Pronunciamento do presidente Lula durante cerimônia de inauguração da nova sede da Anfavea
Bem, quero começar a minha fala cumprimentando o companheiro Geraldo Alckmin, que foi, na verdade, o primeiro acerto da campanha que nós fizemos na disputa presidencial foi escolher o Alckmin como vice, porque o Alckmin, ele não apenas é vice, não apenas é ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, ele é um companheiro agregador e um companheiro que está com a cabeça 100% aberta para discutir com os empresários, para discutir inovação, para discutir exportação.
Portanto, o Alckmin sabe do carinho que eu tenho e dos agradecimentos que eu tenho por conta de ele ter aceito ser candidato a vice-presidente da República, porque não era fácil. Certamente, na cabeça de vocês, ninguém imaginava que o Lula ia chamar para ser candidato a vice um cidadão que tinha disputado com ele em 2006 e que pertencia a um partido que éramos adversários. E adversários, que saudade que eu tenho quando a política, ela ficava na disputa entre o PT e o PSDB. Como era democrático esse país, como a gente era civilizado e a gente nem sabia. Agora que a gente está descobrindo como é bom ser civilizado, como é bom ser democrático e como é bom gostar de conversa, sabe, com os diferentes.
Quero agradecer a presença aqui do companheiro Ricardo Lewandowski, que aqui ninguém está precisando da ajuda dele, porque ninguém cometeu nenhum delito agora. Mas ele veio aqui depois de uma caçada de dois meses em Mossoró. Finalmente, a gente estava procurando os bandidos de Mossoró, e eles já estavam no Pará, já tinham ido de barco. Não sei se num transatlântico ou num barco qualquer, mas chegaram lá.
Quero agradecer ao Fernando Haddad, que normalmente, sabe, vem mais cedo para cá, e eu não sabia nem que ele ia participar desse evento aqui. Mas o Haddad é uma daquelas pessoas que faz a diferença no nosso governo, porque o Haddad tem muita paciência. Eu nunca conheci um ministro da Fazenda que tivesse tanta disposição para conversar com o Senado e com a Câmara como o Haddad. E conversa até meia-noite, duas horas da manhã, três horas da manhã.
Porque, se a gente não conversar e se a gente não tiver paciência para enfrentar as diferenças, a gente não consegue governar o país. Fazer uma Reforma Tributária num regime democrático, quando o partido do presidente que governa o país só tem 70 deputados num Congresso de 513, quando nós todos juntos temos pouco mais de 12 senadores num Congresso de 81 senadores, vocês vão descobrir que é um verdadeiro milagre. E eu quero aqui, publicamente, dizer que o Haddad merece uma homenagem pela paciência, pela perseverança e pela crença que ele tem de que nós vamos aprovar essa política tributária.
Quero agradecer o companheiro Padilha. O Padilha está no cargo que parece ser o melhor do mundo nos primeiros seis meses, e depois começa a ser um cargo muito difícil. Porque, nos primeiros seis meses, é como casamento. Nos primeiros meses de casamento é tudo maravilhoso; a gente não sabe os defeitos da companheira, ela não sabe os defeitos da gente, a gente ainda está se descobrindo.
A gente promete coisas que a gente não vai fazer; ela também promete o que não vai fazer. Então, o que acontece é que chega um momento que começa a cobrar, e o Padilha está na fase da cobrança. E na fase da cobrança, eu dizia para o José Múcio, que foi meu ministro no lugar do Padilha, o Walfrido dos Mares Guias, o Jacques Wagner, o Tarso Genro, eu dizia o seguinte: esse é o tipo do ministério que a gente troca a cada seis meses, para que o novo faça novas promessas. Mas só de teimosia, o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério, porque não tem ninguém melhor preparado para lidar com a adversidade dentro do Congresso Nacional que o companheiro Padilha.
E a gente deixa de ser unanimidade quando a gente começa a ter divergência com outros companheiros. Mas isso é assim, a vida é assim, e eu quero então, Padilha, dizer, do meu reconhecimento pelo trabalho que você faz, que é um trabalho muito difícil, muito. Se tem alguém que vai fazer reunião à noite, de sábado, de domingo, de segunda, dia de finados, dia de sexta-feira santa, é o companheiro Padilha, os líderes dos partidos e os líderes dos partidos aliados do governo. Portanto, meu querido, meus parabéns pela dedicação.
Bem, quero dizer ao companheiro Moisés: o Moisés é uma figura muito especial. Eu acho que o Moisés é uma das boas coisas que aconteceram no movimento sindical. Para quem não sabe, o movimento sindical tem no sindicato de São Bernardo, possivelmente, o sindicato mais atuante e mais vivo neste país. Porque o nosso sindicato já nasceu grande
O nosso sindicato pertencia ao sindicato de Santo André, era um sindicato só. E aí, os metalúrgicos descobriram que a indústria automobilística estava toda em São Bernardo. Então, não tinha que estar ligada a outra cidade. E resolveram criar o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo em 1959, nove anos depois da chegada da indústria automobilística no Brasil. E o sindicato de São Bernardo passou a ser um dos mais importantes sindicatos do Brasil. Não apenas para lutar, para reivindicar, para fazer greve, mas também para negociar.
A capacidade de negociação que esses trabalhadores de São Bernardo têm é uma coisa invejável. E a forma de organização deles, eu não tenho dúvidas, é a melhor do mundo. Vocês sabem que o jeito que eles fizeram a eleição, nunca mais ninguém vai ganhar as eleições de vocês lá dentro. Porque em São Bernardo do Campo, o cara só pode ser diretor do sindicato, se ele for eleito no chão da fábrica, nas seções da fábrica. Se ele não passar pela fábrica, ele não será eleito a nada.
Mesmo o presidente da CUT, que hoje é o presidente da CUT e é da Mercedes-Benz, se ele quiser continuar no sindicato, ele tem que votar no chão da fábrica, no setor em que ele trabalhava, e o povo tem que votar nele. Se não votar, ele está fora, rindo ou chorando. Portanto, é um sistema democrático e é uma pena que ele não esteja mais no sindicato para usufruir dessa inteligência organizacional de vocês.
Quero dizer ao companheiro Márcio – chamá-lo de companheiro Márcio – porque eu acho que o papel do presidente da Anfavea é um papel extremamente importante. Eu, na verdade, tenho parte da minha vida junto com a Anfavea, tanto nos momentos bons quanto nos momentos difíceis.
Aqui, em 1978, depois que a gente fez o acordo na Scania, depois da primeira greve desde o golpe militar de 64, nós fizemos a primeira greve em junho de 78, e eu consegui fazer um acordo com o (inaudível) na Scania. E quando eu fui na fábrica, fizemos uma grande assembleia com a presença da direção da empresa, propus o acordo e todo mundo aprovou.
Quando eu virei as costas e fui embora, a Anfavea ligou para a Scania e disse que ela não concordava com o acordo que a Scania tinha feito, porque a Scania não poderia ter feito o acordo sozinha. E os trabalhadores ficaram muito nervosos, acharam que eu tinha traído eles, e nós levamos mais de um ano para recuperar a confiança dos trabalhadores. Mais de um ano, porque os trabalhadores voltaram a trabalhar e a Scania teve uma atitude muito repressiva para que os trabalhadores não voltassem a fazer greve
Foi um momento... O meu primeiro contato com a Anfavea foi negacionista. A Anfavea não permitiu que a gente fizesse um acordo importante. Mas depois disso, a Anfavea participou de quase tudo que a gente fez nesse país. Eu convivi muito, tenho orgulho de ter participado de muitas discussões, em bons ou maus momentos, horas e horas, dias e dias de negociações, e os mais gloriosos foram os de 1979 e 1980. Mas depois de mim veio o Meneguelli, veio o Vicentinho, veio o Guiba, veio o Feijó, e todos eles passaram a ter uma relação muito extraordinária com o setor automobilístico, porque vocês representavam 23% do PIB industrial brasileiro.
Não era pouca coisa para um país o que representava a indústria automobilística brasileira, e é por isso que a gente tem um carinho especial por todos os setores, sabe, que crescem e que geram emprego e geram oportunidade.
Hoje, eu vim de Campo Grande. Fui inaugurar um frigorífico que está pronto para vender carne para a China desde 2018. Em 2018, os chineses foram lá, aprovaram o frigorífico, mas o primeiro quilo de carne exportado para a China foi hoje, desse frigorífico. Eu tive o prazer de ir lá inaugurar, comer o que vai ser exportado, experimentar o tipo de carne e posso dizer que vai ser uma coisa extraordinária. Porque eu fico muito feliz de que o Brasil seja o maior exportador de proteína animal do planeta Terra e que seja uma empresa brasileira a maior de todas elas.
Então, eu, como cidadão brasileiro, como presidente da República, fico muito otimista. Porque o que interessa para um presidente da República é que o país vá bem. Eu dizia, durante a minha vida inteira, que a primeira coisa que a gente tem que conquistar é credibilidade. Se eu tiver credibilidade com você e você tiver credibilidade comigo, a chance das coisas darem certo é muito grande.
Se o Haddad vai negociar política tributária dentro do Congresso Nacional e ele não passa credibilidade na proposta e não recebe credibilidade dos interlocutores, as coisas não vão dar certo. Então, a palavra credibilidade entre nós humanos é muito importante, ela é crucial.
A segunda coisa é o problema da estabilidade. A gente que acha que o sindicato tem que ser fraco, que o sindicato não tem que ter força, que o sindicato tem que ficar, sabe, pedindo esmola, não. No mundo democrático e no mundo civilizado, quanto mais forte é o setor econômico, mais forte é o sindicato. E quanto mais forte for o sindicato e for o setor econômico, mais chance de sentar numa mesa e negociar eles têm, e mais chance de fazer um acordo que seja produtivo para ambas as partes é quase que total.
E quando a gente faz um acordo, aquela política de ganha-ganha, ninguém perde. Ganha o empresário porque fez um bom acordo, deixou o trabalhador feliz, e o trabalhador feliz vai produzir um pouco mais, e ganha o país porque vai aumentar a produtividade. Ganha o empresário porque vai exportar, porque vai melhorar a qualidade. Então, é só a gente entender que tem coisas simples que nós precisamos compreender
Você tem que ter essa estabilidade também, sabe, jurídica. Se você não tiver segurança jurídica, você vai fazer o quê? Eu estou muito feliz, Márcio, porque eu confesso a você que eu duvido que nessa sala aqui, que na USP, que na Unicamp, na Universidade Federal de São Bernardo, ou lá no Vaticano, tivesse alguém que, há dois anos atrás, imaginava que a indústria automobilística iria anunciar a decisão que está anunciando de ter R$ 125 bilhões de investimento até 2032.
Aconteceu alguma coisa. Aconteceu alguma coisa. E essa coisa chama-se, sabe, que a indústria passou a ter confiança no Brasil, passou a acreditar no Brasil, passou a ter segurança jurídica, passou a ter estabilidade econômica, passou a ter estabilidade social, porque é tudo o que interessa para quem quer investir, para quem quer trabalhar, sabe? Eu tenho certeza que você vai ter uma convivência com o Moisés da mais alta performance, porque, sabe, o Moisés é sincero, é honesto, e ele vai dizer sim quando precisar dizer sim, vai dizer não quando precisar dizer não, com a mesma fineza, e você tem que utilizar com ele a mesma coisa
Agora, vocês precisam dar um pouco de retorno àquilo que nós passamos para vocês. Ninguém acreditava que fosse possível fazer uma Reforma Tributária em um Congresso adverso, e nós fizemos, porque esquecemos a diversidade do Congresso e passamos a construir uma relação civilizada e democrática.
O que que eu quero pedir para vocês em contrapartida? É pouco. Retomem o Salão do Automóvel. Não é possível que um país do tamanho do Brasil... Eu vejo o Salão do Automóvel está para o povo brasileiro como a corrida de carro estava quando o Ayrton Senna era vivo. Quando o Ayrton Senna entrava numa pista para correr, todo mundo ligava a televisão para ver. Quando ele perdeu, ninguém dá mais muita bola para a corrida automobilística aqui no Brasil.
Ô, gente, vocês têm noção da importância do Salão do Automóvel para as pessoas? Vocês têm noção do que a gente pode atrair de visitantes, inclusive de países que nós queremos exportar para eles, para virem ver uma feira, para verem as novidades tecnológicas. Sabe, eu adorava ir na feira, não tinha muita, porque não me davam tempo. E naquele tempo também não tinha celular, e a gente não ficava fazendo selfies como a gente faz hoje.
Mas subir num carro, ver a inovação tecnológica do carro, ver a inovação tecnológica de um caminhão, de um ônibus, é muito importante. Sabe, que o ministro da Indústria e do Comércio convide muita gente para ir lá ver. Convide ministros da Indústria e do Comércio de outros países. Sabe, isso chama-se fazer negócio. E quem quer vender precisa oferecer, quem quer vender precisa mostrar.
Uma vez inventaram aqui, Alckmin, uma vez inventaram aqui um tal de um carro verde. A Toyota, que eu acho que está aqui, a Toyota, na época era com a Odebrecht, era um carro verde. Eu andei com esse carro verde uns dois anos. Em cada país que eu chegava, eu andava com um carro verde. Ele era branco, que era feito de plástico, mas eu mandei pintar de verde para o pessoal saber que era verde, sabe.
E o meu carro verde não saiu, que era um carro feito de produtos petroquímicos feito do etanol e não do petróleo. E o Brasil fez essa revolução, que eu tenho muito orgulho de dizer, mas que o Brasil viveu o seu melhor momento da indústria automobilística quando eu era presidente da República desse país.
Primeiro, porque eu tinha uma crença, sabe, a indústria automobilística, para ser grande, quando ela se implanta aqui, obviamente que a gente quer que ela exporte, mas ela não pode exportar para todo lugar porque a matriz também quer exportar. Mas tem mercado que a gente pode ganhar, tem mercado que a gente pode competir, e tem uma coisa interna que é o nosso mercado interno.
Nós temos que ter consciência que precisamos produzir os carros, que possa ser consumido pelo trabalhador. E um dos papéis, uma das tarefas do Estado, sabe, do Haddad, como ministro da Fazenda, do Alckmin, como ministro da Indústria e Comércio, do Lewandowski, do Padilha, meu, é fazer com que o trabalhador possa ganhar um pouco mais para poder comprar um carro, é fazer com que a taxa de juros seja menor para que o trabalhador possa pagar menos, que a indústria automobilística possa vender mais, vendendo mais vai ter mais carros, vai ter mais compra de carros.
Ou seja, é uma coisa tão simples de fazer. Eu não consigo entender, porque quando eu deixei a presidência, a última conversa que eu tive com a Anfavea era que a gente ia, em 2015, estar produzindo 6 milhões de carros. Eu estou em 2025 e nós estamos produzindo quase metade daquilo que a gente produzia em 2010.
Quem errou? Quem errou? Foi vocês que desconfiaram do Brasil? Ou foi o Brasil que deixou de fazer aquilo que deveria ser feito? Nós não fizemos inovação política, inovação de comportamento? Alguém errou. Porque não tem explicação a gente estar hoje produzindo, sabe, apenas... produzia até outro dia um milhão e oitocentos, agora chegou a dois milhões e trezentos.
E veja, Moisés, tudo que você falou no seu discurso, nós já tivemos. Significa que nós andamos para trás. E é preciso a gente andar para frente, sem olhar para trás. E a gente dizer o que a gente quer construir. E eu quero dizer para vocês, nessa inauguração dessa sede da Anfavea, que se depender da minha presidência, se depender do meu ministro da Fazenda, se depender do meu ministro da Indústria e Comércio, vocês podem ficar tranquilos, porque nós temos um compromisso.
Nós temos um compromisso com tecnologia nova, com inovação, com geração de emprego, com aumento da massa salarial; portanto, com a venda de mais produtos, com a venda de mais exportação, porque nós precisamos aprender a ser grande e ir lá fora vender os nossos produtos.
Eu fico imaginando como é que os países vizinhos do Brasil compram carro de doze mil quilômetros de distância, quando a gente está aqui, eles poderiam ter uma participação na produção de alguma coisa. Falta conversar, Alckmin. Você já arrumou muita coisa aqui dentro. Agora, se prepare, porque esse ano é o ano da viagem. Esse ano é o ano da gente viajar.
Eu estou indo para a Colômbia terça-feira. Já disse o Alckmin: eu quero muitos empresários para que a gente faça uma reunião para discutir uma nova relação. Dizem que o México tem 49 acordos internacionais, e que nós temos só 10. Então não é possível
Ele não está errado por ter muito; nós estamos errados por ter pouco. Então, nós temos que ver onde é que a gente está errando, para que a gente abra de vez a chance desse país. Não é voltar a ser sexta a produção de carro do mundo; é voltar a ser a sexta economia do mundo que nós já fomos. É gerar sonho na cabeça do nosso povo e se transformar num país de classe média.
A gente não quer um país de gente que só ganha salário mínimo. A gente não quer um país de gente que viva do Bolsa Família. A gente não quer um país de pessoas que não têm informação e que estão com medo de se transformar inúteis com essa revolução digital. A gente quer um país em que as pessoas possam se transformar em cidadãos de classe média, do ponto de vista intelectual, do ponto de vista da formação profissional e do ponto de vista salarial.
Nós acabamos de aprovar uma lei no Congresso Nacional que mulher e homem, se exercer a mesma função, vão ter trabalho igual. Nem todo mundo concorda com a nossa lei, porque tem gente que ainda acha que a mulher tem que ganhar menos. Ou seja, no século XXI, gente, não é possível que as pessoas não amadureçam.
Então esse é o compromisso, Márcio, que a gente vai ter de trabalhar junto. Da nossa parte, da parte do governo, não faltará dedicação, apoio, fazer o que precisar ser feito no Congresso Nacional e vocês podem ajudar. Agora, na reforma tributária, cada um de vocês conhece lá, três deputados, quatro deputados, cinco deputados. Não é deixar o Haddad sozinho. É vocês irem conversar com os deputados: “Ô, cara, vamos votar isso que é bom para o Brasil. Vamos votar isso que é bom para o emprego. Vamos votar isso que é bom para a indústria automobilística. Vamos votar isso que é bom para o futuro do país”. É um compromisso de todos nós para esse país.
Esse país tem que dar certo. Não sei se vocês estão percebendo, com essa coisa chamada transição energética, com essa coisa chamada transição climática, com essa coisa chamada transição de materiais críticos. Ou seja, Brasil tem uma oportunidade no século XXI que ele não teve no século XX. E nós temos que tirar proveito disso e tirar proveito junto com vocês que são os empresários que vão ajudar a gente a transformar esse país nesse país grande, numa potência econômica.
O país está pronto para isso. O governo está totalmente aberto para isso e nós queremos fazer, sabe, com que essa parceria seja construída. Não há, efetivamente, não há possibilidade do governo não estar disposto a fazer tudo que for necessário para esse país voltar a crescer, produzir mais, gerar mais emprego, gerar mais renda, produzir mais carro, produzir mais comida, produzir mais carne, exportar mais, produzir mais soja, produzir mais milho, produzir mais qualquer coisa.
E nós vamos ter o G20 esse ano, que é um evento muito importante no Brasil. As 20 maiores economias do Brasil estão, desde o começo do ano, vindo aqui para fazer debate. São 65 debates em todas as áreas. Depois a gente vai ter a COP no Pará, que é outro evento excepcionalmente grande e de muita visibilidade no Brasil. Vocês viram o que aconteceu lá com o Macron, você viu? Eu e ele de mãozinhas dadas. Você viu que a gente pode aproximar os povos.
Sabe, por que fazer uma COP no Rio de Janeiro? Porque o pessoal acharia mais simpático. Por que fazer isso em São Paulo? Não, nós temos que fazer na Amazônia. Todo mundo fala da Amazônia, todo mundo. Esse dia eu conversei com uma jornalista sueca que me disse que quando ela era criança, o pai dela comprou o título de uma terra aqui na Amazônia para cuidar da Amazônia. Ela não queria saber o que era a Amazônia.
Então, como todo mundo fala da Amazônia, agora é hora da Amazônia falar para o mundo. É hora do cara vir e conhecer o que que é a Amazônia. Que lá não tem só árvore, lá não tem só borboleta, lá não tem só mosquito, não. Lá tem gente, lá tem mulheres, homens, crianças, pescadores, indígenas, ribeirinhos, extrativistas, que precisam viver. E para conseguir viver, a gente vai ter que fazer...
Bom, nós vamos trocar a manutenção da nossa floresta em pé, vamos tentar fazer o sequestro de carbono que é necessário. E vocês nos pagam em títulos para fazer com que as pessoas possam viver bem. É simples assim. E aí nós vamos ter que montar também dentro do governo. O BNDES é hoje o maior comprador de crédito de carbono. Até agora é o banco que mais comprou no mundo.
Então a chance que o país tem é extraordinária. O país nunca teve essa chance. E nós então estamos tentando ver se o governo dá uma contribuição. Porque o governo tem duas coisas: ou ele ajuda ou ele atrapalha. Então nós queremos ver se ajuda. Nós queremos ver se ajudamos porque eu acho que o Brasil está necessitando de um pouco de calma. Aliás, o mundo está precisando de um pouco de calma.
Vocês percebem pela imprensa que há muito nervosismo na Faixa de Gaza. Vocês percebem que há muito nervosismo nas eleições americanas. Vocês percebem que há muito nervosismo em vários outros países do continente, vizinhos, até no Equador, na Argentina. Então nós precisamos de um pouco de tranquilidade. A humanidade precisa de tranquilidade.
Nós não podemos correr o risco de perder a essência de uma coisa que permite à humanidade viver bem, que é a democracia. Não existe nada melhor do que a democracia. Do que você poder disputar a eleição, perder, ganhar. Do que você ter instituições como a Suprema Corte, que toma conta do país por conta de cumprimento da nossa Constituição.
Esse país pode se transformar em uma grande potência econômica. Eu já cansei do país ser um país pobre. Um país em desenvolvimento. Um país em vias de desenvolvimento. Um país de renda média. Não. Nós agora somos do Sul Global. Olha como soou chique na minha boca: “Sul Global”.
Porque todo mundo só olha pra nós como pobres, como miseráveis, como pedintes. Não, nós não queremos mais ser isso. Nós queremos ser grandes. Nós não temos nada contra nenhum país. Adoro União Europeia, quero fazer acordo com todo mundo. Mas veja que coisa interessante: a gente tem hoje no Vietnã. A nossa balança comercial no Vietnã é maior do que a maioria dos países europeus – do que França, do que Inglaterra, do que Itália. No Vietnã, que outro dia estava numa guerra fratricida, sabe.
Então, o que nós precisamos é o seguinte. A gente não vai exportar para os países ricos que já produzem o que nós produzimos que não querem comprar de nós, a não ser matéria-prima. O que nós precisamos é procurar os mercados que precisam do Brasil. Aonde é que o Brasil pode vender produto sofisticado com valor agregado? Onde é que é, gente? Ao invés de ficar brigando com o meu amigo Ronald Schultz, na Alemanha, eu prefiro ir vender para os meus companheiros no continente sul-americano, no continente latino-americano, no continente africano, em outros lugares.
E se a Anfavea estiver disposto a fazer isso, Márcio, você pode ficar certo que nós seremos parceiros. Eu só quero que você tenha certeza, você nunca teve nesse país um governo com a vontade de ver a indústria automobilística voltar a crescer, a gerar emprego, a gerar renda, a gerar inovação tecnológica como você tem nesse governo. Porque isso é o que mais interessa para o povo brasileiro, para as pessoas que estão tendo oportunidade.
Esse dia nós criamos um programa aqui no Brasil chamado Pé-de-Meia. Ah, uma coisa antes, se vocês não conseguirem, se a nossa política não conseguir vender todos os carros que a gente quer, a gente pode vender meia. Olha a meia do Alckmin, como é que está. É uma meia que parece um salão de automóvel.
Você, Márcio, poderia ter feito uma inovação. Ao invés de dar aquela placa pesada para nós, ter dado uma meia dessa para cada um de nós. Aí nós seríamos os caras de fazer propaganda da indústria automobilística. Ô gente, era isso que eu queria terminar dizendo aqui. Eu trouxe um discurso escrito, que está bem-feito, mas eu não vou ler o discurso, não
Eu só queria terminar dizendo para vocês o seguinte: eu quero que a gente se encontre todo ano, Márcio. Todo ano nós temos que ter uma reunião. Porque eu quero, toda vez que eu me encontrar com vocês, eu quero dizer para vocês: “Valeu a pena vocês voltarem a acreditar no Brasil”. E valeu a pena o Brasil voltar a acreditar na indústria automobilística. E aí nós estaremos fazendo um casamento perfeito, e quem ganha com isso é o povo brasileiro
Muito obrigado! Parabéns pela nova sede, Márcio. E você tenha toda a sorte do mundo