Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de seleção do Minha Casa, Minha Vida nas modalidades Rural e Entidades
Bem, eu vou começar cumprimentando meu querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Quero cumprimentar os ministros que estão presentes. Eu, agora, vou citar todos os ministros porque vocês deixaram o ministério de vocês para vir aqui prestigiar esse ato tão importante. Citar, além do Jader Filho (ministro das Cidades), que já falou, o Rui Costa (Casa Civil) e a Miriam Belchior, que está lá atrás, ela é a subministra, na verdade, do Rui Costa e, se não fosse eles, 90% dos programas ainda não teriam saído porque eles são as pessoas que trabalham para que os projetos fiquem prontos.
Quero cumprimentar o companheiro Carlos Fávaro (ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que é o maior vendedor de carne que esse país já teve. Ele conseguiu, em apenas um ano e quatro meses, abrir 104 novos mercados internacionais para o Brasil. E pasmem, sexta-feira eu vou a Campo Grande inaugurar um dos frigoríficos que foi premiado com a China e vai começar as exportações de carne para a China. Então, a primeira carne que o chinês vai receber desse frigorífico vai ser eu que vou embrulhar e vou aproveitar, vou colocar meu nome na picanha para que ele saiba que estou exportando a picanha.
Quero cumprimentar o companheiro Wellington [Dias], o nosso querido indígena do Piauí, ministro do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome. A Esther Dweck (ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), que é a nossa companheira responsável por negociação com o servidor público nacional, e vocês acompanham pela imprensa que ela está fervilhando de problemas. Ou seja, eu até acho que eu não deveria ter deixado ela vir para cá para ela ficar lá negociando antes que a gente receba de presente as greves, que a gente pode até não gostar, mas que elas são um direito democrático dos trabalhadores se não se sentirem atendidos pelo governo. Eu não tenho moral para falar contra a greve, porque eu nasci das greves, então eu sou obrigado a reconhecer.
Quero cumprimentar o companheiro Juscelino (Filho), ministro da Comunicação, quero cumprimentar a companheira Marina Silva (ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima), que ontem fez uma reunião extraordinária com quase 70 prefeitos da Amazônia, porque a gente vai parar de ficar xingando o prefeito aqui de Brasília porque pegou fogo numa floresta ou porque houve desmatamento. O que nós fizemos foi chamar os prefeitos para que eles sejam cúmplices do governo na boa política de preservação das florestas e, para isso, nós temos que dar benefícios ao prefeito que for premiado com mais preservação ambiental. Ou seja, nossa ideia é tentar convencer o povo brasileiro de que uma árvore em pé pode dar mais rentabilidade para o seu município do que a derrubada de alguns hectares de terra.
Também quero cumprimentar o companheiro André Fufuca, que será o representante oficial da Presidência da República nas Olimpíadas de Paris. Depois do Ministério do Esporte, eu quero cumprimentar a companheira Ana Carla Lopes, a ministra substituta do Turismo. Quero cumprimentar o Paulo Teixeira (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil), que na segunda-feira estará apresentando a tão famosa prateleira de terras que eu pedi para que apresentasse. A ideia básica é tentar apresentar um pacote de terras disponíveis para que a gente possa oferecer para o movimento, sabe, que tem terras disponíveis para fazer os assentamentos necessários, sem precisar muita briga.
Quero cumprimentar o nosso companheiro André de Paula, ministro da Pesca, que ainda não me levou para pescar uma tilápia se quer. Eu espero que eu tenha o prazer de visitar algum lugar, porque eu sou bom pescador, André. Sou bom pescador. Eu posso te garantir que você não vai se arrepender. Anielle Franco, a nossa companheira ministra da Igualdade Racial, que no nosso governo foi premiada, sabe, com o trabalho sério da Polícia Federal e do Governo Federal na apuração dos criminosos da sua irmã, da Marielle, que estava há seis anos sendo procurados.
O Márcio Macedo (ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República) já falou, quero cumprimentar o companheiro Padilha (ministro das Relações Institucionais). O Padilha, possivelmente, ele tem o cargo mais espinhoso no governo, o cargo mais espinhoso, porque ele é o cara que lida com o Congresso Nacional. Ele é a pessoa que se relaciona com os 513 deputados e, às vezes, ainda sobra tempo, ele tenta se relacionar com os senadores e você sabe que a demanda é muito grande. Essa relação é muito boa no começo. No começo o deputado pede uma coisa, o senador pede uma coisa, você promete e está maravilhoso. Mas, depois de algum tempo, começa a cobrança e não tem a entrega para fazer, aí começa o martírio. E eu digo o seguinte: o Padilha vai bater recorde porque é um ministro que está durando muito tempo no seu cargo e vai continuar pela competência dele.
Quero cumprimentar o nosso companheiro, o nosso simpático governador da Bahia, o companheiro Jerônimo Rodrigues, que foi premiado com muitas casas no seu estado. Aliás, a Bahia, não sei se é por conta de que o Rui é baiano e é da Casa Civil, a Bahia é muito premiada com muitas coisas aqui no nosso governo. Quando a Dilma era ministra chefe da Casa Civil, eu dizia que o Rio Grande do Sul era premiado, sempre que a gente ia fazer políticas, era muito premiado. E a governadora em exercício de Pernambuco, a Priscila Krause Branco, está representando a nossa governadora.
Bem, quero cumprimentar a prefeita; os senadores, primeiro, o senador Veneziano que está aqui, companheiro da Paraíba, o Jader Barbalho que está ali atrás, o companheiro Beto Faro, que está aqui na minha frente, Jayme Campos, a Janaína (Farias), que assumiu agora. A Janaína, ela assumiu, ainda nem sabe direito sentar na cadeira de senadora. Já fez um discurso ou não? Falou bem de mim ou não? Não falou, nem citou o meu nome, Janaína. Foi só subir na cadeira e esqueceu o nome.
Depois, eu quero cumprimentar o Romero Jucá, ex-senador Romero Jucá. O Romero é tão esperto que ele é sempre senador, mesmo quando ele não está exercendo o cargo. Quero cumprimentar o nosso companheiro líder, que foi embora, o companheiro [Pedro] Guimarães, líder da Câmara dos Deputados. Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Carlos Antônio, presidente da Caixa que falou, o Ailton Madureira de Almeida, secretário Nacional de Habitação, a nossa companheira Inês, que trabalha com Minha Casa, Minha Vida desde que nós criamos, em 2009.
Quero cumprimentar a companheira prefeita de Rancho Queimado, Santa Catarina, e aqui eu queria, querida prefeita, dizer para você uma coisa: é muito difícil a gente ser Republicano, é muito difícil, a gente arruma muito problema na minha própria base. Ou seja, quando você resolve ser republicano e garantir que todos os prefeitos e todos os governadores têm o mesmo direito, que não há discriminação entre ninguém, você às vezes paga um preço para as pessoas que acham que você tem que cuidar só dos seus, porque o Brasil era assim até o outro dia, o Brasil era assim. Em outros tempos históricos também, os presidentes não gostavam de governar para quem não gostava do presidente, não gostava de governar para quem fosse oposição. Mais recentemente, sabe, num passado muito curtinho, está cheio de prefeito que não conseguiu um centavo do Governo Federal, porque não pensava igual o Governo Federal.
Eu quero dizer isso porque a nossa prefeita que fez uso da palavra aqui é uma companheira do PL, que é um partido de oposição ao governo, e eu queria dizer para vocês que aqui, na hora da gente fazer política pública, a gente não escolhe amigo, porque isso aqui não é um clube de amigo. Isso aqui é o governo republicano e que se a gente quiser enaltecer a democracia, se a gente quiser valorizar a ideia da convivência democrática na diversidade, a gente precisa aprender a tratar todos em igualdade de condições. O teu amigo você leva para casa para tomar cerveja, o teu amigo você conversa para o teu aniversário, mas quando se trata da relação entre o Estado e os entes federados todos serão tratados em igualdade de condições, independentemente da posição que ele tem.
Quero cumprimentar a companheira Poliana, do Movimento de Luta por Bairros, Vilas e Favelas, a Denilda Pinto de Araújo dos Santos, do Movimento dos Pequenos Agricultores, meus companheiros e companheiras. Eu não vou dizer que hoje é um dia especial, porque o grande dia especial foi em 2009, quando nós tivemos a ideia de lançar o Minha Casa, Minha Vida. Eu nunca me esqueci de que o PMDB tinha sido fragorosamente derrotado nas eleições de 70. Para os mais jovens se lembrarem da história, a derrota em 1970 para a Arena foi tão grande que o nosso saudoso doutor Ulysses Guimarães pensou em extinguir o PMDB porque foi massacrante. Era o Médici o presidente, e a economia naquele ano crescia a 14% ao ano.
Naquele tempo, a gente estava na porta da fábrica, passava uma perua de outra fábrica roubando o trabalhador da fila daquela fábrica, oferecendo mais salário, mais vantagens, melhor jornada de trabalho. Foi um momento inusitado na história desse país, no momento econômico e no momento mais duro da vida política desse país, que era o governo Médici, que era o governo aonde o regime militar foi muito mais duro com aqueles que lutavam contra o regime militar.
Então, eu vivi essa contradição dentro da fábrica. Eu era torneiro mecânico na Villares, já era diretor de base do sindicato, e eu vivia, e eu lembro que, em 74, o PMDB lançou um monte de candidato novo que foi eleito sem nenhuma perspectiva. O Quércia disputou as eleições com o Carvalho Pinto. Quem olhava de longe, a chance era nenhuma. Era um caipira de uma cidade chamada Pedregulho, perto de Campinas, nem de Campinas era, apesar de ele ter sido prefeito de Campinas. E eu lembro que o Carvalho Pinto foi pedir voto no sindicato e nós falamos pro Carvalho Pinto: “A gente não vai votar no senhor porque o senhor fez isso, isso, isso contra o sindicato. A gente vai votar no candidato da oposição”. E foi eleito o Quércia, foi eleito o Pedro Simão, foi eleita tanta gente nova na política brasileira. Não sei nem se o Jader foi eleito nessa época, em 74. Não, você era deputado em 82, você não foi eleito senador em 74. Então, foi uma reviravolta extraordinária.
Mas por que eu estou contando essa história? Porque naquele tempo a candidatura do PMDB na televisão fazia uma propaganda habitacional dizendo que o Brasil tinha um déficit habitacional de 7 milhões de casas. E aquelas 7 milhões de casas ficaram na minha cabeça. Eu, então, quando cheguei na presidência, fiquei pensando: como é que a gente faz um grande plano habitacional? E um grande plano habitacional não é fácil de fazer. O primeiro setor a ser pesquisado pelo governo naquela época foram os empresários, representados pela Abdib.
Eu chamei uma reunião e propus aos empresários me apresentarem uma proposta de um grande plano. Eles me apresentaram uma proposta de 200 mil casas. Eu falei 200 mil casas não é um grande plano. Fui conversar com a Dilma, que era chefe da Casa Civil, e conversar com o Guido Mantega, pedir um grande plano. Eles me ofereceram 500 mil casas. Eu falei: “Não é um grande plano. Nós precisamos de um milhão para cima de casa”. E fizemos um plano do Minha Casa, Minha Vida de um milhão de casas. Eu entreguei a última casa contratada, dia 29 de dezembro de 2010, em Salvador, na Bahia. Significa que as casas lançadas em maio só foram começar a ser construídas em 2010. E o contrato de um milhão terminou em 2011.
E a gente foi, eu tive muitos problemas com o Minha Casa, Minha Vida, nem tudo é a maravilha que é hoje. Eu fui inaugurar umas casas na cidade de João Monlevade, em Minas Gerais, a minha vontade era pegar um cara do governo que estava lá, que cuidou daquelas casas, pegar ele pelo pé, rodar e bater com a cabeça dele na parede, de tanta falta de respeito com o povo pobre que tiveram na construção daquela casa. Tanta falta de respeito. Ali, eu descobri que uma parte das pessoas não tem a menor noção de que pobre tem gosto, de que pobre gosta de coisa boa. Essa ideia de que porque o cara é pobre, ele não gosta de casa. Eu cheguei na casa, a casa não tinha porta. A casa não tinha um murinho para separar do vizinho. Eu falei: e se o cara tiver um cachorro e o outro tiver um cachorro, é o dia inteiro os cachorros se pegando. E se ele tiver uma galinha, o outro vai comer a galinha do outro, precisa ter um negocinho para separar. E o cara falou: “Não, mas ele faz depois que ele muda”.
O conceito de desprezo. “Ele faz depois que ele tá dentro”. O cara por acaso sabe o que é reformar uma casa, você estando dentro da casa? O cara tem noção do que é você reformar uma casa com guarda-roupa, com cama. Você não reforma a casa. E não tinha quintal para colocar as coisas. Eu fiquei muito revoltado, muito revoltado, porque eu falei: “Nós temos que melhorar esse negócio das casas”. E eu, companheiros, esse gentleman
que está falando com vocês aqui todo delicado, eu, quando casei em 1975, eu fui morar numa casa de 33 metros quadrados, não era 40, era 33 metros quadrados. E morava Marisa, eu, três filhos, uma sogra e dois cachorros, em 33 metros quadrados e vivi muito tempo assim. E só vivia assim porque eu não podia ter maior.
Aí, quando foi um tempo, eu ganhei um prêmio na Áustria de uma fundação que me deu um prêmio, nem sei porque eu ganhei um prêmio, mas eu ganhei, eu acho que foi 5 mil dólares ou 15 mil dólares. E eu, então, com esse dinheiro, comecei a fazer a minha casa. Graças a Deus a gente tinha o Clóvis Ilgenfritz, que era do PT, era presidente do Sindicato dos Arquitetos Nacional, ele fez um projeto de um sobrado para mim e eu consegui, depois de 5 anos, fazer o meu sobradinho com 200 metros quadrados. Aí tinha churrasqueira, aí tinha varanda, aí tinha lugar pra rede, que é tudo o que a gente quer.
Eu fui ver a primeira casa rural que nós fizemos, eu voltei boquiaberto, a casa rural era feito como se tivesse numa vila em São Paulo. Não, a casa, gente, a casa tem que ter um espaço diferenciado. Eu se fosse trabalhador rural e alguém fosse fazer uma casa, eu poderia ter fogão, mas eu não abriria mão de um fogão a lenha, não abriria mão de um fogão a lenha.
Onde eu moro lá em São Bernardo, eu sempre tive fogão a lenha. Eu só não fiz no apartamento porque já era pequeno, se eu fizesse um fogão a lenha, a fumaça ia me matar lá dentro. Aí eu comecei a brigar pela sacada, gente, eu comecei a brigar pela sacada, não é possível que a gente faça uma casa térrea que não tem uma varanda. Não é possível que a gente faça um apartamento que não tenha um espaço pro cara sair e respirar, ver a lua cheia, sabe, não é possível. Se ele não vê o pôr-do-sol, vê o nascer do sol, mas não é possível que tenha uma varandinha, mesmo que seja daquela perto da praia que o cara tem que esticar o pescoço para ver a praia, porque não é de frente para o mar.
Mas eu sei que muitos de vocês sabem da mentira que foi contada nesse país da tal da casa verde e amarela. Casa verde e amarela, carteira verde e amarela, sapato verde e amarelo, não sei o que inventaram. Na verdade, era uma mentira verde e amarela que foi contada nesse país durante muito tempo.
A vantagem de um governo democrático é que vocês pintem a casa do jeito que vocês quiserem, da cor que vocês quiserem, ninguém vai se importar com a cor da casa. O que a gente quer se importar é com a qualidade da casa, o espaço, o espaço do aconchego familiar. Quando você senta com os seus filhos na frente de uma televisão ou para brigar pelo celular ou brigar pelo controle remoto, que hoje a briga é do controle remoto.
Antigamente, você chegava na televisão, você via um canal só porque ninguém queria levantar para ir lá mudar. Aí quando surgiu o controle remoto, a briga é pelo controle remoto. Quem pegar primeiro fica dono do canal de televisão, dos filmes e do futebol.
Então, eu estava perguntando por Jader: por que que demorou pra gente fazer esse ato? Por que demorou para a gente anunciar essas 75 mil casas urbanas e rural e essas 37 mil casas, por que que demorou?
Aí, ele me disse uma coisa que me deixou feliz: a demora é porque não tinha projeto na prateleira e não tinha a varanda e não tinha sacada. Eu estou exigindo agora que as casas tenham a varanda. É um apartamento pequeno. Faça uma varandinha. Todo mundo em algum momento da sua convivência familiar, ele quer dar uma saidinha de perto da mulher, das crianças, certamente porque vai fazer alguma coisa que não é bom. Então é preciso ter um espaço de liberdade das pessoas. Custa caro um metro de varanda, um metro e meio? Custa caro? Não custa caro. É apenas o desprezo de entender que pobre não precisa dessas coisas. Essas coisas, sacada, não é para rico, não, é para pobre.
Se ele soubesse como pobre gosta de coisa boa, se pudesse só se vestia bem, tinha o melhor carro, comia a melhor comida, visitava o melhor restaurante, frequentava os melhores bailes, melhor cinema, melhor teatro. Eles acham que nós queremos ficar no bar tomando cachaça? Isso é só quando o Corinthians joga, e quando ganha porque, quando perde, a gente fica em casa para não ser gozado.
Então essas casas, companheiros, essas casas, é uma premiação à crença que nós temos, porque hoje eu vi aqui as entidades todas combater aqui, todo mundo falando bem do governo, mas no começo havia muita gente que tinha dúvida se as entidades teriam condições de construir casa. Muita gente, muita gente dentro do governo. “Não. Ô, Lula, vai dar casa pra entidade, eles não sabem fazer”. Sabe? De vez em quando aparece uma denúncia de corrupção de uma cooperativa de trabalhadores, de algum lugar. Essa denúncia já é própria para você não acreditar no povo. “Não dê para ele fazer, porque ele não sabe lidar com dinheiro. Quem sabe lidar com dinheiro é rico”.
Então, nós vencemos esse preconceito e você não sabe, Jader, o orgulho, quase que eu levanto para te dar um beijo na testa quando você disse que as entidades fazem casa melhor do que os empresários. É uma coisa extraordinária. É porque as entidades, eu já tive o prazer de visitar algumas. Eu estou devendo a visitar um conjunto habitacional Marisa Letícia. Eu sei que eu estou devendo.
Mas é que quando o cara faz, ô Alckmin, ele está construindo para ele, ele está acompanhando, é o banheiro dele, é o quarto dele, é a sala dele, é a cozinha dele, não é alguém que está fazendo, vou fazer e vou vender e acabou. E eu acredito, inclusive, queria fazer um apelo aos empresários, sabe, que são muito importantes nesse nosso projeto. É que não tem problema ganhar 5 mil reais a menos, mas a gente pode dar 5 mil vezes mais felicidade para a pessoa, se a gente der uma contrapartida, um pouco de coisa mais carinhosa, uma coisa mais aconchegante, mais jeitosa, sabe. E eu já disse para os companheiros, para o Rui Costa, para o Ministério da Cidade, para o presidente da Caixa Econômica, para o companheiro Fernando Haddad, eu agora estou com uma outra preocupação, a preocupação com as pessoas que ganham acima de dois mínimos, de três mínimos, porque eles são trabalhadores, são iguais todo mundo, eles ganham 6, 7, se ele for químico, gráfico, metalúrgico, jornalista, bancário, tipógrafo, se ele for entregador de alguma coisa, ele ganha 4 ou 5 mil reais, mas não tem casa para ele.
Ou seja, a gente faz casa para o pobre e o rico tem financiamento. E o cara que ganha, o Jerônimo, agora estava ganhando bem como governador, mas quando era peão deveria ganhar bem pouquinho, você também, Rui, você também. Então não tem casa para um cara que ganha 7 mil reais. Não tem casa. Nós, agora sim, vamos lançar, na semana que vem, um programa de financiamento, um programa de crédito, sabe, habitacional para que as pessoas possam comprar uma casa um pouco melhor. Tem cara que não quer casa de 40 metros quadrados ou 50, tem cara que quer uma de 80, tem cara que quer uma de 90. Nós vamos fazer agora um projeto para atender essa gente.
E também já falei para o Rui Costa, e já falei para o Haddad, nós precisamos agora criar um programa de reforma de casa. Tem cara que já tem a sua casa, tem cara que já tem a sua casa, mas caiu um azulejo, o banheiro não é um banheiro moderno, o cara quer fazer uma hidromassagem, que todo mundo gosta de hidromassagem, o cara quer fazer uma coisa mais sofisticada, e às vezes o cara não quer comprar uma casa, ele quer pegar um empréstimo para poder reformar sua casa, para fazer uma garagem, ele só tinha um fusquinha velho, ele agora está comprando um carro mais novo. Então é preciso a gente criar condições para que as pessoas tenham essa tal de mobilidade de crédito para poder comprar as coisas que ele precisa.
Vocês sabem que nós tivemos um ano de reconstrução desse país. Vocês não sabem como é que nós encontramos esse país. É que o Alckmin é um gentleman, a Gleisi Hoffmann é uma gentleman, o Aloizio Mercadante, eu, todo mundo aqui é gentleman, e a gente tratou o nosso antecessor com 1.000% de respeito que ele não teve com a gente. Porque se a gente dissesse o que tinha sido feito nesse país, e eu já falei para o Haddad: toda oportunidade que você tiver, você diga, porque eles utilizaram nada mais, nada menos do que 60 bilhões de dólares entre isenção, favorecimento, sabe, fee de imposto, tudo na perspectiva de ganhar as eleições, esse país abriu mão de 60 bilhões de dólares, o equivalente a 300 bilhões de reais, na perspectiva de ganhar as eleições.
Então, veja, nós encontramos esse país, faltava reconstruir o país. Tem ministério que até hoje não conseguiu repor a quantidade de funcionários que tinha em 2010. O Ibama até hoje não tem os funcionários que tinha em 2010. Tem muitos ministérios que foram destruídos. Porque se criou a mania, se criou a mania de que ministério é ruim. Ora, por que que eu vou deixar de criar o Ministério da Pesca e vou deixar a pesca ligada ao Ministério da Agricultura se não dá peixe em terra? Peixe dá na água. E esse país tem 12% da água doce do mundo. Esse país tem uma costa marítima. Você sabe qual é, qual é o mar protegido pela marinha brasileira? São 5 milhões de 700 mil. 5 milhões quadrados que nós temos conta. Nós temos um mundo. E por que que a gente não pode ter o Ministério da Pesca?
A gente pode ter, e também porque a gente tem que utilizar o pequeno e médio produtor a utilizar a capacidade de multiuso da terra. Ô gente, quem é engenheiro agrônomo aí e vê eu falar multiuso da terra? É porque a gente saiu daquela fase de plantar só comida para comer, a gente quer ter para comer, a gente quer plantar para vender, porque a gente quer ter um pouquinho de dinheiro para levar as coisas para casa. As nossas mulheres têm direito de ir na feira, têm direito de ir no mercado, têm direito de visitar um shopping, conhecer as coisas, então a gente precisa dar condições de produção para essa gente.
Então, nós estamos cientes de que o que nós estamos fazendo é a possibilidade de recuperar esse país. Foi um ano de martírio, um ano. E tivemos uma puta de uma compreensão do Congresso Nacional. E eu faço questão de reconhecer. Quando a gente olha matematicamente o Congresso Nacional, é assustador. Você olha o Congresso Nacional, 513 deputados. PT, 70. Olha, de 513 para 70, é uma diferença de 400 e pico, quase 450.
E nós conseguimos, numa relação civilizada com o Congresso Nacional, com a Câmara e com o Senado, aprovar a PEC da Transição, que permitiu que a gente tivesse uma governança mais tranquila durante 2023. O orçamento sempre é apertado, porque a gente não tem o dinheiro que a gente pensa que tem. Mas na hora que a gente vai passando o tempo, a gente vai conseguindo perceber, a arrecadação começa a melhorar, a inflação começa a cair, o salário começa a subir, o emprego começa a subir, a indústria brasileira começa a crescer, a agricultura começa a produzir mais, ou seja, e a gente vai perceber que tudo vai ficando bem.
Então, nós estamos há 14 meses no governo. Na última reunião dos ministérios, eu disse: companheiros e companheiras, nós tratamos a terra, adubamos a terra, capinamos a terra, colocamos semente, jogamos adubo e água e agora esse 2024 é o ano da nossa colheita. E vocês estão fazendo a primeira colheita do primeiro grande lançamento do Minha Casa, Minha Vida, porque a primeira fase foi reconstruir casa que estava abandonada desde 2013.
Eu fui a Magé, no Rio de Janeiro, inaugurar um conjunto habitacional que começou a ser feito em 2013 e ficou paralisado. Como é que pode, num país que tem uma carência habitacional, você deixar um conjunto paralisado de 2013 a 2024?
Então, nós tínhamos 87 mil casas para recuperar, algumas tem que refazer projetos e nós queremos trabalhar em parceria harmônica com prefeitos, com governadores, com deputados, sabe, de esquerda, de direita, progressistas, democratas e com o movimento social.
Nós queremos trabalhar para valorizar e a gente tem que saber que todos nós temos uma coisa importante agora para brigar, não é agora só brigar pela casa de vocês, não é brigar só pela terra de vocês, não é brigar só para esse salário de vocês, nós temos uma coisa muito séria nesse país e no mundo, que é se a gente quer viver num regime democrático ou não quer viver num regime democrático.
Se a gente vai permitir que o mundo viva a xenofobia do extremismo, que é o que está acontecendo, o crescimento do extremismo de extrema direita, que se dá o luxo de permitir que o empresário americano, que nunca produziu um pé de capim nesse país, ouse falar mal da corte brasileira, dos ministros brasileiros e do povo brasileiro. Não é possível.
A gente pode ser bom, a gente pode ser muito harmonioso, mas a gente aprendeu que a gente não quer andar de cabeça baixa. A gente aprendeu que a gente não é melhor do que ninguém, que a gente não quer ser melhor do que ninguém, que a gente não é nariz empinado, mas a gente não quer mais cabresto. A gente não quer mais cangaia. A gente quer andar com a cabeça erguida, olhando pro lado, sem tapa no olho.
E vocês são responsáveis de garantir esse processo democrático. Porque se a gente não garantir, amanhã entra outro presidente e destrói tudo. Porque destruir, você destrói num minuto. Para construir, leva uma vida. Vocês sabem o que é destruir, o que é construir. Uma praga de gafanhoto destrói uma lavoura de milho num dia. Mas para ele nascer leva meses. Então é importante saber que o dia de hoje é marcado por isso. Nós estamos voltando à normalidade nesse país e estamos falando: nós vamos construir um país democrático, civilizado, em que ninguém será perseguido pela cor, sabe, que ele gosta, ninguém será perseguido pelo time que ele torce, ninguém será perseguido pelo partido que ele é filiado. Nada disso importa para mim.
O que importa é o seguinte: todo e qualquer brasileiro serão tratados com carinho, com respeito, porque nós queremos um país em que as famílias vivam decentemente e dignamente em harmonia. E esse país está sendo construído faz 14 meses e hoje a gente mostrou, com vocês aqui, é possível, é possível a gente fazer um outro país e um outro mundo.
Por isso, companheiros, Rui Costa, muito obrigado pelo trabalho, Jader, muito obrigado, Márcio, companheiros ministros, nós agora estamos numa trajetória ascendente, não é uma estrela cadente. Nós estamos agora uma estrela ascendente, nós agora vamos cumprir cada palavra que nós falamos na nossa campanha de 2022 para que a gente termine o nosso governo sendo motivo de vocês fazerem a diferenciação do que é democracia e do que não é democracia. A democracia exige paciência.
Eu vou terminar dando um exemplo para vocês. Na casa de vocês, quem tem mulher e filhos. Eu estava vendo aqui, o Jader está aí com a mulher dele e com duas filhas. Se o Jader não for democrático na casa dele, ele está ferrado, porque a maioria é mulher contra ele. Mas mais do que isso, é que o casamento obriga a gente a ceder. Você tem que ceder, a mulher tem que ceder, o filho tem que ceder, o pai tem que ceder. É uma negociação todo santo dia. Quem é que não senta numa mesa na hora do café da manhã é um filho roubando o pão do outro, é um querendo pegar o bife do outro, outro pegar a sobremesa quando tem. Se você não tiver um jeito cauteloso de lidar com a família, você não tem um jeito cauteloso de lidar com a democracia.
E eu sou um democrata. Eu nasci na porta de fábrica. Eu nasci xingando empresário, e xingava muito. E depois sentava na mesa de negociação e negociava. Eu começava pedindo 100%, é tudo ou nada. Aí eu percebi que entre o tudo ou nada tem muita coisa no meio. Então ao invés de 100% ou nada tem 50%, tem 60%, tem 40%, tem 80%. E eu aprendi que um bom acordo vale muito para a gente consolidar a nossa democracia.
E eu quero parabenizar as entidades, do campo e da cidade, pela competência que têm de negociar com o governo, não abrindo mão de exigir aquilo que vocês acham que é direito de vocês, mas compreendendo também quando a gente diz que não pode dar.
E eu tenho certeza que o país que vocês sonharam e que o país que eu sonhei, que o país que fez com que vocês me trouxessem para cá, será entregue a vocês até o final do nosso mandato.
Um abraço, gente. Boa sorte. E rápido na construção da casa de vocês.