Pronunciamento do presidente Lula durante inauguração do Impa Tech no Rio de Janeiro
Eu quero, primeiro, cumprimentar a minha querida companheira Janja. Cumprimentar o nosso querido prefeito Eduardo Paes e a sua companheira, Cristine Paes. Quero cumprimentar os meus ministros que estão aqui, que eu não preciso repetir o nome deles, porque metade deles já falaram aqui. Quero cumprimentar os deputados federais, os secretários municipais, os companheiros da Finatec, da BDI, os secretários municipais, os deputados estaduais.
E queria dizer para vocês que hoje é um dia de agradecimento. É um dia de agradecimento porque, primeiro, ao Impa, porque, se não fosse o Impa, certamente nós não estaríamos aqui. Se não fosse um dia, que eu quero parabenizar uma professora chamada Suely Druck, que, em 2004, muitos de vocês não tinham nascido ainda, eu já era presidente da República, e eu recebo uma professora, com um grupo de alunos do Ceará e do Piauí, para me entregar, para me mostrar e me apresentar um grupo de alunos que tinham ganho medalha de ouro nas Olimpíadas da Matemática.
E o Brasil tinha por volta de 200 mil alunos que participavam das Olimpíadas da Matemática, todos de escola particular. E os estados que tinham mais gente, Eduardo, fazendo as Olimpíadas eram exatamente o estado do Ceará e o estado do Piauí, não era São Paulo, não era o Rio de Janeiro, não era Minas, não era o Rio Grande do Sul. Eram o Piauí e o estado do Ceará.
E eu fiquei entusiasmado com aquela professora que conseguiu me convencer que, embora, teoricamente, muita gente pensava que matemática era a matéria mais difícil na escola, ela me dizia: “Presidente, a hora que o aluno consegue desfiar o casulo, matemática passa a ser a matéria mais extraordinária para qualquer aluno do mundo inteiro. Vamos fazer uma Olimpíada da Matemática em escola pública?”. Eu falei: “Vamos fazer”.
Mas, aí, quando eu falei “vamos fazer”, aparecem sempre aqueles que não confiam no Brasil. Aparecem sempre aqueles que não acreditam no povo. Aparecem aqueles que duvidam que o pobre tenha a capacidade de participar das coisas. E eu ouvi centenas de argumentos que me diziam assim: “Presidente, aluno de escola pública não vai fazer Olimpíada da Matemática. Eles não têm interesse, eles não aprenderam”. Era muita, mas muita, muita coisa, muita baboseira, tentando me convencer que aluno de escola pública não queria fazer olimpíadas. E eu resolvi aceitar o desafio da professora Suely Druck, que, na época, era coordenadora do Impa e era responsável pela Olimpíada da Matemática. E fizemos a primeira inscrição em escola pública, em 2005. Em 2005, se apresentaram 10 milhões de estudantes.
Então, estava desmistificada a ideia de que as crianças de escola pública não iriam participar das olimpíadas. No segundo ano, era um ano eleitoral, não me deixaram colocar nem um papelzinho na porta da escola, porque dizia que era uso eleitoral. Nós não fizemos propaganda, mas, em 2006, se inscreveram 14 milhões de crianças, outra vez. Em 2007, se inscreveram 18 milhões de crianças. E, hoje, nós temos a maior Olimpíada da Matemática do mundo. Nem China, nem Rússia, nem Estados Unidos têm mais alunos do que nós fazendo Olimpíada da Matemática.
Essa é a coisa mais importante que eu aprendi. E a gente não teria chegado aqui se não fosse o Impa, se não fosse uma professora da qualidade da Suely. E a gente não estaria inaugurando uma Faculdade de Matemática se não fosse, outra vez, o Impa; se não fosse a boa vontade do Eduardo Paes; se não fosse os pais e as mães de vocês e se não fosse vocês. A gente não estaria aqui. Porque, na verdade, o que o governo faz é tentar abrir a porta, mas quem tem que atravessar a porta e seguir o caminho são vocês, com muita vontade, com muita disposição.
E eu sempre fico emocionado para justificar porquê que eu sou fanático por educação. Veja, vocês precisam saber: eu sou o único presidente da República que não tem o diploma universitário. E sou o presidente que mais fiz universidades na história desse país. E o presidente que mais fiz escolas técnicas na história desse país. Por uma simples razão: qual é a razão de eu ter uma certa obsessão pela educação? É que eu sou filho de uma mulher que teve oito filhos e eu fui o único dos oito filhos que tive um diploma primário e que fiz um curso técnico. E, por essa razão, eu acho que todo filho, da pessoa mais humilde, da pessoa de classe média baixa, tem direito de ter oportunidade de chegar a uma universidade e ter um diploma de doutor. Educação não é privilégio para rico, educação é um direito de todos. E educação não é gasto, é investimento. E o Estado precisa assumir responsabilidades.
Também, vocês não estariam aqui se não fosse a dedicação de muitas professoras e muitos professores que se dedicaram, que se empenharam, para incentivar vocês a chegar onde vocês chegaram. Vocês estão no segundo degrau de uma escada que ainda tem muitos degraus. O nosso papel é ajudar vocês a subir mais degrau, criar as condições para vocês subirem mais degrau.
Porque quem vai ganhar com isso não são vocês, individualmente, quem vai ganhar com isso é o orgulho do pai e da mãe de vocês, é o orgulho dos irmãos de vocês e é o orgulho desse país, que vai ter mão-de-obra altamente qualificada para disputar com o mundo, com qualquer país do mundo, qualidade, produtividade e, por que não dizer, evolução científica e tecnológica. É por isso que eu sou fanático por educação.
É por isso que nós criamos o Pé-de-Meia, não é admissível, não é admissível, que um presidente da República ou um governo do estado veja no jornal a matéria de que 480 mil crianças desistiram do ensino médio, porque tinham que ajudar no orçamento familiar, e o governo fique quieto. Porque, se essa criança parar de estudar, qual será o destino dela? Onde que ela vai se pegar? Qual é o controle que o pai e a mãe vão ter de uma criança que não estudou, que está em uma idade de adolescência, que tem 100% de energia para gastar, e que pode ir para a rua, pode ser vítima de violência, pode ser vítima de droga, pode ser vítima de uma bala perdida, pode ser vítima do crime organizado. Ou seja, então, a escola é, para nós, a garantia, não só para quem está estudando, mas para que o pai e a mãe saibam que os filhos deles estão sendo cuidados e que vão se tornar pessoas do bem para ajudar a construir uma nova família do bem.
Porque o momento que nós estamos vivendo é um momento delicado na história do Brasil. Eu tenho 78 anos e não conheci nenhum momento de negacionismo, de mentira, de ódio, de fake news, como a gente vive hoje. Então, se a gente não investir na educação, a gente está dando de graça para os negacionistas, para o crime organizado, os nossos jovens.
Então, eu disse para o Camilo, e é importante vocês saberem por que que o Camilo é meu ministro da Educação. O Camilo é meu ministro da Educação porque ele foi o governador do estado do Ceará, e o Ceará é o estado que tem a melhor qualidade de educação do ensino fundamental neste país, em todas as provas feitas. E, por isso, eu trouxe ele para cá. Para colocar, no Brasil, o mesmo amor, a mesma dedicação que ele teve no Ceará.
Eu, que já tive um ministro que foi o melhor ministro da Educação do país, Fernando Haddad, de 2005 a 2010. E eu falei para o Camilo: “O desafio do Camilo é ser melhor do que o Fernando Haddad, fazer mais universidade, fazer mais escola técnica, fazer mais Pronatec, fazer mais tudo que for de educação, nós temos que fazer”. Tudo.
Eu digo sempre que as pessoas falam: “Ah, mas o Lula está fazendo a mesma coisa, ele já fez”. Quando eu cheguei na presidência, em 100 anos, de 1909 a 2003, esse país só tinha 140 escolas técnicas. Em 100 anos. Hoje, nós vamos completar, com as 100 que nós aprovamos, 782 escolas técnicas. E eu disse para o Camilo: “Trabalhe, porque a gente pode fazer que nem o Pelé: marcar 1.000 gols, marcando 1.000 escolas técnicas nesse país, para garantir que a gente saia do atraso a que a gente está submetido”.
Não é motivo de orgulho que um país do tamanho do Brasil tenha menos estudantes na universidade, proporcionalmente, do que o Chile. Não é motivo de orgulho que o nosso país tenha, proporcionalmente, menos estudantes nas universidades do que a Argentina. Não é motivo de orgulho a gente saber que a Argentina, em 1918, já tinha feito a sua primeira reforma universitária e que o Brasil não tinha a sua primeira universidade.
Vocês, jovens, têm que saber: o Brasil não foi apenas o último país a mulher conquistar o direito de voto, o último país a libertar os escravos, o último país a abolir a independência. O nosso país foi o último país a ter uma universidade. Só foi criada em 1920. E foi criada porque o rei da Bélgica vinha para o Brasil e, naquele tempo, o rei tinha que receber um título de doutor honoris causa. E, aí, fizeram a universidade para dar um título ao rei, não foi por causa dos alunos.
Então, nós estamos atrasados. Porque, durante muitas décadas e muitos séculos, a elite que dirigia esse país não imaginava filho de pobre, filho de classe média, estudar. Quem estudava era quem podia mandar seu filho para Paris, para Londres, para Madri, para Harvard. E nós queremos que nossos jovens estudem aqui, sejam mestres aqui, sejam doutores aqui, sejam seniors aqui. Porque o Brasil, definitivamente, quer deixar de ser um país pobre ou em vias de desenvolvimento. Nós seremos do tamanho da nossa capacidade de governar, nós seremos do tamanho do nosso sonho. Por isso que a gente não pode sonhar pequeno. Quando a gente sonha pequeno, a gente acorda e esquece do sonho. Mas quando a gente sonha grande, a gente acorda e vai torná-lo realidade.
Eu vou dizer uma coisa pra você. Tem gente que fala assim: “Ah, mas o Lula está fazendo o mesmo”. Quisera Deus que eu tenha saúde para fazer o mesmo: mais escola de qualidade, mais escola de tempo integral, mais Pé-de-Meia, mais escola técnica, mais ciência e tecnologia. E eu lembro que quando a gente faz as coisas bonitas, a gente não esquece. Vocês, jovens, que vão morar no hotel até ficar pronto os apartamentos aqui, vai ser chique para caramba. Muito chique, sabe? Vocês sabem que o gol mais bonito do futebol é o gol de bicicleta. O gol de bicicleta nunca fica feio. Em qualquer época que marque um gol de bicicleta, ele é o mais bonito do jogo.
Pois bem, meu caro prefeito.
Leônidas da Silva, em 1932, jogando pelo Bom Sucesso, do Rio de Janeiro, marcou o primeiro gol de bicicleta que se tem notícia no futebol. Em 1938, na Copa do Mundo da França, ele repetiu a façanha: marcou um outro gol de bicicleta. E a bicicleta passou a ser o gol sempre mais importante. Por isso, Camilo; por isso, meu companheiro Marcelo; por isso, prefeito; hoje nós estamos marcando um gol de bicicleta no Rio de Janeiro, criando a Faculdade de Matemática. E que isso sirva de exemplo para o mundo inteiro. O mundo não precisa de mentiras, o mundo precisa de educação. O mundo precisa de engenheiros, o mundo precisa de matemática, o mundo precisa de médicos, o mundo precisa de filósofos, de psicólogos, de enfermeiros, de advogados. O mundo não precisa de bandido.
Por isso, eu quero terminar olhando para a cara de vocês e dizer: acreditem. O meu sonho é fazer com que vocês vivam em um país muito melhor do que aquele que eu recebi dos meus pais. E eu tenho certeza que nós vamos conseguir.
Que Deus abençoe todos os nossos novos matemáticos. Que Deus abençoe os pais e as mães. E que Deus abençoe os nossos convidados.
Um beijo no coração!
Dizem que tem um monte de criança que chegou agora. Venha cá, prefeito, venha cá, rapaz. Aqui o prefeito.
Um abraço, gente.