Pronunciamento do presidente Lula durante assinatura da ordem de serviço do ramal do Salgado e visita a obras da Transnordestina
Ô, gente, o companheiro que trabalha com um gibão desse merece receber um adicional de insalubridade, porque pesa.
Olhe, primeiro, alegria de estar de volta ao nosso Ceará. Segundo, encontrar tantas pessoas extraordinárias que, ao longo desses últimos trinta anos, estivemos juntos em algum momento das nossas lutas, mas, sobretudo, na recuperação do processo democrático brasileiro. E mais ainda: estivemos juntos, em 2022, para conseguir derrotar o fascismo do nosso país, que estava impregnando a sociedade brasileira de ódio e de mentira.
Terceiro, companheiros que eu convivo há muito tempo, o Tufi [Daher Filho, presidente da Transnordestina], o companheiro que falou aqui, entusiasmado, que falou que as mulheres ganham igual aos homens aqui. Eu vou perguntar para as mulheres depois, porque nós aprovamos a lei de salário igual entre mulheres e homens, se exercer a mesma função. E tem muitos empresários que não querem pagar. E nós queremos que paguem, porque mulher não é ser humano de segunda classe. É de primeira classe. E, como você disse, muitas vezes, elas são mais eficientes em alguns trabalhos.
Outra coisa que me deixa muito motivado aqui é saber, companheiro Cid, companheiro Wellington [Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome] e companheiro Eduardo Campos, que não está aqui, porque já morreu. Quando eu era presidente, eles eram governadores de estado. Nós começamos aqui, em 2005, nós viemos à Missão Velha, fazer o primeiro ato público sobre a Transnordestina.
Eu imaginava realizar essa obra muito mais rápido, porque essa obra foi um pedido do governador Miguel Arraes, quando eu saí do Crato, na campanha de 1989, eu dei uma carona de avião para o Arraes e o Arraes pediu para mim: "Lula, se você ganhar as eleições, faça a Transnordestina". Então eu tinha e tenho uma obsessão de fazer essa ferrovia. Fazer essa ferrovia e, agora, fiquei mais feliz porque o Tufi disse que se ela for preparada, ela pode carregar carga, pode carregar soja, milho, qualquer outra coisa, minério de ferro. Mas, também, ela pode ser preparada para carregar ser humano e ser um trem de passageiro, para que as pessoas possam viajar mais confortavelmente de trem, e mais seguro.
Mas eu briguei muito com o Tufi, briguei muito com os governadores e eles brigaram comigo, porque, toda vez, olha, vou contar para vocês: eu fiz trinta e três reuniões com o Cid, com o Eduardo Campos e com o Wellington. E com a direção da Transnordestina. Trinta e três reuniões, mais a Dilma Rousseff [presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento], que era chefe da Casa Civil.
Em toda reunião surgia um problema. Um dia era questão ambiental. Outro dia, era falta de licença. Outra reunião, era a supressão vegetal. Outra reunião, era falta de dinheiro. Outra reunião, era questão de desapropriação. Eu sei que era um verdadeiro inferno para a gente tentar colocar essa ferrovia para funcionar. Eu saí da presidência, em 2010, eu fiquei sonhando que ela pudesse ser inaugurada em 2012. Passou 2012, não inaugurou e eu não fui nem convidado para a inauguração, então não inaugurou. Passou 2013, passou 2014. Em 2016, veio o golpe contra a presidenta Dilma. Depois vocês sabem o que aconteceu, de 2016 até 2022. Mudaram até o projeto original, porque o projeto original era Suape a Pecém, e eles iam partir do Piauí para a gente fazer o processo de integração. E eu não sei porque alguém tentou tirar um porto que é tão importante para o Nordeste, quanto o porto de Pecém e também era um estado nordestino.
Era o meu compromisso com os trabalhadores ali. Assumi o compromisso com representante das empresas que estão fazendo essa ferrovia. E falei para os meus ministros Rui Costa, que é o chefe da Casa Civil; o companheiro Renan, que é o ministro dos Transportes; e eu disse para eles que nós vamos terminar essa ferrovia. E eu quero dizer para vocês que, ano que vem, eu quero pegar o lugar mais longínquo do Piauí, entrar em um vagão e vir até esse local aqui para saber o que é que falta. O compromisso da empresa é que a gente pode terminar isso ou até o final de 2026, ou até o primeiro trimestre de 2027.
E eu quero dizer para você: se depender do governo, a gente vai terminar, porque o governo vai cumprir todos os acordos firmados e não vai permitir que faltem os recursos necessários para que a gente possa terminar essa ferrovia. E essa ferrovia é importante não só porque ela gera empregos, não só porque ela barateia o transporte, não só porque ela facilita a vida de dois estados e de milhões de pessoas. Ela é importante porque o Brasil se transformou em um país rodoviário. E um país, para ser mais produtivo; um país, para ser mais leal ao seu povo, ele não pode abandonar a ferrovia para fazer rodovia. Não. Ele tem que ter rodovia de qualidade, tem que ter ferrovia de qualidade, tem que ter hidrovia de qualidade, porque nós precisamos ter um sistema intermodal de transporte, para utilizar todo o potencial: para transportar gente, para transportar carga e para baratear as coisas para o nosso povo.
E vocês sabem que nós voltamos e eu vi uns companheiros com umas placas, levantando, protestando. Eu acho maravilhoso vocês protestarem, porque houve um tempo em que vocês não poderiam participar, nem levantar placa. Houve um tempo em que vocês não tinham o direito de protestar nesse país. Quando a gente governa de forma democrática, proteste, reivindique, que, se a gente puder, a gente atende. Se a gente não puder, a gente diz que não pode e a vida continua. E a gente segue fortalecendo o processo democrático. Eu quero que vocês saibam: eu chamei o Camilo [Santana, ministro da Educação] para ser o meu ministro da Educação. Por uma coisa: não é porque eu sou amigo do Camilo. Não é porque eu gosto do Camilo. Eu chamei o Camilo para ser ministro da Educação porque o estado do Ceará é o estado que tem o melhor exemplo da educação neste país. Por isso eu chamei o Camilo. Eu tenho dito para ele que ele agora tem um compromisso mais sério, porque, como o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] era, até antes dele chegar, o melhor ministro da Educação deste país, ele agora tem o compromisso de derrotar o Haddad e virar o melhor ministro da Educação deste país.
Nós estamos apenas há um ano no governo. Apenas um ano. Já estamos fazendo alfabetização na hora certa, porque as crianças, até o segundo ano de escola, depois do Covid, desaprenderam. E nós precisamos alfabetizar as crianças no horário certo. Nós estamos colocando 1,2 milhão de crianças em Escola de Tempo Integral. Mas, até o final do ano, vamos chegar a quase 4 milhões de crianças em Escola de Tempo Integral. Nós criamos o Pé-de-Meia para ajudar as crianças mais pobres, que abandonaram a escola para poder trabalhar e ajudar a mãe. A gente tá pagando uma bolsa, uma poupança, de R$ 200 por mês e de R$ 1.000 no final do ano, se a criança comparecer à escola e se a criança passar de ano. Quando ele terminar os três anos, ele vai ter uma poupança de R$ 9 mil, para ele poder seguir a vida dele. Além disso, nós trouxemos o ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, lá de São Paulo, trouxemos para Fortaleza, premiando a inteligência do povo do Ceará que, quando faz o vestibular para o ITA, 40% são do Ceará. E faz o vestibular aqui.
Então, a gente agora anunciou... Eu não esqueço nunca, gente. Eu tenho uma imagem, Camilo, na minha cabeça, que eu não esqueço nunca. Eu, se viver 500 anos, eu vou ter essa imagem na cabeça: que eu criei as Olimpíadas da Matemática. Ela não existia para a escola pública, era só para a escola privada. E nós criamos para a escola pública. E, no primeiro ano que nós criamos a Olimpíada da Matemática, eu vi uma imagem de um pai, cearense, levando o filho para a escola em um carrinho de mão, porque o moleque era tetraplégico. Em um carrinho de pedreiro, levando o filho para a escola. E esse menino ganhou, duas vezes, medalha de ouro na Olimpíada da Matemática. Então, nós agora inauguramos a Faculdade da Matemática no Rio de Janeiro, para pegar os medalhistas de ouro, fazer um concurso e os melhores vão estudar em uma faculdade, não vão pagar nada, vão ter apartamento para morar e a gente vai formar gênios aqui nesse país, para que o Brasil possa se desenvolver.
Além disso, anunciamos mais 100 Institutos Federais nesse país, até o final do meu mandato. Mas eu disse para o Camilo que a gente não vai parar em 100. Com esses 100, nós vamos chegar a 782. Quando eu peguei a presidência, em 2003, a gente tinha 140. Vamos ter 782. Eu falei para o Camilo: "Eu vou me desafiar, eu quero fazer 1.000 institutos, que nem o Pelé fez 1.000 gols. Eu quero fazer 1.000 institutos nesse país, para a gente qualificar as pessoas com profissão de qualidade, com salário de qualidade, para que as pessoas possam construir a sua família e viver com dignidade".
O sonho de todos vocês, pais e mães que estão aqui, o sonho de vocês não é deixar riqueza para os filhos, o sonho de vocês é criar os filhos com caráter, com educação e, todos eles terem profissão e, se puder, um diploma de doutor, porque pobre também quer ser doutor. Pobre também quer ser médico, quer ser engenheiro. As nossas meninas, sabem, filhas de gente mais humilde, querem ser médicas, querem ser enfermeiras, querem ser engenheiras, querem ser sociólogas, querem ser psicólogas, querem ser advogadas. Ou seja, que seja o que quiser, porque nós vamos criar a oportunidade para esse país ficar grande, definitivamente.
Eu quero terminar falando diretamente com o representante dessa empresa aqui. Já me enrolou muito no passado. Enrolou muito. Mas ele, agora, ele diz que não foi ele, mas ele, agora, eu quero dizer na frente dele e na frente dos trabalhadores. Venha cá, companheiros. Você nunca mais beije minha mulher, rapaz. Você nunca mais encoste na minha mulher para beijar ela, que eu fico muito arretado. Eu fico muito nervoso. Vou falar na sua frente e na frente dele. Eu estou na frente do empresário, estou na frente do trabalhador e quero falar na frente do ministro dos Transportes. Vou falar na frente de vocês. Gravem, gravem. Aqueles caras do mal, que vivem contando mentira, fake news, na internet, também podem gravar e publicar isso aqui. A imprensa pode publicar. E você, Stuckinha [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual], pode gravar o que eu vou falar. Eu estou falando na frente do empresário, que é o responsável por essa obra. Estou falando na frente do dirigente sindical, que lidera os trabalhadores da Transnordestina. E estou falando na frente do ministro responsável por essa obra. Preste atenção: nós vamos inaugurar essa obra. Não vai faltar recurso para a gente terminar essa obra, porque é um compromisso com esse país.
Eu não voltei para ser presidente da República para fazer a mesma coisa que eu já tinha feito. Eu preciso fazer mais. Eu preciso fazer melhor. Eu preciso cuidar desse povo. E eu sei que não é fácil, porque eu estou competindo comigo mesmo. Eu estou competindo com meu mandato de 2007 a 2010. E 2003 a 2006. E eu sei como é que estava o Brasil. O Brasil era o país mais feliz do mundo, era o povo mais feliz, era o povo mais otimista. E eu quero que vocês voltem a ser otimista, voltem a ser feliz, porque eu vou cuidar do povo brasileiro como eu cuido da minha família. Como eu cuido das pessoas da família que eu amo. Como eu cuido da Janja. Para mim, cada mulher, cada criança, cada homem, merece ser tratado com respeito. E, para ter respeito, tem que ter educação. Para ter respeito tem que ter saúde. Para ter respeito tem que ter emprego. Para ter respeito tem que viver em harmonia. E a gente não pode permitir que haja desarmonia na família. E o emprego nós vamos gerar construindo a ferrovia e, depois, vamos gerar emprego com a ferrovia transportando produtos e riquezas para outro lugar. Esse é um compromisso. Gravem, gravem.
Eu estou falando isso... Que dia que é hoje, companheiro? Que dia que é hoje? Hoje é dia 5 de abril. Então, gravem, dia 5 abril, o Lula veio aqui na Transnordestina, em Iguatu, e está dizendo que vai entregar essa obra pronta. Se eu não entregar, me cobrem, porque significa que eu vou perder a confiança de quem eu jamais posso perder a confiança: que é o povo trabalhador desse país.
Por isso, companheiros ministros, companheiro representante dos trabalhadores, companheiros deputados, senadores, secretários, prefeitos, auxiliares, simpatizantes da nossa causa, eu queria que vocês soubessem: eu vou voltar para viajar de trem. E eu espero encontrar com todos vocês. E os companheiros que estão levantando as placas, protestando, vão levantar uma placa agradecendo, porque tudo vai estar resolvido nesse país e para o povo brasileiro.
Um beijo no coração de vocês e até a próxima volta aqui, se Deus quiser.