Pronunciamento do presidente Lula durante cerimônia de inauguração da planta de produção de insulina da Biomm
Primeiro, eu queria dizer para vocês que a minha vinda a Nova Lima (MG) para inaugurar essa extraordinária nova empresa brasileira, ela é mais do que inaugurar uma fábrica, é fortalecer uma relação com a família Mares Guia. Primeiro Mares Guia que eu conheci na vida foi o João Batista, que está aqui na frente. Uma das figuras mais inteligentes que eu conheci na política. Ele era tão inteligente que ele terminou não cabendo no PT. Teve uma divergência interna, perdeu uma convenção no PT, eu estive na convenção à noite e fomos fazer uma reunião para tentar demovê-lo porque ele tinha perdido a convenção e ele, contra a minha vontade, saiu do PT. Mas um dia ele vai voltar. O bom filho à casa retorna.
E eu não conhecia o companheiro Walfrido, eu precisava, eu tinha sido eleito presidente da República e eu queria montar o ministério mais amplo possível. E eu queria pessoas de bem e me falaram: “olha, tem um rapaz do PTB, que já foi secretário da Educação em Minas Gerais, já foi deputado federal, seria importante você conversar com ele”. E eu fui conversar com o Walfrido e, na época, o Walfrido me contou uma história que eu vou contar aqui para vocês.
Tinha um processo aqui em Minas Gerais de uma acusação de agressão física a uma senhora, a uma mulher. Sabe? E o Walfrido estava muito deprimido e falou: “presidente, eu não posso aceitar, porque tem uma denúncia que envolve o meu nome lá, uma coisa que eu nem conheço e se eu aceitar esse seu cargo, as pessoas vão para a imprensa e vão massacrar e eu amo a minha Sheila. Eu não quero causar problema dentro de casa, tudo”. Eu falei: Walfrido, você fez o que estão dizendo que você fez? Ele falou “não”, eu falei: então, assuma a responsabilidade. Venha para o governo e vamos brigar para defender a sua inocência e a sua honra.
E assim ele fez, e foi para o governo e foi uma das pessoas mais extraordinárias que eu conheci. Eu, às vezes, fico pensando que o Brasil não deveria falar de Inteligência Artificial, porque quando você vê o Walfrido falar, você fica pensando “por que um país que tem uma inteligência dessa precisa de Inteligência Artificial? Por quê? Por que a gente não valoriza a inteligência humana, sabe?” E depois, é o seguinte: quando eu conheci o Walfrido, eu não gostava de banqueiro. E, aí, eu conheci o Zé Luiz (José Luiz Mares Guia) na casa do Walfrido.
Eu falei: banqueiro não é tão ruim assim, não. E quando fui me despedir, ganhei da esposa do Zé Luiz uma cachorra maravilhosa que viveu comigo e viveu com a Dilma também. E depois, cada vez que eu ouço a história do Walfrido, do irmão mais velho dele, eu fico imaginando que família privilegiada o pai e a mãe do Walfrido criaram. Inclusive o Thiago, filho do João Batista Mares Guia, que muitas vezes teve que ceder a cama dele para eu dormir quando a gente estava construindo o Partido dos Trabalhadores.
Então, Walfrido, eu deixei meu discurso de lado, porque depois da tua fala, eu vou te explicar porque que eu pedi para você falar. A gente não ama quem a gente não conhece. É mentira você dizer que você ama uma coisa que você não conhece. Porque é o conhecimento, é a relação que faz você gostar ou não gostar de uma coisa. E quando o Walfrido me fala da Biomm, ele me fala isso desde que ele entrou no governo. Ele tinha uma obsessão de criar essa fábrica. E quando ele foi me convidar, e ele falou, eu falei: Walfrido é o seguinte, você tem que contar essa história. Para que as pessoas que estejam lá, os jornalistas que estejam cobrindo, não tratem esse encontro aqui como apenas a inauguração de uma fábrica de produção de insulina, isso aqui é a consolidação de um sonho, de uma vida de amor e de crença de um ser humano e de vários seres humanos.
É muito mais do que uma fábrica. E sabe quem vai te agradecer para o resto da vida? A minha bisneta, que tem 7 anos de idade e tem diabetes 1. Ela vive com aparelho no ombro, com o celular. Cada coisa que ela come, ela tem que controlar. E o que é fantástico é que ela pede para a mãe e para o pai aplicar a insulina nela. Ela já não tem mais medo, já faz parte da vida dela.
Então eu acho, se ela estiver acompanhando, não sei se você sabe o que você falou aqui, foi transmitida ao vivo pela rede do Stuckert (Ricardo Stuckert) ou pela rede do PT. Então ela deve estar assistindo. Então eu quero que a minha bisneta, a Ana Lua, saiba que essa figura simpática aqui vai te dar tranquilidade para você viver mais do que eu e mais do que ele está vivendo, porque a vida precisa que os bons vivam muito e que os maus descansem logo.
É assim que a vida é. Então, na verdade, quem deveria estar falando aqui era o companheiro Fernando Haddad (ministro da Fazenda). Porque vocês sabem que eu sou tido como um cara de sorte. Toda vez que eu ganho umas eleições, as pessoas falam: “ah! Está dando certo porque o Lula tem sorte. Está dando certo porque o Lula tem sorte”. É muito preconceito não admitir que não é sorte. Porque se eu tivesse a sorte que eles pensam que tem, eu ganhava na loteria. Nunca joguei, nunca joguei porque eu acho que eu não tenho sorte para jogar.
Agora, eu acredito nas coisas que eu faço. Eu tenho um sonho. E eu acredito que o ser humano pode fazer tudo que ele quer. Tudo. Basta que ele tenha determinação e não fraqueje diante de nenhum obstáculo. É assim que eu aprendi a viver com uma mãe que criou 8 filhos. Eu fui o primeiro a ter um diploma primário, fui o único a ter um curso técnico, fui o primeiro a ter uma casa, a ter uma televisão, a ter um carro, e fui o único a ser presidente da República, porque não cabia dois irmãos na presidência da República, era um só.
E eu acho, eu acho que, eu vou dizer para vocês aqui com muita sinceridade: ser presidente da República não é difícil, é só você fazer o óbvio, aquilo que você diz que você sabe fazer antes da campanha, aquilo que você diz que vai fazer quando você está em campanha, você só tem que colocar em prática.
Quando o François Hollande, o presidente da França ganhou as eleições, ele veio ao Brasil a convite da Dilma e pediu uma audiência comigo, e eu era amigo dele porque ele foi secretário-geral do Partido Socialista Francês. E ele falou assim para mim: “presidente Lula, como é que o senhor deu certo na presidência do Brasil? O que eu tenho que fazer na França?” Eu falei: olha, pegue o seu discurso, pregue na cabeceira da sua cama, e todo dia quando você levantar, antes de sair para trabalhar, leia o que você prometeu, leia o que você falou, leia o que você disse que ia fazer e faça. Se você fizer isso, você vai ter um governo de sucesso.
Eu voltei a governar o Brasil com a determinação de provar àqueles que por alguns momentos não gostam mais de democracia, que preferem a mentira, que preferem o ódio, que preferem a provocação. Eu quero provar para eles que um país construído à base da verdade, à base do amor, à base da fraternidade, da democracia e da solidariedade é um país muito melhor do que um país criado na base do ódio, do que um país criado na arte da desavença. E este país está sendo criado.
Eu estou distribuindo agora, Haddad, eu nem te falei isso, eu mandei preparar tudo que nós fizemos em 14 meses e vou distribuir para cada deputado na Câmara dos Deputados e para cada senador. Todos eles vão receber. Quem é do governo, quem não é do governo, quem fala mal, quem fala bem, todos eles. E eles têm que saber o seguinte: eles podem continuar acreditando no que eles quiserem, mas eles têm obrigação de saber o que está acontecendo no país deles.
E vou terminar dizendo, Walfrido, que essa tua fábrica seja possivelmente a primeira de uma série de empreendimentos que a gente tem que fazer, porque o Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que tem uma coisa extraordinária como o SUS. É o único país do mundo com mais de 100 milhões habitantes que tem o SUS, que tem um poder de dar escala a qualquer empreendimento na área da Saúde.
E, por isso, eu estou aqui, para dizer para vocês que não tem volta. Essa semana, o Haddad me apresentou uma proposta econômica. Nós já tínhamos criado uma coisa chamada Desenrola. Eu falei para o Haddad: se o Desenrola tiver certo, o pessoal que discuta o prêmio Nobel da Economia vai ter que dar para a tua equipe. Porque o Desenrola, nós fizemos a campanha sabendo que tinha 72 milhões de famílias brasileiras devendo. Vocês cansaram de ouvir candidato falar isso. A primeira coisa que nós falamos é o seguinte: se tem 72 milhões devendo, significa que nós não vamos ter consumidor no país. Se não tem consumidor, não tem produção. Se não tem produção, não tem emprego. Se não tem emprego, não tem salário. É o fim do mundo. Vai ter só a Bolsa Família que vai sustentar as pessoas e cada vez vai ter menos dinheiro porque a gente arrecadaria menos se não tivesse emprego. E foi feito o Desenrola.
Ou seja, para que a gente desse às pessoas a oportunidade de negociar sua dívida com desconto até de 90%. Nós já temos mais ou menos 15 milhões de pessoas que fizeram negociação e vão continuar fazendo.
Depois, nós descobrimos que 1 milhão e 280 mil jovens que estavam no Fies, que estavam devendo o Fies, sabe, estavam também no Serasa. Então, o que nós fizemos? Vamos fazer um Desenrola para o Fies. Todos os estudantes que estavam devendo podem procurar a Caixa Econômica e o Banco do Brasil e negociar sua dívida. Vão pagar 15% ou 20% daquilo que deve e legaliza a sua vida e pode andar de cabeça erguida. Pode andar de cabeça erguida neste país. Mas o mais importante, o mais importante é que na semana passada, Walfrido, nós lançamos a mais importante política de crédito da história desse país.
Eu posso dizer uma coisa que você ouviu dizer muitas vezes: nunca antes na história do Brasil se ofereceu a oportunidade de crédito que nós estamos oferecendo, tem crédito para o catador de material reciclável, tem crédito para a pequena produtora rural, tem crédito para pequena artesã, tem crédito para habitação para as pessoas que estão acima do Cadúnico podem financiar a casa, porque foi criado um sistema no mercado secundário para que a Emgea, inclusive está aqui o (Fernando) Pimentel, que é o responsável, vai ter que financiar a casa para a classe média brasileira, para a classe média que ganha 8, 9, 10 salários mínimos, que quer comprar uma casinha não de 40 metros, de 80, de 90, que quer uma varandinha, vai ter financiamento.
E a novidade é que foi criada uma coisa chamada hedge cambial. Ou seja, nós vamos dar garantia às pessoas que querem fazer investimento estrangeiro no Brasil de que eles não vão perder com a oscilação do câmbio. Isso, se tiver um outro prêmio de economia e esse plano der certo, Haddad, você também vai ganhar junto com a sua equipe o prêmio Nobel da economia. Então, quem discute o prêmio Nobel da economia já está devendo dois prêmios para você. Você não foi indicado ainda, mas quem sabe eles indicam um dia, porque o seguinte: esse país vai dar certo. Não há como, eu disse para o Haddad: Haddad, mesmo que a gente errar, mesmo que a gente errar, o Brasil vai dar certo.
Se vocês tivessem noção do que significou para esse país, Walfrido, a nossa volta à presidência do país, se você tivesse notado, nós herdamos um país em que tinha sido utilizado R$ 300 bilhões. Eu vou repetir: tinha sido utilizado entre desoneração, isenção fiscal e distribuição de dinheiro R$ 300 bilhões para que nós não ganhássemos as eleições, e nós ganhamos as eleições, e tivemos que recuperar a economia deste país. E a nossa obrigação é recuperar.
Mas eu não quero recuperar, e muito menos a minha equipe, um Brasil para os mesmos. Não dá para os países crescerem e os mesmos que já vivem bem, porque tem uma turma aqui que não precisa do governo. Vamos ser francos. Tem uma parte da sociedade que se o governo não encher o saco, está tudo bem. Mas tem uma parte que, sem o Estado, ela não funciona.
E o papel do Estado é tentar alavancar as oportunidades que as pessoas precisam. Um país soberano precisa de uma indústria nacional forte. Um país soberano precisa, sobretudo, na área da saúde. A gente tem que produzir aquilo que falta para esse país.
Tem muita gente, Minas Gerais, por exemplo, perdeu Henfil, perdeu Bertinho, porque eles tinham hemofilia e a gente não produzia remédio para a hemofilia. Graças a Deus inauguramos em Pernambuco, na cidade de Goiana, uma fábrica da Hemobrás e aí o Bertinho não morreria mais e nem o Henfil porque a gente estava produzindo aqui. Então as pessoas que amputam uma perna, um braço por causa da diabetes, não vão precisar mais, porque a Biomm vai estar no mercado oferecendo ao nosso SUS a um preço acessível, para que a gente possa distribuir de graça aos brasileiros que sofrem de diabetes. Esse é um fato extraordinário.
Então, Walfrido, vem aqui. Eu quero que você saiba o seguinte: mãe, a gente não escolhe porque a mãe cuida da gente, a gente nasce. Pai, a gente também não escolhe. Irmão, a gente também não escolhe. Irmão, a gente tem o que a mãe da gente pôs no mundo. Agora, companheiro, a gente escolhe. Os amigos, a gente escolhe. E eu quero que você saiba que você é um... Eu quero que você saiba que você é para mim mais do que um irmão. Você é um companheiro daquele que eu me arrependo de só ter conhecido você depois dos 50 anos de idade.
Se eu tivesse conhecido um pouquinho mais cedo, quem sabe eu aprendesse um pouquinho com a sua inteligência. E pudesse ajudar a criar uma outra Biomm. Gente, do fundo do coração, parabéns. Parabéns, Walfrido. Parabéns aos teus acionistas, parabéns aos teus diretores e parabéns à Nova Lima, que não é mais uma empresa vista agora só pela retirada de minério, ela agora é pela produção de vida do povo brasileiro.
Um beijo no coração.