incluído um aumento de pessoas no programa Pé-de-Meia. Quando nós anunciamos o Pé-de-Meia, a linha de corte era o Cadastro do Bolsa Família e ficou de fora o cadastro do CAD. Então, nós agora resolvemos aumentar e colocar a linha de corte no cadastro do CAD e vai entrar, parece, que mais 1,2 milhão de meninos e meninas no Pé-de-Meia.
Além disso, Haddad, uma parte desse programa, que envolve o Pronampe, que envolve as dívidas de pequenos e médios produtores, pequenos e médios empresários, pequenos e médios comerciantes, eu não vou dizer o nome, mas aqui nesse plenário tem uma pessoa, que eu também não vou dizer o gênero, tem uma pessoa que, por conta da situação dela, que eu procurei o Haddad e falei: “Haddad, nós precisamos fazer alguma coisa pra ajudar as pessoas que têm um pequeno comércio, que têm um pequeno restaurante, um pequeno bar e que, durante a crise Covid essa pessoa se endividou e essa pessoa não consegue sair dessa dívida. Então é preciso que a gente consiga encontrar uma solução”. E a solução foi encontrada. Eu espero que essa pessoa que está aqui saiba que foi por causa dela que nós criamos esse programa.
A terceira coisa importante, o Haddad já disse. Não tem nada mais imprescindível para uma sociedade, qualquer que seja ela, se desenvolver se ela não tiver condições de ter oportunidade e se ela não tiver crédito. As pessoas que têm muito dinheiro, muitas vezes, quando precisam de dinheiro é tanto dinheiro que, se demorar um mês, dois meses, ele aguenta porque é muito dinheiro. Mas e as pessoas que precisam de R$ 1 mil, de R$ 500, de R$ 1.500, de R$ 2 mil, pessoas que precisam de um pouco para começar a curar uma dor qualquer que tenha dentro da sua casa. É muito difícil. Não tem banco para a gente entrar. Porque banco não foi preparado para receber pobre. Banco não foi preparado para receber pessoas que chegam lá de sandália, não vou dizer o nome da sandália para não fazer propaganda. As pessoas que não chegam de terno e gravata, que não chegam bem-vestidos. Os bancos não foram tão preparados para isso.
E o que nós estamos fazendo é o seguinte: é criando as condições para, independentemente da quantidade, independentemente da origem social, independentemente do tamanho dos negócios, as pessoas tenham o direito de ter acesso ao sistema financeiro e pegar algum crédito. Um crédito. Por exemplo, o Alckmin, eu e o Haddad participamos, na sexta-feira da semana retrasada, num evento na Anfavea, o Moisés, presidente do sindicato estava, quando a Anfavea anunciou R$ 125 bilhões de investimento nos próximos anos. Eu estou nessa área há muitas décadas e nunca tinha visto um anúncio de investimento. Mas essa semana fomos pegos de surpresa porque veio outra empresa no meu gabinete para anunciar mais 4,2 bilhões. Ou seja, o Slim veio do México e pediu para conversar comigo. O Slim queria anunciar, possivelmente, mais R$ 40 bilhões de investimento na área dele, que é de telefonia e comunicação, na Claro sobretudo, e vai iniciar com investimento de R$ 17 bilhões.
Ou seja, quando nós anunciamos um programa como esse, eu lembro de maio de 2004. Eu estava saindo para ir fazer um ato na Ford lá em São Paulo. E eu tinha tido uma conversa com o Meirelles e uma conversa com o Palocci, que era ministro da Fazenda. E o otimismo dele com relação à economia era tão grande que eu, no meu discurso da Ford, disse que as pessoas poderiam se preparar que estava começando o espetáculo do crescimento. Vocês sabem o quanto que eu fui desaforado por muita gente da imprensa que achava que eu estava falando bobagem.
O dado concreto é que, naquele ano, que muita gente não acreditava, a economia brasileira cresceu 5,8%. O mesmo aconteceu em janeiro do ano passado em Hiroshima. Eu estava em Hiroshima e a diretora-geral do FMI, muito simpática, me procurou para dizer: “Presidente, eu estou preocupada porque a economia do Brasil só vai crescer 0,8%”. E eu falei: “Ó, eu vou dizer para a senhora uma coisa, a senhora está enganada. A economia brasileira vai crescer mais. É preciso parar de analisar o crescimento de um país sem saber a dinâmica do que está acontecendo no país, e nós vamos crescer mais”. E aconteceu que nós crescemos 2,9% com viés de crescimento para 3%, que é bom falar isso.
É pouco. É lógico que é pouco. É lógico que é pouco. Mas diante da expectativa que o mercado tinha, foi um crescimento excepcional, porque esse crescimento significa mais crescimento de emprego, significa crescimento da massa salarial. Só uma coisa para vocês saberem: no ano passado, 87% dos acordos salariais feitos pelas categorias profissionais nesse país tiveram aumento real acima da inflação. Ao contrário de 2022 para trás, em que 90% dos acordos eram feitos com aumento menos que a inflação. Ou seja, nem a inflação as pessoas tinham no seu reajuste. Isso é um sinal de que não é apenas eu que estou acreditando na economia ou o Haddad. É sinal de que os empresários também estão acreditando, embora nem todos nunca falem para a imprensa. Empresário tem uma dificuldade de falar bem de governo. Você não tem noção. Você faz uma reunião com os empresários aqui, você pode atender 99% da pauta que eles entregarem. Quando eles saírem, que a imprensa perguntar: “E daí, tudo bem?”. “Ainda não é suficiente”. É assim. Mas também vale para os trabalhadores. Os trabalhadores apresentam uma pauta de reivindicação, 90 itens, a gente atende 89, eles quando começam a falar, eles não falam pelos 89 que a gente atendeu, falam pelo 1 que a gente não atendeu.
E o que que eu vou dizer agora para vocês, que eu quero saber como é que a imprensa vai tratar amanhã, porque eu vou ter um café da manhã com a imprensa. Eu vou logo prevenir que eu vou ficar preparado. O que está acontecendo hoje não é apenas um novo anúncio de política de crédito. O que está acontecendo hoje é a demonstração de que nós voltamos para governar esse país para ver se a gente transforma esse país num país definitivamente desenvolvido. A gente não quer um país de gente muito rica e gente muito pobre.
Se possível, a gente quer um país em que você tenha uma classe média sustentável, que tenha um padrão de vida digno, decente, com escola, com cultura, com salário, que as pessoas possam ir jantar num final de semana num restaurante, almoçar, que as pessoas possam fazer uma viagem. É esse país que nós sonhamos. Nós não queremos um país que eternamente dependa de um Bolsa Família, que eternamente dependa de um vale gás. Enquanto nós estivermos dependendo disso, a sociedade não será uma sociedade de classe média, que esse programa dá um pontapé extraordinário. Esse programa dá um pontapé extraordinário. É colocar uma coisa que eu aprendi há muito tempo atrás, é colocar dinheiro na mão do povo.
Porque tem uma máxima que eu repito de vez em quando e gosto de falar, que é o seguinte: muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, significa desnutrição, fome, favela, significa que a maioria não tem nada. Mas se você estabelecer um critério em que muitos tenham um pouco, a gente muda a cara da sociedade brasileira. As pessoas não têm noção o que significa R$ 500 na mão de uma mulher na periferia de uma cidade dessa. Ela faz milagre com R$ 500. Acontece que ela nunca tem chance de ter esses R$ 500. O que nós estamos querendo fazer é dar a todas as pessoas o direito de ter acesso. O Haddad sabe que me incomodava muito uma coisa e resultou nesse plano de crédito para o setor imobiliário.
Não sei se o Haddad chegou a falar com vocês, Guilherme e Dario. Mas uma coisa é o seguinte. Eu era metalúrgico e o metalúrgico na minha cidade ganhava um salário razoável. Se ele tivesse uma profissão ele ganhava R$ 9 mil, R$ 10 mil, R$ 8 mil. O de entrada deve ganhar uns R$ 4,5, R$ 5 mil. Então, ele não está dentro de um modelo de padrão de financiamento das casas do Minha Casa, Minha Vida, porque o Minha Casa, Minha Vida foi pensado efetivamente para as pessoas mais humildes, mais pobres que mais necessitavam. Já foram 7,5 milhões de casas e já temos mais 2 milhões para fazer. E eu espero que esse país chegue a um dia a ter o equivalente a 30% do PIB investindo na construção civil. Eu espero que esse país volte a ter 20%, 25% de investimento do PIB no setor produtivo.
Haddad, a primeira palavra que o Slim me falou. O Slim é um dos maiores empresários do mundo. Agora não é mais porque ninguém compete com essas empresas de aplicativos, todo dia tem um bilionário novo. Mas o Slim chegou aqui dizendo: “Presidente, um país como o Brasil precisa ter pelo menos de 25% do PIB de investimento, precisa crescer o investimento”. E é verdade. A gente não tem. Agora, a gente não tem por quê? A gente não tem porque, possivelmente, a gente não tenha feito a discussão necessária para a gente chegar a conclusão de ter. Aqui, no Governo Federal, é muito desagradável porque tudo que você faz é tratado como se fosse gasto. Tudo o que você faz. Não é possível. Ora, se eu tenho uma ponte e ela só cabe um carro pra ir e um carro pra vir, e eu quero aumentar essa ponte para fazer dois carros, três indo e vindo, essa ponte não pode ser considerada gasto. Ela vai aumentar o fluxo de veículos, vai aumentar o fluxo de carga, vai diminuir o tempo e vai gerar um dividendo para o país, um lucro para o país. Por que as pessoas acham que tudo que a gente faz é gasto?
E isso inibe a gente, porque a gente começa o nosso orçamento pensando o que você tem que deixar de reserva para pagar. É isso que acontece. A última coisa que a gente pensa é o que investir. Vai investir o que sobrar. E assim é muito difícil a gente imaginar que a gente vá chegar no lugar que a gente quer com muita rapidez, a gente vai precisar de muito mais inteligência, de muito mais criatividade, de transformar o pouco em muita coisa, que é o que está acontecendo. Quem é que imaginava que a gente fosse aprovar no primeiro ano de governo uma Reforma Tributária nesse país? Quem é que imaginava? Numa situação em que nós começamos governando antes de tomar posse, que foi a PEC da Transição, porque o outro não deixou nada nem para pagar as dívidas dele. Então, nós tivemos que fazer uma PEC da Transição. E isso permitiu que a gente conquistasse credibilidade no ano de 2023 para fazer o que está acontecendo, num país em que o partido do presidente só tem 70 deputados em 513.
Só tem 9 senadores em 81. Isso significa que o Alckmin tem que ser mais ágil, tem que conversar mais, o Haddad tem que, ao invés de ler um livro, ele tem que perder algumas horas conversando no Senado, na Câmara, o Wellington, o Rui Costa passa uma parte do tempo conversando. Conversa com bancada A, com bancada B. É difícil, mas a gente não pode reclamar porque a política é exatamente assim. Ou você faz assim ou não entra na política. “Ah, mas se o partido tivesse maioria seria tudo mais fácil”. Engano! O Sarney foi presidente desse país no momento em que o PMDB elegeu 23 governadores de estado e 306 constituintes. E a primeira coisa que fizeram foi tentar diminuir o mandato do Sarney de seis para cinco anos. Ele não tinha moleza, não, mesmo o partido dele sendo majoritariamente. Mas isso faz parte da política. E eu acho que a gente tem que gostar de fazer isso. Quem não gostar não entra na política. Quem não gostar não entra na política.
Agora, é importante vocês terem clareza que a política é a arte que permite a gente conviver na adversidade com as pessoas com quem a gente tem divergência. Nós vamos mandar essa Medida Provisória. Eu estou muito otimista. Mas essa Medida Provisória, quando chegar no Congresso Nacional, tem 513 deputados, nem todo mundo é obrigado a concordar com os nossos artigos. Tem pessoas que vão querer mudar. A gente vai xingar, a gente vai achar ruim? Não. A gente vai ter que colocar o governo para conversar e se for preciso de ajuda de vocês para ajudar a conversar com os deputados.
Porque senão a gente não aprova. E eu acho que sem crédito esse país não vai a lugar nenhum. Eu não quero nem falar mal de juros e outras coisas porque senão a manchete do jornal será essa e não o Programa Acredita. Então, como eu acredito no Acredita, eu vou ficar só no Acredita hoje para dizer para vocês: hoje, o que foi lançado aqui, você veja que ninguém falou mal de juro, ninguém falou mal, todo mundo sabe que tá difícil. Mas hoje aqui a gente tomou a seguinte decisão: a gente não vai ficar lamentando o que é difícil, o que a gente não controla. A gente vai fazer aquilo que a gente pode. Eu, quando tomei a ideia de fazer reservas de dólares nesse país, é porque eu tinha ido à Índia e, quando eu estava na Índia, a Índia tinha conseguido 100 bilhões de dólares de reserva. E eu voltei no avião pensando: “O dia que o Brasil tiver 100 bilhões de dólares de reserva a gente vai ser o máximo, a gente vai ser respeitado”. Porque era vergonha. O presidente do FMI não recebia presidente do Brasil.
O Malan, que era um homem respeitado, o Malan, coitado, passava horas em Washington sem ninguém recebê-lo. Era humilhante, um presidente de um país do tamanho do Brasil. E eu falei pro cara, quando eu chamei o cara aqui, que era um espanhol chamado Rato, o nome era muito sugestivo. Rato. Eu chamei o Rato aqui e falei: “Eu quero pagar a dívida do Brasil”. E ele dizia: “Não, Lula, a gente não precisa. O FMI não precisa de dinheiro, o FMI confia no Brasil”. Falei: “Mas eu quero pagar. Eu não quero ficar devendo. Minha mãe disse que a gente não pode dever senão a gente não anda de cabeça erguida. E eu quero andar de cabeça erguida”.
E pagamos os 300 milhões para ele. Ficamos livres, de cabeça erguida. E o que é importante, o Haddad sabe disso, que era ministro da Educação, na crise de 2008/2009, na quebradeira que teve no coração do capitalismo mundial, ou seja, nós terminamos emprestando 15 bilhões de dólares para o FMI. Nós deixamos de ser devedores para virarmos credores.
Então, quero dizer para vocês que esse programa que foi lançado hoje com o nome Acredita é efetivamente o início de um futuro promissor que esse país está anunciando ao seu povo. E eu quero alertar aos pessimistas: esse país vai crescer esse ano mais do que vocês falaram até agora. Os empregos vão ser gerados mais do que vocês imaginaram até agora. A massa salarial vai crescer mais do que vocês falaram até agora, porque é o seguinte: se vocês não acreditam, nós acreditamos no Acredita, acreditamos no Brasil e acreditamos no povo brasileiro.
Um abraço. Boa sorte e parabéns.