Pronunciamento do presidente Lula durante assinatura para início de obras de contenção de encostas em Recife
Companheiros da imprensa, companheiros secretários.
Não sei se você reparou (João Campos): quantas coisas você fez aqui em Recife que tinha tanto ministro como tem aqui? Você reparou que tem cinco ministros aqui? Dos cinco ministros, quatro foram governadores de estado. E eles vão saber o que eu estou falando.
Muitas vezes, quem está na Presidência da República, ou muitas vezes quem está numa prefeitura ou no Estado, muitas vezes a gente não dá muita importância àquilo que a gente chama de pouco dinheiro: R$ 20 milhões, R$ 15 milhões, porque a gente, quando está no Governo Federal, é tudo bilhões e bilhões. Então, tem gente que não gosta de inaugurar uma obra de R$ 15 milhões, de R$ 10 milhões.
Uma vez, a Miriam Cordeiro, que embora o Celso Daniel fosse o prefeito de Santo André, ela tocava aquela máquina como se fosse ela prefeita. A Miriam falou: “Presidente, o senhor precisa inaugurar a obra pequena, porque às vezes uma obra de R$ 10 milhões ou de R$ 5 milhões para a comunidade vale mais do que um viaduto de bilhões, vale mais do que um aeroporto de R$ 6 bilhões, R$ 7 bilhões que o pobre nunca vai chegar nem perto.”
Então, quando você vai visitar uma obra de R$ 5 milhões, você está exatamente diante do beneficiário. Ele está vendo que aquilo foi feito para ele. E muitas vezes no governo, sobretudo a parte do governo que trabalha com finanças, e isso vale para a política, vale para o clube de futebol, vale para o sindicato, vale para uma associação de moradores, quem está cuidando do dinheiro fica muito ‘mão de vaca’. Quem está cuidando do dinheiro não quer liberar dinheiro para nada. Tudo é muito complicado, tudo demora.
Agora, imaginem vocês o seguinte: muitas vezes a gente não cuida de uma coisa que custava R$ 10 milhões. Aí, quando dá uma enchente, ou quando ocorre uma chuva que desbarranca o morro inteiro, aquilo que ia custar R$ 10 milhões vai custar 200 milhões, 300 milhões, e às vezes vai custar vidas que a gente não pode devolver.
Então, é muito importante. E é por isso que tenho um apreço pelas prefeituras, porque não posso conceber que o presidente da República possa fazer a obra, o governo do Estado possa fazer a obra, e o prefeito não possa fazer a obra. É muito importante que os prefeitos tenham recursos para fazer as obras que são consideradas necessárias.
Normalmente, as pessoas gostam de trabalhar com obras que dão bastante visual. Sabe, uma bela ponte? Se for estaiada, ainda, é muito mais chique, sabe? A bela ponte. Agora, muitas vezes você vai cuidar de uma encosta, sabe? Às vezes é feio porque é um concreto que você coloca lá para não deixar desbarrancar, mas aquilo na verdade é uma coisa extraordinária porque salva vidas.
E nós precisamos, Jader (Jader Filho, ministro das Cidades), aprender que se a gente conseguir projetar e a gente antecipar, a gente não esperar pela chuva, a gente não esperar as coisas acontecerem para a desgraça tomar conta das nossas vidas, a gente vai evitar que muita gente morra, que muita gente perca os seus pertences.
Porque, ô gente, eu já morei em casa, João, eu morei em casa que entrou um metro e meio de água dentro. E quando a água sai é pior, porque você tem que tirar a lama. E a lama tem umas sanguessugas desse tamanho, Humberto (Costa, senador), que grudam na perna da gente. A gente para tirar aquela sanguessuga, você tem que jogar uma pinga. Você não vai jogar a pinga boa, joga a pinga de péssima qualidade para matar a sanguessuga. E outras, outros vermes que tem, outras coisas que tem, a doença que tem, xixi de rato. É um negócio.
O pobre vive muito difícil a vida. Quando a gente é jovem, a gente aguenta qualquer coisa. Quando eu tinha 20 anos, que dava uma enchente no bairro que eu morava, chamado Ponte Preta, mas era enchente para valer, em São Paulo, na divisa com São Caetano. Eu ainda com 20 anos, pegava uma câmara de pneu, amarrava uma corda, um cunhado meu ficava segurando e eu ia andar nas casas para ver se tinha gente para tirar. Porque às vezes tinha pessoas com idade que tem dificuldade: você entrar na casa, levantar a pessoa.
Agora, e as pessoas que não têm condições? E quando acaba a luz junto com a desgraça, que as pessoas ficam no escuro, e nem todo mundo tem uma velinha dentro de casa para acender na hora que necessita? Então, uma obra dessa, João, que custa 40 milhões, ela tem o valor, quem sabe mais importante, de uma obra que custa R$ 15 bilhões, que custa R$ 20 bilhões.
Eu lembro da alegria quando a gente fez aqui em Brasília Teimosa. Nós agora, João, resolvemos nos desfazer de tudo que é terreno e prédio público sem utilidade. Já pegou? E vai pegar. Quem quiser, vai pegar. Porque não interessa à União ficar com terreno vazio, com prédio vazio para juntar baratas, juntar ratos, juntar bandidos, juntar, sabe, drogados. Ou seja, é melhor a gente repassar para que o Estado e a prefeitura dê uma utilidade àquilo. Para que ficar com patrimônio inutilizado?
Eu tive a sorte, porque como a maioria dos meus ministros, uma boa parte foram governadores, eles têm muita facilidade de trabalhar, cara. É mais difícil trabalhar no Governo Federal do que no governo estadual. Vocês já perceberam que tem mais complicações para fazer, mais fiscalização, mais ingerência, tem mais... sabe, é muito difícil.
O ‘Renanzinho’, certamente, o Rui Costa, o Camilo, o Waldez, quando era governador, mandava e acontecia. No Governo Federal, você manda e não acontece tão rápido assim. Você manda e não acontece, porque tem muita coisa, tem muita... é muita coisa para dizer não, não pode.
E com um agravante que está mudando: é que os funcionários, que muitas vezes têm que assinar uma coisa liberando dinheiro, eles começaram a ficar com medo de liberar dinheiro. Porque como todo mundo acusa todo mundo, quando um funcionário libera um dinheiro e ele é acusado, ele tem que abrir um processo. É ele que tem que pagar as custas do advogado.
Então, muitas vezes, ele fala: “Esse ministro chegou aqui com pressa de quem quer as coisas… Ele pensa que manda, mas ele só tem quatro anos. Eu já tenho vinte, vou ficar mais vinte, porque sou estatutário, sou concursado”. Então, é todo um trabalho de convencimento para as pessoas perceberem que nós temos que mudar o jeito de governar esse país, de governar a cidade, cuidando das pessoas.
É muito bonito levantar de manhã, olhar para uma praia maravilhosa. Mas não é tão bonito a gente olhar para um lugar, sabe, que tem água podre, esgoto a céu aberto, que tem possibilidade de desbarrancar, de encher de água. Aí sim, quando o prefeito vai lá, olha, e começa a fazer projeto para cuidar disso, é que esse prefeito está fazendo aquilo que todo mundo deveria fazer: “cuidar do povo”. Sabe? Essa é a nossa missão. É cuidar do povo e fazer com que o dinheiro chegue na ponta, chegue na ponta.
E por isso que os prefeitos, João, eu dizia para os prefeitos. Eu tenho orgulho, porque eu não acredito que na história do Brasil um presidente tratou os prefeitos com tanta decência como tratei nos meus dois primeiros mandatos. A gente tinha criado lá, dentro da Casa Civil, uma sala de prefeitos. Na Caixa Econômica, aqui em Recife, tem uma sala de prefeitos. O Seu Padilha (Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais), naquela época, só cuidava de prefeitos. Porque o prefeito, o coitado do interior, vai para Brasília e chega lá, fica atrás de um deputado, batendo de gabinete, o ministro nunca está para atender, sabe?. Aí ele fica lá dois, três dias, volta para cá sem nada. Não precisa disso mais, não precisa disso, sabe? As pessoas podem ser atendidas aqui na cidade de Recife.
E eu dizia para os prefeitos: não faça discurso para mim, pelo amor de Deus. Não é o discurso que arruma dinheiro, o que arruma dinheiro é o projeto. Leva o ‘projetozinho’ que a hora que a gente vê o projeto é que nem fotografia. Eu não sei se já aconteceu com vocês: vocês batizam um filho de vocês, participa de uma festa de aniversário, aí chega um cara que nem o Stuckert (Ricardo Stuckert, fotógrafo), chato para cacete, com a máquina fotográfica, tira fotografia, sabe, e fala para você: “Eu vou dar o meu cartão para depois eu lhe vender as fotos”. Você diz: “Não, não quero, não quero foto, não quero foto, não quero, não quero. Pode ficar que eu não quero”.
Passados uns 20 dias, chega o ‘Stuckinha’ com um álbum bonito. Aí mostra para vocês a cara do filho de vocês, da filha. Eu duvido que alguém resista a comprar o álbum que foi mostrado. Então, um projeto é isso, um projeto é isso. Você faz um projeto bem feito que não tem como você negar, não tem como você dizer que não vai dar dinheiro.
E pense num menino esperto. Pense, pense. Pense, jeitoso. Pense no cabra jeitoso. Está seguindo o caminho do pai, daqui a pouco está melhor, sabe? O pessoal, quando o Eduardo Campos era governador e eu era presidente, o Wagner (Jacques Wagner) era governador da Bahia. E eles tinham um certo ciúmes porque eu vinha muito a Pernambuco, porque eu estabeleci com o Eduardo uma relação muito forte. Ele foi meu ministro, quando eu precisei que ele voltasse para a Câmara, ele voltou para a Câmara para ajudar naquele processo das denúncias.
A minha relação com o Eduardo era uma coisa muito forte e eu vinha aqui também porque é o meu estado e porque também tinha muito projeto. O Eduardo trabalhava muito com projeto e levava as coisas, sabe? E assim é o João, eu acho que mais esperto, porque ele aprendeu do pai, e aprendeu da mãe, e se formou engenheiro. E tem, com essa idade, ele tem um futuro político excepcional. Ele sabe que tem que trabalhar e que tem que fazer as coisas corretas, porque a gente não pode mentir para o povo. A gente não pode mentir uma vez, duas vezes, três vezes, mas se a gente mentir, o povo descobre.
Então, João, sempre seja verdadeiro, cara. Mesmo quando tiver que dizer não, diga não. Diga não. É melhor dizer um não sincero do que uma mentira - "amanhã eu faço. Depois da manhã eu volto aqui, hoje não dá." Não, diga logo não. Eu não posso por isso, isso, isso, isso, que as pessoas entendem, cara.
Então vou dizer uma coisa: eu quero primeiro dar os parabéns ao Jader. Você viu que o Jader fala grosso de manhã? Eu estava dizendo pro João, eu, quando levantava 4 horas da manhã para ir na porta da fábrica, sabe a voz ficava engasgada, parecia um carro velho. Se eu não tomasse uma talagada, eu não falava, cara. E o bicho chegou aqui, acho que nem escovou o dente, já está falando grosso.
Então, João, eu quero te dizer o seguinte, cara: você pode ter certeza do seguinte: você teve um ‘azar’ porque você sabe que ter um presidente e um governo que são parceiros ajuda muito, ajuda muito. Você ser prefeito e ter um presidente da República que não ajuda, que não passa dinheiro, que não faz convênio, é muito ruim.
E todo prefeito sabe, todo prefeito sabe, e o presidente também - nós passamos um ano, um ano inteiro, do dia 1º de janeiro até dezembro, só para remontar as coisas que tinham sido destruídas. Aqui, cada ministro passou um ano tentando reconstruir as coisas, fazer concurso para contratar funcionário, contratar fiscal, fazer projeto, porque não tinha projeto para nada.
E quando a coisa começa a engrenar, você pega na área do transporte, o ano passado, no primeiro ano, o Governo Federal, o Renanzinho (Renan Filho, ministro dos Transportes), investiu mais em transporte em 2023 do que o outro governo investiu em quatro anos. Então, as coisas foram montadas, agora a nossa obrigação é entregar, João. Se você chegar com o projeto agora, você vai ter mais facilidade.
Porque você sabe que o primeiro ano é um ano de... você pegou isso aqui o primeiro ano. Até conhecer a máquina, organizar, contratar gente, montar a equipe, colocar as pessoas no lugar certo. Quando chega no segundo ano, você começa a fazer as coisas que você pensou também porque você vai ter o teu primeiro orçamento.
Nós governamos no primeiro ano com a PEC da Transição, porque não tinha orçamento para a gente governar. O orçamento acabava em julho ou agosto. Tive que fazer uma PEC. Foi a primeira vez na história do Brasil que alguém começou a governar antes de tomar posse. E aí o Congresso Nacional deu uma mão muito grande, ajudou, muita conversa, e a gente conseguiu aprovar. Mas agora já está na nossa conta.
Agora, este ano eu tenho dito: este é o ano da entrega. Este ano ninguém pode se queixar. O que eu estou fazendo aqui é o que a gente vai fazer no Brasil inteiro, entregar as coisas que nós prometemos. Nós precisamos melhorar a vida do povo.
E você, esse ato de R$ 40 milhões, veja que interessante. São dezoito obras, imagina. Se você chegar no presidente da República e falar assim: “Preciso de 40 milhões”, ele fala: “40 milhões, isso não é nada. Vai fazer o que com 40 milhões?” Mas se ele vier, sabe, colocar o pé no barro, ele vai perceber o que significa isso.
E você tem um privilégio de ter três senadores aqui e duas mulheres. Quando é que você fez um laço com duas senadoras mulheres aqui na sua frente, olhando? Duas amigas. Espero que elas votem bastante coisa boa para nós.
Então, gente, eu quero primeiro dar uns parabéns ao João pela excelente administração que você está fazendo. Eu sei que este ano é um ano de eleição, e eu digo sempre o seguinte: se a gente plantou, a gente aguou, a gente vai colher. Pode ficar certo disso.
E eu, a partir de um determinado mês, você não pode nem inaugurar mais obra, ou seja, então tudo que você puder inaugurar, inaugure.
Eu quero dizer que da parte do Governo Federal, não apenas eu, mas os ministros, nós estamos à disposição para ajudar. A gente não está fazendo favor a ninguém, a gente está apenas devolvendo para a população mais necessitada aquilo que a gente tem obrigação de fazer. É dando qualidade de vida para essas pessoas viverem dignamente e cuidarem das suas famílias.
E não poderia ser um momento melhor de vir aqui. Eu fui inaugurar uma adutora, sabe, lá em Arcoverde, que é mais um passo das águas do Rio São Francisco que está chegando para banhar todo o sertão nordestino. Ontem nós fomos, fomos... Chegou mais uma ministra pernambucana, vocês sabem que você tem cinco ministros pernambucanos.
Ontem nós fomos inaugurar, sabe, a Hemobrás, que era um sonho que começou com o Humberto Costa quando foi meu ministro da Saúde, e ontem finalmente a gente foi inaugurar, e quando chegar em setembro, já vai estar produzindo todo remédio para nunca mais um brasileiro morrer de hemofilia.
Sabe uma coisa extraordinária, e o que é mais extraordinário é que quando Humberto pensou, ele já pensou que tinha que sair em Pernambuco, e já pensou que tinha que sair em Goiana. Quem é que ia imaginar que Goiana ia ser o que é hoje? Quem imaginou há 30 anos? E é mais ainda, nós agora já decidimos mais uma escola técnica para Goiana, porque nós queremos formar profissionais qualificados para o desenvolvimento industrial.
Então, não poderia ser um presente melhor. Primeiro, falar no microfone que o Eduardo Campos fez o seu último comício aqui. Segundo, guarde com muito carinho esse microfone, porque isso aqui vale ouro. Você guardou o seu, Rui? Você guardou o seu, Renan? Você guardou o seu, Camilo? Então, vocês não estão construindo história como os meninos aqui fizeram.
João, um abraço, querido. Eu vou embarcar para o Ceará agora. Que Deus lhe abençoe! Dê um beijo na sua mãe e nos seus irmãos.
E parabéns ao povo. Sabe, parabéns aos moradores. Os moradores que estão aí venham cá para a gente tirar uma foto bonita.